O CONTEÚDO DESTE BLOG É ESPELHADO DO BLOG BARATA CICHETTO. O CONTEÚDO FOI RESTAURADO EM 01/09/2019, SENDO PERDIDAS TODAS AS VISUALIZAÇÕES DESDE 2011.
Plágio é Crime: Todos os Textos Publicados, Exceto Quando Indicados, São de Autoria de Luiz Carlos Cichetto, e Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. (Escritório de Direitos Autorais) - Reprodução Proibida!


24/08/2017

Fui

Fui
Barata Cichetto

(Direitos Autorais Reservados)

Nos últimos sete ou oito anos, desde que criei um trabalho de artesanato de livros, que me possibilitou publicar, além de livros de pessoas interessadas, meus próprios livros, venho publicando cerca de dois ou três livros meus por ano. Tiragens bem pequenas na maioria das vezes. As menores giraram em torno de quinze ou vinte, chegando as maiores a cem. A maior parte dos livros "publicados" são de poesia, tendo feito treze nesse período.
A maior parte foi comprada por amigos mais chegados, em eventos que organizo e em redes sociais. Muitos foram doados a amigos, poucos por interesse de mídia. Amigos possivelmente os leram. A mídia, claro, ignorou, da mesma forma que, durante um tempo mandei textos de minha autoria a concursos literários, sem resultado nenhum.
Então fico aqui, nesta manha fria de inverno, depois de uma noite gelada de insônia, pensando sobre os erros que cometi durante cerca de quarenta e cinco anos que me dedico à escrita, e que me fizeram chegar a situação atual, com pilhas e pilhas de escritos, um currículo artístico que engloba atuação em inúmeras áreas, com uma produção constante, intensa e de qualidade, e nenhuma, ou quase nenhuma projeção dentro dos meios artísticos, tendo que me manter à custa de bicos, trabalhos espúrios e uma série de outras artimanhas, enquanto escritores medíocres, moleques e molecas sem não chegam a unha do meu trabalho, seja em vivência, qualidade e quantidade, brilham sobre holofotes, ganham fama e dinheiro.
Foram muitos, decerto, meus erros. Alguns identifico claramente, outros não. Mas decerto meu maior erro foi acreditar na independência.  Independência artística e financeira, sem permitir que o desejo de fama ou dinheiro corrompessem meu pensamento e, por conseguinte minha arte.
Mas agora, beirando aos sessenta anos, sem nada que possa me dar esperanças de ter o lugar que mereço, me entristeço. E é apenas o que consigo sentir. Tristeza.
Tristeza de não ter minha obra conhecida e reconhecida. Lida, vista e ouvida por muito mais pessoas. Isso é o mínimo que merece aquele que trabalha com paixão, dedicação, que faz de cada texto, de cada pincelada, de cada palavra, um artesanato preciso e ótima qualidade, no computo geral. Mas, afinal, a cada dia menos há lugar para mim, num mundo em que a intolerância do politicamente correto cada vez mais amordaça e amarra os braços dos artistas. Morro um pouco a cada manhã gelada de inverno, a cada noite quente de verão. Acreditei no trabalho, na perseverança, na qualidade que vem com o estudo, com a leitura e com o aprimoramento cultural, intelectual. Esperei. Esperei. Esperei. Trabalhei. Trabalhei. Trabalhei. Mas agora escrevo apenas para mim. Por mim. E sobre mim. Sou o que me importa. Tenho que ser. O não ser.
E na minha lápide imaginária, colocada na tampa de uma caixa de madeira onde estarão minhas cinzas, rogo que esteja escrito apenas: "Fui". Fui por ter sido, fui por ter ido.

24/08/2017

2 comentários:

  1. Lendo isso também me entristesso porque sei o quanto você é íntegro e acima de tudo apaixonado por tudo que faz, sempre preocupado com o de melhor dar de si , mas realmente nesta sociedade hipócrita em que vivemos não podemos esperar nada.Mas saiba que estou contigo sei até que não me dedico as suas coisas como você merece , mas no meu silêncio muitas vezes é porque a admiração que tenho de você e seus trabalhos me constranjo na minha pequenez.Barata Giracol Cichetto me orgulho de ter um homem como você ao meu lado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bell, não existe essa pequenez que você se auto-imputa. Ninguém é pequeno, a não ser que queira. Esse meu depoimento, que muitos podem chamar de reclamação, choradeira, conheces bem e o aturas quase diariamente. Queria mesmo me conformar com isso, queria me aquietar diante da indiferença, especialmente das pessoas próximas, que tanto estimo. Mas saiba que nesse mundo não há nada que me faça me sentir mais vivo do que sua presença, mesmo que silenciosa, ao meu lado.

      Excluir

Respeite o Direito do Autor e Não Esqueça de Deixar um Comentário.
Todos os Textos Publicados Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. - Reprodução Proibida!