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27/04/2020

Toda Poesia Que Eu Pude Carregar - O Testamento

Toda Poesia Que Eu Pude Carregar - O Testamento



Neste amo de 2020, posso considerar que completei minha existência como poeta, quiçá como escritor. Comecei a escrever por volta de 1972 ou 73, e em 1981 publiquei meu primeiro livro de poesia em mimeógrafo. Depois de ter toda minha obra se transformar em papel picado e 1982, por conta de uma pessoa enciumada e passar 15 anos praticamente sem escrever nada a não ser dedicados poemas amorosos que nunca foram lidos, completo agora sem nenhuma pompa nem honra meu ofício.

Desde o princípio, a sabotagem e o dar de ombros por parte de pessoas a quem busquei o mínimo de apoio se fizeram presentes, e me deixaram sempre do lado de fora da porta. Como exemplo cito os donos da chamada Geração Mimeógrafo, que desde meados dos anos 1970 ignoraram minhas cartas contendo poemas, e se recusaram a publicar. Muitos deles estão por aí, enfeitando feiras literárias com suas camisetas de cheguevara, suas bolsasdelona e seus veganismoscarnívoros.

E agora, no meio dessa pandemia fabricada, um experimento social que vem tendo os resultados previstos graças ao instinto grotesco e vaidoso da maioria da humanidade, reúno e organizo em volumes minha obra poética com intenção de colocar numa plataforma de publicação, não com o intuito de amealhar qualquer ganho, mas apenas para ter o prazer pessoal em ver tudo ali, pronto para a impressão. O título genérico desse trabalho é "Toda Poesia Que Eu Pude Carregar", e será composto de quatro tomos, sendo que os três primeiros de poesia rimada e escrita em versos mais ou menos metrificados e o último com minha poesia em crônica - ou crônica poética.

Serão mais de 2.000 páginas, com textos resgatados desde 1978 até 2020, e considero essa publicação como uma espécie de Testamento, sem considerar como legítimo nenhum herdeiro a ele, já que os que podem ser considerados "herdeiros legais", não tem qualquer direito a ele, pois que me abandonaram há muito, e nunca contribuíram ou participaram nem com a migalha de sua leitura para que eu chegasse aonde cheguei. Tudo foi fruto do meu próprio sangue&suor&lágrimas, e nem um reles e mísero centavo, caso tenham um mínimo de caráter, lhes pode ser lucro.

Encerro assim, já que não existe mais tempo para a poesia. No mundo que sobrar, e que foi cuidadosamente planejado pelos seus donos, não existirá um só ser ou lugar onde caberá a poesia. Ficam, portanto, nesses calhamaços, o registro da minha existência.  

Grato a todos e todas.

Luiz Carlos Giraçol Cichetto, aka Barata, Outono 2020.

26/04/2020

A Poesia, a Razão e a Loucura

A Poesia, a Razão e a Loucura
Barata Cichetto




Ando pensando que existe o caminho certo
Que não passa pelo caminhos da salvação
E se ando num caminho é porque não é reto
Mas foge da estrada da dor, rua do coração.

Poesia não é o destino, e o destino não é poesia
E se não existe o caminho definido escrito à mão
Ainda nos resta aquilo que empresta algo ao dia
E além de drogas e amores, a poesia e sua razão.

Ninguém sente falta do que não enxerga e ouve
E nem sente saudades de algo que nunca houve
Palavras simples de poeta de última instância
Que foi amordaçado ainda durante a infância.

Há um poeta dentro de todos, e poesia dentro de poucos
Afinal temos todos um tanto de médicos, outro de loucos
Há muito mais doentes do que médicos na modernidade
E nem poesia nem remédios podem curar a humanidade.

09/07/2017

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

Dia do Horror

Dia do Horror
Barata Cichetto




Pense em um dia com sabor de mortadela
Que lhe digo que cores tem uma aquarela
É o dia das bruxas, dos porcos e dos loucos
Mas um dia torto em que muitos são poucos.

E que dia é, que nunca começa nem continua?
Um dia que é noite e onde a menina anda nua
Dentro dessa escuridão caminhando às cegas
Que lhe abre as coxas, e rasga-lhe as pregas?

Então pense em um dia com sabor de esterco
Com soldados marchando e fechando o cerco
Que lhe mostro a cicatriz de cigarro na perna
E estendo a mão em busca da criança eterna.

Que dia é agora, que parece ontem ou amanhã?
Dia de filhos desaparecidos no inicio da manhã
E de amigos que se curvaram perante o horror
Em que dia estamos, senão no do dia do terror?

