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18/02/2019

Crítica e Autocrítica

Crítica e Autocrítica
Luiz Carlos Cichetto

Uma das piores coisas - se não a pior - que o Facebook faz, é criar nas pessoas uma falsa ilusão de grandeza. Com base na premissa de falsa igualdade, onde todos podem e são instigados a, colocar suas opiniões e pensamentos, quando uma pessoa começa a receber "curtidas" e elogios ao que escreveu, ela começa a se sentir grande. Então, um sujeito com um pensamento medíocre, mal informado e iletrado, mas com uma horda de pseudo amigos que começam a clicar no dedo positivo e a elogiar, ele se sente no mesmo patamar dos grandes pensadores. E isso acaba criando monstrinhos, pseudo artistas, escritores e pensadores. Vaidade atingida e ego devidamente massageado, o tal começa a se sentir importante, e envolto na aura de artista, se corrompe de uma forma ou de outra, e passa a tratar a si mesmo como importante. E ai vem a parte ruim.

A parte ruim é que esse ser sente-se um belo pensador, um grande escritor, um artista genial, mas incompreendido. Afinal, nenhuma editora se interessou pelos seus textos, num mercado editorial que é mais uma loteria que qualquer coisa. Uma loteria que não dispõe inclusive do mecanismo da sorte, que é algo aleatório, mas um sistema de roda viciada, mas de critérios puramente espúrios.

E o tal do artista escritor pensador começa a se sentir mal, mas ainda espera e acredita que dentre as curtidas que recebeu, um dia possa aparecer alguém de uma editora, que ser "curtido" no Facebook pode significar alguma espécie de ponto em seu currículo. Ele provoca, invoca, cavouca editoras, curte suas páginas em busca de algum reconhecimento. E o pior: acredita que é escritor, artista. E o pior ainda: se considera injustiçado. E assim procura adaptar seu pensamento àqueles que curtem suas postagens, seus maravilhosos textos e poemas, instintivamente, procurando agradar seus amigos. E isso só aumenta sua frustração, ansiedade e angustia.

Ele faz de tudo para ter suas curtidas, como se aquilo fosse uma espécie de compensação ao que não tem: o tal reconhecimento, afinal, ele se sente um grande escritor, pensador, poeta. Ele faz de tudo, menos aquilo que é seria o mais importante: autocrítica. Afinal, ele seria mesmo um grande escritor, pensador, poeta? Ele nunca pensa que entre seus dois mil amigos de Facebook, apenas uma dúzia no máximo o consideram como tal, sendo que metade é por que também se considera um grande artista, escritor, poeta, pensador, e quer as curtidas de volta, outros dizem isso apenas para agradar, ou por pena. E por fim, sobram no máximo um ou dois, que assim o consideram como ele acredita ser. E ele fica feliz com isso. E assim, com isso, mais e mais cresce a frustração e o sentimento de impotência. Ainda considera a história de que os grandes escritores, grande artistas, morreram sem ser reconhecidos, e isso o consola, com aquele sentimento cristão latente de poderá de alguma forma gozar da fama post-mortem.

Um belo dia ele cai na realidade: não, não é de fato um grande escritor, poeta ou pensador, afinal, fora esses um ou dois amigos, mais ninguém o considera assim. E ele próprio não se considera assim. Afinal, de fato não é mesmo. Ou ao menos não é tão grande quanto lhe diziam as curtidas de Facebook. De fato é bem medíocre, bem limitado e, não, jamais terá sua obra apresentada em programas de televisão, jamais será entrevistado em programas noturnos, nem ostentará a capa de revistas semanais. E nem se trata de escrever bem ou mal, não se trata do assunto sobre o qual escreve, não se trata de nenhum fator artístico, se bem que a autodenominação de escritor, poeta ou pensador, que ele se auto infringiu é algo demais prepotente e arrogante. "Fulano de Tal Escritor", "Beltrano de Tal Poeta", "Mengano de Tal Filósofo" é algo que não sobrevive além das páginas de uma rede de ilusões, que mostra um lago azul e límpido, onde afirmam que há peixes para todos, mas que na prática quem apanha esses peixes são os portadores de varas caras e as iscas cuja composição poucos conhecem.

