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11/11/2019

Do Inconveniente de Ser Barata

Do Inconveniente de Ser Barata
Luiz Carlos Cichetto



“'Desde que estou no mundo' – este desde parece-me carregado de um significado tão assustador que se torna insuportável." A citação é de Emil Cioran, o filósofo romeno, e cai como uma luva ao presente texto, até por que termina com "insuportável", que seria outro título que tinha pensado ao estabelecer a linha condutora, sobre de que forma palavras com a letra "i", tem sido presentes na minha existência. Preferi entretanto, sacanear o Oscar, com sua "A Importância de Ser Prudente" (The Importance of Being Earnest"), além do romeno. 

Desde minha avó, passando por minha mãe e duas mulheres, todas com nomes iniciando com "i" , essa letra me persegue, me espreita, me define e me consome, às vezes todas as coisas ao mesmo tempo. E ser "inconveniente", por horas me parece ser uma dádiva, dada por alguma deusa pagã, outras a maldição de uma prostituta anã, mas é certo que a inconveniência da minha existência a torna muito mais inexistência, no sentido filosófico ou científico estrito, ou religioso, no lato. Ou o oposto, que é tão verdadeiro como inconveniente.

Como definir melhor um ser que sobreviveu à sanha de um aborto, e que quando criança era chamado "asa negra" por sua própria mãe, e que era espancado por um pai que nem a desculpa de ser alcoólatra, como na maioria desses caso têm? E que foi batizado por escolha desse mesmo pai, getulista e adhemarista, com o nome composto de um líder comunista que ele odiava? Parece-me conveniente que eu me defina então por "inconveniente". 

De inconvenientes atitudes a inconvenientes palavras, cresce o ser, sempre com a boca machucada por tapas convenientes e as costas feridas por convenientes surras de ripa de madeira. Uma educação convenientemente tratada como sagrada. 

E o inconveniente passa a ter significados amplos, sinônimos múltiplos, na conveniente sociedade crescente, carente de conveniências, todos com a tal da letra "I". Impertinente, importuno, impróprio, inadequado, inapropriado, indiscreto, inoportuno, indecente, imoral, indecoroso, inferior, inútil, incômodo. Cada palavra com seu conveniente expediente, cada uma mais eficiente que a outra.

Da inconveniente poesia suja, ao inconveniente namoro com puta suja, do inconveniente gosto pelo Rock sujo ao casamento com uma suja sem Rock e sem poesia; do inconveniente de ser pai ao de ser fiel; da inconveniente forma de tratar a fidelidade e a paternidade, ao inconveniente jeito de tratar a felicidade e a eternidade, chego ao inconveniente máximo de ser Barata, o símbolo máximo da inconveniência doméstica, social, urbana. E ademais com um inconveniente dom de resistência. Intolerável inconveniente, insustentável impertinência, indefectível intermitência, impossível intendência, inexprimível inconsequência. Gritaram: "Inexequível", "Impossível", mas era incontestável a inexorável, inflexível, implacável ira, a inelutável, irrefutável e indiscutível intenção: invencível, e até incrível.

Barata dos Infernos, O Insuportável Barata, e inomináveis substantivos e adjetivos. Superlativos, mas inobjetivos. Insofismável, incontestável. Incerto? Inconstante? Imbecil? Idiota? Nunca à imagem: inverossimilhança. Inexpugnável. Intragável. Indubitável inteligência, inacatável pertinência, indisputável clarividência. E de inconvenientes a inconsequentes, de indecentes a impertinentes, escrevo, escrevo, escrevo. Nada devo ao que escrevo. Nada invento, nada intento. De fato não escrevo, mas inscrevo minha intenção nessa pedra girando no Universo. Não apenas o verso, mas seu inverso e seu reverso. Converso apenas. Inconvenientes e inconiventes conversas; intransitivas e intransceptivas conversas. Inversas. Invenções, introversões, inversões. Invento novo verso, intento novo inverso. Sem reverso.

"Um dos artistas mais instigantes, inteligentes e imprevisíveis - só para ficar nos adjetivos começados com a letra "i" - que conheci pela Internet." - Disse o escritor, que também é professor, e que também é crítico literário. "Imponderável, impertinente e inconsequente", disse outro. "Intangível e insaciável", por fim disse eu, ao final de uma conversa que inexistiu.

E insuportável agora, ao final da inglória inexistência inconveniente, incontinente e imediatamente, ainda inabalável e intocável, me torno incontestavelmente inverossímil, infactível, inexprimível. 

