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03/08/2019

Araraquariana Nº 4

Araraquariana Nº 4
Barata Cichetto

Tem uma santa parada na esquina, pedindo carona a transeuntes de muletas e andadores. Uma santa de carne, pouca, e ossos fracos. E lábios tão finos que nem aguentam segurar um cigarro. Ela treme e gesticula do jeito tosco como se mexem as santas, e também as loucas. A esquina é seu ponto, e mal aponto, ela me chama de namorado, pedindo oitenta sem trocado, implorando que eu ame o seu pecado. A esquina é da Brasil com "Um", que tem nome de poeta. E um McDonalds bem em frente. Ela é diferente por ser indiferente, e agora ela quer cem. Aceita cartão de débito e do Bolsa Família, e me conta que é filha de mãe solteira de pernas longas, e de um pai que anda preso em Curitiba. Dentro do bar bêbados lhe sorriem e passam a mão nas pernas de outra a quem chamam de Bailarina. Da calçada ela me chama, falando que me ama, agora por cento e vinte: há um preço por uma santa, conta ela balançando os cabelos negros encaracolados. É o custo da carne seca no supermercado. Preço marcado tatuado em sua alta testa. Ah, mas ela não presta, é apenas outra santa sem nome, e santas não matam a fome: santas sabem ser putas. Ela me chama de pai, e quer se minha filha. Diz que podemos ser, nós dois, uma grande família. Desde que eu pague cento e cinquenta. Eu com sessenta, e ela com quarenta. Uma família de cem. E ela tem uma filha de vinte, então passa de cento e vinte com a menina. Nós três e a cocaína. Uma bela família burguesa, trajando bandeiras vermelhas. A filha não é santa, é menina de família. Que não faz anal. Nem mal. Nem bem. E ela cobra só cem.  Seu olhar é de faca, a carne é fraca e eu não tenho dinheiro. Ela pede o meu tudo, não como santa, mas como pastora de igreja neopentecostal, ou qualquer coisa que eu ainda possa possuir. Dou-lhe duas moedas e uma caneta, digo que escreva um poema. Mas ela é uma santa, e santas não sabem escrever. Poesia. Chega o preço a duzentos e com mais quinhentos, eu chego ao valor de mercado, por uma santa. Então pego emprestado, pago adiantado. E depois de trocado, saio ferrado, lamentando meu pecado: ela é uma santa, e santas não sabem foder.

03/08/2019

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