O CONTEÚDO DESTE BLOG É ESPELHADO DO BLOG BARATA CICHETTO. O CONTEÚDO FOI RESTAURADO EM 01/09/2019, SENDO PERDIDAS TODAS AS VISUALIZAÇÕES DESDE 2011.
Plágio é Crime: Todos os Textos Publicados, Exceto Quando Indicados, São de Autoria de Luiz Carlos Cichetto, e Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. (Escritório de Direitos Autorais) - Reprodução Proibida!


22/10/2018

Ciao, Bella!

Ciao, Bella!
Barata Cichetto
Pintura: "Virgin Bell", Barata Cichetto, 2017, Tinta Látex Sobre Papelão

Eu fui poeta. E fui por ter sido, e fui por ido. E eu fui, sem ir a lugar nenhum, em nenhum compêndio, nenhum prêmio, nenhum concurso, nenhuma editora. E fui poeta, fui por sido, fui por ter ido, aonde ninguém quis chegar. Quem sabe Piva chegou. E chegou longe. Mas em sua época ir longe era ir até o Teatro Municipal, ou à Biblioteca Mário de Andrade, e ter livros editados por editores undergrounds. Aos sessenta Piva já tinha chegado, aonde eu nunca cheguei, nem chegarei. Eu nem sei por que. Qual foi meu erro? Qual meu acerto. Olho com tristeza publicações e vejo nomes de conhecidos, pessoas que chegaram, ao menos em algum lugar. Eu sai do meu. Acho que não quero mesmo chegar. Fui escorraçado por família, amigos e parentes. Sobraram meia dúzia, se muito, a ainda bater nas minhas costas, e dois ou três comprar meus livros que eu mesmo faço, já que nenhuma editora quer publicar. Estou conformado de ter sido sem nunca ir, de ir sem nunca ter sido. São Paulo não quis minha poesia, Araraquara não quer minha poesia, o Inferno não quer minha poesia, nenhum deus ou deusa quis minha poesia.  O que fazer com as pilhas de papel, com as centenas de arquivos de computador? Quem sabe sentar numa praça e ler aos pombos, que decerto me cagariam na cabeça.

22/10/2018

20/10/2018

Ode à Mão Direita

Ode à Mão Direita
Barata Cichetto

A minha mão direita é que me importa. Sou totalmente destro. Não que me orgulhe, queria ser ambidestro. Não sou sinistro, como se dizia antigamente. Minha mão direita fica à minha direita, a esquerda de quem me olha de frente, e à direita de quem me olha pelas costas. Minha mão direita não é estreita, não usa luva; e segura uma uva e uma vulva, me protege da chuva. Minha mão direita é minha eira, e minha beira. Tem cinco dedos, unhas curtas que não roo. Minha mão direita enfrenta tapas de mão esquerda. E socos de mão direita. Minha mão direita é feita para bater, para alisar, para fazer gozar. Serve para estapear e, principalmente para escrever, já que o faço a caneta, com a mão direita, e não em ambidestros teclados de computador. Ah, minha mão direita, que aceita o que pode, e bate em quem não pode. Minha mão direita é direita, nunca foi desonesta, nunca pegou nada de ninguém. Minha mão direita é minha liberdade. Minha mão direita se apoia sobre meu coração à beira de um enfarto. Minha mão direita segura meu caralho, e as cartas do baralho. Minha mão direita, que coça minhas próprias bolas do saco, segura seu casaco e penteia macaco. Com minha mão direita bato punheta, seguro caneta e afago buceta; abro e dou tapa, fecho e dou murro; seguro o cigarro e amparo o escarro. Minha mão direita é aceita, perfeita para o adeus, para o aceno e para o aperto de mão. Minha mão direita é minha mão do não. E minha mão do sim. Minha mão direita é minha mão, e dela não abro mão. E se sua mão esquerda é sua certeza, não critique minha destreza. A sua mão esquerda é a minha mão direita. O importante é a mão não a luva. O importante é a mão, não o que ela segura.

