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09/10/2019

Coringa é Sobre Mim

Coringa é Sobre Mim
Luiz Carlos Cichetto
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados


"Coringa" é sobre mim. Sim, "Coringa" é minha cara, só que pintada no final do filme, quando a real se mostra. "Coringa" é sobre máscaras que caem, pintura superficial e gente artificial. "Coringa" é sobre hereditariedade, arbitrariedade e maniqueísmo. "Coringa" não é sobre loucura, portanto, "Coringa" é sobre mim. Não é sobre o fim, nem sobre o começo da bondade e da maldade; não é sobre verdade nem sobre mentira, então "Coringa" é sobre mim. É sobre pessoas traídas, esquecidas, que não acham graça nas piadas, que não dão risada em programas humorísticos, nem pintam o rosto de vermelho em praça publica, ou caga na esquina para protestar contra o capitalismo. É sobre pessoas esquecidas de propósito num banco qualquer de uma cidade qualquer, que pode ser Gotham City, São Paulo ou Araraquara, então "Coringa" é sobre mim. Não é sobre a loucura imposta nem sobre a imposição da loucura, mas sobre a que nasce com a cor dos olhos, então "Coringa" é sobre mim. "Coringa" é sobre mim, quando escancara a o abandono forjado por pais e por filhos, quando aborda aqueles que chegam à borda do precipício e não se jogam com medo do escuro, que andam por corredores cheios de loucos e saem com os pés cheios de sangue, cujas caixas de correio nunca têm cartas, cujas mães loucas mentiram por décadas, arrependidas de um aborto que não foi feito; um feto imperfeito, que nunca riu de si mesmo por não se achar um palhaço. "Coringa" é sobre mim, e outras pessoas que não iam ao cinema há duas décadas e odiaram cada espectador com celular ligado, numa sala com ar condicionado e som ensurdecedor. "Coringa" é sobre mim. Que percebe a loucura ao redor, mas é aprisionado e escorraçado. Não é sobre o Homem Morcego, nem sobre violência urbana, mas sobre violência humana. Não é sobre pobres fudidos que lambem o rabo de políticos por uma bolsa qualquer coisa. Pobres que não são coitados e coitados que nem são pobres. Apenas pervertidos. "Coringa" não é sobre invertidos sexuais, nem sobre negros perseguidos, índios deslocados nem sobre barbeados de coque e bermuda que se acotovelam nas salas de cinema, com a mesma elegância que trajam camiseta de bandido falso guerrilheiro. "Coringa" é sobre mim, não sobre descolados de esquerda que alimentam traficantes e sustentam o crime. É sobre quem trabalha em qualquer bosta, e que é achincalhado tanto pelo patrão quanto pelo empregado. Pelo anão e pelo gigante. "Coringa" é sobre mim, que acredita ser uma miragem, uma piada mortal sobre si mesmo, e uma tragédia imoral. "Coringa" não é sobre coitados, não é sobre justiceiros, não é sobre negros polissexuais anões e gordos. "Coringa" é sobre mim. Não é espelho de medíocre, não é fotografia de comunista, não é imagem de perfil de Facebook, nem tatuagem de "nóia". É sobre mim. Não é sobre um lugar sem justiça, mas sobre pessoas sem lugar; não é sobre morte, não é sobre sorte ou falta dela. "Coringa" é sobre mim, um palhaço a quem foi dito que tinha que fazer rir, um pai abandonado e um filho escorraçado; é sobre o fim sem começo, uma tragédia ao inverso e uma comédia do avesso. "Coringa" não é sobre palhaços, não é sobre qualquer coisa que possam pensar. "Coringa" é sobre mim. "Coringa" não é cinema, não é um filme, não é roteiro, não é ficção. "Coringa" é sobre mim. "Coringa" é sobre pais e filhos, feito à sua imagem, e imperfeição; é sobre a coragem de dizer não; é sobre a covardia do silêncio e a hipocrisia do perdão. "Coringa" não é o sobre o pão nosso de cada dia, mas sobre o não vosso de toda noite. É sobre fim do sim, de mim, e de qualquer coisa que acaba por decreto, secreto ou direto, dos imperadores, ditadores e malfeitores. É sobre mim. Mesmo. "Coringa" não é sobre um personagem, não é sobre coragem, não é sobre ambição, nem tráfico de drogas ou de motivação, "Coringa" não é sobre desistência, é sobre não-existência, portanto, "Coringa" é sobre mim. "Coringa" não é sobre mortos, mas sobre quem nunca permitiram existir. Ser, apenas estar. "Coringa" não é superstar, não é sobre um herói, não nem sobre um bandido. É sobre mim, que nunca soube ser herói nem ladrão. "Coringa" não é o coringa do baralho, é carta fora de jogo, portanto, "Coringa" é sobre mim. Não é sobre Capital nem Trabalho, nem foice nem martelo, "Joker" é sobre jogo de pôquer, blefe, e sobre quem não tem assento na mesa, e por assim dizer é sobre mim, descartado, desacreditado, atirado num canto, e a quem resta apenas o cheiro dos charutos cubanos dos ditadores. "Coringa" não é sobre portas fechadas  impedindo a entrada, é sobre portas fechadas impedindo a saída, e então, "Coringa" é sobre mim. "Coringa" não é sobre um homem que se tranca na geladeira e tem uma amante imaginária, "Coringa" é sobre quem se tranca no inferno e tem uma amante ral. V não é sobre asfixiar a mãe louca com um travesseiro, mas como se livrar dos fantasmas de cobertor. "Coringa" não é sobre mocinho e bandido, polícia e ladrão, é sobre como sobreviver sem heróis, sem ídolos e sem mitos, e aí, mais ainda, "Coringa" é sobre mim. "Coringa" não é sobre ter crises de riso quando se está nervoso, não é sobre pintar um sorriso com sangue e incendiar a cidade, "Coringa" é sobre nunca sorrir, abandonar a cidade em busca de paz, e encontrar a mesma cidade dentro de outra, de outra e de outra, e nessa outra, ser um palhaço invisível, irrisível e, nesse lugar ser fadado a morrer. "Coringa" é sobre mim. "Coringa" não é sobre caos e desordem, não é sobre palhaços que incendeiam as lonas do circo, não é sobre circo, nem sobre fogo, é sobre o jogo das sombras da morte; não é sobre mortos e feridos, mas sobre pessoas a quem resta apenas uma carta na manga, o Enforcado, que não tem dinheiro para comprar uma corda. "Coringa" não é sobre sucesso e fracasso, não é sobre vitórias nem sobre derrotas, é sobre o nada, e, sobretudo, "Coringa" é sobre mim. "Coringa" não é Cesar Romero, Jack Nicholson, Heath Ledger, Jared Leto ou Joaquin Phoenix: Coringa sou eu.  Dois quilômetros do cinema até em casa. A cabeça martelando, o rosto todo cortado pelos fragmentos do espelho estilhaçado que caíram sobre mim. Assim, desse jeito. "Coringa" é sobre mim, sobre si, e sobre todos aqueles que acharem que é.

