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09/02/2020

Anjo Inseguro

Anjo Inseguro
Barata Cichetto

Imagem: Internet (Sem Referência ao Autor)


Entrou um anjo pela minha janela, e eu lhe disse: "Vai se foder!"
E ele, vadio e quase gritando me disse: "Sou anjo e tenho poder."
Então eu lhe perguntei: "Onde estão suas asas, criatura depenada?"
E o anjo quase gritou que não era um pássaro, nem alma penada,
E que se não fosse anjo, qual seria então sua real profissão?
Pois nem ele mesmo tinha idéia qual seria sua nobre missão.

Sim, era um anjo, decerto, mas nem ele sabia ao certo,
O lugar de onde vinha, e se era longe ou se era perto.
A noite mal dormira, e ele me pediu uma cerveja gelada,
E depois quis saber onde era o lugar de mulher pelada.
Eu disse: "Vai se ferrar, anjo sacana, teu lugar é no Inferno",
E o maldito ainda berrou que no Paraíso nada há de eterno.

Ainda bebendo cerveja o anjo inseguro olhou ao céu escuro,
E perguntou como voava o avião mesmo sendo tão impuro.
Então se virou, foi até a janela e saiu voando sem asas,
E eu fiquei olhando quando despencou sobre as casas.
O anjo morreu, e a notícia saiu até no telejornal da televisão,
Era uma fada, diziam, mas eu sabia que era o anjo da ilusão.

17/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

01/02/2020

Solemnias Verbas

Solemnias Verbas
Barata Cichetto

Arte Alicia Rihko


Penso ao pé da letra, em pé, na porta do Paraíso. Solemnias verbas, querido Antero. Não quero entrar, mas um anjo torto me convida para um vinho e uma maconha, e eu o sigo até a porta da saída. Ficamos bêbados e rolamos no colchão da Aurora. Aquele anjo tem asas finas que cheiram alecrim, e ai de mim, é um anjo sacana, de pernas finas e peitinhos minúsculos. Eu beijo seus seios, e na calada da noite calada fala que ama. Sua vagina é quente e espera por mim. Penso em latim "naturale eius debent" e digo em português: vagina. Penso ao pé da letra: "litterali". Penso em pé, dentro da letra "V" que forma as pernas abertas daquele anjo pornográfico. Sua literalidade molhada com o suor de desejo. Há um anjo de saída do paraíso, e nós fumamos e bebemos vinho barato numa cama de hotel na beira do Ribeirão.  O anjo é Sol. Sol é anjo. Sol angel. Sou Lua, luz, Luiz. Apenas aprendiz de anjo, mestre de demônios. Somos feiticeiros enfeitiçados. Bruxos esdrúxulos. Santos que não. Meu anjo torto me chama de seu, eu a chamo de sua. E nós dois, exaustos nos deixamos ser nossos, por momentos preciosos quanto preciosas são as palavras que dizemos, mesmo quando indecorosas. Somos é boa palavra. Nós também. Mas a palavra revolucionária é Eu. De meu Eu ao seu Eu, do seu Eu ao meu Eu. E se sou Seu, por premissa e com permissão, permito gozar na porta do Céu, urinar no Paraíso e ejacular na boca do Inferno. Sou Virgílio sem Caronte, mirando o Aqueronte. Às portas do Inferno de Dante há um elefante. Elegante e efervescente. Um elefante indecente, tão inocente quanto senciente. E o elefante toca o sino, Hell Bell, e eu lembro que é hora de partir. Sem ir a nenhum lugar. Quem sabe ao mar. Pegar sereias pelo rabo. Sou Lúcifer em tarde cinza, ou apenas um idoso ranzinza, que teima em pensar? Penso ao pé da letra, literalmente propenso a pensar, que se não há mais pensamento, penso eu, não há o que chorar. Choro de pensar nisso. Não oro, que não sei orar. Penso ao pé da letra. Em pé, à frente daquele anjo que chupa meu pau, solene. Solan. Soland. Sol. Angel. Um anjo de Sol. Sol Anjo. Angel Sun. So long, so longer. Penso ao pé da letra, aos pés de uma letra qualquer, com jeito de mulher. Uma letra que quer ser ponto. Final. Ou de exclamação, mas é um ponto de interrogação. Penso, ao pé da letra, que já não existem letras em que pensar. Esgotei o abecedário, de Ângela a Zulmira, todas as letras, todas as tetas, todas as bucetas. E que letra ainda não? Lembro do "S" e penso que não. O "S" é uma serpente se contorcendo. E penso se, ao pé da letra, o "S" sabe que é serpente ou somente sedução? Se o "S" sabe que sabe, com "S", ou se somente sacode a cauda e subjuga o sofredor. Ah, a letra "S", é de safada, sem-vergonha, mas também de solene e de satisfação.  Serpente não, ser gente. E a letra que penso agora, de pé,  enquanto ela se dobra em forma de "L" curvada com as mãos na cama é a letra de uma música que esqueci a melodia, mas conheço o arranjo e o tom. "Vicious"... E ela me bate a toda hora. E está fazendo isso agora. Ela é viciada. E eu viciado nas letras do seu nome. Ela tem nome de escritora, de poeta, e o meu ela apenas soletra, como quem bebe vinho e fuma maconha. E sonha com um príncipe barbudo que faça tudo. Sobretudo sobreviver. Viciada nunca saciada, uma tarada. Ah, letras, letras, letras... Quero soletrar ao pé da letra, no pé do teu ouvido, palavras solenes sem explicação. Solemnias verbas sem condição. Ah, minhas palavras, que tanto te causam tesão! Quero declamar meu abecedário de besteiras, meu dicionário de sacanagem no seu ouvido. De "A" a "Z", uso todas as letras para pensar. E penso. Ao pé da letra. Aos pés do anjo. Solemnias verbas. Solenes palavras ditas dentro da tua boca. Palavras lambidas, palavras engolidas. E ejaculadas na tua língua, meu anjo, de pernas finas, canelas esfoladas e peitos pequenos, deitada na cama da Aurora, e eu agora sei apenas que penso ao pé da letra, que solenes são as farpas da sua língua, enquanto eu, poeta pequeno, na minha fala fálica, apenas falo, sem jeito, que quero apenas teu leito, e em nada mais, com efeito e por direito, pensar. 

11/12/2019
©Direitos Autorais Reservados - Luiz Carlos Cichetto

27/01/2020

Íncubo

Íncubo
Barata Cichetto



Quero entrar pela tua janela feito um anjo safado,
Pendurar no cabide as minhas asas e ficar pelado.
Andar pelo quarto quieto, nas pontas dos dedos,
Vendo sombras vivas que habitam teus segredos.

Vou-te olhar deitada sob o branco clarão da lua,
Enquanto dorme pintada de estrelas, bela e nua.
Pegar uma cadeira e me sentar junto a teu leito,
E sem te tocar, fazer amor como nunca foi feito.

De manhã, quando pela mesma janela entrar o sol,
Partirei te deixando coberta apenas com um lençol,
E anjo vadio, irei aos deuses confessar meus desejos,
Enquanto acorda serena, embriagada de meus beijos.

Nunca saberá de mim, duvidará da própria sanidade,
Mas dentro de si sempre haverá o fruto da eternidade,
E quando eu à Terra retornar, feito um homem carnal,
Nos amaremos até chegar a última noite do juízo final.

14/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto

22/01/2020

Um Fingidor Fugido do Inferno

Um Fingidor Fugido do Inferno
Barata Cichetto



Sou daqueles que fingem, nem que apenas um momento,
Estar louco, sentir o orgasmo ou ter qualquer sentimento.
Daqueles que sempre desmentem que o fingir não é sentir,
Apenas por defeito ou por efeito de meu direito de mentir.

Sou daqueles que sentem muito, mas nunca sentem nada,
Aguardando do outro lado quando o cavalo desce escada.
Que jamais aceitaria o perdão em seu último dia mundial,
E que trocam uma confeitaria por um pedaço de pão de sal.

Sou dos que morrem sem gritar, chorando na escuridão,
No silêncio profundo dos intestinos sombrios da solidão.
Daqueles que sofrem o que podem, sem pedir desculpas,
Acreditando que pedido de perdão é confissão de culpas.

Sou dos que não chegam ao Inferno por tédio e covardia,
Mas que fugiu do Paraíso antes de ser preso por rebeldia.
Daqueles que morrem todas as manhãs depois do café,
Fingindo que existir é uma mentira ou apenas ato de fé.

19/09/2019
©Luiz Carlos Cichetto

18/01/2020

Neil Peart

Neil Peart
Barata Cichetto

Photo: Ben DeSoto, Houston Chronicle

Com a morte de Neil Peart fico me perguntando: onde estão indo todos? Não acredito nem em Céu nem em Inferno, mas sinto que todos estão indo a algum lugar. A Natureza não é injusta, o deus Tempo não é injusto. Falando apenas dos mais recentes: para onde foram Lemmy, Dio, Lou, Bowie e agora Neil?. Goodbye, The Professor! Obrigado ao deus Tempo por me permitir compartilhar da mesma era que esse gênio. Sinto-me grato por ter sido agraciado por estar presente neste inóspito planeta ao mesmo tempo que esses que se foram. Não tenho ideia de para onde foram, mas gostaria de ir ao mesmo lugar.

10/01/2019