©Luiz Carlos Cichetto  - Direitos Autorais Reservados

11/11/2019


10/11/2019

Alucinação Barata na Hora do Almoço

Alucinação Barata na Hora do Almoço
Barata Cichetto



1 - Mote, Glosa e Alucinação

Eu era um garoto, amando Beatles e Rolling Stones em setenta e seis,
Quando um canto torto feito faca a minha carne cortou naquele mês.
A alucinação foi suportar o delírio cotidiano, e naquele ano colorido,
Cantei como se fosse morrer de alegria, como se não tivesse morrido.

Eu, que nunca tinha achado nada divino, e nem nada maravilhoso,
Corri pelos cantos declamando minha poesia com olhar lacrimoso,
Aguçando meu canto e meu sonho no rádio de pilha com meu bem,
E forte e tão moço, na hora do almoço, fiquei só na estação de trem.

E eu era um garoto amando as coisas do passado, armando o futuro,
Uma velha roupa colorida, tomando Cuba Libre e mijando no muro,
Poe tinha me dito, com seu corvo no umbral, nevermore nunca mais,
E não era por bem, nem foi por mal, mas lhe disse: o passado jamais.

Naquele tempo, eu nem via e nem sentia a mudança a me acontecer,
Mas sabia de cor que não podia esperar o dia inteiro até amanhecer.
Tinha aprendido nos discos like a rolling stone, Dylan e Woodstock,
O que era cruel, sonho de mel, e a vida apenas um concerto de Rock.

2  - Coração Selvagem

Faltava algum tempo para um nove oito e quatro em setenta e sete,
Populus cão fiel mordeu minha mão e eu o matei com um canivete.
Selvagem meu coração, e fui clamar pelo Luar nas areias do deserto,
Pensando ser errado o que era injusto, e imortal aquilo que era certo.

Sem ter aonde ir, e dentro da noite sem fim morri em oitenta e dois,
Mas agora entendo o que somente poderia entender mesmo depois,
Aqui Jazz meu coração, disse à mulher que nunca foi companheira,
Enterrando no peito um punhal, e sangue escorrendo pela banheira.

Ainda queria ser poeta, ainda queria ser artista, e com bolsa de couro,
E dúzias de poemas rasgados depois, troquei as rimas com um touro.
Foi-se minha lira dos vinte, foi-se a foice, o martelo e a elegia obscena.
Tinha a conta do florista, do analista e os próximos capítulos da cena.

Um dia sumi, uma noite ele sumiu, e era o fim do mundo da ditadura,
E o guarda-roupas e o carro na garagem ficaram olhando a fechadura.
Santa Cruz ou Maria ou em qualquer lugar ao norte de lugar nenhum,
Basta o nada para ser o tudo, e tudo o que é preciso é ser humano um.

Antes do Fim

Eu não era mais tão moço, e na hora do almoço tive uma alucinação:
Bechior e eu bebíamos vinho tinto, e cantávamos uma velha canção,
Uma balada falando de coisas assim, de money, de lua, e de nós dois,
Ele comentou sobre John, sobre America Latina e desapareceu depois.

Fiquei sentado à mesa posta, pratos vazios e a cabeça cheia de ideias,
E não pude nem lhe contar sobre Angela Maria e suas latinas medeias.
Belchior seguiu o caminho da morte, que traz justiça e nos faz irmãos,
Mas com palavras ainda traço o destino com o suor de minhas mãos.

05/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados


08/11/2019

Confesso Que Bebi

Confesso Que Bebi
Luiz Carlos Cichetto
Arte: Barata By Del Wendell

Ontem bebi como há muito tempo não bebia. Não foi por ira, por raiva, por nada demais, apenas bebi e nada mais. Bebi por Baco, por Sísifo, por mim, por ninguém mais. Não foi por Poe, pelo corvo e ninguém mais. Bebi por mim e ninguém mais. Bebi por querer, bebi por beber. E nada mais. Por querer, por ser, por viver. E nada mais. Não foi por querer estar tonto, nem pronto. Foi por querer e nada  mais.  Não foi por ter sido traído, nem por ter desistido, nada mais. Não foi por ter sido, não foi pra ter ido. Foi por ter bebido. E nada mais. Não foi por estar sensível ou achar horrível, mas por ser incrível, e nada mais. Não bebi por estar triste nem feliz, foi por que quiz. Não foi por comemorar, nem por agradecer, foi por querer.  Não foi para lembrar, nem para esquecer. Foi por querer ser, querer viver. Apenas bebi por querer, por vontade de beber, e nada mais.

07/11/2019

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

07/11/2019

Poemas Sacanas de Um Bêbado As Duas da Manhã

Poemas Sacanas de Um Bêbado As Duas da Manhã


Barata Cichetto - "Sexo Oral" Tinta Látex sobre Papel Paraná - 2016


(Parte 1)

E quando você acabar de jantar,
Diga se ainda tenho que esperar,
Antes de te comer e até saborear,
E se quer foder ou apenas transar.

Quero te fazer sexo oral
E chupar-te até o anal,
Mas se não faz um mal,
Eu të chupo até o final .

Se minhas palavras são raras,
Imagine então minhas taras?
Minhas intenções são claras,
E tuas todas as minhas caras.

Pouco importa se sou velho ou poeta,
Quero te comer à torto e em linha reta.
Conjurar na tua buceta, macho atleta,
E na tua cama ser tua forma predileta.

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(Parte 2)

O que pensas que é foder, minha cara?
Só gozar em ti, satisfazer minha tara?
Ou sonhas que te comer é dar-me inteiro,
E chupar e gozar como ato companheiro?
Se te chupo e como, se me come chupas,
E gozarmos juntos, a sós e sem culpas?

06/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto, Direitos Autorais Reservados

05/11/2019

Memórias Plenas de Um Esquecido

Memórias Plenas de Um Esquecido
Barata Cichetto



Eu queria ter esquecido. De ter aparecido. Esquecer de ter sido. Esquecer de ter ido. Esquecer de ser. Até não ter mais nada por esquecer. Queria ter esquecido que o dia tenha amanhecido. Queria ter esquecido de nascer quando não me quiseram viver. Queria ter esquecido de crescer quando me quiseram pequeno. Queria ter esquecido de esquecer quando me quiseram sem memória e sem história. Quando rasgaram minha certidão queria ter esquecido de ter feito tudo que fiz. E ter sido apenas que eu tinha esquecido de ser. Esqueceram de mim feito um brinquedo depois de crescido. Esqueci-me de mim e não poderia ter esquecido. Esqueceram de mim feito um cavalo de pata quebrada. Queria ter esquecido. De ter sido pai. De ter sido marido. Queria ter esquecido de não ter traído. Queria ter esquecido de não ter morrido. Queria ter esquecido de ter sofrido. A carne é fraca grita a vaca. Do boi só se perde o berro grita o dito. E qualquer fruto maldito do teu ventre esquisito. De teus pés tortos e de tua boca imunda e vagabunda. Queria ter esquecido. De ter sido. O que não fui. Queria ter desaparecido. Nas trevas. No meio das ervas do quintal. Queria ter ferido. Com metal quem avançou meu sinal. Quem quebrou minha confiança e matou minha esperança. Queria ter enfiado um punhal na tua garganta. Na hora da janta. Logo depois do Carnaval. Te enterrado no matagal. O mesmo onde enterrou tua calcinha. Ter enfiado tua cabeça torta na mesma privada onde jogou minha filha. Queria ter esquecido o que era certo. Honrado e não ter chorado tanto. Queria ter esquecido que era bom. E ter feito das tuas tripas um coração. Queria ter esquecido de não ter te matado enquanto podia. Pasto de covardia. Poço de hipocrisia. Queria ter esquecido. De ter sofrido. De não ter morrido. De ter matado. O que podia. Enquanto podia. Enquanto fodia. Queria ter esquecido. A carteira. E ter voltado. Antes da feira. Da segunda. Ou da sexta. Queria ter esquecido. De ter ido ao trabalho. A semana inteira. Queria ter morrido atropelado. Na Paulista. À vista. Antes da entrevista. Queria ter esquecido de ser gente. E te deixar doente. Morrendo à míngua. Não ter recolhido tua sujeira. De não ter espremido. Tua cabeça feito um tubo de pasta de dentes. Queria ter esquecido. De tomar o comprimido. Antes de ter ido ao psiquiatra. Queria não ter esquecido. De ter ferido. O impreterido. Queria não ter esquecido. E ter fodido. Quem queria foder. Queria ter comido. Traído. E ter sido. Chamado de perdido. Antes de me perder. Queria não ter sabido. Ter saído. Antes da hora. Queria não ter sentido. O estômago moer. Queria ter ido ao teu enterro. Não ao meu. Queria ter carregado a alça do teu caixão. Não ir sozinho ao cemitério. Queria ter te matado. Mesmo que em sonhos. E não ficar atado. Ao meu próprio pesadelo. Queria ter querido. Queria ter preferido. Morrer. Antes de ser morto. Queria não ter parido. Queria não ter esquecido. De ter partido. Quando fui partido. Em pedaços. Tão pequenos. No teu liquidificador. Queria nãoi ter arrefecido. Meu ódio. E não ter perdido minha ira. Queria ter esquecido de ir a missa do meu próprio casamento. De ter ido ao culto ao teu deus de mentiras. De ter lido. Teu livro de mentiras e traições. Teu evangelho escaravelho. Queria ter esquecido. De ter sido extraído a força do meio do jogo. E ter sido jogado no fogo. Queria não ter queimado. No Inferno. De terno E gravata. Queria ter dito bravata. Te comido na mata. E jogado fora minha cueca. Cheia de meleca. Queria ter esquecido de ter te conhecido. E agora não precisaria querer esquecer de ter nascido. Nem lembrar de não ter morrido. E antes que eu tenha esquecido. Quero ser grato. Por ter comido no seu prato. O resto da comida. Que eu paguei. E que outro comeu. Queria não ter esquecido. Queria não ter vivido.