09/10/2019




30/09/2019

Escritores Precisam Parar de Ler

Escritores Precisam Parar de Ler
Luiz Carlos Cichetto



Sempre fui um bom leitor. Desde garoto lia muito. De histórias em quadrinhos a clássicos brasileiros como Machado e Alencar; de  livros de receitas da Dona Benta aos catecismos do Carlos Zéfiro. Lia de tudo, qualquer coisa que caisse à frente de meus olhos. Lia embalagem de papel higiênico e bula de remédio quando ia ao banheiro cagar; lia embalagem de preservativo antes de foder uma puta e propaganda em revista de mulher pelada. Qualquer coisa eu lia, lia qualquer coisa mesmo. De fichas técnicas em discos, contracapas e orelhas de livros a manuais de instruções de liquidificadores. E até notas fiscais eu lia. Poesia, prosa, prosa em poesia, poesia em prosa, tudo eu lia. Romance, ensaio, biografia, era tudo o que eu queria. Aí comecei a escrever, e então lia mais ainda. Queria ser igual, queria ser melhor que todos os que lia. Augusto, Baudelaire, Charles, Huxley, Orwell eram minha sobremesa, meu café da tarde e meu jantar e meu remédio para dormir, ou ficar acordado. Lia, lia, lia. Lia até a mim mesmo, o que eu escrevia. E as vezes me achava bom, às vezes não. Eu sabia o que queria. E quanto mais eu lia, mais eu escrevia. Agora não sei. Depois de tantos anos, e já se foi meio século nessa brincadeira de ler que me esqueço de ler. Além dos olhos cansados e os braços um tanto curtos para enxergar um livro, há a canseira de alguém que tanto leu, que se esqueceu o que era seu. Não leio mais. Escrevo sem ler. Afinal sou um escritor, e escritores precisam ter tempo para viver.

30/09/2019

22/09/2019

Lumpesinato

Lumpesinato 
Luiz Carlos Cichetto


O termo Lumpen Proletariat, que pode ser traduzido como lumpesinato foi criado por Karl Marx e Friedrich Engels em 1845, e designa o queeles chamam de "subproletariado": "a população situada socialmente abaixo do proletariado, do ponto de vista das condições de vida e de trabalho, formada por frações miseráveis, não organizadas do proletariado, não apenas destituídas de recursos econômicos, mas também desprovidas de consciência política e de classe, sendo, portanto, suscetíveis de servir aos interesses da burguesia. Assim, segundo os teóricos da revolução, o lumpemproletariado seria pernicioso, já que seu cinismo e sua absoluta ausência de valores poderiam contaminar a consciência revolucionária do proletariado."

Interessante notar, quando olhamos com olhos mais sinceros e ouvidos não contaminados, que é justamente essa parcela da população que serve aos interesses da "esquerda". São essas pessoas que, por medo, ignorância ou interesse próprio alimentam a causa deles. São usados como bucha de canhão por uma burguesia socialista-comunista que miram em seus próprios interesses apenas. Assim, comunidades pobres são usadas como escudo humano, protegendo traficantes e alimentando a catarse popular. Jogar a população contra a polícia, protegendo assim o crime, é apenas a ponta visível de um iceberg. 

Temos sim, que nos indignar contra qualquer espécie de abuso, temos sim que lamentar mortes, mas que sejam todas. Há mártires, sim, mas de todos os lados. Eleger como herói um bandido morto e nem tomar conhecimento de um um policial torturado e morto não me parece uma atitude humana, mas é esse o jogo deles. Aliaram-se a bandidos, pois que são bandidos. E bandidos não tem moral, não tem ética, não tem humanidade.