E num certo dia, como um personagem de Kafka às avessas, o tal escritor, poeta, pensador, acorda e se vê transformado não num inseto monstruoso, mas num ser humano real, medíocre e apavorado diante da realidade que lhe vomita na cara que ele não é nada além de um mero caixeiro, e que tem contas a pagar, que sua família lhe tem nojo, medo e indiferença, e que não há nada para ser amado, nem ele próprio. Então, feito uma barata, se esgueira para dentro de algum buraco escuro, como um temor orgânico da morte, sem nenhuma capacidade ou desejo de transformar sua desistência em resistência, sem nenhuma vontade de ir além de seu próprio nada.

18/02/2019

15/02/2019

Editor'A Barata Artesanal - Desde 2010

A Editor'A Barata, nasceu oficialmente dia 20 de Outubro de 2010, não por acaso, Dia do Poeta. Sua criação foi a partir da necessidade de seu criador em editar seus livros de uma forma barata e independente. Cansado do tratamento mercantilista das editoras e editores, que tratam a publicação de um livro apenas como um produto qualquer, Barata Cichetto decidiu arregaçar as mangas e partir para a impressão artesanal de seus próprios livros. Depois de muita pesquisa e ensaios, chegou a uma forma de encadernação artesanal totalmente caseira e independente e passou a editar e distribuir seus livros.

Um livro artesanal é algo que tem um valor artístico inigualável, pois cada exemplar é único. Inclusive uma das características da Editor'A Barata é que todos os exemplares são numerados, podendo assim o autor ter o total controle de sua obra.

Outro diferencial importante é que, apesar de muito propalada a edição em pequenas tiragens é um tanto relegada. As editoras comuns falam em pequenas tiragens mas, ou trabalham na casa acima de 1.000 exemplares, ou cobram valores abusivos e exorbitantes, fora do alcance de autores iniciantes e sem muito dinheiro. E este é o nosso principal fator: todos podem ter seus livros impressos em tiragens a partir de 10 exemplares.

O digníssimo novo autor, desses cujo único alento é ter seus textos publicados em um blog na Internet, mas que dentro dos esquemas tradicionais jamais teria uma oportunidade, agora tem. Se queres imprimir 10 exemplares de suas poesias para mostrar e dar de presente a amigos e familiares, agora é sua chance.

Luiz Carlos "Barata" Cichetto
20 de Outubro de 2010, Dia do Poeta e data de nascimento da Editor'A Barata Artesanal.

www.editora.abarata.com.br
(16) 99248-0091
























13/02/2019

Filosofia

Filosofia

E eu a conheço desde os tempos de solteira,
Tão correta e mortal quanto flecha certeira.
Reconheço teu rosto de madame pervertida,
E esqueço casos de uma dama cruel invertida.

Ah, e recordo dos teus pés descalços na grama,
E do cheiro de esterco no lençol da tua cama.
Mas agora que teus olhos fugiram do que é meu
Sinto que ainda há Julieta, mas não um Romeu.

E pelas quintos dos infernos, escutei-te maldita,
Fulminando imperadores com tua aura bendita.
Agora desconheço tuas palavras ditas sem vontade
Trajadas feito putas e recônditas pela tua verdade.

Se antes me cuspias, agora escarras em meu rosto,
Onde andam, malvada, tuas palavras de desgosto?
E eu, que te conheço tão prostituta e tão altiva
Pergunto onde andam tuas fezes e tua voz ativa?

Caminhamos pelas ruas dando alimento a perdidos
E agora o que te sobra é atender inúmeros pedidos.
Na esquina um cientista te chamando por imunda,
E agora é ele quem te come e chama de vagabunda.

Eu a desconheço agora com seu titulo de mestrado,
Camisola de cetim da China, e seu pijama listrado.
Procuro pelas ruas teu cheiro, por teimosia ou sina,
E te encontro louca, com o olhar de uma assassina.

13/02/2018

12/02/2019

Carta de Recomendação: Ronnie James Dio

Illustration by Kelsey Dake

Carta de Recomendação: Ronnie James Dio
Por Leah Sottile
12 de Fevereiro de 2019

Há um tipo único de depressão que vem de ser quebrado durante o inverno em Spokane, Washington, onde passei a maior parte dos meus 20 e 30 anos. É um lugar com chaminés desativadas em seu horizonte, onde trens de carga roncam em treliças erguidas em um ronronar metálico constante e onde, para mim, a vida parecia estar sentada no fundo de um ônibus que estava tentando subir uma colina gelada. .

Meu marido, Joe, e eu passamos por 13 apartamentos e casas em 10 anos - cada qual uma tentativa de cavar sob uma montanha de dívidas de empréstimos estudantis e contas médicas, acumuladas enquanto procurávamos desesperadamente a razão pela qual Joe estava doente. Tempo. Certa vez, deixamos um carro quebrado em um mecânico por nove meses; nosso outro foi recuperado. Paramos de ler o correio por um ano, arrastando-o de casa em casa, sem abrir, em um saco de lixo pesado. Éramos pessoas com boa formação universitária, totalmente empregadas, que haviam servido fatias do sonho americano em placas de festa de aniversário em papel em casas suburbanas tranquilas, mas nos sentimos como se os EUA estivessem nos afastando.

Encontramos nossa verdadeira casa em bares onde os descolados, os viciados e os velhos sem-teto sentavam ombro a ombro engasgando cervejas finas, conectando quartos em jukeboxes, filmando músicas pesadas de heavy metal que o resto do mundo já havia esquecido. Eu sempre fui fã de música alta, mas não foi até lá que comecei a me sentir puxado para Ronnie James Dio.

Ronald James Padavona foi criado em um lugar não muito diferente de Spokane: Cortland, N.Y. Ele cresceu católico, teve um interesse precoce em ópera, formou suas primeiras bandas como jovens e subiu nas fileiras da cena rock dos anos 1960. Ele foi um dos pioneiros do heavy metal, forjando sua música nos fogos únicos da fé perdida e um ceticismo daqueles que buscam o poder.

Ao longo de 50 anos fazendo música pesada - em Elf, Rainbow, Black Sabbath e Heaven & Hell - Dio cantou uma e outra vez sobre a tentativa de encontrar uma casa. Em "Stargazer", de Rainbow, Dio conta a história de um mago que tenta os plebeus com promessas vazias, persuadindo-os a se escravizarem para construir uma torre da qual ele irá voar. As pessoas percebem tarde demais que foram vítimas de um predador: "Nós construímos uma torre de pedra / Com nossa carne e osso / Apenas para vê-lo voar / Mas não sabemos por quê." Dio é a voz doendo um público amargurado e traído - uma sereia incitando-os a se erguerem, levantarem-se, tirar suas vidas de volta: "Eu vejo um arco-íris subindo / Olhe lá, no horizonte."

Meu amor pela música de Dio veio em um ritmo lento. Durante o período em que eu regularmente voltava do trabalho para encontrar avisos vermelhos de fechamento de aquecimento pendurados na maçaneta da nossa casa alugada, eu progredi ainda mais em seu catálogo, tomado por todas as histórias que ele conta em sua música. Quando ele morreu, na primavera de 2010, pensei em todos nós que fomos excluídos por quem ele deveria estar cantando. Quanto mais eu ouvia, mais eu me sentia como se Dio, o tempo todo, estivesse conversando com pessoas como eu e Joe em suas canções.

Há músicas precisas para momentos precisos: o "Supernaut" do Black Sabbath para as noites de sexta-feira, o "Creeping Death" do Metallica para o tráfego matinal, o "Painkiller" do Judas Priest antes de uma negociação salarial. Mas a música de Dio era muitas vezes sobre encontrar a vitória dentro de si, de reconhecer as intenções covardes dos poderosos e contra-atacar. Quando ele segurou o microfone, sua voz explodiu dele, uma explosão de sais cheirosos sob o nariz de alguém prestes a desistir.

Recentemente, porém, a música de Dio tornou-se mais clara para mim, e aconteceu na época em que percebi que era negligente esperar uma sociedade preparada para os valores gêmeos de gastar e conseguir encontrar um lugar para uma pessoa como eu. Eu estava indo almoçar com um vencedor do Prêmio Pulitzer com 23 centavos em minha conta bancária e uma esperança desesperada de que meu cartão de crédito "somente para emergências" não fosse recusado. Eu estava na estrada quando, do nada, havia Dio: “Heaven and Hell”, do Black Sabbath, passando por uma tarde brilhante:

Eles dizem que a vida é um carrossel
Girando rápido, você tem que andar bem
O mundo está cheio de reis e rainhas
Quem cega seus olhos e rouba seus sonhos?
É o paraíso e o inferno, oh bem
E eles dizem que o preto é realmente branco
A lua é apenas o sol da noite
E quando você anda em corredores de ouro
Você consegue manter o ouro que cai
É o paraíso e o inferno, oh, não. Tolo, tolo

Pela primeira vez, eu estava sem dinheiro e estava rindo. Como eu poderia ouvir uma música tantas vezes e só agora realmente ouvir? O tempo todo, Dio estava dizendo que jogo de bobo é medir seu valor nos padrões de uma sociedade que nunca foi feita para você. O ouro nunca é de graça e, para consegui-lo, você precisa se curvar diante de um mestre. "Deus e o diabo são inerentes a cada um de nós, e é nossa escolha", disse Dio em uma entrevista, no final da vida. "O melhor caminho a percorrer é fazer o bem."

Eu acho que ele queria deixar isso como seu legado: um lembrete de que o lar é um lugar dentro de sua própria mente. Sempre haverá novos magos para seguir, novos anéis para beijar. Mas também haverá sempre rejeitados e excluídos. E há a vitória na percepção de que sempre haverá mais de nós do que deles. Que em nossa raiva, juntos estamos todos em casa.

Leah Sottile escreve sobre o oeste americano. Ela mora fora de Portland, Oregon.
(Texto traduzido automaticamente pelo Google Tradutor)

https://www.nytimes.com/2019/02/12/magazine/letter-of-recommendation-ronnie-james-dio.html

05/02/2019

Desagradável Mundo Novo

Desagradável Mundo Novo
Luiz Carlos Cichetto
(Aka Barata Cichetto)

Sou uma pessoa desagradável. Dentro dos conceitos da palavra agradável: aquele ou aquilo que agrada, satisfaz, transmite prazer, deleite; que demonstra delicadeza, afabilidade; cortês, que satisfaz ou dá prazer aos sentidos, sou puramente o antônimo. Não tenho orgulho de ser desagradável, mas muito menos tenho vergonha. Não faço força para ser, mas muito menos para não ser. Sou assim, e pronto. Ademais tudo depende do que possa ser considerado agradável, sem cair na vala da hipocrisia; tudo depende de quem possa ser considerado agradável, sem cair na mesma pieguice. Não tomo o fato, entretanto, como muita gente pensa, como qualidade boa nem ruim.

Ser uma pessoa desagradável, e admitir isso publicamente, a torna muito mais desagradável, já que a maioria dos seres que compõem a sociedade não tolera desagradáveis, especialmente aqueles que o admitem. Educamos nossos filhos do mesmo jeito que fomos educados, nesse quesito: para serem agradáveis, antes mesmo de os educarmos para serem respeitosos, o que, ao contrário do que pensam serem sinônimos, são coisas extremamente diferentes. Procurar ser agradável, muitas vezes é ser desrespeitoso, especialmente quando não se é honesto com nossos próprios conceitos.

Desconfio absolutamente de pessoas totalmente agradáveis, daquelas que estão sempre sendo corteses, solícitos e risonhos; daqueles que sempre se mostram dispostos a tecerem elogios, soltar palavras de conforto e solidariedade, daqueles que estão sempre procurando demonstrar o quão são bondosos, afetuosos e amorosos. E com esses, decerto, sou muito, mas muito mesmo, desagradável.

Pessoas agradáveis são fúteis, inseguras, falsas e muitas vezes maquiavélicas, já que para manter sua agradabilidade acabam por representar um papel num palco imaginário, onde elas sempre são as protagonistas. 

As próprias definições em dicionário, que dividem o adjetivo de dois gêneros em três partes: educado, alegre, aprazível, acabam por colocar mais lenha nessa fogueira de vaidades, já que nem sempre ser educado significa ser encantador, lisonjeiro e bom, do mesmo jeito que ser alegre não é sinônimo de engraçado, e por fim, ser aprazível é ser risonho e prazeroso. Precisaria muitas laudas apenas para dissecar e rebater esses termos, mas ai seria muito mais desagradável. O importante é que se diga que ser uma pessoa agradável pode ser exatamente a antítese de todos os conceitos pré-estabelecidos, e referidos nos dicionários.

Mas o que me cabe, como aliás cabe a qualquer pensador que se preze, - e que não tenha pretensão a ser filósofo, daqueles que fazem da filosofia uma ciência, coisa que ela absolutamente não é, - é analisar seus próprios conceitos baseados em fatores empíricos, muito mais que qualquer outro. E é nisso que baseio toda a minha análise sobre o que é ser o que sou: um ser desagradável.

As diferenças básicas entre uma pessoa agradável e uma desagradável, é que a primeira diz aos outros não o que ele pensa, mas o que querem escutar, sem ser perguntado, enquanto o segundo diz exatamente o que pensa sobre eles quando perguntado. Existe também outro tipo, uma espécie de mescla entre os dois, que é aquele que diz aos outros o que ele próprio pensa sem ser perguntado, e esse não é agradável nem desagradável, mas simplesmente um mal educado arrogante. 

Somos frutos de uma mesma espécie de árvore que floresce de formas diferentes e em solos diferentes, portanto somos de inúmeros sabores, que podem agradar ou desagradar paladares peculiares, e isso significa que não existem frutos bons ou maus, existem frutos diferentes. E ponto.

Como poeta devo também dividir a categoria entre agradáveis e desagradáveis, sendo que a primeira congrega uma maioria absoluta, já que poetas são aduladores por natureza, procurando com sua arte soar forte e bonito aos leitores e ouvintes, e sempre usando palavras esteticamente belas e falando sempre no plural, e agradando-lhes descaradamente. Já na segunda categoria, ao qual me enquadro sem maiores problemas, não deseja agradar, mas sim provocar emoções fortes, mas nem sempre bonitas. Esses normalmente falam muito de si, da sua própria dor, fazendo assim com que o ouvinte ou leitor o enxergue como um reflexo de espelho, e assim possa se identificar, sem se sentir bajulado ou ofendido.

Pensemos que políticos, artistas populares, personalidades midiáticas e de uma forma geral pessoas enamoradas sempre procuram ser agradáveis, afinal, necessitam ser reconhecidos como boas pessoas. Precisam da admiração alheia para atingir seus objetivos, e o único caminho para tanto é ser um agradável. Essas pessoas são claramente edificáveis por sua linguagem corporal, mantendo gestos abertos, sorrisos plenos, olhares afetuosos, chamando as pessoas por seus nomes, que repetem frequentemente em qualquer ponto da conversa. 

Ao contrário do senso popular, existe uma diferença enorme entre egoísmo e individualismo. Segundo Flávio Gikovate, "Podemos definir o individualismo como a capacidade de exercer a própria individualidade", enquanto "O egoísta é aquele que precisa receber mais do que é capaz de dar. É um fraco e não um esperto. Ou melhor, é esperto porque é fraco e precisa usar a inteligência para ludibriar outras pessoas e delas obter o que necessita e não é capaz de gerar. O egoísta tem que ser simpático e extrovertido. Não é assim porque gosta das pessoas e de estar com elas. É assim porque precisa delas e tem que seduzi-las com o intuito de extrair delas aquilo que necessita.". Portanto, baseado nessa análise, concluo que na prática, uma pessoa agradável é, em suma, um egoísta, e o desagradável pressupõe exatamente a figura do individualista, já que, por sua natureza autônoma, não extrai dos outros sua força, não usa outros para obter ganho. 

A maioria das pessoas tende a preferir o Homem agradável em detrimento do desagradável, basicamente em função de algo que aprendemos desde a gestação: a famigerada generosidade, que tem origem na falsidade dos princípios religiosos, e que é define um ser que "precisa se sentir amado e benquisto e que, para atingir esse objetivo faz qualquer tipo de concessão"m, sendo portanto um egoísta. A generosidade, e seus sinônimos, é outra das características do ser considerado agradável, enquanto que cabe ao desagradável outro termo também mal interpretado como análogo, mas que é de fato bem distinto, que é o altruísmo. Ainda usando como referência o Dr. Flavio Gikovate, que assim define o altruísmo: "a ajuda anônima a terceiros desconhecidos ou pouco conhecidos, de modo que não implica no reforço do egoísmo".  Em resumo: o agradável é por síntese um egoísta dotado de generosidade, enquanto um desagradável é um individualista, que faz com o restante da sociedade uma troca, e que pode - ou não - ser um altruísta. Em resumo: o agradável generoso trata toda a sociedade como meio, enquanto acredita ser ele próprio o único fim, enquanto o desagradável altruísta (ou não) a trata como fim, sendo ele próprio apenas o meio.

Vivemos em um mundo desagradável, numa sociedade desagradável, e com pessoas desagradáveis que fingem de toda a forma serem agradáveis em sua maioria. E é isso que nos transforma em escravos, mais que uns dos outros, de nossas própria agradabilidade. Afinal, o Homem agradável nada mais é que um parasita, que se aloja nas estranhas da árvore social feito um cupim, corroendo-a, enquanto demonstra uma casca polida. Adaptando uma frase da filosofa americana Ayn Rand eu diria que: A preocupação do desagradável é a conquista da natureza, enquanto a do agradável é a conquista dos homens.

E por fim, saindo do campo individual, penso que precisaríamos ter para com a Terra, uma atitude desagradável, por mais paradoxal que isso possa parecer. Que não a tratemos com generosidade, mas com altruísmo, que não a tratemos com egoísmo, mas com individualismo; que não a tratemos como meio, mas como fim. E estou certo que assim entendamos o que de fato é agradável.


Referências:
"A preocupação do criador é a conquista da natureza. A preocupação do parasita é a conquista dos homens." - Ayn Rand - A Nascente

http://flaviogikovate.com.br/individualismo-nao-e-egoismo-2/
http://www.xn--sinnimo-v0a.com/agrad%C3%A1vel.html

05/02/2019

04/02/2019

1000 Caracteres

1000 Caracteres
Barata Cichetto

Recolho-me à insignificância das coisas; à significância das palavras, que ainda teimam em ter significado, mas que no fim sabem que nada mais significam: estão tão perdidas e são tão insignificantes quanto eu. Recolho-me à insignificância dos gestos perdidos, dos afetos escondidos e dos tetos destruídos. Não há mais palavras: estão mortas. Mas eu ainda as chamo, feito um ator no final de uma peça, chama pela musa morta em seus braços, enquanto a plateia aplaude, e depois vai para casa, sem nenhum remorso. Não há mais o que falar. Tudo já foi dito. E não resta nada a não ser me recolher à insignificância. Do não ser, do não estar. E não estou aqui, não sou daqui, não sou de lugar nenhum, e não estou em lugar algum. Não moro aqui, não moro em ninguém, não moro em mim. Encolho a cada dia, feito personagem de um filme antigo, em preto e branco: desbotado, apagado, rasgado. No escuro. Encolho até não restar. Sou menor que uma partícula de nada. Não há mais lugares aonde ir. Fui longe demais quando me afastei de mim. E o caminho não tem volta. Sem revolta e sem metáforas, sem poesia, sem palavras. Sem nenhum significado a mais. Ou a menos. Apenas minha própria insignificância. Recolhida em palavras.

04/02/2019

02/02/2019

Decerto Que Não

Decerto Que Não
Barata Cichetto


1 -
Quando eu morrer perguntarão por mim aos sobreviventes? Decerto, a algum. Quando eu morrer, sentirão falta de mim? Decerto algum! Quando eu morrer, lerão meus poemas, tentando suprimir a falta? Decerto, algum! Quando eu morrer, falarão das qualidades que eu tinha e que nunca notaram? Decerto algum!  Quando eu morrer, sentirão saudades do meu andar, dos meus trejeitos, do meu jeito? Decerto, algum! Quando eu morrer aqueles que me mataram sentirão culpa? Decerto nenhum!

2 -
E quando eu morrer, algo diferente ocorrerá nas existências dos que sobreviverão a mim? Decerto a alguém! Quando eu morrer, lágrimas sinceras rolarão pelas faces? Decerto de alguém! Quando eu morrer, descendentes brigarão por um pedaço do meu espólio, mesmo que seja apenas uma idéia sem valor? Decerto alguém. Quando eu morrer, outras saberão como sem eu sobreviver? Decerto por alguém. Quando eu morrer, haverão seis fracos a empunhar as alças do meu caixão? Decerto que alguém. E quando eu morrer, meus sobreviventes farão algo por alguém? Decerto que ninguém!

3 -
Amanhã ninguém lembrará. Depois do velório. Cada um em suas casas, tomando café com bolacha água e sal. Uma pequena lágrima e uma lembrança de quinze minutos, durante uma conversa sobre frivolidades. Um pequeno soluço, um pequeno gesto. Apenas coisas pequenas. E nada mais. Minhas pilhas de cadernos de poemas jogados num canto, até ir parar no aterro sanitário. Solitários. Com urubus pousando sobre as folhas sujas de merda, terra e restos de comida. Urubus não sabem ler poemas. Decerto que não. 

21/10/2015