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19/02/2016

A Luz é Um Buraco na Escuridão

A Luz é Um Buraco na Escuridão
Luiz Carlos Cichetto
ou: Cichetto a Barata

E foi, de abandono em abandono
Que deitei-me na cova do destino
E agora, o cão sem faro e sem dono
Caio por terra e choro em desatino.

Mas se nas trevas desta noite imensa
Há a luz, feito o buraco na escuridão
Rogo às estrelas em majestade intensa
Que derramem a paz no meu coração.

E se ainda assim a noite teimar escurecer
Volto meus olhos para dentro de mim
Procurando aquilo que ainda possa nascer
E das trevas faço a luz antes de ver o fim.

Da maldade nasce a dor, do desencanto a morte
Mas se dentro existe algo de bom que sobrevive
Que me encante a luz e o canto da minha sorte
E o sol brilhará sobre tudo aquilo que ainda vive.

19/02/2016

12/02/2016

A Esperança é Uma Cadela Manca

 A Esperança é Uma Cadela Manca


Todos os dias eu continuo indo - feito um cão fiel cujo dono morreu - ao mesmo lugar, ao mesmo ponto de encontro. Sento no mesmo lugar e bebo a mesma bebida. E converso com as mesmas pessoas. Espero a mesma pessoa e o mesmo ônibus. Mas, feito o cão, a espera será inútil. A espera é sempre inútil quando quem se espera está morto ou esquecido da vida. A espera é sempre inútil quando quem - o quê - se espera foi-se por que queria partir. A espera é sempre inútil quando se sabe que esperar é uma forma de ilusão daquelas que têm uma crueldade quase orgânica. Esperar é esperança. Esperança é ilusão. Mentira, portanto. Espera-se a chegada, não a partida, a chegada não a ida. Espera-se sempre o bom e o bem, nunca o mau e o mal. Sempre chega quem - o quê - a gente não espera. E o que se espera não vem, não acontece. E então a gente perde, se perde, se enfurece com a espera. E fico sentado, feito o tal cão cujo dono morreu, que ele apareça. O cão não tem noção da morte?

O cão tem esperança? O cão acredita? Mas, onde eu fico, todos os dias, no mesmo horário, no mesmo local, bebendo a mesma bebida amarga, tem uma cadela que foi espancada e aleijada pelo antigo dono que a abandonou ali. Ela é manca, feia e torta. E ela é minha companhia na espera. Talvez ela ainda espere o dono que a abandonou ali e a espancou até aleijar. Talvez ela pense que o dono irá voltar e abraça-la e carregar de volta para casa. Mas então eu penso, se aquela cadela sabe que foi o dono que não a queria, que foi ele quem a aleijou. E também talvez ela não ligue para isso, apenas o ame, naquela forma de amar dos animais que tem motivos diferentes que os humanos. Talvez... Mas o fato é que eu e a Negona - esse é o nome da cadela - ficamos ali esperando, com os olhos fixos nalgum ponto, esperando alguma coisa ou alguém. Quem sabe ela nem espere quem eu imagino que espera, talvez ela não espere nada nem ninguém. E nada de ninguém. Talvez ela esteja ali, de fato, apenas por me fazer companhia, porque ambos esperamos por alguém que sabemos que nos fez mal. Ou não. Ou não nos fez mal ou não esperamos, no fim. Talvez, de fato, estejamos simplesmente ali, sem saber que nos nossos desesperos e aleijamentos causados por pancadas e indiferenças, nos confortamos e conformamos com nossas esperas, sabendo que jamais surtirão efeito. Mas esperamos. E o sorriso que lhe dou, e ela responde com um sorriso de cauda, é mais que o sorriso de alguém que nunca deveria ser esperado. Nós (des) esperamos!

A bebida acabou. Levanto do mesmo lugar, pago a conta. A moça do caixa me sorri, sem saber da minha espera. Eu sorrio enquanto chega outro ônibus vazio. Vazio por que nele não vem quem eu esperei que viesse. Ou que não viesse. E pego minha canseira de esperar e volto para casa. A Negona permanece ali, talvez esperando o dono. Ou não esperando nada. Talvez a esperança dela seja apenas que amanhã eu volte ali para esperar. E fique ali com ela. Esperando...

Cichetto, o Barata!
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