20/10/2018

19/10/2018

Roberto Piva: O Século XXI Lhe Deu Razão

Roberto Piva: O Século XXI Lhe Deu Razão
Barata Cichetto

O século XXI lhe deu razão; com seus coletivos egoístas, e seus egoístas coletivos; seus seletivos anarquistas, e seus anarquistas seletivos; seus computadores baratos, e seus celulares caros; seus ditadores de esmola, e seus educadores sem escola; seu analfabetismo político, e seus políticos analfabetos; suas mulheres plastificadas, e seus machos simplificados; suas crianças fascistas, e seus bebês tecnológicos; sua fome gourmetizada, e sua violência glamourizada. 
O século XXI lhe deu razão, com seu excesso de tesão, e sua falta de desejo; seus pode-tudo, e seus nada-pode; sua moral ressentida, e sua imoralidade consentida; seu fanatismo ideológico, e seu onanismo lógico; seus ódios escarrados, e seus ócios cuspidos; seus cupidos tecnológicos, seus bêbados ideológicos; seus zoológicos humanos, e seus humanos lógicos; seus cérebros de silício, e suas alças de silicone; seus drones, e suas câmeras de seguranças. 
O século XXI lhe deu toda a razão, com seus idiotas poéticos, e seus poetas agiotas; suas águas coloridas, e seus filmes sem enredos; seus medos de tudo, e seus segredos de nada; seus escritores de Twitter, seus pensadores de Whatsapp; seus filósofos de Instagram, e seus Youtubers; suas hashtags, e seus emoticons; seus notebooks, seus facebooks, e seus smartphones.
O século XXI lhe deu razão, com sua morbidez feérica, e sua rapidez cadavérica; seus quinze minutos de fama, e seus dois minutos de cama; suas cobras de isopor, e seus lagartos de papel; sua falta de poesia, e sua afasia; seu progresso sem ordem, e sua desordem ordenada; sua devassidão clériga, e sua imensidão estreita; seus rocks sem roll; seu futebol sem gol, e seus blues sem cor.
O século XXI que lhe deu razão, com suas palavras ressignificadas, suas mulheres empoderadas, e suas tolices toleradas; suas intolerâncias generalizadas, e suas prepotências potencializadas; suas cotas de felicidade, suas botas de faculdade, e suas roupas de facilidade; sua pornografia sem tesão, e sua pornográfica razão; seu politicamente correto, e sua política incorreta; seu pensamento engessado, e sua burrice premiada. 
E o século XXII também lhe dará razão, Roberto Piva.

Barata Cichetto, do século passado, no século presente; e sem futuro.

17/10/2018

Somos Todos Pessoas

Somos Todos Pessoas
(Editorial Para Uma Revista Abortada)
Museu Ferroviário de Araraquara, Foto: Barata Cichetto

