Barata Cichetto
A minha mão direita é que me importa. Sou totalmente destro. Não que me orgulhe, queria ser ambidestro. Não sou sinistro, como se dizia antigamente. Minha mão direita fica à minha direita, a esquerda de quem me olha de frente, e à direita de quem me olha pelas costas. Minha mão direita não é estreita, não usa luva; e segura uma uva e uma vulva, me protege da chuva. Minha mão direita é minha eira, e minha beira. Tem cinco dedos, unhas curtas que não roo. Minha mão direita enfrenta tapas de mão esquerda. E socos de mão direita. Minha mão direita é feita para bater, para alisar, para fazer gozar. Serve para estapear e, principalmente para escrever, já que o faço a caneta, com a mão direita, e não em ambidestros teclados de computador. Ah, minha mão direita, que aceita o que pode, e bate em quem não pode. Minha mão direita é direita, nunca foi desonesta, nunca pegou nada de ninguém. Minha mão direita é minha liberdade. Minha mão direita se apoia sobre meu coração à beira de um enfarto. Minha mão direita segura meu caralho, e as cartas do baralho. Minha mão direita, que coça minhas próprias bolas do saco, segura seu casaco e penteia macaco. Com minha mão direita bato punheta, seguro caneta e afago buceta; abro e dou tapa, fecho e dou murro; seguro o cigarro e amparo o escarro. Minha mão direita é aceita, perfeita para o adeus, para o aceno e para o aperto de mão. Minha mão direita é minha mão do não. E minha mão do sim. Minha mão direita é minha mão, e dela não abro mão. E se sua mão esquerda é sua certeza, não critique minha destreza. A sua mão esquerda é a minha mão direita. O importante é a mão não a luva. O importante é a mão, não o que ela segura.
20/10/2018
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