O CONTEÚDO DESTE BLOG É ESPELHADO DO BLOG BARATA CICHETTO. O CONTEÚDO FOI RESTAURADO EM 01/09/2019, SENDO PERDIDAS TODAS AS VISUALIZAÇÕES DESDE 2011.
Plágio é Crime: Todos os Textos Publicados, Exceto Quando Indicados, São de Autoria de Luiz Carlos Cichetto, e Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. (Escritório de Direitos Autorais) - Reprodução Proibida!


03/04/2018

Chuva de Merda Sobre São Paulo

Chuva de Merda Sobre São Paulo
Luiz Carlos Cichetto


Era um amanhecer como outro qualquer de Outono, em São Paulo. Manhã fria e nublada. Mas ao contrário do que era normal, o dia não era cinza cor de chumbo, com aquelas nuvens quase negras. A cor do dia era marrom. Marrom escuro. 

Em principio pouca gente percebeu, mas aos poucos todos foram estranhando aquela coloração no ar. Demorou um pouco, e quase todos perceberam que tinha algo errado na cidade, pois não era apenas a cor, mas o odor era diferente. Ao contrário do cheiro de fumaça proveniente dos escapamentos dos carros, que antes era de chaminés de fábricas que já não existem na cidade, era cheiro de merda.

Primeiro foram as esposas que reclamaram com os maridos, dizendo que eles eram mesmo porcos por peidarem tão fedido dentro de casa, sob as juras sacras de que não tinham sido seus rabos os emissores do tal fedor. Logo se pensou em vazamento de gás, nalguma usina de processamento de lixo, vazamentos monstruosos em tubulações de esgoto, mas quando o cheiro e a cor de merda foram percebidos, através da cobertura do helicóptero do jornal da manhã, estar por toda a cidade, a população começou a se preocupar.

O prefeito foi entrevistado ainda em casa, de pijama marrom de listas azuis, e disse que estaria indo ao seu gabinete, se reunir com seus assessores e que em breve daria explicações. E a manhã inteira foi repleta de opiniões de especialistas em tudo quanto é merda: da química à astrologia, da física à biologia, da meteorologia à política internacional. Foram aventadas inúmeras possibilidades àquela situação catastrófica: uma delas é que o partido político da oposição estaria sabotando o prefeito atual, que aquilo era coisa do presidente golpista, que era culpa do presidente americano, do estado islâmico, dos judeus, dos palestinos, dos fascistas alemães e mais uma porção de teses, até de que a cidade estava sendo invadida por alienígenas. 

Até o horário do almoço, com o fedor de merda aumentando mais e mais, o furor tomou conta do Facebook e do Twitter. Os defensores da esquerda explodiam verborragias e ofensas, afirmando que aqui era parte da tentativa de golpe militar, os da direita culpavam os comunistas. Alguns culpavam a NASA, e os crentes diziam que era a vinda de Jesus, que o fim estava próximo, o que fazia com que as lojas evangélicas se abarrotassem de fiéis que tentavam aumentar a cota do dizimo para garantir a passagem. 

No meio da tarde, os camelôs já faziam muito dinheiro vendendo máscaras de gás com emblemas de times de futebol, nas portas de estações de metrô e pontos de ônibus. Na Praça da Sé, pregadores batiam nas bíblias e diziam que aquilo era coisa do Demônio, que não era de merda o cheiro, mas de enxofre do Inferno. A Avenida Paulista se encheu de bandeiras brasileiras e o Largo da Batata de bandeiras com a foice e martelo. Ensaiaram passeatas, todos com máscaras de gás de suas cores preferidas e faixas com palavras de ordem. Mas nada disso parecia adiantar, aliás, o cheiro de merda era cada hora mais forte. 

Policiais corriam de um lado para o outro tentando conter a multidão enfurecida, e bandidos se aproveitavam para roubar, assaltar e matar. Não havia lugar seguro daquele cheiro. As pessoas se trancavam em casa, colocavam panos molhadas sob as portas e frestas de janelas, mas de nada adiantava. O cheiro de merda só aumentava.

No inicio da noite, o que parecia ser uma merda, em todos os sentidos, piorou. Repentinamente, trovões e relâmpagos anunciaram uma tempestade. De imediato, especialistas disseram que aquilo era um bom sinal, já que a chuva e os ventos levariam aquele cheiro de merda para longe, para outros lugares. O prefeito suspirou, já que o importante é que aquilo parasse de ser motivo para o chamarem de merda. Que esse titulo ficasse com o prefeito de outra cidade.

Quando a chuva se precipitou sobre a cidade não era água, mas merda liquida, tipo aquelas de diarreia, que caía sobre os telhados, escorria pelas calhas e entupia os condutores, fazendo com que todos as casas e prédios rapidamente ficassem cobertos com uma espessa camada de bosta. A merda corria pelas sarjetas, entupia os esgotos e iam direto aos córregos, que logo transbordaram interrompendo o transito nas marginais. Carros cobertos de merda foram enguiçando pelas ruas, por onde corriam pessoas desesperadas cobertas de merda da cabeça aos pés. 

Um repórter de televisão, usando uma capa de chuva coberta de merda, entrevistou o prefeito, com seu terno coberto de bosta, enquanto assessores, completamente encharcados de merda liquida tentavam limpá-lo, sem sucesso.  O apresentador do telejornal entrou no ar com funcionários da emissora tentando limpar seu rosto.

Por volta das oito da noite, o Presidente da República, junto com o Ministro da Saúde pediu calma à população, seguido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal que afirmava que a lei nesse caso seria cumprida conforma reza a Constituição Federal, mas que todos os procedimentos legais deveriam ser julgados em estâncias. Todos pediam no final, que a população ficasse calma e que não saíssem às ruas para protestar, já que a merda pararia de cair do céu a qualquer momento.

O temporal de merda durou a noite inteira. Quase toda a cidade de São Paulo estava coberta de merda. Segundo relatos, haviam bairros com mais de cinco metros de camada de merda nas ruas. A sede da Prefeitura teve que ser evacuada, já que foi completamente coberta pela merda, o mesmo acontecendo com o Palácio dos Bandeirantes, onde o Governador e sua família tiveram que ser alojados num estádio de futebol nas proximidades.

Nas periferias, barracos eram soterrados por avalanches de merda, bêbados dentro de botecos aumentavam sua dose de cachaça para tentar afastar o cheiro, e as ruas ficavam cheias de barricadas erguidas com bosta. Lideres comunitários esbravejavam contra o descaso da prefeitura e comerciantes fechavam as portas, alguns por não terem mais mascaras e capas para vender, outros por terem tido sido seus estabelecimentos invadidos por enxurradas de merda. 

Ainda na Internet, pessoas diziam que somente os militares poderiam resolver aquilo, outros que aquilo era culpa dos capitalistas. Outros ainda, mais exaltados, afirmavam que tudo era culpa da Nova Ordem Mundial, que decerto o Papa Francisco estava por trás daquilo. Políticos davam discursos, prometiam que se fossem eleitos na próxima eleição aquela chuva de merda nunca mais aconteceria. E outros diziam que não tinham nada com aquilo, que sentiam cheiro de merda algum, e que era tudo mentira, e que nem chovendo estava.

O dia chegou. O sol raiou. Ninguém percebia nenhum sinal de merda nas ruas, nenhum cheiro de merda, nenhum resquício sequer. Todos se levantaram, tomaram banho e um café com leite e pão com manteiga e foram trabalhar. 

Eles não sabiam, mas a chuva de merda sobre São Paulo ainda continuava a cair.

