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18/04/2020

A Política Republicana - Lima Barreto

A Política Republicana
Lima Barreto



“Não gosto, nem trato de política. Não há assunto que mais me repugne do que aquilo que se chama habitualmente política. Eu a encaro, como todo o povo a vê, isto é, um ajuntamento de piratas mais ou menos diplomados que exploram a desgraça e a miséria dos humildes.

Nunca quereria tratar de semelhante assunto, mas a minha obrigação de escritor leva-me a dizer alguma coisa a respeito, a fim de que não pareça que há medo em dar, sobre a questão, qualquer opinião.

No Império, apesar de tudo, ela tinha alguma grandeza e beleza. As fórmulas eram mais ou menos respeitadas; os homens tinham elevação moral e mesmo, em alguns, havia desinteresse.

Não é mentira isto, tanto assim que muitos que passaram pelas maiores posições morreram pobríssimos e a sua descendência só tem de fortuna o nome que recebeu.

O que havia neles não era a ambição de dinheiro. Era, certamente, a de glória e de nome; e, por isso mesmo, pouco se incomodariam com os proventos da ‘indústria política’.

A República, porém, trazendo tona dos poderes públicos, a borra do Brasil, transformou completamente os nossos costumes administrativos e todos os ‘arrivistas’ se fizeram políticos para enriquecer.

Já na Revolução Francesa a coisa foi a mesma. Fouché, que era um pobretão, sem ofício nem benefício, atravessando todas as vicissitudes da Grande Crise, acabou morrendo milionário.
Como ele, muitos outros que não cito aqui para não ser fastidioso.

Até este ponto eu perdôo toda a espécie de revolucionários e derrubadores de regimes; mas o que não acho razoável é que eles queiram modelar todas as almas na forma das suas próprias.

A República no Brasil é o regime da corrupção. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a ‘verba secreta’, os reservados deste ou daquele Ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência.

A vida, infelizmente, deve ser uma luta; e quem não sabe lutar, não é homem.

A gente do Brasil, entretanto, pensa que a existência nossa deve ser a submissão aos Acácios e Pachecos, para obter ajudas de custo e sinecuras.

Vem disto a nossa esterilidade mental, a nossa falta de originalidade intelectual, a pobreza da nossa paisagem moral e a desgraça que se nota no geral da nossa população.

Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar idéias; ninguém quer dar a emoção íntima que tem da vida e das coisas. Todos querem ‘comer’.

‘Comem’ os juristas, ‘comem’ os filósofos, ‘comem’ os médicos, ‘comem’ os advogados, ‘comem’ os poetas, ‘comem’ os romancistas, ‘comem’ os engenheiros, ‘comem’ os jornalistas: o Brasil é uma vasta ‘comilança’.

Esse aspecto da nossa terra para quem analisa o seu estado atual, com toda a independência de espírito, nasceu-lhe depois da República.

Foi o novo regime que lhe deu tão nojenta feição para os seus homens públicos de todos os matizes.
Parecia que o Império reprimia tanta sordidez nas nossas almas.

Ele tinha a virtude da modéstia e implantou em nós essa mesma virtude; mas, proclamada que foi a República, ali, no Campo de Santana, por três batalhões, o Brasil perdeu a vergonha e os seus filhos ficaram capachos, para sugar os cofres públicos, desta ou daquela forma.

Não se admite mais independência de pensamento ou de espírito. Quando não se consegue, por dinheiro, abafa-se.

É a política da corrupção, quando não é a do arrocho.

Viva a República!”

Lima Barreto, o monarquista.
1918

17/04/2020

CORONARIANA Nº 30

CORONARIANA Nº 30
Barata Cichetto



Estou pronto! Quando chega o ônibus do poder? Que carrega a nação sem noção? Estou pronto, quando chegar o trem na estação, e carregar meu coração. Estou pronto! Quando chegar o avião, que leva ao ar sem condição, o político ladrão, o pobre sem refeição, e o poeta sem direção. Estou pronto. Encostem a carruagem no trilho do bonde, celem o cavalo do bandido, e a mosca do cocô. Estou pronto. Para o caos, programado no porão do poder. Onde senta um chinês, uma bicha e um filho da puta. Escrevo contra o decreto, de isolamento, de sofrimento, de corrimento, de cimento contra o abstrato. Escrevo sem nexo, sem sexo, e sem circunflexo o palavrão. Estou com tesão, mas não pode não. Tesão contagia e propaga. Respiração pode não. Sufoco e sem foco. Com fogo e sem paixão. Não é nada, não. Nada é não e não é nada. Tudo é paixão. Tudo é tesão, tudo é cérebro. Nada é corpo. Tudo é porco. Porcos sentem tesão, poetas também não. E o anão, sem dedo na mão coloca fogo no circo. E a equilibrista de pernas abertas espera o cafetão na porta da estação. Acorda, Brasil!

08/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 29

CORONARIANA Nº 29
Barata Cichetto



Deitado no chão, em meu colchão de ar, assopro o cabelo que me teima em cair no rosto. Coço a barba, longa e branca e ensaio uma punheta. Na ampulheta a esperança de "dias melhores", que jamais chegarão. Não existem dias melhores, nem piores. Há dias em que a gente morre, outros não. Filosofia de pés sujos, de botequim e de puteiro. As putas estão solitárias. Fecharam o puteiro. Seus filhos e mães estão com fome. "Nem na pandemia de AIDS nos impediram de trabalhar", reclamam. Estão tristes minhas putas, como diria Garcia Marquez, e não sabem escrever memórias, apenas contar histórias de um tempo em que não morreram. Fecharam os puteiros, e não tem graça nenhuma. A piada não é engraçada, é disfarçada. É risada desgraçada. Deitado no chão, a punheta não sai. Preciso escrever sobre putas, não sobre epidemias. Há caráter em tudo. E motivo em nada.

07/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 28

CORONARIANA Nº 28
Barata Cichetto




Nada de praia, nada de dominó, nada de respirar na praça. Os pombos da praça estão com depressão, que não tem em quem cagar, o mendigo sem fumar, que não há a quem pedir o cigarro, os sem teto estão famintos, por não terem quem lhes dê uma moeda. Não há odores nas ruas, nem do pão da chaminé da padaria, nem das flores do florista, nem do perfume das putas, nem dos suores dos trabalhadores, nem dos cigarros, nem dos escapamentos. Não há odores, apenas cheiros. De medo e de terror. De morte. E todos, absolutamente todos, com medo simplesmente de respirar. Enquanto isso, políticos decretam o fim. Brigam numa rinha infinita por poder. Todos eles ganham, todos nós perdemos. Agora, nosso existir resume-se a caminhadas pelos retângulos cinzas dessa moldura azul. É a rua que nos permitem.

06/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 27

CORONARIANA Nº 27
Barata Cichetto



Todos nós aqui, incluindo a ti e a mim, somos medíocres tentando expor nossa superioridade, todos. Qualquer um acredita ser o dono absoluto da verdade, o que nos torna ainda mais que medíocres, prepotentes. Essa é a função de redes (anti) sociais: expor nossa imbecilidade, disfarçando a fragilidade.

06/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

16/04/2020

CORONARIANA Nº 26 - PANDEMIA-PANDEMÔNIO

CORONARIANA Nº 26 - PANDEMIA-PANDEMÔNIO
Barata Cichetto



Há pouco menos de um ano, logo depois de completar 61 de existência, e de estar passando por uma depressão, entre outras coisas por descaso familiar e mudança de cidade, decidi que precisaria me cuidar melhor, e tentar sair dessa situação. Para tanto, comecei a me alimentar melhor, reduzi o consumo de cigarros e a usar ervas para tentar reequilibrar o organismo. Em Janeiro comecei a perceber melhoras e a produzir, trabalhar mais, visando manter a cabeça ocupada, e tramei a edição de um livro que vinha postergando há anos. Minha auto-estima melhorou, apesar de todos os problemas pessoais e financeiros.
Acontece que, por coincidência logo após o carnaval, explode o pandemônio-pandemia, com o terrorismo da Ditadura do Voluntariado, com o ódio e a guerra a tudo que fosse contra isso pudessem desencadear. Para terminar, a Uiclap, poucas horas antes do que eu tinha planejado lançar o livro, resolver cancelar as vendas, o que jogou todo o trabalho e planejamento no lixo. Entendi a posição da Editora, mas isso foi à gota d'água para que minha cabeça saísse do seu trabalhoso centramento e girasse a ponto de perder todo o entusiasmo e com ele o apetite e o sono. Voltei a fumar desbragadamente e ao ser forçado a me tornar enclausurado, por conta menos de prevenção e mais ao terrorismo, minhas caminhadas cessaram.
O resultado disso ainda não sei, mas é certo que não será bom. Ademais, sei de muitas pessoas com históricos parecidos, e espero que pessoas em situação similar não sucumbam diante dessa guerra armada, em função de vírus que, sim causará mortes, como qualquer outro, em maior ou menor número, mas mais que qualquer outro resultará em mortes que não serão contabilizadas nas estatísticas dele, tão adoradas pelos estandartes do caos.

05/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 25

CORONARIANA Nº 25
Barata Cichetto



Meu colchão é no chão. Meus quatro metros quadrados de território, sem oratório e sem flexão abdominal. Minha gata dorme em cima da minha cabeça. Respiro o que posso, e o que me deixam. A Ditadura do Voluntariado tomou conta das ruas. Sou idoso, e quem sabe o último barbudo do planeta Terra. Preciso achar um caminho, mas não sei por onde começar.

04/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 24

CORONARIANA Nº 24
Barata Cichetto



Em breve, ainda antes do apocalipse zumbi, estarei lançando minha Ontologia Poética (Ontologia, mesmo). E estarei por aí, chutando uns rabos sujos e fodendo outros. E depois, eu, o último barbudo do mundo, e meu amigo Paulo Castro, vamos tomar uns drinks no inferno com Salma Hayek.

04/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 23

CORONARIANA Nº 23
Barata Cichetto



Eu, que sempre fui deixado do lado de fora, fui trancafiado, enquanto eles estão lá, lançando sua ira e seu terror, ninando meus filhos e preparando seu reinado de escuridão. Prendam a respiração e curtam a publicação. Não respirem, compartilhem a informação. Morram de inanição. Facebook is God. Parem de falar, parem de chorar, parem de lamentar. Parem de respirar. Respirar contamina. Tudo no humano contamina. Se calem, não se falem. Apenas se odeiem, que seu porco é melhor que o do outro. Escolham seu lado na guerra. Escolham sua forma de morrer. Contaminação ou inanição. O futuro da nação. Depende da sua condição. De pulga de circo. De circo de horrores. Parem. Parem tudo. Sejam o nada.

04/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 22

CORONARIANA Nº 22
Barata Cichetto



Há alguns anos venho brigando com minha ansiedade, angústia e, principalmente depressão, acompanhada de seus "efeitos colaterais", como desejo de suicídio. Venho me empenhando em sair dessa situação, sem virar um dependente de drogas legais, ou ilegais que sejam. O artifício que encontrei, além da sempre presente necessidade de escrever, foi me dedicar ao trabalho, seja ele de que forma for, remunerado ou não. Ocupar minha cabeça e meu corpo me mantiveram nos últimos meses longe desses pensamentos e sentimentos. Abracei o sonho de um amigo, o Wladimir de Paula, pessoa de caráter íntegro e uma vontade de trabalhar e acerta fora do comum. Criei artes, vinhetas, e atualmente sou responsável atualmente por cinco programas semanais, sendo que com isso produzo cerca de quinze horas de programas semanais, fora tempo gasto em pesquisas, edições e contatos, que multiplica esse numero certamente por três.
Tudo isso, entretanto, foi sendo desmontado com a paranóia criada pela mídia, por políticos escrotos e alimentada pelas pessoas que, seguindo a cartilha da massa burra e manipulável que amplifica o caos ao limite do insuportável, transformando uma epidemia séria num pasto para seus desejos de poder e ódios guardados. Afinal, as pessoas precisam ser guiadas, mesmo que seja ao matadouro, por nossos queridos e humanísticos líderes. Não basta educar, não basta ensinar. O pânico tem mais efeito. E segundo alguns, "é para nosso bem."
Nos últimos dias, com tudo isso, venho experimentando novamente as valas escuras da depressão, e nem direito de sair à rua e encontrar algumas pessoas, e beber uma cerveja e distrair o desejo da morte existe mais.
É certo que essa Gripe Chinesa, como todas as doenças que apareceram durante a existência da humanidade e antes dela, irá causar vítimas fatais, e as estatísticas serão engordas para aumentar o pânico, e assim buscar a eficácia nos métodos de controle, mas e quando as mortes que advirão desse isolamento forçado, "para nosso bem", de pessoas que morrerão por suicídio, violência e outras coisas. Serão todos colocados numa vala comum, aquela do dia-a-dia, e serão desprezadas.
Ao citar a minha própria experiência, tenho consciência de que o sinto hoje não é exclusivo, e sei de muitas pessoas que, como eu, se sentem sem qualquer expectativa, afinal, depressão não dá mídia, depressão não é contagiosa, não pega por beijo-abraço-aperto-de-mão. Mas garanto que o numero de mortes no mesmo período que a Gripe Chinesa é maior. E quem se interessa por isso? A não ser que alguém se sinta exatamente igual, vai me tachar como egoísta e maluco.

03/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 21

CORONARIANA Nº 21
Barata Cichetto



Sobre epidemias e manipulações: ano passado, com a epidemia de Dengue, Araraquara, cidade onde moro e tem uma população de cerca de 240.000 habitantes, teve 27.000 casos da doença confirmados, e oito óbitos. Percentualmente, esse numero correspondente a mais de 10 por cento da população. Tal proporção, se levada à comparação com o país, significaria um numero perto de 20 milhões e daí daria para se calcular o numero de mortos usando a mesma régua. Os postos de saúde andavam lotados, e a prefeitura o que fez, sendo que se sabia exatamente onde moravam os inimigos: basicamente em vagões de trem abandonados: usou um drone pulverizando, em duas oportunidades. O foco continuou vivo. Neste ano, parece que simplesmente o mosquito da dengue resolveu dar uma trégua, já que existe coisa pior que ele. Só que não. A dengue continua fazendo vítimas, mas não está mais na moda.

03/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados