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04/09/2019

A Mulher Que Me Ensinou o Que é Poesia (E Outros Amores)

A Mulher Que Me Ensinou o Que é Poesia (E Outros Amores)
Luiz Carlos Cichetto




Há exatos 36 anos, no dia 28 de Dezembro de 1982, eu perdia uma das pessoas mais importantes e queridas, e em que todos os dias desses anos eu recordo.
No dia de Natal foi a ultima vez que a vi, ela estava triste, ao contrário do que sempre era. O médico tinha mandado parar de fumar, pois seu pulmão estava fraco demais. E ela disse que não conseguia, pois afinal fumava há mais de sessenta anos, e ademais, dizia que não via mais motivos para continuar, pois já tinha perdido o marido e um filho.
Entretanto, o que me marcou foi as ultimas coisas que escutei dela, em meio a uma brincadeira: que ela jamais conheceria um bisneto de minha parte. Ela sempre dizia isso, mas naquele momento soou diferente, afinal eu tinha me casado no início daquele ano, então, a qualquer momento eu poderei ser pai. Ah, sim, não era tão comum naqueles longínquos anos 1980 as pessoas serem pais e mães sem terem família formada. Ela morreria depois de três dias, e cerca de uma semana depois minha então esposa ficaria grávida de meu primeiro filho.
Nascida nos primeiros anos do século XX, na cidade de Jacobicabal, interior de São Paulo, Izaura Piccinini, era irmã gêmea de Izabel, de uma família numerosa. Anos mais tarde conheceu um mineiro, também filho de italianos, loiro e de olhos claros e se casaram. Foram seis filhos alimentados durante muitos anos com o trabalho na roça, como colonos de fazenda, na região de São José do Rio Preto, Catanduva. No final dos anos 1940, inicio dos 50, não estou bem certo, se mudaram para a Capital com o intuito de dar estudos e melhores condições aos filhos. Sempre moraram na região da Penha e Tatuapé.
Analfabeta, Izaura tinha uma sagacidade e uma inteligência enormes, mas que eram sufocadas pelo marido. Francisco foi um homem brilhante, inteligente, que se semi-alfabetizou quase de forma autodidata, somente aos quarenta e poucos anos, e em São Paulo passou a ganhar a vida fazendo vasos de plantas, cuja arte e engenharia presentes, espantariam qualquer artista ou engenheiro. Entretanto, o "Véio Chico" era um homem, até por força de uma existência sofrida, era um homem muito grosseiro com todos, incluindo aí netos, e tinha preconceito com os próprios netos. Embora todos os filhos fossem casados com também descendentes de europeus, ele tinha nítida predileção pelos que, como ele, ostentavam olhos claros. Eram dez os netos e quatro ou cinco tinham essa característica e gozavam de carinhos, agrados e até dinheiro por parte dele, o restante, incluso eu, eram ignorados, desprezados e até mesmo ofendidos. A única exceção era o mais velho, que mesmo não tendo olhos brilhosos, era tratado com a mesma deferência que os queridos, pelo fato de ser o primogênito.
As mulheres dessa época eram educadas para servir a seus maridos, e concordar com todas as suas decisões, sejam elas do caráter que fossem, então, enquanto ele viveu, ela simplesmente calava suas emoções com relação aos netos. Particularmente eu percebia uma afinidade maior dela comigo, mas que nunca era expressa por conta das predileções do marido. Mesmo assim, foi ela quem me incentivou a gostar de plantas, me ensinou os primeiros rudimentos para plantar e cuidar de flores, que eram sua maior paixão. 
Quando Francisco morreu, entretanto, ela sofreu uma transformação, ou melhor, passou a ser o que realmente era. E foi ai que nos conhecemos realmente, e surgiu entre nós uma enorme, uma maravilhosa, amizade e cumplicidade. Nos primeiros anos ela foi morar com uma filha, mas logo sentiu necessidade de ter seu próprio espaço. Assim, foi construída uma pequena casa de dois cômodos nos fundos do terreno do imóvel que fora construído por eles, mas que estava alugado. Era de bom senso ter alguém dormindo ali, lhe fazendo companhia a noite, até para eventuais emergências. O designado foi meu irmão borra-botas que ficou com medo de ela passar mal, então acabei sendo escolhido. E ai foram, sem a menor duvida, os melhor anos da minha existência. Se minha memória não falha, quase quatro, entre 1978 e 1982.