01/11/2017
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados




23/04/2020

Filosofia de Pés Sujos

Filosofia de Pés Sujos
Barata Cichetto


O termo "Filosofia de Pés Sujos" nasceu de uma humilhação. O troco foi quase instintivo, e escrevi um silogismo: reclama de meus pés sujos na cama, mas não sabe dos caminhos sujos tive que percorrer antes de poder me deitar.  Sempre busquei o meu caminho, e por essa circunstância muito desagradável e humilhante, me deparei com isso. Ai olhei para mim e para tudo que já fiz e especialmente para quem eu sou hoje, e percebi essa imagem, clara: estou trilhando um caminho de pés sujos.

Tive muitas crenças - creio que tive todas elas -, até perceber que em nenhuma eu era honesto comigo, já que jamais senti aquilo que "precisaria" sentir. Do mesmo jeito que já tive crenças ideológicas. De resto, essa filosofia de pés sujos é justamente o rompimento com tudo aquilo que me "calçou" até há algum tempo. Fico perplexo em perceber essas coisas, e invariavelmente me cobro e penso. "Porra, seu Barata de bosta, que cê pensa que é? Acha que é o bom, é?!" Descubro que não, que não sou o tal, mas também não sou o mau, muito menos o mal. E a Filosofia de Pés Sujos é o que mais me define, mesmo que me julguem incapaz de exibir tal título, o de "filósofo".  A esses, eu afronto, confronto e pergunto, se acaso seus pés calçados que lhes protege dos espinhos não os carregam a lugares onde já estive, e especialmente se suas mãos estão limpas

Há pouco mais de dez anos tenho escrito dísticos (pequenos poemas de apenas dois versos e uma única estrofe), resumindo meu pensamento filosófico.

Desde Janeiro comecei a revisar esses textos e compilei num livro, acrescido de aforismos - que eu chamo de des-aforismos -, e silogismos. O resultado foi um livro de 144 páginas, que está disponível.

Advogo-me o direito de ser um livre pensador, e não tenho qualquer compromisso ideológico, já que não foi nos bancos corrompidos das universidades que o construí, mas nas ruas e nos livros. E arvore-me em definir-me Filósofo de Pés Sujos, formado na Universidade da Vida, onde o Diploma é a Certidão de Óbito.

Não tenho com meus escritos e meus atos nenhuma pretensão a mudar o mundo, minha única revolução diz respeito estritamente a mim mesmo. Busco a cada dia aprimorar minha existência, com a certeza de que o ser humano é antes de mais nada um solitário, e que, portanto, é ele quem constrói o coletivo, e não é construído por ele, na linha contrária ao pensamento hipócrita.

Não escrevo para idiotas, não escrevo para preguiçosos e escravos de ideologias; não escrevo para fanáticos. Meu texto é honesto e estritamente fiel o meu pensamento, e meu senso crítico e estético. Se meu pensamento e meus pés sujos, de tanto caminhar em terrenos podres te incomodam, fiquem longe, mas se procura algo que o faça pensar, não fique apenas nos elogios e tapinhas nas costas e aplausos virtuais. Entre no link abaixo e adquira o livro. Nos vemos dentro daquelas páginas. Eu te espero, nu, de pés sujos e mãos limpas.

Barata Cichetto, Filósofo de Pés Sujos, formado pela Universidade da Vida, onde o Diploma é a Certidão de Óbito. 31/03/2020

Filosofia de Pés Sujos
Barata Cichetto
Edição Independente
Tiragem Limitada
144 Páginas
Papel Avena
R$ 48,00 (Frete Incluso)

18/04/2020

A Política Republicana - Lima Barreto

A Política Republicana
Lima Barreto



“Não gosto, nem trato de política. Não há assunto que mais me repugne do que aquilo que se chama habitualmente política. Eu a encaro, como todo o povo a vê, isto é, um ajuntamento de piratas mais ou menos diplomados que exploram a desgraça e a miséria dos humildes.

Nunca quereria tratar de semelhante assunto, mas a minha obrigação de escritor leva-me a dizer alguma coisa a respeito, a fim de que não pareça que há medo em dar, sobre a questão, qualquer opinião.

No Império, apesar de tudo, ela tinha alguma grandeza e beleza. As fórmulas eram mais ou menos respeitadas; os homens tinham elevação moral e mesmo, em alguns, havia desinteresse.

Não é mentira isto, tanto assim que muitos que passaram pelas maiores posições morreram pobríssimos e a sua descendência só tem de fortuna o nome que recebeu.

O que havia neles não era a ambição de dinheiro. Era, certamente, a de glória e de nome; e, por isso mesmo, pouco se incomodariam com os proventos da ‘indústria política’.

A República, porém, trazendo tona dos poderes públicos, a borra do Brasil, transformou completamente os nossos costumes administrativos e todos os ‘arrivistas’ se fizeram políticos para enriquecer.

