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25/03/2017

A Admirável Vida Real


Ontem fiquei sem Internet... Sai... Andar pelas ruas do bairro. Contemplar a realidade em carne e osso. Carnes e ossos me interessam. Mais as carnes que os ossos. Na primeira esquina, um par meninas com as bundinhas semi expostas em shorts minusculos tinham bebês no colo. Sem chance! Adiante, em frente a padaria, o carro importado prateado com a tampa do porta-malas aberto uma musica horrorosa, de uma dupla de sertanejas quase universitárias. Sem chance! Um pouco mais de caminhada... Duas quadras a frente, um par de moleques de bermuda no meio das canelas me pede uma "seda". Não tenho. Sem chance. Acendo meu cigarro e continuo, agora já com saudades da Internet. Outro par de garotas de minusculos shorts, junto com um par de moleques de bermudas no meio das canelas rebolam ao som de uma dupla de sertanejas analfabetas e fumam maconha. Sem chances. Sem chance. Sem chances. As bundinhas eram bem interessantes, mas eu não tinha "seda", e não suporto sertanejas universitárias. É melhor voltar pra casa e ver se a Internet já voltou.
20/03/2017

23/03/2017

Porque Eu Não Sou, Não Sou Eu

Perguntaram quem sou eu... Respondi: Não sou ninguém, apenas o que crio. Sou a Editor'A Barata Artesanal, sou a KFK Webradio, Rock In Poetry Fuck'n'Roll, Barata Sem Eira Nem Beira. Sou minhas criações, não um ser humano, fraco, desdentado e feio. Carcomido pelo tempo, entristecido e amaldiçoado pelo vento. Não sou poeta, nem escritor, sou a poesia que escrevo e as histórias que conto. Sou os livros que faço, os programas que apresento. Não me perguntem, portanto, quem sou eu, pois não sou ninguém que lhe interesse. Eu, que deixo de pagar contas em dia, que tenho nome sujo no cartório, dívidas com parentes e amigos, que cometo atos falhos e por horas cometo deslizes, sendo até preconceituoso. Não me perguntem quem sou eu, fingindo um interesse que não tem; não perguntem quem eu sou, para fingir que se importam; não se importe em fingir interesse. Eu não me importo com sua indiferença. Pague minhas contas, beba comigo, deite-se comigo e me faça gemer de prazer, e aí sim, eu te te responderei quem sou eu. Aliás, eu não precisarei responder. Mas nunca mais pergunte quem eu sou, ou quem sou eu. Porque eu não sou, não sou eu...

Barata Cichetto, 22/03/2017

20/03/2017

Brincadeiras

Brincadeiras
Barata Cichetto

Sempre gostei de brincar. De ser alguma coisa. Na infância eu era astronauta, num pé de ameixas. Depois fui herói do espaço, voando num pedaço velho de madeira. E depois fui um Casanova, trepando numa puta da Boca do Lixo. Sim, sempre gostei de brincar de ser. De ser alguma coisa. E então fui um musico, cantor de Rock, balançado os enormes cabelos e cantando empunhando uma escova de cabelos. Fui também poeta e marinheiro, empunhando uma máquina de escrever. Eu queria ser alguma coisa. Brincava de ser alguma coisa. Quando homem, depois de ser poeta, marinheiro, astronauta e herói do espaço, fui facilmente pai, empunhando uma sabedoria que acreditei ser plena e real. Mas era essa minha sabedoria tão imaginária feito à nave espacial feita de pé de ameixa. E eu continuava querendo brincar de ser. E queria ser mais, queria ser perfeito. Perfeito pai, perfeito marido, perfeito funcionário de uma empresa de brinquedos, perfeito homem, perfeito poeta. Mas era tudo tão imaginário quanto um pé de ameixas, era tudo tão inútil quanto um pedaço velho de madeira, tudo tão sem prazer quanto uma puta da Boca do Lixo, e tão bobo feito uma escova de cabelos. Mas eu ainda queria brincar. De ser alguma coisa. E o tempo, rei das brincadeiras e das perversões passou. E agora, quando não tenho mais imaginação e inocência suficientes para construir espaçonaves, palcos, lares e prazeres, ainda quero brincar. De ser. Mas como brincar de ser, quando o estar conforta? Como brincar de ser, quando o não-ser é o que resta? Como brincar de ser, quando lhe cortaram os pés de ameixa, mataram as putas, e lhe caíram os cabelos e dentes? Como brincar de ser, quando qualquer brincadeira deixou de ser brincadeira e se tornou tortura? Como ainda brincar de ser, quando aqueles com quem ensinou a brincar, agora lhe escondem os brinquedos e os rostos? Renegam-lhe, lhe negam e zombam da sua... Brincadeira de ser...