No pequeno quarto tínhamos nossas camas lado a lado e eu, ao chegar da rua ia para lá. Assistíamos juntos às gloriosas novelas das dez, particularmente "O Bem Amado", que ela adorava, e depois ficávamos sentados, cada um em sua cama, fumando e contando histórias. Eu adorava as histórias, ou causos, do interior, dos ladrões de cavalos, das lides na roça, das assombrações nos pastos, coisas assim. E, pasmem, em troca ela queria que eu lhe contasse, e com detalhes, minhas aventuras amorosas. Ela ria muito, e se eu, envergonhado omitia algum detalhe, ele ficava brava, me obrigando a detalhar. Ríamos muito. Ela era dona de um senso de humor impar, de uma compreensão das coisas do mundo como poucas pessoas, e jamais fez qualquer censura a nada, a ponto de, quando eu comecei a namorar, dormíamos espremidos na minha cama, com dona Izaura ao lado. Ela nunca fez qualquer censura ou comentário, como seria normal a alguém de sua geração.
Duas pequenas histórias dão exemplo disso. A primeira: naquela época não existiam baladas de amanhecer, as coisas, shows, bailes, tudo mais, acabavam no máximo as dez ou onze da noite, até porque não tinha transporte coletivo, então, era raro alguém passar a noite fora. Uma época eu tinha conhecido uma garota, que tinha uma profissão incomum: era puta, e trabalhava num puteiro do centro da cidade. E comecei a sair com ela depois do expediente. Numa sexta feira, decidi que iríamos a um hotel na região e lá ficamos até o meio dia do sábado. Não existia celulares, claro, e mesmo telefones fixos eram muito raros, portanto não tinha como avisar. Quando cheguei em casa, por volta de duas da tarde o alvoroço estava formado: minha mãe chorava, meu pai tinha ido à delegacia e estava naquele momento fora. Foi então quando expliquei que estava com uma namorada, que dona Izaura soltou ingenuamente: "É, Carlo, todo mundo aqui preocupado, e "ocê" lá gozando!" Todo mundo caiu na gargalhada e ela ficou com cara de pastel, já que não sabia o motivo das risadas, mas aquilo foi o que bastou para aliviar as tensões e me livrar de uma bela surra, que fatalmente meu amoroso pai me aplicaria, mesmo eu já com dezoito anos.
A outra situação inusitada aconteceu alguns anos depois, quando eu já namorava com minha primeira esposa. Ela, a vó, sempre dizia que o "véio", tinha sido o primeiro e único homem da vida dela, o que era comum naqueles tempos tão distantes. Ela havia me contado, por exemplo, que apesar de um brucutu, de um ogro com todos, nos momentos íntimos ele era extremamente carinhoso com ela, mas... Ela nunca tinha visto o pau de nenhum outro homem. Aliás, segundo ela, nem dele direito, pois sempre "faziam as coisas" no escuro. Foi ai que ela me fez o pedido: ela queria ver o pinto de outro homem, uma fotografia, claro. Caracoles, em 1981 não havia Internet e mesmo as revistas eróticas ainda eram bem brandas. Minha saída foi procurar uma banca de jornal e pedir... Uma revista "gay"... Agora, imaginem a cena: cheguei numa banca, pedi ao jornaleiro uma revista que tivesse fotos de homens com paus a mostra. E ainda tentando dar alguma justificativa, claro, com receio que o cara pensasse (Ingênuo) que eu fosse gay. O que eu podia falar: que minha avó nunca tinha visto um pau de outro homem? Claro que ia ficar pior. Bem, comprei a tal revista, coloquei dentro de uma fotonovela e levei para casa, mas não tive coragem de me sentar e mostrar. Pedi então a minha então namorada que mostrasse. E quase me mijei de rir na cozinha, escutando as risadas, os comentários e onomatopeias dela.
E há tantas outras, histórias de inteligência, de sapiência, de humor simples e ingênuo, como quando eu, já casado, recebi sua visita e fui preparar um suco de manga com leite e ela quase teve um infarto; mas a mais emocionante, e que eu jamais esquecerei, e que de alguma forma foi um dos meus maiores incentivos a nunca parar de escrever foi numa madrugada em que eu matraqueava minha máquina de escrever na mesa da cozinha e, de repente percebi sua presença, de camisola atrás de mim. Ela perguntou o que era que eu escrevia tanto, e eu lhe disse que era poesia. Ela não sabia o que era "poesia", e eu não sabia explicar, mas ela reagiu me dirigindo um olhar, como se entendesse o que era aquilo. E então me disse que gostaria de saber ler para entender o que era aquilo. Perguntei se queria que eu lesse, e ela me disse: "Não, não precisa, eu já entendi o que é. Isso é "ocê", Carlo!" 
Assim era dona Izaura Piccinini Lazarini, que morreu três dias depois do Natal, sem largar seu "pito", com suas mãos marrons de nicotina por esconder o cigarro, de edema pulmonar, e em quem todos os dias eu penso e lembro alguma passagem. De fato, posso dizer, a mulher mais poderosa e amorosa que conheci. E por horas lamento saber que há nada além da morte, e que portanto, nunca mais nos contaremos histórias, nunca mais nos sentaremos nas beiradas das camas até amanhecer o dia, rindo. 
Mas enquanto minhas carnes trafegarem por este mundo, ainda, graças a ela, saberei o que é poesia.

28/12/2018

Tenho Mais Amigos no Facebook que Poesias

Tenho Mais Amigos no Facebook que Poesias
Barata Cichetto



Acordo de madrugada com uma estrofe estampada no escuro. Tateio a mesinha de cabeceira e apanho o celular. Preciso anotar antes que o verso me suma da cabeça. Aproveitar a inspiração. Mas em lugar do Bloco de Notas uma Notificação. Abro o Facebook. Foi-se a poesia! Alguém ainda quer ser meu amigo? Tenho mais amigos no Facebook que Poesias.

04/09/2019

01/09/2019

Tudo Em Nome do Dever

Tudo Em Nome do Dever
Barata Cichetto


Eu não sei escrever, mas gosto de dizer que sei, e quem diz que gosta do que escrevo eu também gosto. Hoje não escrevi. Todos os dias escrevo alguma coisa, mesmo que seja qualquer coisa, mesmo que seja coisa à toda, ou até coisa boa. Mas hoje não escrevi nada. Não sabia o que escrever, sobre o que escrever; sobre cumprir comigo o meu dever. Não que eu deva escrever por dever, mas escrever por escrever. Nem que for para cego ver. Não sei se tem algo a ver com minhas crises de ansiedade, ou pela solidão desta cidade, mas decerto que pode haver algum motivo. E talvez esse motivo seja apenas o de eu me sentir vivo. É meu dever! Escrever?

31/08/2019

Pesadelos de Um Palhaço

Pesadelos de Um Palhaço
Barata Cichetto
The Midnight Clown - Mariano Villalba (Argentina)

Há um palhaço dentro de mim, picadeiro desfeito, que gargalha feito louco com sua roupa colorida, rosto pintado e um nariz de plástico vermelho. O palhaço quer rir, a platéia precisa de alegria, mas ele não consegue sair de dentro do picadeiro desfeito, de lona rasgada e diante de uma platéia que não lhe acha graça: o palhaço não consegue mais rir da sua própria desgraça.

29/08/2019

Foda-se, Facebook!

Foda-se, Facebook!
Barata Cichetto



Na casa do F azul, tudo que o que eu digo é: 

Foda-se, Facebook! Farsantes facínoras da fé fácil. Foda-se, Facebook! Falsos, falastrões e fingidos. Foda-se com F, que é facil falar falsidades e fazer falsetas. Foda-se Facebook! Fodam-se, fedorentos e frescos, fodam-se, fiscais. Ah, foda-se, Facebook! Foi foda fazer, aí fizeram festa. Foderam a federação, falsificaram a felicidade, ferraram a fidelidade. Facilitaram a foice, faliram a fiança. Fizeram feio, fomentaram falência, ferveram fetos. Foda-se, Facebook, faccção da farsa. Foda-se, Facebook! Filhosdaputa! Foda-se, Facebook! Fui fumar!

29/08/2019

Nem às Paredes Confesso

Nem às Paredes Confesso
Barata Cichetto
Ao Amigo Carlos Antonio Custódio


Pinto paredes de preto, querem coloridas as paredes. Paredes entendem apenas de cor, não entendem de dor, confesso às paredes que gritam. Arranco pedaços de seu concreto e elas gritam, mas não é de dor, é por falta de cor. Atiro os pedaços nas vidraças incolores e elas berram em estilhaços: vidraças não têm cores. Saio descalço, pisando nos gritos das vidraças, contando minhas desgraças sem cores, pintando de cores vivas o asfalto tingido de preto. Sou pintor, tinjo paredes de preto e asfalto de vermelho. Asfalto não sente dor, mas as solas dos meus pés queimam. Não sou parede, não sou vidraça, não sou asfalto.

