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03/03/2016

Barata Sem Eira Nem Beira - The Final Cut

Cumplice do Meu Próprio Assassinato

A melhor coisa que pode acontecer na minha vida é a minha morte. Goze, vadia que roubou minha poesia e minha respiração. Que arrancou minha vida, sufocou minha respiração. Passo meus dias vazios em busca de mim. Onde estou? Cadê eu? Pergunto a mim mesmo... A tristeza me escolheu mais uma vez, como consorte... Sou um poço, sem fundo e sem luz.  A escuridão, o medo. Sou um velho que se arrasta por um mundo devastado. Onde andará minha rainha, perguntou o bufão ao rei. Na minha cama, respondeu o rei maldito. E todos os reis são malditos. E na sua cama, todos são reis. E são malditos. Lágrimas do bufão não incomodam aos reis. Nem as rainhas putas. Goze com minha dor em rede social. Se anime, se arrume deixe que o inferno consuma minha alma. Poetas chorosos não te dizem respeito, nem te inspiram respeito. Porcos não entendem poesia. Leia uma poesia a um porco, escreva a uma poesia a um porco e o máximo que irás conseguir será ser lambuzado de merda. Mas, apesar de tudo, queria que chegasses no próximo ônibus, sorrindo e me dizendo que fostes obrigada por força de uma arma, de uma chantagem, a agir da forma que agistes. Mas, sou tolo e sonhador por acreditar em histórias bonitas. Acreditei, sim, nas histórias sobre amor, sobre esse sentimento que eu sabia estar perdido. Acreditei, como num roteiro de novela de televisão, na redenção do vilão. Mas a vileza consumiu-te os ossos, roeu-te a carne. E eu fiquei, acompanhado da dor e de meu copo de Cynar, acompanhando apenas daquela tal cadela aleijada, esperando um ônibus que eu sei que jamais chegará. Poetas são tolos, ingênuos e sofredores por natureza. E essa é minha natureza. A sua, a natureza da vingança, não permite o amor. Sim, sou um velho poeta, cansado de acreditar, cansado de cansar. Cansado da vida. A natureza humana corrompida, é minha dor. Meu socorro, minha crença, numa cozinha pintada de verde se esvaiu como um gozo volátil. Num instante era prazer, no outro virou dor. Todo prazer vira dor, ou toda dor vira prazer. A seu bel-prazer. Dei esperança, tive esperança, mas fiquei sozinho numa dança... Macabra dança que acaba em morte. Em vingança contra mim mesmo, por não conseguir o crime perfeito. A tolice da minha poesia, a ingenuidade do meu ser, minha voz que grita contra teu desdém, tudo agora calado. Quieto e surdo feito a morte. Essa, que apelas ela, pode calar a dor. A coragem e a covardia que se misturam. Não há mais razão, não há mais emoção. Apenas silêncio. Quero a escuridão: coloquei cortinas pesadas na janela. Quero o silêncio, me fechei no quarto e dormi. Até que a melhor coisa da minha aconteça. Enquanto gozam os culpados. Gozo também eu por mim, cúmplice do meu próprio assassinato.

19/02/2016

A Luz é Um Buraco na Escuridão

A Luz é Um Buraco na Escuridão
Luiz Carlos Cichetto
ou: Cichetto a Barata

E foi, de abandono em abandono
Que deitei-me na cova do destino
E agora, o cão sem faro e sem dono
Caio por terra e choro em desatino.

Mas se nas trevas desta noite imensa
Há a luz, feito o buraco na escuridão
Rogo às estrelas em majestade intensa
Que derramem a paz no meu coração.

E se ainda assim a noite teimar escurecer
Volto meus olhos para dentro de mim
Procurando aquilo que ainda possa nascer
E das trevas faço a luz antes de ver o fim.

Da maldade nasce a dor, do desencanto a morte
Mas se dentro existe algo de bom que sobrevive
Que me encante a luz e o canto da minha sorte
E o sol brilhará sobre tudo aquilo que ainda vive.

19/02/2016

12/02/2016

A Esperança é Uma Cadela Manca

 A Esperança é Uma Cadela Manca


Todos os dias eu continuo indo - feito um cão fiel cujo dono morreu - ao mesmo lugar, ao mesmo ponto de encontro. Sento no mesmo lugar e bebo a mesma bebida. E converso com as mesmas pessoas. Espero a mesma pessoa e o mesmo ônibus. Mas, feito o cão, a espera será inútil. A espera é sempre inútil quando quem se espera está morto ou esquecido da vida. A espera é sempre inútil quando quem - o quê - se espera foi-se por que queria partir. A espera é sempre inútil quando se sabe que esperar é uma forma de ilusão daquelas que têm uma crueldade quase orgânica. Esperar é esperança. Esperança é ilusão. Mentira, portanto. Espera-se a chegada, não a partida, a chegada não a ida. Espera-se sempre o bom e o bem, nunca o mau e o mal. Sempre chega quem - o quê - a gente não espera. E o que se espera não vem, não acontece. E então a gente perde, se perde, se enfurece com a espera. E fico sentado, feito o tal cão cujo dono morreu, que ele apareça. O cão não tem noção da morte?

O cão tem esperança? O cão acredita? Mas, onde eu fico, todos os dias, no mesmo horário, no mesmo local, bebendo a mesma bebida amarga, tem uma cadela que foi espancada e aleijada pelo antigo dono que a abandonou ali. Ela é manca, feia e torta. E ela é minha companhia na espera. Talvez ela ainda espere o dono que a abandonou ali e a espancou até aleijar. Talvez ela pense que o dono irá voltar e abraça-la e carregar de volta para casa. Mas então eu penso, se aquela cadela sabe que foi o dono que não a queria, que foi ele quem a aleijou. E também talvez ela não ligue para isso, apenas o ame, naquela forma de amar dos animais que tem motivos diferentes que os humanos. Talvez... Mas o fato é que eu e a Negona - esse é o nome da cadela - ficamos ali esperando, com os olhos fixos nalgum ponto, esperando alguma coisa ou alguém. Quem sabe ela nem espere quem eu imagino que espera, talvez ela não espere nada nem ninguém. E nada de ninguém. Talvez ela esteja ali, de fato, apenas por me fazer companhia, porque ambos esperamos por alguém que sabemos que nos fez mal. Ou não. Ou não nos fez mal ou não esperamos, no fim. Talvez, de fato, estejamos simplesmente ali, sem saber que nos nossos desesperos e aleijamentos causados por pancadas e indiferenças, nos confortamos e conformamos com nossas esperas, sabendo que jamais surtirão efeito. Mas esperamos. E o sorriso que lhe dou, e ela responde com um sorriso de cauda, é mais que o sorriso de alguém que nunca deveria ser esperado. Nós (des) esperamos!

A bebida acabou. Levanto do mesmo lugar, pago a conta. A moça do caixa me sorri, sem saber da minha espera. Eu sorrio enquanto chega outro ônibus vazio. Vazio por que nele não vem quem eu esperei que viesse. Ou que não viesse. E pego minha canseira de esperar e volto para casa. A Negona permanece ali, talvez esperando o dono. Ou não esperando nada. Talvez a esperança dela seja apenas que amanhã eu volte ali para esperar. E fique ali com ela. Esperando...

Cichetto, o Barata!
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