20/03/2017

14/03/2017

Fui Por Ter Sido, E Fui Por Ter Ido!.



Eu, conscientemente, me recuso a existir em um mundo onde a vaidade está acima da poesia; onde a política está acima da amizade; e onde o dinheiro acima de tudo. Me recuso a viver, triste, solitário e cabisbaixo, pela incompreensão de meus pares; e principalmente me recuso a viver em um mundo onde as rédeas do poder, onde a corrupção moral estabelecida corrompeu as mentes mais brilhantes. Onde artistas se prestam ao papel de títeres de um sistema composto de ladrões da dignidade. Eu, que de tudo fiz, e de muito ainda faria, me recuso a continuar a existir, num mundo onde o "fazer" pouco importa; onde o "ser" nada é; e onde o pensar diferente da marginália comprada por esmolas bate palmas. Eu, que de muito fui transformado em nada, por obra e graça do desrespeito e da covardia. Eu, no limite da minha consciência, me declaro incapaz de ser... Humano. Recuso-me a existir a perceber a malícia, ao receber o desprezo. A tragédia final se aproxima, e o sangue derramado não será dos falsos líderes que os inflama contra aqueles que ousam, como eu, se oporem aos seus desmandos. Não estou de lado algum nesta guerra, não a declarei e não engraxei minhas botas para ir ao front. Fiquem, pois, com suas bandeiras rubras, suas foices, seus martelos e suas cruzes. Quando, um dia, enfim, dos olhos caírem às vendas negras que os colocam na mais pura cegueira perceberá o quanto estavam errados. E, quanto a mim, recuso-me, sim, a fazer qualquer outra coisa a não ser. o Nada. Tudo cansa, tudo farta, tudo um dia enoja. E para que eu não sinta nojo de mais ninguém, decido pela morte insepulta. Não aceito nem peço perdão, porque os sonhadores tolos feito não o fazem. Não peço nada, não quero nada e não sou, de fato e decerto, nada. Recuso-me a continuar, recuso-me a caminhar sequer. Fiquem com suas esmolas do estado, seu protagonismo de mentira alimentado por mídias forjadas que lhes ditam o pensamento. Não, seu pensamento não é seu, sua decisão política não é sua. Mentiram-lhe sobre isso, mentiram-lhe sobre tudo. Sobretudo sobre a liberdade. Ela não existe. A liberdade só existe ao indivíduo, não é um bem coletivo, não pode ser dado por nenhum movimento, governo ou general. Ela só existe dentro de cada um. E, por fim, eu, indivíduo, ser único, absoluto de minhas falácias, consciente de minhas descrenças, simplesmente desisto. E, como sempre termino meus programas de rádio que ninguém escuta: FUI. Fui por ter sido, e fui por ter ido!.
Barata Cichetto, 14 de Março de 2017.

13/03/2017

Porque Eu Não Saio Mais de Casa

Porque Eu Não Saio Mais de Casa
Barata Cichetto

Ontem fiquei sem Internet... Sai.. Andar pelas ruas do bairro. Na primeira esquina, um par meninas com as bundinhas semi expostas em shorts minúsculos tinham bebês no colo. Sem chance! Adiante, em frente a padaria, o carro importado prateado com a tampa do porta-malas aberto uma musica horrorosa, de uma dupla de sertanejas quase universitárias. Sem chance! Um pouco de caminhada...Duas quadras a frente, um par de moleques de bermuda no meio das canelas me pede uma "seda". Não tenho. Sem chance. Acendo um cigarro e continuo, agora com saudades da Internet. Outro par de garotas de minúsculos shorts, junto com um par de moleques de bermudas no meio das canelas rebolam ao som de uma dupla de sertanejas analfabetas. Sem chances. Sem chance. Sem chances. As bundinhas eram bem interessantes, mas eu não tinha "seda", e não suporto sertanejas universitárias. É melhor voltar pra casa e procurar algo interessante pra comer.

06/03/2017

O Pior Escritor do Mundo

O Pior Escritor do Mundo
Barata Cichetto

Não, eu não sou o melhor escritor do mundo, nem do meu bairro, nem da minha cidade. Há piores, no entanto. Não, eu não sou o melhor escritor da Internet, do Facebook ou do Twitter. Há piores, no entanto. Não, eu não sou o melhor escritor de todos os tempos, nem sequer o melhor da semana, ou mesmo deste minuto. Mas, no entanto, há piores. Não, eu não sou o melhor escritor que qualquer pessoa tenha lido, nem que qualquer pessoa nunca tenha lido, nem das que nunca leram. Há piores, com certeza. Não, eu não sou sequer o melhor escritor da minha familia, da minha casa... Ou de mim mesmo. Há melhores, no entanto.