03/04/2018


Sonhos Não Tem Dono

Sonhos Não Tem Dono
Barata Cichetto

Que pena merece quem rouba sonhos? O dono da padaria diz que a pena tem que ser a prisão, pois os sonhos todos lhe pertencem, o ditador diz que é a morte, por que não foi autorizado, e o comunista concorda com os dois, dizendo que o sonho é algo egoísta, que só existe de fato o sonho coletivo. Ambos dizem que sonho é coisa de freguês, ou de burguês, conforme a conveniência. No fim, o ditador acredita que é dono dos sonhos de todos. E o comunista que sonhos não existem, a não ser os deles. E eu fico aqui, sabendo que meus sonhos se foram, usurpados, roubados e atirados na lata de lixo. E lá se vão, o dono da padaria, o ditador e o comunista, com o mesmo sonho, e afirmando com a mesma boca, que sonhos não podem ter proprietários.

02/04/2018

01/04/2018

Honestidade Não é Doença

Honestidade Não é Doença
Barata Cichetto

A Honestidade é um componente da natureza humana. Ao menos foi o que li em alguns manuais, livros e até mesmo aprendi em aulas na escola. É um componente que não é visível a olho nu, nem num microscópio, mas perceptível de forma muito clara. Entretanto, é um componente cada vez mais raro, por ser extremamente volátil, etéreo, e se dissolve ou deteriora facilmente em contato com outras substancias como a vaidade. Sim, esse é o componente que mais afeta a Honestidade, fazendo com que ela desapareça ou tome outras formas, como a falsidade. A Honestidade não tem forma nem cor. E embora também não tenha nem credo nem ideologia, é afetada profundamente por esses dois componentes, que, aliás, são química e filosoficamente muito parecidos. A falta de Honestidade é altamente perigosa à sobrevivência humana, pois afeta seus sentidos, visão, olfato, audição, fazendo com que o paciente tenha uma percepção totalmente distorcida de fatos, ideias e pessoas. O problema com a Honestidade é que é um componente que só tem efeito quando em estado puro. Qualquer distorção desse estado a torna inútil, e, portanto inexistente. Há quem diga que como o apêndice, a Honestidade, deixará de ter função no ser humano. E que, aliás, sua existência na natureza humana seja cada dia mais rara. E o pior é que não tem como ser reproduzida em laboratório. Todas as tentativas de reprodução dela fora do ambiente do ser humano foram desastrosas e se provaram apenas ser mais um sintoma da doença comumente conhecida como desonestidade. E essa doença não tem cura. Não há remédios, nem drogas nem nada que possa curar o paciente portador dela. E também, ao contrário de muitas doenças, e ao contrário do que pensam os que não pensam, ela não é contagiosa, não, e não é característica de nenhum povo, etnia, cor, raça. Qualquer tentativa de tentar demonstrar que a doença é adquirida por contato com outros doentes é desonesta. E por fim, ela não pode ser comprada ou vendida. Aliás, Honestidade embora seja rara, não é cara, pois seu valor está em justamente ser de graça. 

01/04/2018

31/03/2018

Supernova


Supernova
Barata Cichetto
(Dedicado a Marcelo Nova, e inspirado após a leitura de Galope do Tempo)

Um dia quis ser algo que na escola não se aprende
A coisa tão boa que nem a própria ciência entende
E ter daquilo que nenhum outro homem pretende.

Era bom ser bom, mas a justiça nunca foi igualdade
Se ser mau não é tão legal, mais injusta é a maldade
E entre o bem e o mal se faz a mentira da liberdade.

E nesta era de foices, martelos e dentes na jugular
Penso eu ainda que de forma claramente irregular
Que ainda quero ser o quadrado na forma circular.

29/03/2018

--------------------

25/03/2018

Pudim de Poesia Com Rock'n'Roll

Pudim de Poesia Com Rock'n'Roll
Barata Cichetto

Ingredientes:
1 Kg de Poesia sacana, de boa qualidade, in natura;
1 Kg de Rock bem pesado;
1 Kg de Desejos, que podem ser substituídos por Sonhos de Deleite;
1/2 Kg de Personalidade, que não pode ser comprado na Feira Livre;
1/2 Kg de Caráter maduro, pode ser com casca e com semente;
100 Ml de Ironia líquida concentrada;
1 Litro de Vinho de qualquer marca, desde que barato. Whisky também serve;
100 Gramas de Pimenta, daquelas que nos olhos dos outros é refresco, picadas;
5 Kg de Honestidade;
1 Pitada de Talento, apenas para dar corpo;
Mal a gosto.
Bem à vontade.

Modo de Preparar:
- Apanhe os poemas in natura;
- Leia o poema em voz alta para que possa atingir o ponto ideal de crescimento;
- Coloque sobre um papel e deixe descansar;
- Corte o Rock em pedaços bem pequenos e coloque no liquidificador até obter uma massa heterogênea e disforme;
- Adicione aos poucos os Desejos, a Personalidade e o Caráter;
- Acrescente a Ironia em gotas de Sabedoria;
- Coloque duas taças de Vinho ou dois copos de Whisky;
- Despeje a Pimenta picada vagarosamente, para não irritar a massa;
- Coloque de uma só vez a Honestidade para dar corpo e consistência;
- Por fim, coloque a pitada de Talento, que é apenas para dar odor artificial;
- O Mal e o Bem podem ser acrescentados, mas não faz diferença;
- Coloque, aos poucos, o Poema Sacana, mexendo e sacudindo sem parar;
- Desligue o liquidificador;
- Acenda o fogo;
- Coloque a mistura diretamente no fogo, sem panelas, nem formas;
- Deixe ferver;
- Sirva quente, o mais quente que puderem suportar.

Rende porções infinitas!

23/09/2015

09/03/2018

Diálogo Real Entre Dois Pensadores Com Ideologias Políticas Diferentes, Sobre Individualismo Ao Som de "2112"

Dimitri Brandi de Abreu : - Salve, meu caro!! Hoje foi aquela aula sobre liberdade, em que citei a Ayn Rand. Cara, que desanimador. Defender a liberdade hoje está muito difícil. Salvo duas ou três alunas, a maioria acha que o Estado pode tudo. E isso à direita e à esquerda, não é da ideologia, é autoritarismo encarnado mesmo.
Luiz Carlos Cichetto - É, meu amigo... Isso é fartamente perceptível em qualquer conversa, em qualquer lugar. Percebo claramente que o problema, ao contrário do que a maioria deduz, não seja efetivamente a ideologia. Ela é apenas uma desculpa, aliás, muito esfarrapada, já que é estudada e compreendida por poucos. Percebo isso desde as pessoas mais "simples", às mais "cultas". A ideologia é sempre o bode expiatório. O que impera é o autoritarismo, que é expresso das mais variadas formas, até mesmo num pequeno e simples comentário de uma rede social, que aliás, se nutre disso em proveito próprio. É desanimador perceber isso. Para mim, é mais que isso. É letal. Sinto de fato como se efetivamente estivesse totalmente fora desse mundo, o que acabou me gerar uma apatia letal.

Dimitri - Letal mesmo. as pessoas não percebem onde isso leva. e não é falta de cultura, veja, estou dando aula em uma universidade, é de se esperar que os alunos saibam o que foi o nazismo, o stalinismo, a ditadura brasileira, a inquisição... o autoritarismo não é só político, está na nossa vida cotidiana, com o discurso moralista, as ofensas, as restrições à liberdade de expressão, à liberdade artística... Quando falei da Ayn Rand mencionei o disco do Rush. Ninguém tinha ouvido falar... Veja que a falta de cultura e a ignorância abrange o campo cultural também
Luiz Carlos - Triste isso... Olha, há um tempo eu participei de um debate numa rádio comunitária e afirmei, para desespero de um jornalista politicamente correto, que vivíamos num tempo em que tudo se pode e ao mesmo tempo nada se pode... Isso remete àquele nosso papo de "se tudo é preconceito, nada é preconceito" e outras nuances. A falta de interesse , penso, vem de encontro a isso. E faz com que se tenha uma atitude autoritária sem o conhecimento. E ademais, no meio dessa confusão toda, a liberdade de expressão também perde seu valor, pois é tratada com uma mera expressão desse autoritarismo. Então, tudo vira despotismo. Tudo vira ditadura. E só pra amarrar mais aquelas nossas conclusões, uma pergunta: se tudo é ditadura, nada é ditadura?

