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28/05/2018

Drop Out

Dentro de menos de um mês completo sessenta anos de idade. Estou procurando emprego. Preciso trabalhar. Ganhar honestamente o pão, coisa simples assim. Todos os meus projetos "empresariais" deram com os burros n'água: ninguém encomenda livros artesanais, ninguém compra meus livros de poesia, nem meus quadros, nem porra nenhuma. E preciso comer, pagar contas, ter dignidade, e tirar das minhas costas a pecha de vagabundo. O que posso fazer? Não dirijo, tenho problemas de coluna, uma rinite que me faz assoar o nariz duzentas vezes por dia. Não tenho sequer segundo grau e um visual que não ajuda muito, confesso. Mas o que faço, enquanto não chega uma aposentadoria que planos e mais planos roubaram de mim e de muitos outros. Comecei a trabalhar oficialmente aos 14 anos de idade, em 1972. Já fui de tudo um pouco e mais um pouco. Mas e agora? Como sobreviver? Ah, sim, estão todos irmanados com caminhoneiros em greve. Preocupados com quem será o maldito filho da puta do próximo presidente. Se será de direita ou de esquerda, ou se será da casa do caralho. Não, não sou artista, mas não sou vagabundo não, viu?! Não quero esmolas, nem bolsas de merda nenhuma. Todas as profissões que já,exerci, com muita determinação e capacidade, com excelentes resultados, não existem mais. Quem quer contratar um arquivista, com curso de microfilmagem e almoxarifado? Um microfilmador? Um desenhista mecânico em prancheta de um metro e meio por um metro? Um auxiliar de escritório ou de escrita fiscal? Quem precisa de mim? É, eu cozinho mal e não tenho "boa aparência", então não sirvo para ser puto. Velho de programa? O que sei de instalação elétrica só serve para fazer coisas em casa. Aliás, fazer coisas em casa é minha especialidade. Artesanato em madeira, também. Mas quem está preocupado comigo? Meus filhos são filhos do Lula e da Dilma, estão preocupados com ideologia de gênero e comunismos paternalistas, e discussões socialistas de fundo de boteco. Eu só quero não ser mais chamado de poeta, de vagabundo, e de dizerem que minha mulher me sustenta com seu salário mínimo. Autoestima? Que merda é isso? Depressão? Que bosta é isso? Ah, sim, estão todos preocupados em bater panelas, em botar a culpa em alguém. E que culpa tenho eu? Toda a culpa do mundo. Estou cansado dessa farsa toda. Quero apenas ganhar minha vida, mas quem são os socialistas e comunistas que irão me dar um trabalho? Quem são os capitalistas que darão uma oportunidade? Hein? Todos filhos da puta maldito, com suas regras e teorias sociológicas de merda. Eu tive oportunidade de ser ladrão e cafetão. Duas putas me ofereceram viver de suas bucetas. Eu preferi casar e criar filhos. Mas fiz tudo errado, né?! Poderia ter mesmo trilhado um caminho diferente. Ser um desgraçado cheio de grana, com casas e dinheiro no banco. Três carteiras profissionais cheias de empregos, centenas de quilos de livros lidos e para que tudo isso me serve? Para bosta nenhuma. Ah, se as pessoas parassem com essa hipocrisia de pensar no coletivo e agisse individualmente o mundo seria melhor. Estou certo disso. Coletivismo é hipocrisia, seus bostas! Mandei o original do meu romance, um livro de umas seiscentas páginas para duas grandes editoras... Claro que deve estar na lixeira de algum computador nos escritórios chiques de editores formados em uni alguma coisa, essa bobagem mentirosa criada para encher os bolsos de donos de escolas. Não há capitalismo, não há socialismo, não há comunismo. Só há mentira! Fodam-se! Estou caindo fora dessa merda!
27/05/2018

27/05/2018

Deus Está Nu - Prefácio a Peregrinações de Isaías ao Redor de Si Mesmo, de Jorge Bandeira

Deus Está Nu
Prefácio ao livro Peregrinações de Isaías ao Redor de Si Mesmo, de Jorge Bandeira
Barata Cichetto

"Somente se a nudez profética se concretizar teremos chance de termos um novo amanhã."

A nudez humana sempre foi polêmica. Desde tempos remotos, em que, calcada em conceitos religiosos propositalmente mal interpretados, foi atrelada à ideia do pecado, da luxúria, e até mesmo da maldade. A serpente do Paraíso teria feito o primeiro casal do mundo sentir vergonha por estar nu. Teria. E a partir daí toda nudez passou a ser castigada. Perseguida. Banida. Confinada aos ambientes privados. E às revistas e filmes onde sempre foi tratada de acordo com interesses de mercado, sempre apelando à ideia do voyeurismo, do espiar no buraco da fechadura do quarto ao lado. E assim, dentro das roupas da marca Hipocrisia, a humanidade tem se sustentado.

Mas onde entra Deus nessa história? É justamente, em meu entender, que está o principal sofisma impetrado por Jorge Bandeira em "Peregrinações de Isaías ao Redor de Si Mesmo".  Mas a aparente refutação sofística é também silogismo sofístico. Ou seja, mediante a argumentação de Isaías, que quer defender algo falso e confundir o contraditor, num primeiro momento afirmando que conheceu Deus e que ele estava vestido com "manto esvoaçante que deixava antever uma visão indefinida entre o corpo nu e uma pele feita de alva coloração", há a pura conotação de que Deus está, de fato, nu.

Desfeita a confusão, proposital, o que resta ao leitor é uma verdadeira oração, um mantra à nudez humana, como forma de libertação verdadeira do ser humano. E não essa liberdade propalada pelos cantos e pelas ruas, mas que de fato se revela como prisão. A chamada liberdade sexual se revelou nisso, uma prisão, onde as pessoas são escravizadas a desejos nem sempre puros, mas de interesses externos. E assim retornamos aos primórdios da era da nudez como pecado maior, ensejado todas as formas de abominação. E ao contrário do que muito se afirma, não caminhamos adiante nas nossas liberdades individuais, não andamos para frente em nenhum sentido moral. Muito pelo contrário. A nudez, exposta de todas as formas na Internet é ainda, e mais ainda, tratada como pecado, como maldição, como crime. E por isso forjada pelos interessados em fomentar as pequenas subversões para angariar mais e mais poder. 

O caminho é mesmo o proposto por "Peregrinações...", em que Isaías, uma espécie de alter-ego de Jorge Bandeira, nos propõe. Precisamos nos despir não apenas de roupas para atingir a nudez. Precisamos nos despir não apenas de pudores. Precisamos nos despir de nossos próprios conceitos de Deus e de Liberdade, para atingir o que seria a ataraxia da humanidade, a nudez plena do espírito. E não apenas as roupas precisam ser feitas de "substâncias nuas", como nosso próprio caráter, nossos objetivos e dogmas. Nossas vestes atuais, tecidas com dogmas, ideologias e pensamentos estão sujas, imundas. Precisamos, sim, aniquilar, queimas essas vestes e ressurgir enquanto espécie, nus. Talvez nesse momento, nos defrontemos com um Deus que de fato não conhecíamos, escondido dentro de vestes sagradas inóspitas. É possível que no momento em que despojados também de nossas vestes, que tanto nos impedem de enxergar nossa própria nudez, encontrar o verdadeiro Deus. E com certeza ele se nos mostrará completamente nu!

7/10/2015

Dia da Saudade

Dia da Saudade
Barata Cichetto

Acordei com saudades. Uma saudade sem lembrança. Todas as saudades são lembranças, mas não a minha. Não tinha rosto essa saudade, ao contrário de todas as saudades que se sente. A minha não era de ninguém, nem de mim mesmo. Era uma saudade surda, cega e muda. Uma saudade tão intensa e tão extensa que quase não pude perceber.  Mas sabia que ela estava ali. Quentinha feito uma buceta. Desleixada feito uma puta. Terna feito uma mãe. Eloquente feito um padre. E eu não sabia se eu a expulsava da minha cabeça com um tiro na fronte ou com uma gilete nos pulsos. Maldita saudades que eu não queria ter na minha cama. Que fosse até mesmo uma traveca de peitos de silicone, ainda vá lá, mas não essa saudade alienígena. Quem ela pensava ser para me abordar, me tirar da cama aos berros feito um policial à paisana? Hein? Quem era ela para me acordar desse jeito, feito uma telefonista de call center dizendo aguarde na linha, senhor, enquanto transferimos sua ligação? Que bosta era aquilo agora? Eu era apenas um pequeno escritor que nem sequer conseguira ter estatura para alcançar o espelho. E lá vinha aquela maldita saudade me atormentando feito uma empresa de cobrança que tentar negociar o boleto de uma calça que comprei tem cinco anos e ainda não paguei. Nem vou pagar. Foda-se essa saudade.
Fui à cozinha e preparei um café, depois sentei na mesa onde duas baratas batiam um papo sobre a ultima greve que a merda dos esquerdistas inventaram para foder com tudo. Elas fumavam uma bagana fedorenta e palitavam os dentes com ossos. E me olhavam de um jeito estranho que só baratas sabem olhar. Dei um tapa nas duas e as esmaguei contra o piso da cozinha. A saudade sentou na minha frente e ficou me olhando. Pensei em fazer com ela o que tinha feito com as baratas, mas ela me olhou bem fundo nos olhos e me deu um tapa no rosto que ardeu para caralho. Sua vadia, eu disse. E ela deu outro, do outro lado da cara. Sua puta. Tornei a gritar. E ela se levantou, abriu a porta e deixou duas cadelas enormes entrarem. Eram reluzentes e tinham duas bolas de gude cinzas no lugar dos olhos. E elas me devoraram com seus dentes afiados. Ainda vi minhas tripas sendo arrastadas pelo chão encerado da cozinha antes de fechar os olhos. As baratas se contorciam. E riam de mim, de um jeito que somente baratas sabem rir.
27/05/2018

26/05/2018

Bukowski Era Um Velho Desprezível

Bukowski Era Um Velho Desprezível
Barata Cichetto

Passei a tarde lendo outro livro de Bukowski. Que merda! Por que alguém se dá ao luxo de perder tempo com esse autointitulado "Velho Safado"? Charles era um desprezível. Toda sua prosa é desprezível. Sua poesia é desprezível. Mas nem todo mundo lê Bukowski hoje. Muita gente diz que lê, pois é ser "modinha". É legal dizer que leu, e depois ficar nessas merdas de redes de Internet vomitando frases dele, sem sequer entender que ele era um velho desprezível. Um bêbado que gostava de carros caros e ganhou muita grana. Não, Buk não é aquele camarada que te pediu uma pinga ontem à noite na porta do buteco onde cê tomava sua Heineken e tirava fotos para publicar. Se fosse ele, cê teria dado a bunda pra ele, mas como era só um velho cachaceiro, tu deus umas porradas nele e as putas que bebiam no seu copo melaram as calcinhas. Aliás, se fosse o velho Charles aquele bêbado babão e sem dentes, ele mesmo te daria umas porradas. E te deixaria com a boca sangrando e as putas chorando na porta do SUS. Mas não era, e cê o encheu de porradas e xingou ele de bêbado safado.  Se fosse ele, cê não viraria uma história dele, não viraria um conto, pois ele falava apenas de derrotados, não de idiotas.

26/05/2018

24/05/2018

Virada Cultural ou Virada Criminal?

Virada Cultural ou Virada Criminal?
Luiz Carlos Cichetto

Em The Purge, uma franquia que chega agora em Julho ao quarto filme, o mote é acompanhar os eventos que se desenrolam na noite anual de caos e violência em que todo tipo de crime, inclusive homicídio, é permitidos por lei. A data foi instituída para que as pessoas extravasem seus impulsos hediondos em um horário delimitado pelo governo, o que diminui os índices de violência nos outros dias do ano... Assisti um dos três disponíveis, e com exceção à permissão legal para homicídio, o resto se parece muito com a Virada Criminal, ops, quer dizer Cultural de São Paulo.

Não em 12 como no filme, mas em 24 horas, as pessoas vão ao que define como "cultural", mas é de fato a purgação, onde todos, de artistas à público, de governantes a produtores purgam suas culpas e colocam para fora seus "demônios". As pessoas roubam, estupram, cagam, mijam, se drogam, bebem, e fazem tudo mais ainda que no Carnaval. Artistas têm aí uma boa chance de faturar cachês polpudos e então entram na roda; a corrupção, através de contratos espúrios colocam suas manguinhas de fora; comerciantes e ambulantes faturam alto; a segurança pública se omite e é inibida; e os governantes cacifam com a ideia de que estão promovendo cultura de graça. Tudo muito certo, para todos. E o populacho solta tudo que tem dentro de si. Trens, ônibus, estações de metrô e até mesmo viaturas policiais são depredados, sob a complacência dos órgãos de mídia que silenciam criminosamente. 

A Cultura, sempre violentada e prostituída dá as tintas; os impulsos selvagens reprimidos dão o tom; e a música fica por conta de artistas que tem ali uma chance de engordar seus cachês, normalmente minguados durante o restante do ano, por culpa do mesmo sistema que alimenta essa tal de Virada Cultural.

Desde o início, nas suas primeiras edições, a Virada Cultural de São Paulo tem experimentado todos os esses elementos. Na de 2007 presenciei a depredação de uma banca de jornal na Praça da Sé, incentivada pelos membros do Racionais MC, e em todos os anos seguintes, até a ultima, de 2012 em que estive presente e abandonei no início da madrugada de domingo, apavorado com o nível de violência e sujeira nas ruas. 

Músicos internacionais em fim de carreira ou absolutamente medíocres, como nessa última, em que a banda Iron Butterfly se apresentou depois de um dos músicos entrar no palco de andador, são pagos à peso de ouro; artistas de outros estados idem, enquanto a própria claque de artistas paulistas e paulistanos são deixados de lado. Esse é outro aspecto a se considerar.

Em resumo, como purgação, exatamente como na sequencia de filmes, funciona bem. Na segunda-feira, as mesmas pessoas que quebram, estupram, cagam, mijam e se drogam ao som de todos os tipos de música, vestem seus uniformes e, no que restou de meios de transporte, se dirigem aos seus locais de trabalho e estudo, onde passarão os próximos 364 dias acumulando seus ódios, que serão purgados.

A vida imita a arte? Mas que arte é essa?

24/05/2018

23/05/2018

Gosto de Mulheres Sacanas

Gosto de Mulheres Sacanas
Barata Cichetto

Adoro mulheres sacanas. Daquelas que gostam de sacanagem. Às quatro da manhã. Às três da tarde. A qualquer hora do dia. Com qualquer tempo. Nublado ou ensolarado. Frio ou quente. Doce ou salgado. Em qualquer hora. Do dia ou da noite. Até pendurada nos ponteiros do relógio. E em qualquer posição. Esquerda. Direita. Em cima. E por cima. Embaixo. E por baixo. Gosto de mulheres que gostam de sacanagem. De qualquer ideologia. Teologia. Fisiologia. Das misóginas às andróginas. Das vaginudas. Às peitudas. Das de peitos pequenos. Das de pernas longas. E de bunda dura. Ou macia. Gosto de mulheres sacanas. Mas aquelas bacanas. Que adoram chupar. E lamber. E grudar. E ficar grudada. Na parede. Feito lagartixa. Feito barata causando arrepio de tesão. Daquelas que causam lesão. Manchas roxas no pescoço. E fodem durante o almoço. Embaixo da mesa. De jantar. Gosto de mulheres sacanas. Que fodem de quatro. De cinco. E de mil. Sacanas bacanas. Que fodem em Abril. Em Maio. Ou em Outubro. No Dia da Criança. No Dia das Mães. No Dia da Poesia. Mulheres sacanas. Que gostam de ler. E de serem lidas. Polidas. Que lambem feridas. E se acham queridas. Gosto das sofridas. Da mal comidas. E das comidas bem. Gosto das fingidas. Que fingem que não gozam. Que fingem que não gosta. Que tem espasmos. E vomitam. Na minha boca. Palavras sem sentido. Só por sentir. Vontade de falar. Gosto das mal dormidas. Com olhos inchados. Cílios pintados. E bocas mal lambidas.  Adoro as feministas. As machistas. As comunistas e capitalistas. Das anarquistas. Idealistas. Aquelas as listas. De quem já comeu. De quem não deu. Gosto das fatalistas. Que querem morrer a cada orgasmo. Que morrem comigo. De tesão. Gosto das mulheres sacanas. Que fodem no meio da rua. Encostadas no poste. Na praça pública. Ou de alimentação. Que fodem na cama. Assistindo televisão. Comendo mação. E sentindo tesão. Gosto de mulheres sacanas. Americanas. Baianas. Do Bahamas. E de qualquer lugar. Que tenha mulheres bacanas. Sacanas. E como sacanagem pouca é bobagem. Que tenha a coragem. De ser sacana. E de ser bacana!

23/05/2018

22/05/2018

Barata Cichetto Bêbado

Barata Cichetto Bêbado

Saí para beber. Queria encher a cara, beber coisa forte, a mais forte que pudesse encontrar. Ficar de porre, daqueles de cair na sarjeta e cachorro lamber. Um porre homérico que me faria esquecer quem eu era. Mas não tinha dinheiro. Então cortei os pulsos e fiquei bêbado de mim mesmo.

22/05/2018