22/09/2019

10/09/2019

Domingo no Parque

Domingo no Parque
Barata Cichetto


Sai de casa. Precisava de paz, um lugar para fumar meu cigarro e ler um livro, e talvez olhar algumas bundinhas chacoalhando em bermudas curtinhas. Fui a um parque público, um lugar enorme, cheio de tudo o que eu precisava: natureza, tranquilidade, pessoas bonitas. O lugar perfeito para ler, pensar e fumar. Na entrada do parque uma placa e um segurança mal encarado me diziam ferozmente que eu não podia fumar. Não quis contestar. Era a lei e a lei a gente respeita. Entrei, procurei um banco que não fosse coberto com bosta de pombos. Achei um mais ou menos limpo. Sentei e abri o livro. Duas garotas passaram correndo, com as tais bermudas coladinhas, naquele passinho aprendido nas academias de ginástica e olhando o Apple Watch no pulso. Fiquei olhando. Uma dela me lançou um olhar de nojo e continuou saltitando. Abri o livro. Ainda restava ler e pensar. Um grupo de moleques, pré-adolescentes, quatro ou cinco garotos e duas garotas, sentados na grama bebiam cerveja e ouviam "Funk", repetindo o refrão pornográfico e as moças ficavam de quatro na grama e rebolavam, enquanto os garotos a bolinavam. Somando todas as idades, decerto não daria a minha. Tentei me concentrar no meu livro e nos meus pensamentos. Ayn Rand, A Revolta de Atlas. Um pombo deu uma cagada bem na página 333.  Limpei. Levantei e instintivamente apalpei o maço de cigarros no bolso calça, peguei um e acendi. Nem tinha dado minha primeira tragada e um segurança, sujeito negro, enorme e careca se aproximou em um patinete motorizado, e começou a berrar que era proibido fumar no parque. Já no susto o cigarro caiu e o brutamontes o pisoteou e disse que se eu insistisse ele me retiraria à força do local. QAP? QSL? Ele saiu, e parecia que não tinha pés, mas rodas em seus lugares. Fiquei olhando para meu cigarro esmagado, que custa caro e paga 57 impostos e ainda olhei para o grupo de adolescentes que riam de mim. Eu só queria ficar em paz, ler e pensar, num lugar com pessoas e coisas bonitas. Ainda tempo de pensar. Era só o que sobrara. Procurei outro banco, mas quase todos estavam ocupados ou cagados demais. Tinha um local mais afastado, meio ermo até, e fui até lá, mas o único banco disponível estava ocupado. Dois sujeitos, muito magros e maltrapilhos dividiam um cachimbo de "Crack". O segurança passou ao largo, com suas rodas mecânicas em lugar de pés. Os sujeitos me olharam assustados. Abanei a cabeça e sai de perto. Um homem de terno passeava com um enorme e caramelado Chow-Chow japonês e puxou a guia do cão, não sei se para proteger-me do animal ou ele de mim, e uma mulher empurrava um carrinho de bebê com apenas uma das mãos, enquanto a outra digitava freneticamente no celular. Decidi ir embora, ler e pensar em outro lugar, que em parques não se pode pensar, não se pode fumar. É a lei.Na grama, deitados, dois casais se beijam e se chupam e se cospem e quase se despem. No caminho de pedras gastas doze policiais e dois jovens normais, amados ou não, armados ou não. Eu ainda lembro das flores, dos canhões e das canções, mas não tenho mais emoção. Ainda lembro da fumaça, mas esqueci do fogo. E isso me dá vontade de fumar. Esqueça a canção.  O moleque catarrento me pede um cigarro. Eu digo que não. Ele não sabe ainda que é proibido fumar no parque? Nem tem sete, e me mostra o canivete. Lá se foi outro cigarro, só me sobrou o escarro. Onde andam as estátuas do parque, pergunto ao policial. E ele responde, bem ali debaixo daquele monte de tinta colorida de spray color gin vermelha a arma da revolução. O sujeito cabeludo e barbudo me intercepta bruscamente e pergunta se gosto de poesia. Enfio a mão o bolso e ele arregala os olhos. Tiro um poema e ele sai correndo com suas duas folhas de papel dobradas em quatro, me olhando feio, sem esperar que eu pegue o dinheiro no outro bolso. O parque está imundo. Merda de pombo, camisinhas sujas de esperma, papel de picolé, folhetos de propaganda de supermercado; a grama esmagada e os girassóis murchos. Girassol me lembra sol e sol me lembra calor e calor lembra fogo. Alguém tem fogo? Eu perguntaria, e depois de fumarmos juntos sairíamos para festejar, cantar ou fazer uma revolução. Mas, não, agora não podemos fumar juntos, então não mais festa, nem cantoria e nem revolução. Onde há fumaça sempre há fogo, dizia minha avó que morreu fumando. Onde não há fogo não tem calor, e sem calor nada tem valor. Acho que tinha uma canção dos tempos em que fumantes ainda não eram criminosos que dizia isso. Uma canção antiga, dos tempos em que ainda eu podia ir ao parque fumar. Os tempos mudam? Não, os tempos não mudam, são sempre os mesmos ponteiros que marcam as mesas horas todos os dias ao longo dos milênios.  Mudam as leis, mudam as pessoas, e mudam as coisas de lugar, e só agora sei que é um pecado fumar. Na saída, respirei aliviado, mesmo depois de ser atingido por uma bela cagada de pombo que escorreu pela minha barba. Apanhei um cigarro no maço e acendi, soltando uma vitoriosa baforada para cima. Dei um passo na calçada, outra tragada. Uma velhota passou e reclamou da fumaça e do fedor, abandando com a mão enrugada, o segurança de rodas eletrônicas me olhava com cara de bosta do portão. Era um domingo, fui ao parque. Queria ler, fumar, pensar, ver gente, que nem precisa mesmo ser bonita, bastava ser gente. Era um domingo no parque. E podia até ser segunda-feira, que qualquer dia é dia de intolerância. Não vou mais ao parque, prefiro pensar dentro de casa onde ainda posso fumar e pensar. Fumar no escuro, que a claridade é para os intolerantes e ditadores. É proibido fumar no parque. Há fumantes passivos e amantes lascivos. Falantes nocivos. Até que decidam me proibir de pensar. Até que um dia decidam que sou um perigo à saúde pública, que pensar faz mal à saúde, até que me proibam de estar em casa, aque a arrombem, que apaguem o cigarro na minha testa. E que me matem. Em nome da saúde pública e da maldade privada. 

10/09/2019

08/09/2019

Porcos Não Usam Colares

Porcos Não Usam Colares
Luiz Carlos Cichetto


Porcos dividem o mesmo cocho, a mesma lavagem, feita de sobras das mesas do poder. E um empurra o outro, dizendo que o outro é mais porco. O porco branco se acha melhor que o porco preto, o porco amarelo se diz superior. Cobram se entre si o que nenhum deles deve, enquanto a lavagem esfria. Todos são porcos diferentes, mas alguns porcos são mais diferentes que outros porcos. Ou mais porcos que outros. Enquanto isso, estala o chicote no lombo de todos os porcos, porque para os donos da porcaria, todos os porcos são iguais, e é ilusão da igualdade o que os separa. Do cocho ou da mesa de jantar. Que tipo de porco você é? Dá para escolher. Ou não?

07/09/2019

05/09/2019

Recital

Recital
Barata Cichetto



- Alguém na plateia gostaria de chupar meu pinto? - Perguntou o poeta no meio do recital. Cinco das dez pessoas presentes na sala se levantaram e saíram. Eram quatro homens e um individuo que não se notava claramente o gênero. Ficaram quatro mulheres e outro ser sem gênero definido.

- Alguém na plateia gostaria de chupar meu pinto? - Repetiu o escritor, agora num tom de voz mais alto. E o ser transgênero e outras duas mulheres se ergueram, bateram no encosto da cadeira e se retiraram, sem antes desfilar uma série de palavrões ao artista. Eram gora apenas duas mulheres sentadas, de pernas cruzadas exibindo dois pares de coxas lisas e bem torneadas que ficaram.

- Alguém na plateia gostaria de chupar meu pinto? - Ele tornou a falar, e uma das mulheres se ergueu da cadeira e foi em sua direção. Subiu no pequeno palco e abaixou-lhe as calças. Depois abocanhou-lhe o pinto e o chupou. O poeta lia com voracidade os poemas do seu livro, e quando chegou ao ultimo poema esporrou dentro da boca da mulher. No meio da história a outra mulher tinha desaparecido.

- E daí, cara, como termina essa história?
- Não sei. Cala a boca e continua chupando!

05/09/2019

04/09/2019

A Mulher Que Me Ensinou o Que é Poesia (E Outros Amores)

A Mulher Que Me Ensinou o Que é Poesia (E Outros Amores)
Luiz Carlos Cichetto




Há exatos 36 anos, no dia 28 de Dezembro de 1982, eu perdia uma das pessoas mais importantes e queridas, e em que todos os dias desses anos eu recordo.
No dia de Natal foi a ultima vez que a vi, ela estava triste, ao contrário do que sempre era. O médico tinha mandado parar de fumar, pois seu pulmão estava fraco demais. E ela disse que não conseguia, pois afinal fumava há mais de sessenta anos, e ademais, dizia que não via mais motivos para continuar, pois já tinha perdido o marido e um filho.
Entretanto, o que me marcou foi as ultimas coisas que escutei dela, em meio a uma brincadeira: que ela jamais conheceria um bisneto de minha parte. Ela sempre dizia isso, mas naquele momento soou diferente, afinal eu tinha me casado no início daquele ano, então, a qualquer momento eu poderei ser pai. Ah, sim, não era tão comum naqueles longínquos anos 1980 as pessoas serem pais e mães sem terem família formada. Ela morreria depois de três dias, e cerca de uma semana depois minha então esposa ficaria grávida de meu primeiro filho.
Nascida nos primeiros anos do século XX, na cidade de Jacobicabal, interior de São Paulo, Izaura Piccinini, era irmã gêmea de Izabel, de uma família numerosa. Anos mais tarde conheceu um mineiro, também filho de italianos, loiro e de olhos claros e se casaram. Foram seis filhos alimentados durante muitos anos com o trabalho na roça, como colonos de fazenda, na região de São José do Rio Preto, Catanduva. No final dos anos 1940, inicio dos 50, não estou bem certo, se mudaram para a Capital com o intuito de dar estudos e melhores condições aos filhos. Sempre moraram na região da Penha e Tatuapé.
Analfabeta, Izaura tinha uma sagacidade e uma inteligência enormes, mas que eram sufocadas pelo marido. Francisco foi um homem brilhante, inteligente, que se semi-alfabetizou quase de forma autodidata, somente aos quarenta e poucos anos, e em São Paulo passou a ganhar a vida fazendo vasos de plantas, cuja arte e engenharia presentes, espantariam qualquer artista ou engenheiro. Entretanto, o "Véio Chico" era um homem, até por força de uma existência sofrida, era um homem muito grosseiro com todos, incluindo aí netos, e tinha preconceito com os próprios netos. Embora todos os filhos fossem casados com também descendentes de europeus, ele tinha nítida predileção pelos que, como ele, ostentavam olhos claros. Eram dez os netos e quatro ou cinco tinham essa característica e gozavam de carinhos, agrados e até dinheiro por parte dele, o restante, incluso eu, eram ignorados, desprezados e até mesmo ofendidos. A única exceção era o mais velho, que mesmo não tendo olhos brilhosos, era tratado com a mesma deferência que os queridos, pelo fato de ser o primogênito.
As mulheres dessa época eram educadas para servir a seus maridos, e concordar com todas as suas decisões, sejam elas do caráter que fossem, então, enquanto ele viveu, ela simplesmente calava suas emoções com relação aos netos. Particularmente eu percebia uma afinidade maior dela comigo, mas que nunca era expressa por conta das predileções do marido. Mesmo assim, foi ela quem me incentivou a gostar de plantas, me ensinou os primeiros rudimentos para plantar e cuidar de flores, que eram sua maior paixão. 
Quando Francisco morreu, entretanto, ela sofreu uma transformação, ou melhor, passou a ser o que realmente era. E foi ai que nos conhecemos realmente, e surgiu entre nós uma enorme, uma maravilhosa, amizade e cumplicidade. Nos primeiros anos ela foi morar com uma filha, mas logo sentiu necessidade de ter seu próprio espaço. Assim, foi construída uma pequena casa de dois cômodos nos fundos do terreno do imóvel que fora construído por eles, mas que estava alugado. Era de bom senso ter alguém dormindo ali, lhe fazendo companhia a noite, até para eventuais emergências. O designado foi meu irmão borra-botas que ficou com medo de ela passar mal, então acabei sendo escolhido. E ai foram, sem a menor duvida, os melhor anos da minha existência. Se minha memória não falha, quase quatro, entre 1978 e 1982.
No pequeno quarto tínhamos nossas camas lado a lado e eu, ao chegar da rua ia para lá. Assistíamos juntos às gloriosas novelas das dez, particularmente "O Bem Amado", que ela adorava, e depois ficávamos sentados, cada um em sua cama, fumando e contando histórias. Eu adorava as histórias, ou causos, do interior, dos ladrões de cavalos, das lides na roça, das assombrações nos pastos, coisas assim. E, pasmem, em troca ela queria que eu lhe contasse, e com detalhes, minhas aventuras amorosas. Ela ria muito, e se eu, envergonhado omitia algum detalhe, ele ficava brava, me obrigando a detalhar. Ríamos muito. Ela era dona de um senso de humor impar, de uma compreensão das coisas do mundo como poucas pessoas, e jamais fez qualquer censura a nada, a ponto de, quando eu comecei a namorar, dormíamos espremidos na minha cama, com dona Izaura ao lado. Ela nunca fez qualquer censura ou comentário, como seria normal a alguém de sua geração.
Duas pequenas histórias dão exemplo disso. A primeira: naquela época não existiam baladas de amanhecer, as coisas, shows, bailes, tudo mais, acabavam no máximo as dez ou onze da noite, até porque não tinha transporte coletivo, então, era raro alguém passar a noite fora. Uma época eu tinha conhecido uma garota, que tinha uma profissão incomum: era puta, e trabalhava num puteiro do centro da cidade. E comecei a sair com ela depois do expediente. Numa sexta feira, decidi que iríamos a um hotel na região e lá ficamos até o meio dia do sábado. Não existia celulares, claro, e mesmo telefones fixos eram muito raros, portanto não tinha como avisar. Quando cheguei em casa, por volta de duas da tarde o alvoroço estava formado: minha mãe chorava, meu pai tinha ido à delegacia e estava naquele momento fora. Foi então quando expliquei que estava com uma namorada, que dona Izaura soltou ingenuamente: "É, Carlo, todo mundo aqui preocupado, e "ocê" lá gozando!" Todo mundo caiu na gargalhada e ela ficou com cara de pastel, já que não sabia o motivo das risadas, mas aquilo foi o que bastou para aliviar as tensões e me livrar de uma bela surra, que fatalmente meu amoroso pai me aplicaria, mesmo eu já com dezoito anos.
A outra situação inusitada aconteceu alguns anos depois, quando eu já namorava com minha primeira esposa. Ela, a vó, sempre dizia que o "véio", tinha sido o primeiro e único homem da vida dela, o que era comum naqueles tempos tão distantes. Ela havia me contado, por exemplo, que apesar de um brucutu, de um ogro com todos, nos momentos íntimos ele era extremamente carinhoso com ela, mas... Ela nunca tinha visto o pau de nenhum outro homem. Aliás, segundo ela, nem dele direito, pois sempre "faziam as coisas" no escuro. Foi ai que ela me fez o pedido: ela queria ver o pinto de outro homem, uma fotografia, claro. Caracoles, em 1981 não havia Internet e mesmo as revistas eróticas ainda eram bem brandas. Minha saída foi procurar uma banca de jornal e pedir... Uma revista "gay"... Agora, imaginem a cena: cheguei numa banca, pedi ao jornaleiro uma revista que tivesse fotos de homens com paus a mostra. E ainda tentando dar alguma justificativa, claro, com receio que o cara pensasse (Ingênuo) que eu fosse gay. O que eu podia falar: que minha avó nunca tinha visto um pau de outro homem? Claro que ia ficar pior. Bem, comprei a tal revista, coloquei dentro de uma fotonovela e levei para casa, mas não tive coragem de me sentar e mostrar. Pedi então a minha então namorada que mostrasse. E quase me mijei de rir na cozinha, escutando as risadas, os comentários e onomatopeias dela.
E há tantas outras, histórias de inteligência, de sapiência, de humor simples e ingênuo, como quando eu, já casado, recebi sua visita e fui preparar um suco de manga com leite e ela quase teve um infarto; mas a mais emocionante, e que eu jamais esquecerei, e que de alguma forma foi um dos meus maiores incentivos a nunca parar de escrever foi numa madrugada em que eu matraqueava minha máquina de escrever na mesa da cozinha e, de repente percebi sua presença, de camisola atrás de mim. Ela perguntou o que era que eu escrevia tanto, e eu lhe disse que era poesia. Ela não sabia o que era "poesia", e eu não sabia explicar, mas ela reagiu me dirigindo um olhar, como se entendesse o que era aquilo. E então me disse que gostaria de saber ler para entender o que era aquilo. Perguntei se queria que eu lesse, e ela me disse: "Não, não precisa, eu já entendi o que é. Isso é "ocê", Carlo!" 
Assim era dona Izaura Piccinini Lazarini, que morreu três dias depois do Natal, sem largar seu "pito", com suas mãos marrons de nicotina por esconder o cigarro, de edema pulmonar, e em quem todos os dias eu penso e lembro alguma passagem. De fato, posso dizer, a mulher mais poderosa e amorosa que conheci. E por horas lamento saber que há nada além da morte, e que portanto, nunca mais nos contaremos histórias, nunca mais nos sentaremos nas beiradas das camas até amanhecer o dia, rindo. 
Mas enquanto minhas carnes trafegarem por este mundo, ainda, graças a ela, saberei o que é poesia.

28/12/2018

Tenho Mais Amigos no Facebook que Poesias

Tenho Mais Amigos no Facebook que Poesias
Barata Cichetto



Acordo de madrugada com uma estrofe estampada no escuro. Tateio a mesinha de cabeceira e apanho o celular. Preciso anotar antes que o verso me suma da cabeça. Aproveitar a inspiração. Mas em lugar do Bloco de Notas uma Notificação. Abro o Facebook. Foi-se a poesia! Alguém ainda quer ser meu amigo? Tenho mais amigos no Facebook que Poesias.

04/09/2019

01/09/2019

Tudo Em Nome do Dever

Tudo Em Nome do Dever
Barata Cichetto


Eu não sei escrever, mas gosto de dizer que sei, e quem diz que gosta do que escrevo eu também gosto. Hoje não escrevi. Todos os dias escrevo alguma coisa, mesmo que seja qualquer coisa, mesmo que seja coisa à toda, ou até coisa boa. Mas hoje não escrevi nada. Não sabia o que escrever, sobre o que escrever; sobre cumprir comigo o meu dever. Não que eu deva escrever por dever, mas escrever por escrever. Nem que for para cego ver. Não sei se tem algo a ver com minhas crises de ansiedade, ou pela solidão desta cidade, mas decerto que pode haver algum motivo. E talvez esse motivo seja apenas o de eu me sentir vivo. É meu dever! Escrever?

31/08/2019

Pesadelos de Um Palhaço

Pesadelos de Um Palhaço
Barata Cichetto
The Midnight Clown - Mariano Villalba (Argentina)

Há um palhaço dentro de mim, picadeiro desfeito, que gargalha feito louco com sua roupa colorida, rosto pintado e um nariz de plástico vermelho. O palhaço quer rir, a platéia precisa de alegria, mas ele não consegue sair de dentro do picadeiro desfeito, de lona rasgada e diante de uma platéia que não lhe acha graça: o palhaço não consegue mais rir da sua própria desgraça.

29/08/2019

Nem às Paredes Confesso

Nem às Paredes Confesso
Barata Cichetto
Ao Amigo Carlos Antonio Custódio


Pinto paredes de preto, querem coloridas as paredes. Paredes entendem apenas de cor, não entendem de dor, confesso às paredes que gritam. Arranco pedaços de seu concreto e elas gritam, mas não é de dor, é por falta de cor. Atiro os pedaços nas vidraças incolores e elas berram em estilhaços: vidraças não têm cores. Saio descalço, pisando nos gritos das vidraças, contando minhas desgraças sem cores, pintando de cores vivas o asfalto tingido de preto. Sou pintor, tinjo paredes de preto e asfalto de vermelho. Asfalto não sente dor, mas as solas dos meus pés queimam. Não sou parede, não sou vidraça, não sou asfalto.

29/08/2019

A Democracia Que Desejam a Intercept, o Banco Santander e o Facebook Luiz Carlos Cichetto

A Democracia Que Desejam a Intercept, o Banco Santander e o Facebook
Luiz Carlos Cichetto


Um "amigo" ontem compartilhou uma postagem onde dizia que "a culpa dos incêndios na Amazônia era do seu voto". A publicação original era da IntercePT Brasil. Meu comentário: "Seu voto em 2002, 2006, 2010. É, seu voto em 1932". Bloqueei as  publicações da página em questão, sem qualquer comentário. E hoje recebo a informação do Facebook afirmando que eu me reportei com animosidade em relação a um anuncio da "IntercePT. Por coincidência, todas as ultimas postagens via fanpage que fiz nos últimos dias, foram bloqueadas, e até um link para o meu blog, feito numa postagem, que remetia a um texto sobre a banda Carro Bomba foi bloqueado.
Fora isso, há uns dias eu respondi num anuncio do Banco Santander que aquilo era forma deles arrecadarem informação, pois após colocar tudo o que foi pedido, a página do Banco não dava explicações e fechava o assunto. Também o tal banco reportou ao Facebook que eu agi com animosidade.
Estão os prints nesta publicação, se não for denunciada também.
- Coincidência ou não, nesta data a página "Barata Cichetto Escritor" atingiu 600 amigos.
- Sei bem quem é o denunciante. Nesta mesma semana li postagem dele incitando pessoas a denunciarem uma página. É um desses "Rockistas de Esquerda". Devidamente bloqueado.








Criado-Mudo

Criado-Mudo
Barata Cichetto
https://twitter.com/mulhernuanacama

Ela era incômoda feito uma cômoda antiga e cheia de cupim dentro do meu quarto. Me acomodei. Virei peça do mobiliário. Quase um criado-mudo onde ela guardava seu papel higiênico e suas calcinhas. Comodamente me fiz de imóvel como um móvel encardido de madeira antiga que um dia foi útil. Quieto apenas olhando a bagunça na cama ao lado e recebendo toda espécie de coisa sem uso em cima de mim. Criado-mudo me fiz de surdo. Até o dia em que o quarto ficou pequeno demais e a cômoda ficou tão incômoda que a coloquei na frente do portão. Que os cachorros mijem nela até que o lixeiro a carregue.

25/08/2019

Cabaré Pornopoético

Cabaré Pornopoético
Barata Cichetto

Minha poesia nasceu no meio das putas. E por elas. E para as elas. Minha primeira musa fazia ponto na Avenida São João. A partir daí, e lá se vão 45 anos, sempre foi assim: minhas musas sempre foram putas, mesmo que tenham sido esposas, ou foram esposas, mesmo sendo putas. Algo errado com isso? Errado chamar esposas de putas? Ou putas de esposas? Qual é a escolha certa? Minha poesia é das putas. E para as putas? Minhas lutas. Absolutas. Das putas. Pelas putas. As outras. São outras. Putas. Cansei de compor poemas no meio de outas bêbadas às três da manhã. E as três da tarde. Putas mijando de rir da minha poesia. E eu mijando na cara delas. Ejaculando poesia bem no meio dos seus peitos. Foram meu feitos. Eu era o poeta palhaço no meio do picadeiro. Do puteiro. E elas era putas querendo ser engraçadas. Desgraçadas. No meio do pardieiro. Elas eram putas e eu sobranceiro e fornido descendo as escadas como no Ulisses de Joyce. Eram tímidas aquelas putas da São João, eram temidas às da Radial. Fremidas as do meu quintal. Todas era putas e a todas eu beijei na boca. De todas chupei as bucetas. Mesmo das porcas fedidas cheirando a suor. Adelaide Carraro não mora mais aqui. O submundo da sociedade. Underground é coisa de inglês burguês. Punk de operário irlandês. E o bom Rock português? Em francês  pergunto os porquês. Nem quero saber em japonês. Em chinês ou em galês. Putas são putas em qualquer lugar do mundo. E também são putas os poetas do fim do mundo. Salope. Poète. Putas crentes são fedidas. Prefiro as arrependidas. Casei com duas. Detesto putas limpas. Porcas usando colares de diamante. E pulseira de barbante. De agora em diante. Caso apenas com poetas. Que são putas imundas. E gostam de bar suas bundas. Apenas para rimar. Vagabundas. Poetas são egoístas. Putas são artistas. Putas poetas são narcisistas. Maniqueístas. De agora em diante só caso com advogadas. São hedonistas. Por dever e profissão. Suas listas de leis, suas pistas e seus golpistas. Cansei de frígidas, de rígidas e de mal redigidas. Quero mulheres bem escritas, feito roteiros de cinema. Quero protagonistas. Quero mulheres bem elaboradas, ricas personalidades. Minha poesia nasceu no meio das putas. E no meio delas irá morrer. Comigo!

26/08/2019

Habeas Corpus

"Que tenhas o corpo", disse a advogada, em latim. E eu, usando de minhas prerrogativas pessoais prontamente, garantindo assim seus direitos individuais a possuí, sem abuso de poder e sem coação, dentro da legalidade. A cláusula pétrea do prazer, que garante a qualquer pessoa física  o direito de ir e vir, e também o direito de foder com quem e quando quiser é parte da declaração universal dos direitos humanos. Sem emenda, sem votação. Tesão não é democracia, é ditadura, eu disse a ela. E então a doutora me prendeu. Na cama. E me algemou. Na cadeira. E eu lhe disse: "que tenhas o corpo". E ela, com violência e abusando de sua autoridade e de seu diploma de safada me chupou. Apelei. Implorei por justiça. Por igualdade de direitos. Ela acatou meu pedido. Deferiu e levantou a saia: penetrei-lhe o rabo com base em toda a jurisprudência que eu tinha nesses casos. Ela disse: eu protesto, senhor Juiz. E eu disse: não sou juiz, sou Luiz. E sou inimputável, de acordo com lei de diretrizes das meretrizes. Ela apelou ao estado de necessidade, ao perdão judicial. E eu então lhe disse: perante a Lei todos são iguais, então gozemos juntos antes de terminar este tribunal. Aleguemos legítima defesa, e na reincidência, motivos de consciência. Sem dolo e sem perdão. Consumado está. E agora, nos resta apenas vestir nossas roupas e sair. Lá fora há uma penitenciária nos esperando, condenados que fomos por crime continuado. Hediondo. Culposo.

22/08/2019

Filosofia de Quintal

Filosofia de Quintal
Barata Cichetto

Gosto mesmo é da filosofia de quintal, daqueles de cimentado rachado ou forrado de mármore. Filosofia de varal, onde expomos nossas roupas velhas, sujas e rasgadas; roupas íntimas com marcas de sexo; mal lavadas, desbotadas. Dispostas na corda, sob os olhares curiosos de vizinhos inescrupulosos, voyeurs e sádicos. A filosofia de varal é a legítima, aquela que está nas casas tanto dos pobres, com seus quintais minúsculos em subúrbios, quanto dos ricos com seus quintais de mansões. A filosofia de quintal não faz diferença, não gera diferenças e não respeita crenças. Está no quintal do ateu e do pastor, no quintal dos presidentes e dos sem dentes; no quintal das bruxas e das xuxas. A verdade está lá fora, no quintal.  Não credito em filosofia de sala de estar, de televisão, de Youtube, mas na que é dita no meio de um churrasco, de uma reunião de bêbados, ou mesmo de freiras descalças, falando das desgraças. Filosofia de varal, como roupa que cai com o vento; filosofia de varal, que sai com o tempo. Que gatos arranham e cachorros mijam em cima. Há filosofia no quintal. Há filosofia no varal. De moços letrados e idosos analfabetos; de moças menstruadas a machos com gonorréia. Ha filosofia no fundo do quintal, no barracão de ferramentas, ou na beira da piscina, onde doze putas abraçam o pedreiro da construção ou o dono da mansão. Há filosofia no quintal, de terra batida, de concreto protendido, de cacos de cerâmica ou de mármore carrara. Há filosofia em qualquer quintal. Nos livros há a ideia, no quintal o pensamento; nos livros a fórmula, no quintal o produto final. No quintal se planta, no quintal se colhe; no quintal se toma sol, no quintal se toma chuva; no quintal se bebe e se come, no quintal se suja e se limpa; no quintal se mostra, no quintal se vê. Não há filosofia nas aulas de faculdade, nem nos discursos políticos; não há filosofia nas bibliotecas, nem nas escolas; não há filosofia nos balcões de bar, nem nas salas de estar. Não há filosofia em nenhum lugar, a não ser no quintal.

23/08/2019

Os Canibais Suicidas

Os Canibais Suicidas
Barata Cichetto


Então ela me pediu; "Me come!" E eu comi. Com açúcar e leite condensado. Comi com gosto, como gosto de comer. E comi primeiro seus braços, de carne mais seca, depois as pernas e o tronco. Depois comi os olhos que são bem salgados e o cérebro que é bem doce. Deixei por fim os seios e as nádegas, moles e suculentas, com um pouco de limão e umas gotas de gengibre. Comi tudo. Lambi o tutano dos ossos. As tripas joguei para os cachorros, que, aliás, eram dela mesmo e viviam cheirando. Sobrou apenas a buceta, que guardei debaixo do meu travesseiro, e o coração que guardei na geladeira para comer mais tarde. A língua foi a única coisa que desperdicei: coloquei no triturador da pia da cozinha. Agora estou me sentindo mal, não sei se é indigestão, que aquela porra de mulher era uma criatura totalmente indigesta, ou se é por causa do leite condensado, que acho que estava vencido. Acho que vou vomitar. Preciso de um médico... Estou passando muito mal, acho que estou com febre. Ó.... Estou me torcendo de dor. Dói em tudo quanto é lugar. Já vomitei até as tripas. Os cachorros estão lambendo também. Desgraçada! Eu sabia que estava fácil demais quando ela me pediu para comê-la. Devia estar envenenada. Vai ver até tinha tentado suicidar e quis me levar com ela. Vagabunda de uma figa. Agora vou sair, vê se encontro alguma mulher bem filha da puta e dizer para ela me comer. Será que dá certo?

23/08/2019

Barata: Biografia Brutal

Barata: Biografia Brutal
(Um Falso Texto Sobre Pessoas Verdadeiras)
Barata Cichetto


Quem sou eu? Sou Barata porque assim me chamaram. Com minúsculas. Depois dei uma de bacana, criei um site e botei um artigo na frente e o substantivo transformei em nome e em adjetivo. Sou  Barata e fui batizado Luiz Carlos, pelo meu pai escroto que odiava o Prestes e quis se vingar em mim.  Sou Barata e mais que isso sou desigual. Feito barata branca, que é assim por ser albina. Sou diferente. Não busco a igualdade na humanidade. Ninguém é igual. Busco a desigualdade como fim social. Sou anormal. Já fui chamado de tudo: de filho da puta por ser um e de filho da puta de bom. "Ai quero mais seu filho da puta. Me fode, seu filho da puta!" Fui chamado Baratinha por amigos chegados e Baratão por amigas fudidas! Nunca fodi com amigas. Não misturo negócios. Casei quatro vezes. Todas as quatro de supetão. Elas queriam e eu não. Mas casei. Trepei. Fiz filhos que hoje chamam Lula de pai. Nunca fodi com viado. Nem dei o rabo, por falta de vontade. Ou seria de oportunidade, ainda não sei direito. De qualquer forma já fui chamado de bicha, de tarado, de viciado. Detesto maconha, mas já fui chamado de maconheiro. Sempre fui fiel a uma única puta. Acredito que nem todas as mulheres são putas, apenas minha mãe e as que se casaram comigo, ou que me deram a buceta. O resto são santas. Já fui cafetão. Já fui cristão. Nunca fui ladrão. Deus é uma piada de mau gosto. Nem gosto de piadas. Sou mal humorado. Fumo três maços de cigarro e com isso morrer de câncer é uma lógica. Mas quem sabe antes. De tiro na testa. Ou de desgosto. Sou anticomunista. Conservador no que me interessa conservar. Sou contra o aborto, mas por nenhuma questão religiosa. O corpo lhe pertence, feminista imbecil, mas a criança dentro da porra do seu útero não é corpo seu. Então, por que deu? Não é meu. Não fui eu. Fiz vasectomia aos trinta. Foda-se a humanidade. Sou misógino, misantropo e até miss Brasil se achar que isso não afeta sua autoestima. Me chamem do que quiserem. Não luto contra a humanidade, mas muito menos por ela. Sou individualista, mas não egoísta: aprenda a diferença crucial. Nunca fui crucificado, só apedrejado. Nasci no dia de Natal. Do anticristo. Mas não sou demônio. Sou um moleque de sessenta. Sou o que escarra na tua cara, o que cospe no próprio rosto e o que esporra na tua cara e depois te mostra a face no espelho toda gozada. Tem nojo? Então engole. Tudo. E ainda quer mais? Mais de mim? Vai comprar na padaria. Compra uma dúzia de sonhos, depois me lambe feito aquele creme. Como disse, sou Barata, mas não qualquer Barata, aquela sobe nas tuas costas e que voa no seu quarto numa noite escura. Te assusto? Não tenha medo. Mais que rima poética medo é um segredo que não se conta. O medo que se aponta. Esqueci-me de dizer que sou um bosta. E de quem gosta um manjar. Me chama pra jantar? Prometo me comportar. Sei usar os talheres. E prometo não peidar durante a janta. Só arrotar. Mas sei segurar a faca com a mão direita e o garfo com a esquerda. E diferenciar copo de vinho do de requeijão. Sou sofisticado quando quero. Não prometo mais nada. Nem que não vou querer te foder sobre a toalha de cetim quando acabarmos de jantar. Sou assim: uma agulha que pode te furar ou te costurar a pele. Bordar até. E prometo não te chamar de puta, não te chamar de santa. E nem de mãe. Prometo te chamar. Para ir beber, para foder, para conversar sobre teus gatos e nossos gastos. Falar sobre tua menstruação e minha constipação. Quero poder segurar tua mão para descer do ônibus e abrir a porta do carro, sem com isso querer te comer. Quero te comer sem precisar fazer nada disso. E fazer tudo isso apenas por querer. Gosto de te agradar. Sou saudosista. Queria estar à meia noite em Paris ou em Lisboa. Fumando ópio com Baudelaire ou na Tabacaria com Pessoa. Sou ator. Cantor. Sou idoso. Alto, magro e gostoso. Cabeludo e barbudo. Tesudo. Tenho pau grande. Gosto de oral. Lá e cá. Laika? Sou laico. Bardo. Tenho Facebook, Whatsapp, Instagram. Só não tenho dinheiro. Se cobra pra trepar eu pago com poesia. Ou com orgasmos líquidos. O que é a mesma coisa. Escrevo poesia com a língua na tua depilada. Ou com meu canivete nas tuas costas. Topas? Te espero na esquina. Só até amanhã. De manhã. De short desfiado com a polpa da bunda de fora. Sei esperar. Mas só um minuto. Quer um gozo líquido? Pergunte-me como. Enfim, sou Barata, já fiz de tudo. Até amor. Já fui tudo, menos santo. Já fui. Agora sou. E se quiser saber mais de mim veja as rugas no meu rosto, que são minhas cicatrizes. Atrizes do desgosto. Quer saber o que eu sou? Não seja eu e eu serei seu. 