Já na Revolução Francesa a coisa foi a mesma. Fouché, que era um pobretão, sem ofício nem benefício, atravessando todas as vicissitudes da Grande Crise, acabou morrendo milionário.
Como ele, muitos outros que não cito aqui para não ser fastidioso.

Até este ponto eu perdôo toda a espécie de revolucionários e derrubadores de regimes; mas o que não acho razoável é que eles queiram modelar todas as almas na forma das suas próprias.

A República no Brasil é o regime da corrupção. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a ‘verba secreta’, os reservados deste ou daquele Ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência.

A vida, infelizmente, deve ser uma luta; e quem não sabe lutar, não é homem.

A gente do Brasil, entretanto, pensa que a existência nossa deve ser a submissão aos Acácios e Pachecos, para obter ajudas de custo e sinecuras.

Vem disto a nossa esterilidade mental, a nossa falta de originalidade intelectual, a pobreza da nossa paisagem moral e a desgraça que se nota no geral da nossa população.

Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar idéias; ninguém quer dar a emoção íntima que tem da vida e das coisas. Todos querem ‘comer’.

‘Comem’ os juristas, ‘comem’ os filósofos, ‘comem’ os médicos, ‘comem’ os advogados, ‘comem’ os poetas, ‘comem’ os romancistas, ‘comem’ os engenheiros, ‘comem’ os jornalistas: o Brasil é uma vasta ‘comilança’.

Esse aspecto da nossa terra para quem analisa o seu estado atual, com toda a independência de espírito, nasceu-lhe depois da República.

Foi o novo regime que lhe deu tão nojenta feição para os seus homens públicos de todos os matizes.
Parecia que o Império reprimia tanta sordidez nas nossas almas.

Ele tinha a virtude da modéstia e implantou em nós essa mesma virtude; mas, proclamada que foi a República, ali, no Campo de Santana, por três batalhões, o Brasil perdeu a vergonha e os seus filhos ficaram capachos, para sugar os cofres públicos, desta ou daquela forma.

Não se admite mais independência de pensamento ou de espírito. Quando não se consegue, por dinheiro, abafa-se.

É a política da corrupção, quando não é a do arrocho.

Viva a República!”

Lima Barreto, o monarquista.
1918

17/04/2020

CORONARIANA Nº 30

CORONARIANA Nº 30
Barata Cichetto



Estou pronto! Quando chega o ônibus do poder? Que carrega a nação sem noção? Estou pronto, quando chegar o trem na estação, e carregar meu coração. Estou pronto! Quando chegar o avião, que leva ao ar sem condição, o político ladrão, o pobre sem refeição, e o poeta sem direção. Estou pronto. Encostem a carruagem no trilho do bonde, celem o cavalo do bandido, e a mosca do cocô. Estou pronto. Para o caos, programado no porão do poder. Onde senta um chinês, uma bicha e um filho da puta. Escrevo contra o decreto, de isolamento, de sofrimento, de corrimento, de cimento contra o abstrato. Escrevo sem nexo, sem sexo, e sem circunflexo o palavrão. Estou com tesão, mas não pode não. Tesão contagia e propaga. Respiração pode não. Sufoco e sem foco. Com fogo e sem paixão. Não é nada, não. Nada é não e não é nada. Tudo é paixão. Tudo é tesão, tudo é cérebro. Nada é corpo. Tudo é porco. Porcos sentem tesão, poetas também não. E o anão, sem dedo na mão coloca fogo no circo. E a equilibrista de pernas abertas espera o cafetão na porta da estação. Acorda, Brasil!

08/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

CORONARIANA Nº 29

CORONARIANA Nº 29
Barata Cichetto



Deitado no chão, em meu colchão de ar, assopro o cabelo que me teima em cair no rosto. Coço a barba, longa e branca e ensaio uma punheta. Na ampulheta a esperança de "dias melhores", que jamais chegarão. Não existem dias melhores, nem piores. Há dias em que a gente morre, outros não. Filosofia de pés sujos, de botequim e de puteiro. As putas estão solitárias. Fecharam o puteiro. Seus filhos e mães estão com fome. "Nem na pandemia de AIDS nos impediram de trabalhar", reclamam. Estão tristes minhas putas, como diria Garcia Marquez, e não sabem escrever memórias, apenas contar histórias de um tempo em que não morreram. Fecharam os puteiros, e não tem graça nenhuma. A piada não é engraçada, é disfarçada. É risada desgraçada. Deitado no chão, a punheta não sai. Preciso escrever sobre putas, não sobre epidemias. Há caráter em tudo. E motivo em nada.

07/04/2020
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados