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19/12/2019

Queria Saber Chover

Queria Saber Chover
Barata Cichetto



Há tempos que eu não consigo chorar,
Não é por machismo ou não saber orar.
Deixei minhas lágrimas em sua sepultura,
E no caixão de Isaura decretei a ditadura.

Há tempos não choro e o rir é muito pouco,
Que penso que sou apenas um pobre louco.
Lágrimas transformo em rancor, o ódio destilo,
E a tristeza é apenas a parte boa do meu estilo.

Há tempos não morro, há um ano a última vez,
E nem é tanto, pois antes morria uma por mês.
Chego a invejar a quem chora lágrimas sinceras,
Enquanto árido eu ainda espero por outras eras.

Nem a morte é tão forte que me torne pranto,
E nem a sorte e a falta quebram meu encanto.
Ao menos de alegria eu queria poder derramar,
Mas em tempos de chuva, não se entra no mar.

Se há tempestades nos teus olhos de princesa,
Nos meus há apenas areia, deserto e a tristeza.
Eu queria chover, e quem me dera ainda poder,
Mas na minha aridez, sofro seco sem entender.

Seca agora minha boca e na língua nem saliva,
Então penso nas lágrimas que te mantém viva.
Queria saber chorar, quem sabe quando morrer,
Eu chore de mim, de tanta pena por não sofrer.

19/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

18/12/2019

Pessoas e Deuses

Pessoas e Deuses
Barata Cichetto



Ontem, caminhando numa avenida movimentada no centro de Araraquara, com minha barba e cabelos quase todos brancos e longos, cruzo com uma senhora de cerca de uns 80 anos. Ao passar por mim, ela diz algo que não entendo. Paro e pergunto à idosa: "O que a senhora disse?". E ela: "Eu disse pra mim mesma: eu sabia que Jesus voltaria. E agora estou vendo." E deu um gostoso sorriso. Fiquei uns segundos longos olhando para ela, querendo falar alguma coisa. Nesse tempo um milhão de coisas me passou na cabeça. "Sou ateu. Tenho quase o dobro da idade de Cristo quando morreu. Muito obrigado. A senhora é simpática. Ah, eu não sou não, estou mais pra demônio que pra santo." Foram algumas delas. Mas apenas lhe sorri e continuamos, cada um em sua direção, nossa caminhada. Eu nunca a tinha visto, e possivelmente jamais a verei. Ela não sabia quem eu era, e eu muito menos que é ela. É claro que a senhora não é doida, não me confundiu com nenhum Jesus, mas sua atitude simpática e sorridente me associando a alguém que para ela deve ser o símbolo máximo de bondade, paz e justiça, me fez perceber que, acima de quaisquer dogmas, quaisquer crenças, e seja lá o que nos desune, sempre haverá pessoas capazes de nos atribuir, pela própria bondade, um sentimento bom, mesmo que não tenhamos. Então, é Natal... E eu continuo como ateu. Não há deuses, existem pessoas.

18/12/2019

16/12/2019

Paraíso Artificial

Paraíso Artificial
Barata Cichetto


Podemos criar paraísos de forma artificial, Baudelaire e seus cometas no país das salamandras. O Paraíso é meu, e crio onde quiser. Quero em Minas, quero no fim do mundo, quero daqui um segundo. Um Paraíso artificial, com cheiro de café. Um cigarro de palha, minhas gatas vadiando no terreiro, e no fim de tudo, uma buceta bem quentinha. Uma mulher, de vestido longo de chita, com nada por baixo a não ser o arrepio. Quero criar meus paraísos, e posso criá-los até no Inferno. Estou comprando uma passagem só de ida. Morar no ar, no mar, no bar, em qualquer lugar, que possa chamar de lar. Nas montanhas de Minas, no Cerrado, no Sertão. Escondido atrás dos teus mamilos. Quero beber café na xícara da tua boca, e te chamar de louca, assim por chamar. Dormir pelado, abraçado aos teus pés. Erguer uma casa de bambu, tomar banho sem xampu, e é claro, comer seu cu. Simples as coisas que quero, além de um Paraíso artificial, construído sobre a terra batida, com palha no chão, tua mão por cobertor e teu colo por travesseiro. Ah, mas tem o vinho, que não pode faltar. Bebido nas taças dos teus seios, no colo em V. Podemos criar paraísos com um passe de mágica, assim como se cria poesia, assim como se cria desejo. Em nenhum paraíso artificial pode faltar poesia e desejo. E não pode faltar Sol...

16/12/2019
Marreta
Barata Cichetto



Barata não é flor que se cheire, nem flor do mal, nem flor astral. É espinho que te espeta, verme que passeia na Lua cheia, vinho que tonteia, fogo que te incendeia, vento que te despenteia. Barata não se cheira, não tem eira nem beira, e na tua esteira, te faz sonhar. Barata não é Baudelaire, nem Bukowski, nem outro qualquer. O que te faz arder, que sopra tua ferida, e te chama de querida. Barata não é poeta, nem profeta, santo ou demônio. É o que transforma em pó as paredes onde relógios invisíveis marca a hora de morrer, que ergue o pau e mostra a cobra; que se ergue do mal, e que cobra a conta, com juros e correção, e, correção, mostra o mal e ergue a cobra. Barata não é sobra, nem resto, nem inseto, nem abjeto. Barata é o que te desperta, na hora certa de acordar, a hora de sonhar. Barata não é soco, é poesia, não é troco nem hipocrisia. Barata não é pedra, nem sapato, nem martelo nem foice. Barata é marreta, no teu muro. E, juro, Barata é tudo o que acreditar ser. Mesmo não sendo nada.

16/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

15/12/2019

Bondes
Barata Cichetto

Pintura: Barata Cichetto "Bonde Penha" - 2016

- Não consigo dormir por causa do barulho dos bondes. - Mas não existem mais bondes. - Sim, e é justamente o som do que já não existe que me faz perder o sono.

15/12/2019

Íncubos

Íncubos
Barata Cichetto



Quero entrar pela tua janela feito um anjo safado,
Pendurar no cabide as minhas asas e ficar pelado.
Andar pelo quarto quieto, nas pontas dos dedos,
Vendo sombras vivas que habitam teus segredos.

Vou-te olhar deitada sob o branco clarão da lua,
Enquanto dorme pintada de estrelas, bela e nua.
Pegar uma cadeira e me sentar junto a teu leito,
E sem te tocar, fazer amor como nunca foi feito.

De manhã, quando pela mesma janela entrar o sol,
Partirei te deixando coberta apenas com um lençol,
E anjo vadio, irei aos deuses confessar meus desejos,
Enquanto acorda serena, embriagada de meus beijos.

Nunca saberá de mim, duvidará da própria sanidade,
Mas dentro de si sempre haverá o fruto da eternidade,
E quando eu à Terra retornar, feito um homem carnal,
Nos amaremos até chegar a última noite do juízo final.

14/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

12/12/2019

Devastação

Devastação
Barata Cichetto



"Sabes quem sou eu?" - Perguntou a moça de tranças,
Assentada no dorso de um cavalo, com duas crianças.
Uma princesa, creio, respondi encolhendo os ombros,
E olhando a terra devastada que jazia em escombros.

"Mas como sabes que sou princesa, oh, nobre vate?"
Inquiriu a donzela, nem tão bela, e como quem late.
A princesa da morte, decerto; olhes bem o que cavalgas,
Um velho garanhão sem dentes e de patas muito largas.

"Falas de meu rocim, tolo plebeu de odes vadias?"
Quis saber a dama que nas mãos trazia covardias.
Falo de teu cavalo, de tua algibeira, e de teu chicote,
Disse eu, olhando-lhe os seios por debaixo do decote.

"Que ousadia tem o poeta chamando-me de sombria,
E não fosse eu acracia princesa, a tua sorte eu selaria."
Disse a dama, se enroscando nas rendas do seu tecido,
Tropeçando nas pedras e rasgando inteiro seu vestido.

"Como ousas olhar para mim com olhares tão fogosos,
Pois não sabes que sou apenas dos nobres fragorosos?"
Enxotando o animal a possuí sobre a terra calcinada,
Sob os aplausos escandalosos de multidão alucinada.

"Que queres de mim, depois de ter minha virgindade?"
Perguntou a mulher, com sorriso de falsa ingenuidade.
Quero que montes no teu pangaré e sumas nas cinzas,
Respondi-lhe com o orgulho tolo de velhos ranzinzas.

"Sou uma princesa, por acaso terás disso esquecido?"
E sua pergunta era arrogante e me senti enfurecido,
Juntei-lhe pela garganta e atirei-a ao solo feito boneca,
E a peruca caiu ao longe, exibindo uma cabeça careca.

"Vês agora, inominável poeta, que selastes a teu destino,
Pois que posso com minha lança rasgar-lhe o intestino?"
E das brumas negras surgiu uma horda de maltrapilhos,
Brandindo foices e martelos sob as ordens de caudilhos.

"De que forma desejas morrer, oh poeta de ode pervertida?
Basta-me, no entanto um dedo, para sua pena ser invertida."
E a perversa amparada pelos soldados pisou meus bagos,
Com o batalhão de famintos sucumbindo aos seus afagos.

"Posso arrancar-lhe tudo aquilo que tens de riqueza, poeta,
E jamais andarás pela terra devastada fingindo ser profeta."
Resfolegando feito cavalo, gritei-lhe um insulto inauspicioso,
Enquanto a maldita gargalhava derramando liquido rançoso.

"Maldito poeta, eu te condeno em nome da estrela rubra,
E tua existência será esquecida antes que a terra te cubra."
Ah, maldita princesa da morte, prostituta das camarilhas,
Teu sangue imundo um dia correrá junto com tuas filhas.

"Insolente pervertido, que a justiça te caia sobre a cabeça,
Por justo tenha que até teu filho pródigo de ti se esqueça."
E por ultimo pude enxergar o tirano sem um dedo na mão
Cavalgando até mim sobre as costas vergadas de um anão.

26/09/2019
©Luiz Carlos Cichettto - Direitos Autorais Reservados