Barata Cichetto
Pintura: "Virgin Bell", Barata Cichetto, 2017, Tinta Látex Sobre Papelão |
Eu fui poeta. E fui por ter sido, e fui por ido. E eu fui, sem ir a lugar nenhum, em nenhum compêndio, nenhum prêmio, nenhum concurso, nenhuma editora. E fui poeta, fui por sido, fui por ter ido, aonde ninguém quis chegar. Quem sabe Piva chegou. E chegou longe. Mas em sua época ir longe era ir até o Teatro Municipal, ou à Biblioteca Mário de Andrade, e ter livros editados por editores undergrounds. Aos sessenta Piva já tinha chegado, aonde eu nunca cheguei, nem chegarei. Eu nem sei por que. Qual foi meu erro? Qual meu acerto. Olho com tristeza publicações e vejo nomes de conhecidos, pessoas que chegaram, ao menos em algum lugar. Eu sai do meu. Acho que não quero mesmo chegar. Fui escorraçado por família, amigos e parentes. Sobraram meia dúzia, se muito, a ainda bater nas minhas costas, e dois ou três comprar meus livros que eu mesmo faço, já que nenhuma editora quer publicar. Estou conformado de ter sido sem nunca ir, de ir sem nunca ter sido. São Paulo não quis minha poesia, Araraquara não quer minha poesia, o Inferno não quer minha poesia, nenhum deus ou deusa quis minha poesia. O que fazer com as pilhas de papel, com as centenas de arquivos de computador? Quem sabe sentar numa praça e ler aos pombos, que decerto me cagariam na cabeça.
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