Somos todos pessoas. Pessoas de bem, pessoas de mal, de açúcar, e de sal. Somos todos pessoas, fernandos ou orlandos, cidadãos comuns ou sem uns. Pessoas sem pessoas, pessoas de muitas pessoas, pessoas de ninguém, pessoas de alguém. Somos todos pessoas, poetas, profetas, paulos e saulos; marcos e pedros; jucas e lucas. Somos pessoas sem eira, pessoas sem beira. Somos todos pessoas, e pessoas são fatos. Pessoas são natas, daqui ou dali; pessoas de Araraquara, de São Carlos, de São Paulo. Somos pessoas, escritoras, cantoras; encantadoras e desencantadas. Somos pessoas feito Pessoa, que não querem nada, e pessoas que querem tudo. Pessoas que correm, que morrem, pessoas que socorrem; pessoas culpadas, pessoas inocentes. pessoas decentes, pessoas carentes; pessoas anãs, pessoas sãs, pessoas pagãs, pessoas crentes, pessoas doentes. Somos ciros, epitácios, estácios e inácios. Somos josés, saramagos, magos e bruxos; luizes e Camões; gagos, juízes e anões; antônios e joões. Somos todos pessoas. Augustos e Anjos, demônios e arcanjos. Somos pessoas com medos, com segredos; pessoas que acordam cedo, pessoas que não dormem, pessoas que não comem; pessoas com nomes, sem sobrenomes. Somos todos pessoas, simples ou complexas, côncavas ou convexas. Somos pessoas a toas, pessoas boas; pessoas más; mas somos pessoas, e pessoas são pessoas, apenas pessoas, e nada mais; pessoas normais, anormais; ademais, pessoas, outras jamais. Somos todos pessoas, doces e brutas, santas e putas; pessoas engraçadas, e desgraçadas; somos pessoas do sim, e pessoas do não. Somos todos pessoas, pessoas que são filhas, pessoas que são pais; pessoas que são filhos, pessoas que são mães. Somos joanas e anas, mários e marias, fernandas e amandas. Somos pessoas, que caminham e que param, que andam e mandam; pessoas que comandam. Somos franciscos e chicos, ricos e fredericos. Pessoas sem dinheiro, pessoas que devem, pessoas que recebem; pessoas que pagam, pessoas que pegam, que enxergam, que cegam; que negam, e que renegam. Somos todos pessoas, e pessoas são o inferno de outras pessoas. Somos todos pessoas más, mas algumas pessoas são mais más que outras pessoas más. Somos pessoas pessoais, sociais, antissociais. Somos todos pessoas, de peles escuras, e de peles claras; pessoas coloridas, pessoas doloridas, de qualquer cor; de fraldas ou de andador. Somos todos pessoas, que fazem poemas, que trazem problemas, que criam sistemas. Pessoas como quaisquer pessoas, que se prezam, que rezam, que se enfezam; pessoas que se atrasam, que chegam antes da hora. Somos todos pessoas; cristinas, marisas, marinas; faladoras e fingidoras; albertos e caeiros, covardes e guerreiros. Somos todos pessoas; pessoas das cidades e dos campos, álvaros, augustos e cids, humbertos e eduardos. Somos todos pessoas, somos quaisquer pessoas; de Portugal, do Brasil, de Moçambique; quaisquer pessoas, que falem português, que cantem em inglês, ou que façam poesia em chinês. Somos pessoas, que fazem versos, que criam universos, que fazem inversos, e causem inversões. Somos pessoas, diferentes versões, subversões. Somos pessoas; subversivas, vivas. E apenas quando somos pessoas mortas, deixamos de ser pessoas.
Barata Cichetto, Araraquara, 26/09/2018
Publicado Originalmente em 27/09/2018, em: http://www.abarata.com.br/revistapessoasararaquara/

Aforismo

Aforismo:
A pornografia é, de todas, a mais honesta forma de amor, por ser desejo e carne; sem a mentira do romantismo poético, e a pieguice hipócrita da religião judaico-cristã. (Barata Cichetto)

Quase Demônio

Quase Demônio
Barata Cichetto

Eu não durmo de pijama, durmo pelado, e acordo melado. Sou quase um santo, exceto por um detalhe: não uso manto e ando pelas ruas sem andor nem andador.
Eu não durmo, nem de pijama e mijo na cama, durmo pelado e acordo gelado. Sou idoso, ruidoso, teimoso, tinhoso, quase um demônio, exceto por um detalhe: estou morto.

Beijem o altar, e esqueçam do santo,
Aqueçam a sombra, dispam o manto.
Se somos mortos, todos deuses com próstatas,
Cromossomos tortos, tolos, as vezes apóstatas.

16/10/2018

13/10/2018

O Analfabeto (Que Se Acha) Político

O Analfabeto (Que Se Acha) Político

O pior analfabeto é o analfabeto que se acha político. Ele ouve, mas apenas o que quer, e fala apenas o que querem. Ele participa dos acontecimentos apenas com o intuito de aparecer;  ele não sabe o custo de coisa alguma, menos ainda de alimentação, e acha que tudo é culpa do patrão. O analfabeto que se acha político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que ama a política. Não sabe o imbecil que da sua arrogância - e não da ignorância do outro - é que nasce a intolerância, e o pior dos bandidos, que é o político corrupto e lacaio de interesses próprios, que usa o analfabeto que se acha político como comida para sua fome de poder.

Uma resposta ao texto de autoria não confirmada. Texto atribuído a Bertolt Brecht:
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
10/10/2018