18/08/2019

19/08/2019

Putas de Araraquara no Xvideos

Putas de Araraquara no Xvideos
Barata Cichetto


Era uma madrugada fria na normalmente quente Araraquara. Eu não conseguia dormir e liguei o computador.  Depois de andar por sites de vídeos pornográficos e outros de garotas de programas decidi escrever. Mas, sem nada na cabeça, a não ser putaria, sobre o que poderia escrever? Claro, putaria! 
Ando com o saco cheio de escrever putaria. Putaria, só putaria, sacanagem, pau no cu, pau na buceta. Um monte de bandalheira pornográfica que só serve pra encher linguiça e quem sabe fazer algum punheteiro soltar a imaginação, ou até mesmo e quem dera, alguma mulher soltar o dedo. Ademais para mais nada.
Fiquei olhando para a tela do computador e mexendo os dedos pensando sobre o que iria escrever. Eu tinha visto um monte de cenas muito tesudas nos vídeos e fiquei excitado, de pau duro, mesmo. Então pensei que o lógico seria escrever sobre o quanto eu ficava com tesão vendo gente se comendo, se fodendo, se chupando em vídeos pornôs. O Xvideos é pura poesia, neguim! 
Pensei e descrever alguns vídeos, depois criar alguma história engraçada sobre eles, mas aquilo é poesia, como eu já disse, e poesia não tem a menor graça. Coisas que deixam a gente de pau duro não tem a mínima graça. E poesia, nem a erótica, deixa ninguém de pau duro. A não ser algum poeta pau no cu, frustrado. Ficar de pau duro com poesia é de cair o cu de dentro das calças. Poesia é coisa de cara que não trepa. Quem trepa não tem tempo de pensar em poesia. Aliás, nem lembro mais quando trepei... Acho que foi a semana passada. Ou o mês passado? Que diferença faz quando foi? E nem lembro se foi bom. Acho que não, se tivesse sido eu iria lembrar. 
Porra, ninguém mais trepa nessa porra de planeta sem filmar? Caras de pau mole enfiando em bucetas secas, e mulheres olhando pra câmera. E o tesão donde que fica? Na pica é que não é. Nem na buceta! Fica na greta. Na grelha. Na telha.
Antes era melhor: a gente pegava o telefone e ligava pra uma puta e fazia a festa. Agora só bate punheta olhando gente sem graça, fazendo sexo sem graça. Parece até poesia isso. 
E assim se foi a madrugada. Não comi ninguém, nem bati punheta, mas em compensação estou terminando este texto e preciso dormir. Acabei nem escrevendo porra nenhuma. Nada do que está escrito tem graça, nada foi dito e nada foi lido. É tudo virtual nesse mundo de mentiras. Amanhã vou escrever uma poesia erótica, tá?

19/08/2019

17/08/2019

Eu Só Queria Fumar Um Cigarro

Eu Só Queria Fumar Um Cigarro
Barata Cichetto

O portão da rua, de ferro fundido e com um cadeado de aço parece tão distante visto da janela do meu quarto. Escuto cachorros ladrando insuportáveis na rua. Tento fumar. Pego e cigarro e coloco automaticamente na boca. O isqueiro não funciona. Agora não tem mais jeito. Tenho que atravessar o corredor de cimento cheio de musgo que separa minha porta e chegar até a saída de casa. Insuportáveis vinte metros. Insuportável caminho até a rua. Moro nos fundos. Nos fundos do mundo. Ainda penso. E saio sem fechar a porta. Os cachorros ainda ladram e me olham com medo e ódio. É quase a mesma coisa. Olho para o topo da rua e tento calcular quantos minutos sobre aquele asfalto quente eu terei que caminhar até chegar o supermercado onde uma atendente horrorosa vai passar o código de barras na leitora e pegar o dinheiro sem nem olhar na minha cara. O pior é tudo isso sem poder acender meu cigarro. Sem fumaça para respirar. A não ser a dos carros dirigidos por motoristas esnobes que passam cheios de empáfia dentro daquelas latas com rodas. E feito a gorda horrorosa do mercado sem olhar para mim. Sou um perdedor. Nem motoristas de carros ou caixas de supermercados olham na minha cara. Fosse eu um sujeito endinheirado e me ofereceriam carona nos carros e aquela escrota sebenta do mercado iria esfregar aquela buceta fedorenta na minha cara. Eu não preciso de um carro brilhoso que tenho dois pés. E nem da buceta sebosa daquela nojenta caixa de supermercado que tenho uma mão. Posso ser um perdedor. Um perdedor que ainda tem pés e mãos. Então posso ser um perdedor e andar e me masturbar. Eu só quero fumar. Não quero perder nem ganhar. Fodam-se a gordeta escrota com cara grudenta do supermercado que conta as moedas como se fossem pedaços de merda. E fodam-se os carros e seus motoristas automáticos que contam merda como se fossem moedas. Cheguei ao supermercado que de super tem nada e fui direto ao balcão. Pedi um isqueiro. Vermelho ou preto que tenho preconceito contra isqueiro branco. Todo mundo rouba isqueiro branco. Não tinha. Só branco mesmo. Só tinha branco naquele mercado. Me dei conta que não tenho ninguém que possa roubar meu isqueiro. Nem sendo branco. Aceitei. Eu só queria mesmo era acender a porra do meu cigarro. Tirei o sacana da embalagem de plástico e puxei um cigarro do maço e porra da vendedora que acho que era magrela e quase careca quase arrancou o cigarro da minha mão. Eu só queria acender a porra do meu cigarro. Tinha que esperar a rua. Que era distante e tinha um cimentado gasto e era cheio de musgo com um monte de carros cor de bosta dirigidos por gordas suarentas e magrelas carecas. Na saída do mercado tinha um portão. Estava trancado. Por fora. Então eu perdi. Sentei no chão de cimentado gasto e cheio de musgo verde e acendi meu cigarro. Ganhei!

17/08/2019