04/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

04/11/2019

Espelho é o Inverso do Verso

Espelho é o Inverso do Verso
Barata Cichetto


O que vejo agora bailando a minha frente,
Não é o destino ou qualquer coisa diferente,
É apenas uma sombra, uma fosca mera miragem,
Neste espelho onde não encontro minha imagem.

31/10/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

02/11/2019

Barra, Barata, Barcelos

Barra, Barata, Barcelos
Barata Cichetto



Somos três amigos. Um preto, um branco e o outro mulato,
E desafiamos aos sentidos, do estrito, do restrito e do lato.
Disseram que não podíamos ser, dividiram as nossas cores,
E mentiram que éramos menores que nossas próprias dores.

A igualdade é o que temos, a desigualdade é o que querem,
E se somos diferentes somos melhores do que nos preferem.
Insistem que deixemos de ser o que somos, da cor ao penhor,
E que assim tenhamos um único amo, proprietário e senhor.

Não somos escravos de nossas peles, corpos meras carcaças,
E assim, diferentes irmanados em nossas próprias desgraças.
Mostraram o caminho do ódio que nunca quisemos por bem.
Conceitos que não nos pertencem, e os lucros são de alguém.

Barra, Barata, Barcelos, três amigos com honradas histórias,
Profetas poetas, em outras eras cobertos seriamos de glórias.
Temos as cores, mas cores não nos culpam, e nem absolvem,
Mas por elas é que as areias geladas deste mundo se movem.

Somos três seres. E fossemos um e seriamos bem menos,
Pois querem que nós nos dividamos, não que somemos.
E por Barra, construtor que une a argamassa com cal frio,
A Barata junta-se Barcelos, o profeta com olhar de arrepio.

Penso agora sobre meu destino e em cantigas do meu exílio,
E na esquina da Gonçalves Dias realizamos nosso concílio,
Crânios dos cachorros, troncos calcinados e esculturas finas,
No lombo trazemos a verdade e nas mãos carregamos sinas.

Percorrem as pernas cansadas os trilhos de aço da ferrovia,
Sobre dormentes de madeira o som que há muito não ouvia.
Há velhas máquinas que gritam na madrugada rumo à morte,
E um velho guardião dos rios, segue traçando a própria sorte.

Não há ordem no caos, nem justiça na terra da barbárie,
E o dente social, na boca do mal é o que sofre com cárie.
Bodes usam coturnos, e porcos fumam charutos cubanos,
O que nos resta é a solidão dos últimos redutos humanos.

Entre as linhas da pele nossa própria história escrevemos,
Falamos o que ouvimos e enxergamos além do que vemos.
Dois séculos e tanto mais somam todas as nossas idades,
Então fazemos do tempo um cavalo alado de realidades.

O que importa é o caminho, e não aonde queremos chegar,
Importante são os pés, e não a estrada, o terreno e o lugar.
De aço é o trem e os trilhos, e de madeira são os dormentes,
E a terra fria do cemitério único remanso de nossas mentes.

Somos em três: um é profeta, o outro poeta, e um é pedreiro,
E nunca sabemos quem é um, o outro ou quem é o primeiro.
Falamos em círculos, por mesóclises ou por colorida elipse,
Um triângulo escaleno, ênclises, e cavaleiros do apocalipse.

Barra, Barata, Barcelos, ou em qualquer ordem três profetas,
Que o mundo insano insulta como se fôssemos meros poetas.
Trajamos armaduras dos guerreiros, ultrajamos o estandarte,
E fazemos do que somos, muito além da existência, pura arte.

27/10/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados