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29/10/2019

O Importante São os Pés, Não o Lugar Onde Se Pisa

O Importante São os Pés, Não o Lugar Onde Se Pisa
Barata Cichetto

Arte: Del Wendell


Um dia Bob Dylan perguntou, numa canção bonita,
Quantos caminhos andar até aquilo que se acredita,
E eu entendia que era sobre terras e não de gente,
Até perceber que são pés, não o chão que se sente.
Deixei então as malas, mochilas e sapatos a esmo,
E fui caminhando nu para dentro de mim mesmo.

Encontrei a mim em uma das muitas esquinas perdido,
E perguntei sobre um endereço que eu tinha esquecido.
Tinha meus pés em bolhas, e doíam-me ossos e dentes,
Mas precisava chegar antes de mim a lugares diferentes:
O importante são os pés, e não o lugar em que se pisa,
Importa é ser vento, um furacão ou apenas uma brisa.

Dylan ganhou Nobel, e eu apenas honrosa menção,
Em um concurso literário, o rodapé de uma citação.
Um dia ele falou que a perda não é diferente do ganho,
Então eu disse, "ora, pois vá se foder, falso poeta fanho!"
Peguei meus discos de Lou Reed e fui escutar no puteiro,
Recitando a minha poesia às putas em troca de dinheiro.

Meus pés ainda ardiam, mas eu tinha agora um ensejo,
Em ser poeta e ator, e fugir da ação do vento do despejo.
Pensei enfim que pés eram mais importantes que o lugar,
Mas era preciso ter grana para pagar um quarto de alugar.
E de mudança em mudança, fui ser o puto de uma vadia,
Que lambe meus pés e o meu chão por medo ou covardia.

©Luiz Carlos Cichetto, Direitos Autorais Reservados


28/10/2019

Gôndolas

Gôndolas
Luiz Carlos Cichetto



Neste supermercado insano, os gênios são pintados com as mesmas cores dos medíocres, embalados e rotulados da mesma forma, e colocados lado a lado, na mesma gôndola, e depois vendidos pelo mesmo preço, como se fossem todos gênios. Portanto, é quase impossível que se perceba a diferença, e o "consumidor" paga o preço. Sempre paga pelo que lhe é oferecido. Essa é a tática comercial dos que alimentam o supermercado da ideologia coletivista.

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados


27/10/2019

Lou Reed e Eu Sem Eira Nem Beira

Lou Reed e Eu Sem Eira Nem Beira
Barata Cichetto



And the colored girls say: doo doo doo, lou, lou, lulu, lulu...!

Um dia eu sonhei que era um Lou Reed doce e pervertido
Cruzando a Ipiranga com a São João em sentido invertido
E as putas na frente do prédio incendiado da Julio Mesquita
Eram Rachel e Jane, mas também era Ângela a hermafrodita
E Dalva a estrela negra da manhã que tinha a buceta quente
Mas eu era um Lou Reed sem New York e doía o meu dente.

Um dia ainda sonhando descobri a poesia da sarjeta imunda
E penetrei pelas suas entranhas de forma inocente e profunda
Eu era aquilo que não podia ter, e era poeta e não queria ser
Lembrava de coisas que não existiam e sonhava com perecer
O Anjo Negro da Morte não queria e fomos juntos ao Inferno
E éramos três agora, além de mim e Lou Reed vestindo terno.

E se um dia sonhei que era Lou cuspindo o rosto da hipocrisia
Agora sou apenas um tosco poeta que ainda cospe na poesia
Sem eira nem beira, apenas perdido num mundo que não quer
Giro as balas no tambor do revolver brincando de mal-me-quer
Ainda sonho ser Lou Reed, mas a Avenida não tem mais beleza
Foram-se as putas, Lou está morto e o que me resta é a tristeza.

06/09/2014
©Luiz Carlos Cichetto  - Direitos Autorais Reservados

Balada Barata Blues

Balada Barata Blues
Barata Cichetto



Um dia acordei Barata, e não era literatura
Mas fruto de uma sessão interna de tortura
E se acordei Barata, então Gregor Samsa ainda vive
Dentro da cabeça do monstro que em mim sobrevive.

Ser Barata não é pouco, louco daquele que não sente
Pois poeta é ser doente, que nunca a si mesmo mente
E nessa balada, ao sabor de uma tempestade mental
Grito de dor, e nada mais pode ser feito com o Metal.

Um dia morri sozinho num buraco lotado de bichas
E era pior que morrer num lugar cheio de lagartixas
Que louca balada era aquela, onde pegaram meu pau
O Inferno das lésbicas, que era não bom nem era mau.

Tinha uma puta anciã, além de uma lésbica quase anã
Mas eu tinha que chegar ao fim num culto ao deus Onã
E então a enrugada e a pequena grudaram suas bocas
Com as mãos enfiadas no meio de suas pernas loucas.

Uma das piranhas gritou: "Hey, Barata, quer casar comigo?"
E eu lhe disse, "Quieta, Rachel, que Lou Reed é meu amigo!"
Então cantaram as putas, as bichas e a lésbica sem jeito:
"Doo-doo-doo-doo-doo!"  E juntas pularam em meu peito.

Naquele Inferno só tinha uísque custando muito dinheiro
Misturado com urina de travesti e desinfetante de banheiro
E se fiquei muito bêbado e sem grana foi culpa do destino
Mas não conseguia sair da privada com cólica de intestino.

De manhã, ainda com gosto de ferrugem suja na língua
Acordei deitado ao lado de uma diarista morta à míngua
E ao pensar que eu tinha comido aquela buceta imunda
Vomitei sem antes enfiar meu pau inteiro naquela bunda.

E se eu era agora um porco, fodendo empregadas nojentas
Que tal ser mais imundo e deixar de viver a bater punhetas?
Então naquela manhã, transformado num inseto monstruoso
Barata ficou sendo o meu nobre apelido de poeta mentiroso.

27/06/2017

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

26/10/2019

Não Me Peça Almoço de Graça, Estou Vendendo o Jantar de Amanhã

Não Me Peça Almoço de Graça, Estou Vendendo o Jantar de Amanhã
Barata Cichetto



Morta há 50 anos, a verdadeira diva e dama do Teatro Brasileiro, numa época em que lacração política não era a atividade principal de artistas, Cacilda Becker disse com propriedade: "Não me peça para dar de graça a única coisa que tenho para vender". Então, fico aqui pensando com aqueles botões que não tenho na minha roupa, o quanto ela tinha razão, e o quanto artistas de hoje são perfeitos idiotas. Em busca de um minuto (nem quinze mais) damos de graça a única coisa que temos para vender: nosso talento, nosso trabalho, nossa arte. Damos tudo isso de graça, juntamente com outras coisas, que todos - independente de ser artistas ou não - temos de maior valor, que é nosso tempo. Damos tudo isso de graça, enchemos páginas e páginas de conteúdo de sites como o Facebook, cujos donos enriquecem, enquanto permanecemos do lado de fora, mendigando cliques de curtidas e compartilhamentos totalmente inócuos. Damos de graça aquilo que temos para vender. É uma troca? Não, não é. Seria uma troca se recebêssemos pelo que postamos, seria uma troca se recebêssemos um quinquilhão do dinheiro ganho pelos donos bilionários dessas redes. Ademais, damos de graças nossa arte: publicamos poemas que antes deveriam ser impressos em livros e comprados por interessados realmente em poesia. Damos de graça pinturas, imagens, músicas, dramaturgias, e achamos que curtidas e compartilhamentos valem o mesmo que aplausos e dinheiro. Damos pérolas a porcos sequer se dão ao trabalho de ler um texto até o final, que não se detém um minuto para prestar atenção numa arte visual. Então além de darmos de graça o que poderíamos estar vendendo, ainda recebemos o total desprezo. Um poema pode demorar horas ou meses para ser escrito, o mesmo de uma pintura, mas nessas redes não são saboreados por mais de poucos minutos. Somos otários egoístas, enganados por cliques em um ícone maldito de um sinal de "positivo". É isso, apenas isso o que paga pelo seu trabalho? É só isso que custa sua arte? Ah, sim, isso quando ainda não pagamos para "impulsionar", pagando a essas redes milionárias para usufruir de nosso trabalho, na mesma ânsia vaidosa por nos sentirmos amados e queridos por pessoas que sequer se importam com nossas existências. A propósito, o assunto aqui não é Cacilda Becker.

26/10/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados


Depressão é Opressão

Depressão é Opressão
Barata Cichetto



Afagaram minha tristeza como a de um decrépito,
E eu não queria nada, nem a vista, nem a crédito.
Afogaram minha angústia como a de um crente,
E eu queria só tratar a dor que sentia no dente.
Acharam minha depressão ser o desejo de brilho,
E eu queria apenas o abraço e o beijo de um filho.

26/10/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

25/10/2019

Cargas do Presente, Trilhos do Passado, Futuro Sem Rumo

Cargas do Presente, Trilhos do Passado, Futuro Sem Rumo
Luiz Carlos Cichetto



Há mais de um ano morando em Araraquara, na Vila Xavier, perto do centro da cidade, e esperando o momento certo: filmar a passagem do trem da Rumo (ex ALL), em sua chegada. Já tirei inúmeras fotos, mas nunca consegui estar no momento exato em que se aproxima. Ontem, por "acaso", consegui. Quando percebi a composição chegando, me posicionei bem ao lado dos trilhos, saquei o celular e apontei. Estar a menos de um metro da composição, sentindo a trepidação do chão me deu um pouco de medo no início, mas valeu. As trepidações da câmera são pela vibração da passagem, e o vídeo está em tempo real, com os pouco mais de cinco minutos que durou. Quem tem interesse e admiração por trens como eu, decerto irá gostar sentir o que eu senti e entender a emoção. Só lamento que todo o sistema ferroviário do país, que nasceu e cresceu pelo trabalho de pessoas como o Barão de Mauá, tenha sido sucateado, e hoje quase não reste mais nada, a não ser essas linhas de carga operadas pela Rumo. Mesmo essa linha está com os dias contados, já que as áreas que ela ocupam estão no centro da cidade e, claro, a prefeitura tem outros planos, como entregar à especulação imobiliária, com a desculpa de que "a população da cidade não quer o barulho dos trens". Que esse vídeo sirva de registro futuro, quando as cidades não mais terão trens.

 Araraquara, 25/10/2019
© Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados