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27/12/2019

Meus Baratos Amigos

Meus Baratos Amigos
Barata Cichetto

Foto: Liz Franco (MG)

Tenho amigos que não moram em casas bem decoradas,
E que não têm diplomas, nem tem fardas condecoradas.
Tenho amigos que sequer moram ou são donos de casas,
Mas pessoas que como eu, são donos das próprias asas.

Tenho amigos que não tem dinheiro e nem herança,
Que não tem coisa alguma, a não ser sua esperança.
E tenho amigos e que são de muitas cores diferentes,
Pessoas que como eu são cristalinas e transparentes.

Tenho amigos que não tem dentes, sequer uma dentadura,
Desdentados que não mordem e nem assopram a ditadura.
Há amigos com que conto e outros que não sabem contar,
Gente feito eu, analfabetos e imperfeitos, sem se importar.

Tenho amigos que não tem desejos e nem vontades,
Que não tem vaidade nenhuma e me dizem verdades.
E amigos que são poesia e outros são apenas poetas,
Pessoas humanas feito eu, imperfeitas e incompletas.

04/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

26/12/2019

As Próprias Custas

As Próprias Custas
Barata Cichetto




Qual o preço do metro do seu desespero,
E quanto custa um quilo do seu tempero?
O pesar e medir, réguas e balanças injustas,
E ainda quero saber o valor das tuas custas.

Quanto é a multa por atraso de pagamento,
E a mora e juros a pagar pelo sofrimento?
Cobrar e jurar, quanto custa a justiça afinal,
E o preço da passagem até meu destino final?

18/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

22/12/2019

Sobre Fomes e Nomes

Sobre Fomes e Nomes
Barata Cichetto



1  -
Ultimamente tenho sentido muita fome:
A voracidade daquele que nunca come.
É uma gana imensa que ainda não tem nome,
Então dou a minha esganação teu sobrenome.

2  -
Tem horas que eu me sinto tão imenso,
Que escrevo o sobrenome por extenso,
Mas em outras me sinto tão minúsculo,
Que nem o nome eu escrevo maiúsculo.

19/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

20/12/2019

Quadro Vivo

Quadro Vivo
Barata Cichetto


Pintura (Látex Sobre Papel Paraná) 2016 - Barata Cichetto

Eu queria desenhar a tua silhueta à mão,
Teus contornos finos com lápis ou carvão.
Queria ser artista, te moldar em escultura,
E retirar da pedra a tua mais fiel estrutura.

Queria saber te desenhar, imperfeita e invulgar,
Com as cores mais puras que pudesse enxergar.
Rabiscar tuas mãos magras e tuas veias salientes,
E tuas coxas estreitas fazer de telas permanentes.

Queria ser um artista, te pintar nua sobre a relva,
A boca bucólica e o olhar ferino que mira a selva,
Moldar com as mãos nuas teus seios e contornos,
E desenhar as linhas finas de todos teus entornos.

Queria mesmo ser artista, quem sabe até trovador,
E te descrever com tintas quentes de um sonhador.
Fazer-te musa e quadro vivo na parede do meu solar,
E em todas as noites ter a tua imagem a me consolar.

18/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

19/12/2019

Queria Saber Chover

Queria Saber Chover
Barata Cichetto



Há tempos que eu não consigo chorar,
Não é por machismo ou não saber orar.
Deixei minhas lágrimas em sua sepultura,
E no caixão de Isaura decretei a ditadura.

Há tempos não choro e o rir é muito pouco,
Que penso que sou apenas um pobre louco.
Lágrimas transformo em rancor, o ódio destilo,
E a tristeza é apenas a parte boa do meu estilo.

Há tempos não morro, há um ano a última vez,
E nem é tanto, pois antes morria uma por mês.
Chego a invejar a quem chora lágrimas sinceras,
Enquanto árido eu ainda espero por outras eras.

Nem a morte é tão forte que me torne pranto,
E nem a sorte e a falta quebram meu encanto.
Ao menos de alegria eu queria poder derramar,
Mas em tempos de chuva, não se entra no mar.

Se há tempestades nos teus olhos de princesa,
Nos meus há apenas areia, deserto e a tristeza.
Eu queria chover, e quem me dera ainda poder,
Mas na minha aridez, sofro seco sem entender.

Seca agora minha boca e na língua nem saliva,
Então penso nas lágrimas que te mantém viva.
Queria saber chorar, quem sabe quando morrer,
Eu chore de mim, de tanta pena por não sofrer.

19/12/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

18/12/2019

Pessoas e Deuses

Pessoas e Deuses
Barata Cichetto



Ontem, caminhando numa avenida movimentada no centro de Araraquara, com minha barba e cabelos quase todos brancos e longos, cruzo com uma senhora de cerca de uns 80 anos. Ao passar por mim, ela diz algo que não entendo. Paro e pergunto à idosa: "O que a senhora disse?". E ela: "Eu disse pra mim mesma: eu sabia que Jesus voltaria. E agora estou vendo." E deu um gostoso sorriso. Fiquei uns segundos longos olhando para ela, querendo falar alguma coisa. Nesse tempo um milhão de coisas me passou na cabeça. "Sou ateu. Tenho quase o dobro da idade de Cristo quando morreu. Muito obrigado. A senhora é simpática. Ah, eu não sou não, estou mais pra demônio que pra santo." Foram algumas delas. Mas apenas lhe sorri e continuamos, cada um em sua direção, nossa caminhada. Eu nunca a tinha visto, e possivelmente jamais a verei. Ela não sabia quem eu era, e eu muito menos que é ela. É claro que a senhora não é doida, não me confundiu com nenhum Jesus, mas sua atitude simpática e sorridente me associando a alguém que para ela deve ser o símbolo máximo de bondade, paz e justiça, me fez perceber que, acima de quaisquer dogmas, quaisquer crenças, e seja lá o que nos desune, sempre haverá pessoas capazes de nos atribuir, pela própria bondade, um sentimento bom, mesmo que não tenhamos. Então, é Natal... E eu continuo como ateu. Não há deuses, existem pessoas.

18/12/2019

16/12/2019

Paraíso Artificial

Paraíso Artificial
Barata Cichetto


Podemos criar paraísos de forma artificial, Baudelaire e seus cometas no país das salamandras. O Paraíso é meu, e crio onde quiser. Quero em Minas, quero no fim do mundo, quero daqui um segundo. Um Paraíso artificial, com cheiro de café. Um cigarro de palha, minhas gatas vadiando no terreiro, e no fim de tudo, uma buceta bem quentinha. Uma mulher, de vestido longo de chita, com nada por baixo a não ser o arrepio. Quero criar meus paraísos, e posso criá-los até no Inferno. Estou comprando uma passagem só de ida. Morar no ar, no mar, no bar, em qualquer lugar, que possa chamar de lar. Nas montanhas de Minas, no Cerrado, no Sertão. Escondido atrás dos teus mamilos. Quero beber café na xícara da tua boca, e te chamar de louca, assim por chamar. Dormir pelado, abraçado aos teus pés. Erguer uma casa de bambu, tomar banho sem xampu, e é claro, comer seu cu. Simples as coisas que quero, além de um Paraíso artificial, construído sobre a terra batida, com palha no chão, tua mão por cobertor e teu colo por travesseiro. Ah, mas tem o vinho, que não pode faltar. Bebido nas taças dos teus seios, no colo em V. Podemos criar paraísos com um passe de mágica, assim como se cria poesia, assim como se cria desejo. Em nenhum paraíso artificial pode faltar poesia e desejo. E não pode faltar Sol...

16/12/2019