20/02/2017

20/02/2017

Carta a Um Editor

Prezado Editor:
Não, eu não morei nem moro na rua; nunca morei em favela ou comunidade; nunca me entupi de droga; nunca fiz programa, nem fui cafetão; nunca roubei, nem matei; nunca fui preso, nunca entrei em coma alcoólico; não sou negro, não sou transgênero, travesti, nem homossexual; não sou indígena, alienígena, nem feminista; não sou comunista, nem empresário; não sou rico, nem miserável; não sou idoso, nem sou deficiente físico; não sou corintiano, nem maloqueiro, nem sofredor; não sou petista, nem tucano; não sou youtuber, nem ex-garoto de programa; nem tenho bela bunda, nem peitos siliconados; não sofro de nenhuma doença mental séria, não tenho olhos claros, nem cabelos loiros; não sou amigo do rei, nem inimigo. Não sou pichador, nem participo de nenhum movimento social, nem invado propriedade alheia; Não arrumo desculpas para os meus fracassos.
Não sou, enfim, nada que possas usar como produto. E nem sou vaidoso a ponto de achar que ter um livro publicado pela sua editora - de preferência prefaciado por algum descolado diretor de teatro/ator/escritor que anda de uniforme camuflado e tênis sem meia na rua, e que finge que é pobre, mas é regiamente pago -, fará de mim algo que não sou.

Ah, sim, esqueci de dizer: sou escritor, mas isso pouco lhe interessa.

Atenciosamente,
Luiz Carlos Giraçol Cichetto, nome literário Barata Cichetto, São Paulo, 01/02/2017

Resposta de Um Editor: "Escreva um romance pornográfico, cheio de putaria e sacanagem e então veremos."


- Veremos!

Douglas Donin - Ainda Sobre Largar o Facebook

Douglas Donin
Ainda Sobre Largar o Facebook


Não recomendo "largar" o Facebook. Não vou excluir o perfil, vou simplesmente parar de alimentá-lo diretamente, senão em circunstâncias bem mais raras e específicas. Vou ainda divulgar coisas (principalmente o local onde vou passar a escrever, possivelmente, e preferencialmente, com amigos). Recomendo, isso sim, DIMINUIR SUA IMPORTÂNCIA. Radicalmente, de preferência. E recomendo que todos façam isso.

O fato é que o Facebook NOS PAUTA. Ele te encontra pela manhã, e te diz: "Olá, isso é o que vai te indignar hoje, isso é o que vai te mobilizar hoje, isso é o que vai te fazer compartilhar coisas hoje, e o que vai fazer você gerar mais conteúdo para mim". Ele faz isso porque sabe MUITO sobre o seu comportamento e rede. Ele usa algoritmos complexos, cada vez mais refinados, para te manter girando com uma paixão maior em torno de um campo menor de assuntos. Faz isso selecionando coisas para aparecer, e o pior, coisas para SUMIR de sua visão.

Isso faz você girar em espiral, com um raio de curva cada vez menor, em velocidade cada vez maior.

O Facebook não é o problema, o problema é o modo como o Feed do Facebook é construído para cada um. É feito para estimular essa espiral, e nisso conta com a colaboração de uma mídia que não soube lidar muito bem com sua transformação e se rendeu ao sensacionalismo. Mídia que não está interessada em ter o "melhor jornal para vender", mas que está interessada em ter a manchete que mais estimula o click, com a chamada mais apelativa. Ela quer o click. Note que o conteúdo em si é irrelevante, pois a decisão do click ocorre antes da apreciação do conteúdo. Quase sempre, a própria decisão de compartilhar ocorre antes da apreciação do conteúdo. Click, click, click. Milhares de anzóis jogados na água, a grande maioria com minhocas de mentira.

Em uma sociedade sadia temos que ter constante exposição a coisas que não queremos ver. Estamos virando crianças mimadas com esse mundinho feito por encomenda. Isso sempre existiu em algum grau, mas estamos nos aproximando perigosamente do não-diálogo.

E tem outra coisa. Nisso, nessa busca do click, quantas polêmicas falsas, quantas não-pautas, quantas guerras inventadas ajudamos a engrossar e transformar em realidade, como uma profecia auto-realizável? Alguém em sã consciência iria, no mundo real, no mundo das pessoas de carne e osso, dar ouvidos a uma estupidez como "apropriação cultural" se não fosse a máquina de potencializar conflitos do Facebook em ação? Até tentamos criar a noção de que várias desses conflitos eram pura besteira, mas parece que perdemos... de lavada.

