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26/03/2019

René Não Usa Pijama

René Não Usa Pijama

René nunca usou um pijama, e seus pés nunca pisaram na grama. E René nunca foi ao cinema, e nunca soube o que é um problema. René nunca tomou banho, nunca penteou o cabelo, nunca achou nada estranho, nunca usou uma saia ou calças compridas. René nunca tomou comprimidos, nunca olhou pelos oprimidos, nunca ergueu bandeiras, nunca falou besteiras. René nunca xingou ninguém, nunca culpou alguém, e perguntou a quem. René nunca colocou uma roupa, nunca se despiu, nunca se despediu, nem nunca pediu. René nunca cheirou, nem fedeu, nunca ficou doente, nem brigou com parente. René nunca foi à escola, nunca pediu esmola e nunca votou em político. René nunca foi crítico, nem cínico, nem poeta. René não aprendeu a escrever, não aprendeu a ver. E nunca René viu a beleza, nem a feiura nem a maldade, nunca soube o que é verdade nem realidade. René nunca beijou, nunca transou, nunca engravidou. Nunca foi pai, nem nunca foi mãe. René nunca abortou. René não nasceu. 

26/03/2019

16/03/2019

POESIA | A Lenda da Fada da Foda | Barata Cichetto

A Lenda da Fada da Foda
Barata Cichetto
Leitura: Cris Boka de Morango

Há muito tempo surgiu na Terra uma lenda
A respeito da mulher da buceta encantada
Que a atraia a todos os machos à sua tenda
E depois da foda se transformava em fada.

E a todos os machos da aldeia a fada comeu
Como Fada da Foda ficou conhecida na região
E mesmo nos arredores com todos ela fodeu
Do rei ao príncipe e do exército a toda legião.

Antigos contam que a Fada tinha bela vagina
E que sua fama não lhe fazia jus a realidade
Pois era ela até mais gostosa que a Messalina
E seu orgasmo uma descarga de eletricidade.

A nenhum homem a fada poupava, a todos fodia
E as mulheres da cidade, desesperadas rezavam
Pela morte da Fada da Foda, oração de covardia
E quando mais a fada fodia, mas a desprezavam.

Chamaram o padre, o prefeito e até o imperador
Achando um jeito de estar livres da Fada da Foda
Mas com todos ela fodeu, sem respeito nem pudor
Afinal foder com ela era o ultimo suspiro da moda.

Até que os machos não comiam, fracos e doentes
E a fada os atraia e devorava como comida animal
Doíam-lhes os ossos, o caralho e caiam os dentes
Até que de inanição todos morriam, livres do mal.

As mulheres ficaram sem machos e sem vida a fada
Pois as mulheres se rebelaram com a falta de pinto
Com ira a fizeram em pedaços até não sobrar nada
E essa é a história contada inteira do jeito que sinto.

E assim, do jeito dos que gostam de contar histórias
Que a lenda da Fada das Fodas e sua buceta nasceu
E ainda hoje em dia aos que sabem de suas glórias
Contam felizes como foi das cinzas que ela renasceu.

06/02/2015

http://www.abarata.com.br/poesia_barata_detalhe.asp?codigo=3080

12/03/2019

Perdidos no Espaço: Space Oddity

Perdidos no Espaço: Space Oddity
Barata Cichetto

- Controle Alfa ao Major.  Controle Alfa ao Major Tom. "Tome suas pílulas de proteína e coloque seu capacete".
- Aqui é o Major Tom, a bordo da espaçonave Júpiter 2. Estamos prontos para "mais uma vibrante aventura por galáxias desconhecidas", pelos próximos cinco anos e meio com destino a Alfa Centauri. A tripulação, formada pelo Professor John Robinson, sua esposa Maureen e seus filhos Judy, Penny e Will, está nos tubos congeladores, em estado de animação suspensa. 
- Controle Alfa ao Major. "Iniciando contagem regressiva. Cheque a ignição e que o amor de Deus esteja com você." (7, 6, 5, 4, 3, 2, 1) - Decolar!!!
- Aqui é o Major Tom ao Controle Alfa. Estão escutando? 
- Aqui é o Controle Alfa ao Major Tom. Agora é hora de sair da espaçonave se quiser.
- Controle Alfa, podem me escutar? As estrelas parecem bem diferentes, daqui de cima.
- Aqui é o Controle Alfa. Sua missão é um sucesso. A humanidade espera ansiosa para colonizar Alfa Centauri. Pode nos escutar, Major Tom?
- Aqui é o Major Tom para o Controle Alfa, podem me escutar? Temos um problema. Podem me escutar?
- Controle Alfa ao Major Tom, seu legado será eterno, suas pegadas no espaço serão seguidas por gerações, e a humanidade sempre o agradecerá por sua contribuição...
- Major Tom ao Controle Alfa. Temos um problema sério. Há um clandestino a bordo e a espaçonave Júpiter 2 está sendo destruída.
- O Presidente dos Estados Unidos e a Rainha da Inglaterra decretaram feriado nacional. O mundo emocionado acompanha sua partida. Pode nos escutar, Major Tom?
- Estamos à velocidade da luz, mas eu me sinto bem parado. Espero que a espaçonave saiba aonde ir.  Digam a minha mulher que eu a amo. 
- Controle Alfa ao Major Tom. Responda, Major Tom. Sua voz está sumindo. Não podemos escutá-lo. Está me ouvindo, Major Tom? Está me ouvindo, Major Tom? Está me ouvindo, Major Tom? 
- Aqui é o Major Tom. O planeta Terra é azul, e não há mais nada o que eu possa fazer. Estamos todos perdidos no espaço.
- Está me ouvindo, Major Tom? Está me...
- Agora sou apenas uma estrela negra...

