Poema a Uma Bordadeira(À Joanna Franko)Barata Cichetto
Minha poesia é crua, tecido broco, algodão cru, saco de farinha. Então cabe àquele que a sente costurar sobre ele. Costurar, bordar, desenhar, rabiscar... Teça seu bordado majestoso sobre o pano rude da minha poesia. Pinte... E borde! Bordados majestosos sobre um pano rude. Multicolorido, em ponto cruz, ponto cheio, ponto inglês, vagonite ou rococó... Seu bordado é sua emoção sobre meu poema, pano rústico, sem laca, sem goma, lona quase, apenas tecido com linha por um tecelão inexperiente. Minha mãe foi tecelã. Eu apenas sei tecer, não sei bordar, coser ou pintar. Sou rude, de traços rudes com linhas grossas. Pesponto, ponto por ponto, linha por linha. Saco de farinha, algodão cru, juta, cânhamo e sisal. Minha mãe era tecelã, urdideira, com orgulho dela mesma. E no tanque, lavando roupa. A tecelã cosia, cozinhava, lavava, pintava, bordava e encerava e eu... No tanque de cimento ela lavava. E eu carregava a sacola de roupas finas e bordadas para a espanhola maldita que nem me dava um doce. Eu roubei um doce, meu primeiro delito. O primeiro de muitos. O outro? Foi não querer lavar roupas finas e bordadas de espanholas malditas. Apenas tecer sobre um pano rude uma poesia tosca, onde seus bordados dão o brilho. Sou tecelão tosco e desajeitado. E o bordado richelieu, russo, sombra, matiz... Reluz.
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