Dimitri - Hahaha boa pergunta. O que me chocou hoje é que percebi que não só a liberdade de expressão está ameaçada, mas todas as liberdades. contei a história do 2112 e ninguém pareceu chocado com um mundo em que não existe "eu". se esse tipo de fantasia distópica soa aceitável, imagine no que podemos evoluir, onde isso vai parar...
Eu estava errado, achava que essa geração era individualista. Não são. Não dão qualquer valor ao indivíduo. Não sei os definir.
Luiz Carlos - Eu sempre achei que não eram individualistas, são de fato egoístas. O que é bem diferente, ao contrário do que maioria conjectura e acredita. Sempre bati nessa tecla, que são absolutamente distintas. Já tive discussões enormes com pessoas ditas esclarecidas sobre isso. É um erro, praticado principalmente pelo pessoal da "esquerda" , nem sempre inocente, em confundir e induzir ao erro, colocando o individualismo como egoísmo, em contraponto ao socialismo e comunismo. Um exemplo: na gestão do Haddad havia, na implantação da bandeira de governo dele, as ciclovias, um cartaz em todos os ónibus com a seguinte frase: "individual ou coletivo, o que é melhor para São Paulo?" A burrice e a confusão, além da indução ao erro já começa pelo fato de que a bike é um transporte individual... E tudo quase seguiu a isso - e presenciei absurdos, foram demonstrações de que o que imperou ali foram interesses egoístas, nãoindividualistas. e muito menos socialistas.
Luiz Carlos - E muita gente afirma que o pensamento da Rand era sobre egoísmo, mais um erro grotesco: é sobre o individuo. Essa conversa vai longe.... rs

Dimitri -  Eu concordo contigo quanto à diferença entre individualismo e egoísmo. apesar de ser socialista, não sou um coletivista, no sentido de acreditar que o coletivo é melhor que o individual. pelo contrário, acho que o capitalismo oprime o indivíduo pq obriga a todos a adotarem padrões de consumo e de trabalho. no meu pensamento, a realização plena do indivíduo vem com a libertação, e uma das formas de libertação é a liberdade econômica. Não é a única. a libertação sexual, por exemplo, é tão ou mais importante. E muita gente confunde a Ayn Rand com egoísmo. acho que é um problema de tradução. "self" em inglês tem um sentido de "ego", mas sem o lado pejorativo que atribuímos a esse termo. Ego no sentido de "eu", como na psicanálise. E, realmente, essa conversa vai longe. o que me preocupa e entristece é que muitos optam pela ignorância, ao não se aprofundarem nesses temas.
Luiz Carlos - Sim, acredito que a confusão venha daí, mas não descarto que haja má intenção nisso. Quanto li a tradução de "Anthem", o texto do tradutor me chamou a atenção, por ele explicar a preocupação de usar "Cântico", e não "Hino", como seria a tradução, segundo ele mais próxima. Será que há essa preocupação em outros? E ademais, a interpretação, a meu ver, de "egoísta" à filosofia de Rand é, como de resto, proposital, no sentido de desmerecer.

Dimitri -  Concordo! não só com a diferenciação, mas concordo também que há má-fé nisso.
Luiz Carlos - Quanto ao que fala sobre liberdade, concordo contigo totalmente. E essa preocupação é também a minha, embora eu já tenha simplesmente desistido de me entristecer como o futuro da humanidade. Infelizmente, tornei-me um cínico. E isso nos vários sentidos da palavra, inclusive o da corrente filosófica.

Dimitri -  Talvez haja um movimento pendular, e a liberdade volte a ser valorizada, como foi na década de 1960 (eu acho) e no período das revoluções liberais contra o antigo regime. Só defende ditadura quem nunca viveu em uma. com esse crescendo de autoritarismo, muitos vão perceber que a troca não vale à pena.
Luiz Carlos - Olha, meu amigo, eu sincera e honestamente não creio nisso. As facilidades oferecidas por esse sistema vigente são altamente vantajosas para alguns. A não ser que haja algum tipo de cataclismo, holocausto, coisa assim...rs. 

Dimitri - São vantajosas para alguns, mas não para todos, nem para a maioria. a massa idiotizada só não percebe porque, como toda massa, age "liderada" por aproveitadores que dominam a retórica vazia da manipulação. Esse modelo se esgota com o tempo, essa prática não tem como durar
Luiz Carlos - Sim, mas essa massa tem a ilusão criada, e gosta disso. Gosta de ter tecnologia, e de gosta dos prazeres e facilidades. E espero que você tenha razão, em acreditar no esgotamento desse modelo. É possível, sim. Até pela física - a fadiga de qualquer material... Mas não creio que nenhum de nós dois verá isso. Eu não verei com certeza. Tudo isso me empurra para um desejo eminente de morte, se não física, mas como indivíduo...

Dimitri -  Não desanime! sei que seu filósofo favorito é o Cioran, mas ele tinha 20 anos quando escreveu.
Luiz Carlos - É um sentimento forte demais. Quando escrevi sobre suicídio no Face há um tempo, e até você comentou sobre, era - e é - uma coisa forte demais, muito além de simples filosofia. E coisas como essas que falamos aqui hoje, esse desencanto que você sentiu... Imagine tudo isso amontoado em 60 anos de vida de um sujeito que era criança e cresceu e se tornou adulto dentro do regime militar, que sempre foi sensível e critico, que virou sua geração se perder e aquele que ele ajudou a construir completamente corrompida.

Dimitri -  Imagino o seu desânimo, compartilho (parcialmente) dele e posso entender o que você sente. Mas temos um defeito: somos artistas. Dá para deixar o registro, a indignação, sem nos preocuparmos se ela reverbera ou não. Sem nos preocuparmos se seremos louvados ou odiados. A mensagem tem que ser passada, e nisso você é importante.
Luiz Carlos - É... Essa é exatamente a diferença entre individualismo e egoísmo... rs

Para comprar o livro de Ayn Rand: "Cântico": https://www.saraiva.com.br/cantico-9055600.html
Texto Original em Inglês: http://www.gutenberg.org/ebooks/1250?msg=welcome_stranger

08/03/2018


23/02/2018

Madrugada

Madrugada
Luiz Carlos Cichetto (aka Barata)

Penso deliberadamente que madrugada não é o particípio passado feminino substantivado de madrugar. Madrugada é um estado de espírito, um espaço físico, algo que pode mesmo ser chamado de um lugar. Um local onde não tem pipoca, nem vendedores de sorvetes, nem putinhas fazendo ponto de minissaia, como havia antigamente. Madrugada é um lugar. Onde não se pode namorar. Nem trepar. Nem gozar. Madrugada é um lugar. Vulgar. Lugar de divagar. Devagar. De vagar. Pelas câmaras escuras da solidão. De largar o corpo dormindo na cama. E encontrar uma bela megera num submundo. Madrugada é lugar onde é proibido dormir, mas que pode sonhar. Madrugar é pegar. Ou largar. Sugar. Sujar. Mijar. Madrugada é chegar. Onde não se pode estar.  Cegar. O olho do cu. Cagar. Devagar. Sem pressa. Madrugada é uma rua. Onde cachorros latem de solidão. Uma estrada sem destino. Um puteiro com luzes de neon com o desenho de uma silhueta de mulher e uma taça. Madrugada é uma praça. Madrugada é uma taverna. Ou uma taverna. Onde um poeta estúpido e idiota ainda teima em escrever poemas. Que ninguém vai ler. Na madrugada não é proibido fumar. Não é proibido nadar pelado. Num lago gelado. Madrugada é uma cidade. Sem prefeito. Sem nada perfeito. E de qualquer jeito. Madrugada é um direito. Lugar estreito. E escuro. Seguro. Confortável. Inflamável. Instável. Madrugada é um país. Sem presidente. Nem rei. Nem política. Nem religião. Madrugada é região. Penhasco. Montanha. Floresta. Madrugada é tudo o que resta. E que não presta. Madrugada não se empresta. Nem se compra. E não se pode alugar. Madrugada é risco. Madrugada é anarquia. Monarquia. Autarquia. Madrugada não é estar. É ser.

23/02/2018

20/02/2018

Sexo

Sexo
Barata Cichetto

Poderia ser dramático, mas é apenas gramático; e matemático. Poderia ser desejo, mas é apenas beijo; e ensejo. Poderia ser prazer, mas é apenas lazer; e fazer. Poderia ser delícia, mas é apenas malícia; e sevícia. Poderia ser tudo, mas é apenas sexo; e nada.

20/02/2018

17/02/2018

Vaca Com Tosse

Vaca Com Tosse

"O pulso ainda pulsa". Ainda pulsa. Expulsa. Repulsa. Por justa causa. Injusta pausa.  E quem casa quer casa. Mas a asa ainda bate. A crase acentua. Acento grave. Grave acento. Ao vento. Que vem do norte. A fase. Atenua. Nua. Crua. E não for sua. Nada será. A não ser que seja. De manhã. Quando eu acordar. E você me chupar. E depois adormecer. Com a cabeça no meu peito. Se afogando no leito. No leite. E tudo aquilo que foi feito. Mesmo que imperfeito. Foi feito. Pelo Sol. Pela Lua. Pela sua. Mão. Tudo pelo seu não. E se não me engano. Tudo entrou pelo cano. Da solidão. E o senão. Foi a regra. E então. Tudo se foi. Como dois e dois. Ficou para depois. A resposta certa. Na hora errada. E se pulsa o pulso. Eu tusso. Vomito. E emagreço. Por doença. E solidão. E dor desejo e vontade. Te fodo a buceta. Te enrabo na cama. E te chamo de vaca. E nem que tussa. Te faço parar de gozar. É gozado isso. De te fazer gozar. Feito uma vaca. E te chamar de piranha. Depois tomar teu café. E comer teu pão. Te ver sair pro trabalho. E ficar batendo punheta. Na frente da televisão. Dormir a tarde inteira. Cheio de tesão. E cantar uma musica. Que não entendo a letra. Pensando que é filosofia. Depois dar uma cagada. E no alto dos meus sessenta anos. Folhear uma revista de mulher pelada. E lambuzar o azulejo. Feito um moleque. Imberbe. Com cara de anjo. E jeito de filho da puta. Ainda penso em foder com uma puta. Mas tenho medo. De brochar. E de pensar. Que estou fodendo tua buceta. E ver na cara daquela vagabunda. Teu rosto me censurando. Então fico no ponto. Te esperando. Sem cuecas. Com o pau duro debaixo da bermuda surrada. E te fodo assistindo televisão. E fumando. E jogando no celular. Feito a puta da minha adolescência. Que comia maçãs. Compradas de um carrinho de frutas na esquina. Mas o pulso. Ele ainda pulsa. Mesmo que por repulsa.

16/02/2017

16/02/2018

Barata Rocker

Em 2012, se minha memória pós-etílica não falha, o Diego El Khouri criou um personagem embasado em mim, o que me encheu de orgulho, afinal, Diego é sujeito que, apesar de muitas birras e teimas, eu admiro muito. De certa forma, tenho a ele como uma espécie de "filho" poético, num sentido muito amplo, e tirando daí qualquer sentido de "superioridade" ou conotação de maior experiência.

Ano passado, Diego me convidou a fazer com ele a HQ "definitiva" da personagem, que ocupará um álbum inteiro, possivelmente lançado pela Editor'A Barata Artesanal. Como ando totalmente desanimado e perdido, não consegui até agora fazer nada.

Acontece que na última noite eu tive um sonho, em que estava com uma revista nas mãos e a capa tinha um grafismo, um logo... Era uma HQ do "Barata Rocker". Acordei, fui ao computador e desenhei tal grafismo, montando numa arte que o Diego El Khouri já tinha feito.

Então, vamos às artes!