13/03/2019

08/03/2019

O Que Eu Tenho

O Que Eu Tenho
Barata Cichetto
Arte By Celso Moraes F.

- O que eu tenho? - Sempre que me faço essa pergunta, a resposta é rápida e clara: tenho a escrita. Sem dinheiro, sem nenhum sonho maior, sem desejos pueris, é a escrita que sobra, ainda que caótica e torta, sem grandes qualidades. Afinal, apenas com o ensino fundamental, mesmo que tenha sido durante muito tempo um ávido leitor de qualquer coisa, de que forma eu poderia ser chamado de escritor? Não me empolgo com esse título, não proclamo como profissão e não sonho estar numa cabana, solitário, escrevendo. Então e por isso digo que tenho a escrita. E a tenho não como posse, mas como companhia. Não tenho dinheiro e ela também não exige, e eu não exijo dela também nada que não possa me dar, a não se o conforto de estampá-la em folhas de papel ou em telas mágicas de computadores. Temos um ao outro, apenas. Isso basta. E nesse exato momento, em que olho para ela aqui, nestas letras que vou digitando até formar cada palavra como esta, percebo o quanto a tenho. E mesmo que eu acabe, como agora, esta escrita, ela ainda estará comigo, de outra forma. Não apenas até este fim, mas até qualquer outro fim.

08/03/2019

05/03/2019

Elvis na Terra dos Sapatos de Camurça Azul


Elvis na Terra dos Sapatos de Camurça Azul
Barata Cichetto
1 -

Que Elvis foi um rei, jamais ninguém contesta,
E se majestade não se olvida e não se empresta,
Deixe que eu conte a história de um gigante,
Que andou pela Terra e a fez mais brilhante.

Mas, para que não paire sobre a minha cabeça,
A espada flamejante do sacrilégio, e eu pereça,
Deixem-me contar a história do jeito impreciso,
E feito ao poeta fazer da sua vida um improviso.

--

Um dia disseram que o Rei estava nu,
E ele disse "Oh, baby, don't be cruel".

--

Foi num tempo, Agosto de um ano bem distante,
Em que partiu o Rei com seus olhos de diamante:
Brilhou no céu a estrela negra e na terra incerteza,
E os que viram, sentiram toda a força da natureza.

Foi então que enorme nave prateada do sol desceu,
E dela um pequeno ser de asas douradas apareceu.
Carregou em seus braços um Rei com sua majestade,
E partiu ao Universo debaixo de enorme tempestade.

Por toda a Terra foram escutados gemidos e prantos,
E a saudade do Rei cresceu junto com seus encantos.
Mas a Terra dos Sapatos Azuis de Camurça festejou,
Desde que o Rei Gigante de Olhos de Cristal chegou.

E o Rei caminhou muitas milhas com pés descalços,
Achando que na terra poucos seguiriam seus passos.
Enquanto um coral, desafiando as leis da gravidade,
Pairava no ar, cantando uma canção sobre liberdade.

--

2 -

E numa noite, sem que ninguém o pudesse descobrir,
O Rei colocou sapatos de camurça azul e pôs-se a rir,
E mais de uma milha caminhou nos sapatos de alguém,
Pois se não fosse assim, ele jamais entenderia ninguém.

E já que falei sobre pés, lugares e atos de grandeza,
Acrescento a essa história breve relato sobre beleza,
Pois naquele planeta não havia mais belo que o Rei,
E se houve mais sábio, é coisa que nunca eu saberei.

--

Pediram que assinasse naquela mesma noite um papel
E ele falou que tinha feito isso no "Heartbreak Hotel".

--

E até onde alcançavam seus olhos de camurça azul,
Desde as estrelas do norte, e até as estradas do sul,
O Rei era saudado e cantando em prosa e em verso,
Pois não havia uma força maior em todo o Universo.

Um dia aclamaram que o Rei era um deus,
E ele disse: "coloquem o manto nos fariseus,
Pois um Imperador precisa ser monumental,
Para que a história o transforme em imortal."

Era aquele planeta uma estrela flamejante,
E na terra caiu outro ser de olhar latejante:
Era o Homem das Estrelas de qualquer parte,
Montado nas costas de uma Aranha de Marte.

E ao grande concerto ambos foram chamados,
E naquela noite, dois reis foram proclamados.
E a terra dos Sapatos de Camurça Azul sorriu,
Sabendo que nenhum outro rei jamais existiu.

--

E no fim eu disse ao Rei, que eu fiz aquilo que pude,
E ele respondeu, "ah, man, toque ai 'Johnny B. Goode'".

27/11/2018

04/03/2019

Eu Estou Esperando Por Meu Homem (O Dia Em Que Lou Reed Conheceu Charles Bukowski)

Eu Estou Esperando Por Meu Homem
(O Dia Em Que Lou Reed Conheceu Charles Bukowski)
Barata Cichetto

Sou um homem branco, cantor e compositor. Uso óculos escuros de caminhoneiro e botas e jaqueta de couro preto e bem gastos. Estou parado em frente a um prédio em San Pedro, na Califórnia, e nem sei como vim parar aqui. Só sei que estou esperando por meu homem, me sentindo doente e sujo, mais morto do que vivo. Eu estou esperando pelo meu homem.

Sou de New York, entretanto. E lá, meu homem era apenas um amigo traficante, mas em San Pedro espero por outro homem. E ele é também outra espécie de traficante. Seu produto é bom e com ele eu chego a ficar alto por dias seguidos. Ele é um escritor, trafica palavras, que na verdade são cápsulas que envolvem as mais puras e loucas sensações. O meu barato é heroína, o barato dele também, mas de outro tipo: aquelas heróinas que ficam na calçada cobrando michê. De certa forma também sou tão traficante quanto ele, também, mas minha droga é embalada em notas musicais. Como disse, sou cantor e compositor. Já usei e abusei de heroínas de todos os tipos.

Estou parado na frente desse prédio e toco a campainha. Uma morena alta, com olhos de cavalo e cabelos que parecem uma peruca mal feita atende. O nome dela é Rachel, ela conta, e percebo que é uma bicha daquelas que sempre canto em minhas musicas. Ela é um homem, mas não é meu homem, e quer ser minha mulher. É bonita a desgraçada, e quando se vira para que eu a siga, sem dizer uma única palavra, eu olho para sua bunda, que parece bem gostosa. Eu a sigo para dentro da casa, sempre de olho na bunda, e quando chegamos ao meio da sala, o homem que eu estava esperando se levanta da cadeira, sem deixar cair a cerveja e vai ao meu encontro, me abraçando como seu eu fosse um antigo amigo, ou alguém que fosse lhe pagar uma bebida. Ele parece um viciado em corridas de cavalos bêbado.

- Nenhuma bunda vale cinquenta pratas. - Diz ele.
- Sou um homem branco e uso óculos escuros e botas e jaquetas de couro. - Disse eu. - E nunca pago nem um dólar por um rabo de mulher.
- Rachel não é mulher. Ah, ela não é nada. Ou melhor, Rachel é tudo. Tudo o que ela quiser ser.
- Sou bissexual na maioria das vezes, menos quando rola uma daquelas festas em que ninguém é de ninguém e todo mundo é de todo mundo. Sou de New York, e lá é o lugar onde todo mundo é o que e quem quiser. Eu sou cantor e compositor, ando na barra pesada, e, portanto sei o que digo.
- Tudo isso aqui é um filme ruim, cara. Aliás, um filme ruim, feito por atores péssimos. A gente sempre representa, e mal. Então qual é o problema? 

Era uma manhã de domingo, e eu tinha passado a manhã bebendo sangria num parque, cheio de crianças remelentas por perto. Detesto crianças remelentas, detesto parques e detesto sangria.  Foi então que decidi ir a algum lugar melhor, e de repente estava na sala de um homem, cujo rosto era familiar, ao menos de longe. E na minha frente uma mulher que era quase um homem, ou um homem que era uma quase mulher, parecia que queria me dar a bunda ou me comer, não sei bem. Eu estava esperando meu homem, era só o que sabia. Só não sabia se era a tal Rachel, ou se era o outro cara.

Rachel se levantou, o homem também se levantou. Rachel se apoiou nos braços do sofá, empinou a bunda e levantou a saia. Depois disse:
- Charles, meu querido, pegue uma bebida bem forte. Nosso garoto precisa de algo que o faça se sentir um homem.

O homem, o que agora eu sabia se chamar Charles, deu uns passos cambaleantes em direção à cozinha, e eu, do mesmo jeito, em direção ao rabo de Rachel. Em minutos eu a estava enrabando e ela rebolava. Enfiei a mão no meio das pernas e um pau de bom tamanho ficou maior ainda quando o segurei. Não tinha perguntado a Rachel quanto custaria seu rabo. Se fosse mais de cinquenta pratas, como dizia o outro homem que se chamava Charles, não valia. Então gozei no cu de Rachel e Rachel gozou no sofá, sujando minha mão. O outro homem voltou com garrafa e copos. Sentou-se e nos serviu, e a ele mesmo. Bebemos em silêncio, com Rachel passando as pontas dos dedos no esperma no sofá e lambendo, entre um gole e outro.

O outro homem, que eu sabia que se chamava Charles ficava me olhando, fumando, bebendo e tossindo. Era um sujeito asqueroso, tinha sotaque alemão disfarçado e ficava o tempo inteiro olhando para uma máquina de escrever no canto da sala, como se lembrasse de algo a escrever e o precisasse fazer imediatamente. Talvez não fosse isso, e ele escondesse heroína dentro da tal máquina. Ninguém dizia nada. E eu só pensava que Rachel era uma viciada, talvez uma Vênus em Peles, que quisesse ser chicoteada ou apanhar na cara. E talvez ela quisesse me bater com uma flor. Ela tinha olhos negros de cavalo, eu já disse. E tinha pernas de cavalo, também. Eram musculosas.

Comecei a cantarolar uma das minhas musicas. E o outro homem a recitar uma de suas poesias. Quando terminamos nosso dueto sem pé nem cabeça, Rachel soltou um bocejo e disse que era tarde demais. E o outro homem, que se chamava Charles, me perguntou se eu queria ser escritor. E eu disse:

- Não, cara, eu estou apenas esperando por meu homem.

E ele me disse:

- Nenhum rabo vale mais que cinquenta pratas. 
Era um dia perfeito. Eu paguei cinquenta para Rachel, coloquei os óculos escuros e a jaqueta e botas de couro e sai pela porta, sem antes escutar o outro homem que se chamava Charles dizer a Rachel:

- Nem tente!

20/02/2019

02/03/2019

Araras de Araraquara

Araras de Araraquara

Cantos de galos parecem pedidos de socorro. Piados de pássaros piadas sem gosto. Riem de que? Riem de mim. Queria estar no exterior, estou no interior. De mim. Só deserto. Só, decerto. Araras de Araraquara. Galhos secos, ruínas de locomotivas. Trilhos enferrujados.  Há motivos. Vivos. Tocas ocas. Tijolos de barro. Um ninho de pássaro no meio dos fios de eletricidade. O filhote caiu do ninho. Ainda não sabia voar. É tudo tão distante. O futuro é tão perto que até posso tocar. Tão perto e não chega nunca. O tempo é tão curto que até posso enxergar. Atrás das lentes embaçadas dos meus óculos de sol. Morada do sol. Namorada. Amada. Que gosto de estranho tem a fome. Tem nome? E sobrenome? Ela dorme. Sono forçado. Eu não durmo. Nem à força. Então torça. Por mim. Não força. Força e luz. Não tenho amigos. Estão todos na Internet com outros amigos. Meus pés estão adormecidos.  Meus dedos estão gastos. Minha cabeça que martela um prego enferrujado numa parede podre de uma casa sem telhado. Caminho até a rua. Goiabeiras e amoreiras. As frutas estão podres. Vagões apodrecem na chuva. O mato toma conta da locomotiva que parece louca e viva no sol quente. Meu tempo parece curto quanto a minissaia da putinha da estação onde passa um trem de carga rumo a algum lugar que não conheço. E não esqueço o quanto perdi. Sem apreço por nada. Nem ninguém. Só queria ser alguém. Minhas gatas na janela olham a alguma coisa que não entendo. Só pretendo dormir. Amanhã.

02/03/2019