Barata Cichetto
Arte: Hamza Nesrate |
Ela passou mais de um ano pedindo a liberdade ao ladrão,
Político que roubou a terra e portanto não merecia perdão.
Chegou a dormir na calçada, e comeu pão com mortadela,
E quase gozou quando o desgraçado lhe acenou da janela.
Dormiu até com deputado da oposição cheio de dinheiro,
Para ir até a cidade gritar pela liberdade do companheiro.
Ela sabia quem ele era, e que perderia toda sua dignidade,
Mas aceitou transar, apenas para justificar a necessidade.
Comprou camiseta vermelha com a estampa do milionário,
Acreditando que o mentiroso era pobre, portanto solidário.
E acreditou tanto, que tatuagem na perna deixou esculpir,
Pintou no rosto uma estrela e foi para a rua cagar e cuspir.
A dignidade de mulher, a custo conquistada por outras damas,
Ela jogou no chiqueiro onde porcos imundos fizeram de camas.
Xingou pai de fascista, mãe de egoísta, e achou ser comunista,
Sem saber o preço de nada, e nunca pagar a conta do dentista.
Chamou a todos de racista sem perceber seu próprio conceito,
E de nazista a qualquer um que discordou do seu preconceito.
Numa arrogância peculiar, em defesa das chamadas minorias,
Demonstrou ignorância acreditando em igualdade por teorias.
Pintou o cabelo de roxo, cor-de-rosa e depois de amarelo,
Na base da nuca mandou tatuar uma foice e um martelo.
Colocou piercing de estrelas nos mamilos, e calçou coturno,
E xingou de fascista o padeiro, e de gado o guarda-noturno.
Brigou pelos privilégios que se arvorou de forma vil e arrogante,
E pelo direito de ter livre a esquerda ao descer a escada rolante.
Fez da esperteza seu dever, pilhar e roubar agora era ocupação,
E cobrar aluguel dos desvalidos, o que chamou de participação.
Gritou palavras de ordem e por ordem de alguém pichou muros,
Sem nunca conhecer a real razão por trás de tempos tão duros.
Por sua própria vontade aceitou o imposto por cerebral lavagem,
E assim deixou de ser uma pessoa, e virou apenas uma imagem.
Deixou de usar sutiã, maquiagem e depilar o suvaco e as pernas,
Crendo em mentiras que por bocas rotas viram verdades eternas.
Namorou traficante, fumou maconha e deu tiro de fuzil na favela,
Ficou tão bêbada que deu para doze acreditando ser uma novela.
Trocou o sentido das palavras e matou da língua seu significado,
Berrou em nome da liberdade, sem saber que a tinha sacrificado.
Chamou autoridade de opressão e de pai o malfeitor sacripanta,
Mas nunca chegou em casa depois de estar pronta a sua janta.
Acreditou na justiça pelos seus olhos, e assim a tudo sacrificar
E o que era o errado virou certo desde que pudesse lhe justicar.
Seu corpo eram suas regras e assim aborto virou revolucionário,
E virou dívida e direito aquilo que era apenas um ato partidário.
Exaltou o genocídio de acordo com a necessidade da revolução,
Acreditando que o importante era a causa e nunca seu coração.
Se indignou com a morte do moleque que matou um policial,
E na estação colocou fogo no Museu que não tinha fim social.
Quando enfim o bandido deixou as grades, sonhou ser dama,
E acordou molhada com um cadáver aos pés da própria cama.
Tinha tanta fé naquele que acreditava ser seu novo Salvador,
Que não percebeu o sangue escorrendo das mãos do ditador.
09/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados
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