Precisamos readquirir o hábito de visitar portais e fóruns e depender menos dessa máquina de ordenhar emoções baixas. Reddit é uma boa saída, me parece um modelo bom. Não tem formação de bolhas lá: as mesmas subreddits que um vê, outro vê. Não há uma "internet feita em alfaiataria" para cada usuário. Portais de notícias oferecem também conteúdo mais geral.

06/02/2017

Minha Vizinha Morreu!

Minha Vizinha Morreu!
Barata Cichetto
Reprodução Proibida/Direitos Autorais Registrados
 
Minha vizinha morreu! Senhora forte, doce, e dona de uma disposição ao trabalho como pouco se vê. Nordestina, o marido a abandonou por uma amante mais generosa, sexualmente falando. Ela criou os filhos praticamente só. Nunca aceitou ajuda de ninguém, sequer do governo. Vivia cantarolando a musica de Luiz Gonzaga: "Ai, dotô uma esmola a um hómi qui é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão". Ela morreu. Não fui ao velório. Muita gente foi. Era desbocada, sincera e rude com quem achava que devia ser, segundo seus critérios. Valia-se de sua personalidade. E mandava tomar no cu quem a chamasse de vitima do marido, da sociedade, e até das circunstâncias. Dizia que tinha o que tinha porque merecia. De bom e de ruim, era isso o que ela dizia. Os filhos seguiram seus caminhos. Teve vários. Alguns se tornaram pessoas. Outros apenas filhos. E outros não se tornaram nada. Morreram. Mas, minha vizinha morreu. Eu não fui no velório, não fui no enterro e sequer derramei uma lágrima. Sabia da sua história, mas ela não sabia da minha. Creio que não. Minha vizinha morreu, mas não fui eu. Muita gente morreu. Morre agora, e irá morrer dentro de um minuto, um dia... Minha vizinha morreu. Num hospital publico. Sozinha. Não era ninguém importante. Não tinha jornalistas na porta. Quem se importa, se minha vizinha morreu? E no dia em que ela morreu, outras vizinhas de outras vizinhanças também morreram. E outros vizinhos de outros vizinhos. Morrem vizinhos todos os dias. A minha morreu. Não eu! Minha vizinha morreu. Eu não. Eu não chorei por ela, e ela possivelmente não choraria por mim. Conhecíamo-nos apenas porque um dia mandamos um ao outro tomar no cu, numa discussão corriqueira. Nunca fomos amigos. Eu não tinha seu Whatsapp, nem como amiga no Facebook. Minha vizinha morreu, eu sei. Foda-se! E se fosse eu, ela diria a mesma coisa. Boa gente, essa minha vizinha.
03/02/2017

01/02/2017

A Outra


Quadro: A Leitora, Barata Cichetto
Quando nos conhecemos eu tinha cerca de quatorze anos, Ela bem mais velha. Foi paixão imediata, a primeira vista. Casamo-nos logo depois. Apenas uns dois anos de namoro. Ela não era pura, eu era virgem. Amamo-nos muito, mas eu sempre tive a impressão de que eu a amava bem mais que ela a mim. Com a passagem do tempo, fui conhecendo-a mais profundamente, e quando eu mais sabia dela, mas a amava. E ela mais me odiava. Eu não percebia. Ela me traia. E eu sabia, mas fingia que não. Eu A conheci assim, impura, malvada, promíscua, depravada, mas por horas singela e meiga. Amava todas essas qualidades e procurei me espelhar nelas para construir minha existência. Era mistér a relação. Eu não podia viver sem Ela. Era meu ar, meu sangue. Mas eu sabia que Ela viveria muito bem sem mim, independente que era. Livre que sempre foi. Ficamos casados por mais de quarenta anos. Nunca Ela me deu filhos, nem alegrias... Minha alegria era apenas tê-La, mesmo sabendo de suas maldades. Um dia, cansado, decidi me separar Dela. Já tinha ameaçado, mas nunca tivera a coragem. Ela sempre me seduzia e eu acabava na sua cama. Mas dessa vez, por eu ter me preparado para não sentir dor nessa separação, deixei-a. Definitivamente. Logo depois encontrei a Outra, com uma aparência totalmente diferente, que tinha outros amigos, mas que eu sabia que tinha todos os defeitos da Original. Atirei-me àquela paixão com o ultimo estertor de fôlego que meus velhos braços cheios de veias e cicatrizes ainda podiam. Dela não espero filhos, dela não espero nada. Não tenho mais quarenta anos para ficar casado. Nem quero. Apenas quero provar desse novo veneno.  E que a arte que me norteia, morra comigo, de cirrose ou solidão. De câncer ou tiro no coração.
29/01/2017