29/08/2019

Carta Aos Pequenos Ditadores Filhos do Nove Dedos

Eu tinha escrito esse poema esta madrugada. Pretendia publicá-lo eventualmente, mas em vista do torpedeamento covarde do Facebook e seus ascelas da IntercePT , apoiados pelo dinheiro sujo do Banco Santander, creio que vem a calhar.



Carta Aos Pequenos Ditadores Filhos do Nove Dedos
Barata Cichetto, Luiz Carlos Cichetto, Luiz Carlos Giraçol Cichetto e todos os nomes pelos quais queiram enterrar.

Falam por aí que eu sou poeta autodidata,
E nas suas falsas modéstias de longa data,
Afirmam que suas faculdades são idôneas,
E, portanto jamais fariam poesias errôneas.

Falam por aí, mas nem por isso estão certos,
Que eu desconheço regras e acentos corretos,
E então pergunto sobre o acento em urubu,
Que na minha poesia o assento é do seu cu.

Falam e até confessam nunca os terem lido,
Poemas que escrevi antes de eu ter nascido.
Cantam faculdades, de letras e de comunismos,
Esquecendo que poemas são puros organismos.

Falam aí sobre escritor com universitária formação,
E eu, doutor, gargalho de sua doutrinária erudição.
Sua ignorância é até maior que sua hipocrisia,
Então pergunto que diploma precisa a poesia.

Falam com as bocas cheias de esterco autoritário,
Condenando com a palavra errada o hereditário,
E eu, que nada tenho de posse além de minha arte,
Passo fome por não receber o que é da minha parte.

Falam por aí sobre justiça com valores invertidos,
E defendem a carniça e seus mentores pervertidos.
Pois que eu digo que não há social sem o trabalho,
E que qualquer preconceito é moral e não ato falho.

Falam por aí com a boca cheia de alheio dinheiro,
Que arte é coletivo, que seu mestre é companheiro,
Enquanto eu dono da minha própria consciência,
Criei a minha própria filosofia, política e ciência.

Falam de mim por aí, até um tanto indecorosos,
Apenas tolos casados com políticos habilidosos.
E eu, quase analfabeto, de pai, de mãe e de puta,
Crio meu próprio alfabeto falando da minha luta.

Falam por aí, que estudaram literatura complexa,
Que aprenderam regras de semântica circunflexa,
Contam que cheiraram Baudelaire e comeram merda,
E eu lhes digo que poesia não se cheira, nem se herda.

Falam por aí, que poeta nem mesmo é escritor,
Respondo apenas: sou da palavra um escultor.
E aos que reclamam por eu ser chamado de Barata,
Digo que maldita é tua língua, aquela que me mata.

Falam por aí sobre o direito que têm à liberdade,
Mas esquecem de que o dever é o pilar da sociedade.
E eu, cujo direito ao respeito foi por eles revogado,
Tenho apenas eu mesmo por mim como advogado.

Falam com suas bocas que fumam a maconha,
Que o comunismo é a realidade do que sonha,
Alimentando o banquete do traficante estrangeiro,
Que derruba matas e chama índio de companheiro.

Falam e cospem em mim por não ter um diploma,
E digo que da sua doença eu não tenho o sintoma.
Sou formado nas esquinas pelas putas e escritores,
E não preciso de suas escolas criadas por ditadores.

Falam de mim, tiram minha nota do literário concurso,
E depois pagam por seu trabalho de conclusão de curso.
Meu diploma é de doutor, sou mestre de mim somente,
Um poeta analfabeto, e o único senhor da minha mente.

Falam de mim e nem sabem ser pai, nem artista,
E chamam de pai o ladrão e de mãe a terrorista.
Pensam que nasceram do ovo e que a mãe é santa,
Enquanto preciso esperar o almoço sem ter a janta.

Falam demais porque sua língua não cabe na cavidade,
E desconhecem as leis do retorno, e até a da gravidade.
Mas eu, que uma sepultura terei por moradia em breve,
Espero apenas que a morte a mim não entre em greve.

28/08/2019

A Democracia Que Desejam a Intercept, o Banco Santander e o Facebook Luiz Carlos Cichetto

A Democracia Que Desejam a Intercept, o Banco Santander e o Facebook
Luiz Carlos Cichetto


Um "amigo" ontem compartilhou uma postagem onde dizia que "a culpa dos incêndios na Amazônia era do seu voto". A publicação original era da IntercePT Brasil. Meu comentário: "Seu voto em 2002, 2006, 2010. É, seu voto em 1932". Bloqueei as  publicações da página em questão, sem qualquer comentário. E hoje recebo a informação do Facebook afirmando que eu me reportei com animosidade em relação a um anuncio da "IntercePT. Por coincidência, todas as ultimas postagens via fanpage que fiz nos últimos dias, foram bloqueadas, e até um link para o meu blog, feito numa postagem, que remetia a um texto sobre a banda Carro Bomba foi bloqueado.
Fora isso, há uns dias eu respondi num anuncio do Banco Santander que aquilo era forma deles arrecadarem informação, pois após colocar tudo o que foi pedido, a página do Banco não dava explicações e fechava o assunto. Também o tal banco reportou ao Facebook que eu agi com animosidade.
Estão os prints nesta publicação, se não for denunciada também.
- Coincidência ou não, nesta data a página "Barata Cichetto Escritor" atingiu 600 amigos.
- Sei bem quem é o denunciante. Nesta mesma semana li postagem dele incitando pessoas a denunciarem uma página. É um desses "Rockistas de Esquerda". Devidamente bloqueado.








Criado-Mudo

Criado-Mudo
Barata Cichetto
https://twitter.com/mulhernuanacama

Ela era incômoda feito uma cômoda antiga e cheia de cupim dentro do meu quarto. Me acomodei. Virei peça do mobiliário. Quase um criado-mudo onde ela guardava seu papel higiênico e suas calcinhas. Comodamente me fiz de imóvel como um móvel encardido de madeira antiga que um dia foi útil. Quieto apenas olhando a bagunça na cama ao lado e recebendo toda espécie de coisa sem uso em cima de mim. Criado-mudo me fiz de surdo. Até o dia em que o quarto ficou pequeno demais e a cômoda ficou tão incômoda que a coloquei na frente do portão. Que os cachorros mijem nela até que o lixeiro a carregue.

25/08/2019

Cabaré Pornopoético

Cabaré Pornopoético
Barata Cichetto

Minha poesia nasceu no meio das putas. E por elas. E para as elas. Minha primeira musa fazia ponto na Avenida São João. A partir daí, e lá se vão 45 anos, sempre foi assim: minhas musas sempre foram putas, mesmo que tenham sido esposas, ou foram esposas, mesmo sendo putas. Algo errado com isso? Errado chamar esposas de putas? Ou putas de esposas? Qual é a escolha certa? Minha poesia é das putas. E para as putas? Minhas lutas. Absolutas. Das putas. Pelas putas. As outras. São outras. Putas. Cansei de compor poemas no meio de outas bêbadas às três da manhã. E as três da tarde. Putas mijando de rir da minha poesia. E eu mijando na cara delas. Ejaculando poesia bem no meio dos seus peitos. Foram meu feitos. Eu era o poeta palhaço no meio do picadeiro. Do puteiro. E elas era putas querendo ser engraçadas. Desgraçadas. No meio do pardieiro. Elas eram putas e eu sobranceiro e fornido descendo as escadas como no Ulisses de Joyce. Eram tímidas aquelas putas da São João, eram temidas às da Radial. Fremidas as do meu quintal. Todas era putas e a todas eu beijei na boca. De todas chupei as bucetas. Mesmo das porcas fedidas cheirando a suor. Adelaide Carraro não mora mais aqui. O submundo da sociedade. Underground é coisa de inglês burguês. Punk de operário irlandês. E o bom Rock português? Em francês  pergunto os porquês. Nem quero saber em japonês. Em chinês ou em galês. Putas são putas em qualquer lugar do mundo. E também são putas os poetas do fim do mundo. Salope. Poète. Putas crentes são fedidas. Prefiro as arrependidas. Casei com duas. Detesto putas limpas. Porcas usando colares de diamante. E pulseira de barbante. De agora em diante. Caso apenas com poetas. Que são putas imundas. E gostam de bar suas bundas. Apenas para rimar. Vagabundas. Poetas são egoístas. Putas são artistas. Putas poetas são narcisistas. Maniqueístas. De agora em diante só caso com advogadas. São hedonistas. Por dever e profissão. Suas listas de leis, suas pistas e seus golpistas. Cansei de frígidas, de rígidas e de mal redigidas. Quero mulheres bem escritas, feito roteiros de cinema. Quero protagonistas. Quero mulheres bem elaboradas, ricas personalidades. Minha poesia nasceu no meio das putas. E no meio delas irá morrer. Comigo!

26/08/2019

Let It Be, Let It Bleed, Let It Seed

Let It Be, Let It Bleed, Let It Seed
Barata Cichetto


Deixa eu dilapidar teus patrimônios, lapidar teus demônios, brindar teus hormônios, blindar teus heteronômios; dançar no teu cabaré literário e cavalgar teu pangaré temerário. Deixa eu mastigar tuas vestes e instigar tuas pestes; comer teu pastel e beber teu bordel. Comer teu pão de queijo, derreter teu não desejo e dissolver teu não ensejo. Deixa eu me queimar com teu café e teimar com tua fé; escorrer pelas tuas curvas e correr pelas tuas retas. Deixa eu envelhecer nas tuas idades e enveredar pelas tuas cidades; morrer por tuas necessidades, e viver pelas tuas vaidades. Deixa eu morder tua jugular e morrer de sangrar; te sagrar rainha e concubina do universo, ser teu verso e teu inverso. Deixa eu morrer de desgosto a seu gosto, em agosto, antes do verão te chegar, ou da aurora me cegar. Deixa eu me molhar na tua chuva e me encharcar na tua vulva; secar tua testa e me enfiar na tua fresta; ser tua festa, e o que mais resta. Deixa eu ser teu vampiro e teu suspiro; o ar que eu respiro e o poema que te inspiro. Deixa eu deixar te comer e parar de querer; deixa eu ser, deixa eu estar. Deixa eu querer?

26/08/2019

Habeas Corpus

"Que tenhas o corpo", disse a advogada, em latim. E eu, usando de minhas prerrogativas pessoais prontamente, garantindo assim seus direitos individuais a possuí, sem abuso de poder e sem coação, dentro da legalidade. A cláusula pétrea do prazer, que garante a qualquer pessoa física  o direito de ir e vir, e também o direito de foder com quem e quando quiser é parte da declaração universal dos direitos humanos. Sem emenda, sem votação. Tesão não é democracia, é ditadura, eu disse a ela. E então a doutora me prendeu. Na cama. E me algemou. Na cadeira. E eu lhe disse: "que tenhas o corpo". E ela, com violência e abusando de sua autoridade e de seu diploma de safada me chupou. Apelei. Implorei por justiça. Por igualdade de direitos. Ela acatou meu pedido. Deferiu e levantou a saia: penetrei-lhe o rabo com base em toda a jurisprudência que eu tinha nesses casos. Ela disse: eu protesto, senhor Juiz. E eu disse: não sou juiz, sou Luiz. E sou inimputável, de acordo com lei de diretrizes das meretrizes. Ela apelou ao estado de necessidade, ao perdão judicial. E eu então lhe disse: perante a Lei todos são iguais, então gozemos juntos antes de terminar este tribunal. Aleguemos legítima defesa, e na reincidência, motivos de consciência. Sem dolo e sem perdão. Consumado está. E agora, nos resta apenas vestir nossas roupas e sair. Lá fora há uma penitenciária nos esperando, condenados que fomos por crime continuado. Hediondo. Culposo.

22/08/2019

Filosofia de Quintal

Filosofia de Quintal
Barata Cichetto

Gosto mesmo é da filosofia de quintal, daqueles de cimentado rachado ou forrado de mármore. Filosofia de varal, onde expomos nossas roupas velhas, sujas e rasgadas; roupas íntimas com marcas de sexo; mal lavadas, desbotadas. Dispostas na corda, sob os olhares curiosos de vizinhos inescrupulosos, voyeurs e sádicos. A filosofia de varal é a legítima, aquela que está nas casas tanto dos pobres, com seus quintais minúsculos em subúrbios, quanto dos ricos com seus quintais de mansões. A filosofia de quintal não faz diferença, não gera diferenças e não respeita crenças. Está no quintal do ateu e do pastor, no quintal dos presidentes e dos sem dentes; no quintal das bruxas e das xuxas. A verdade está lá fora, no quintal.  Não credito em filosofia de sala de estar, de televisão, de Youtube, mas na que é dita no meio de um churrasco, de uma reunião de bêbados, ou mesmo de freiras descalças, falando das desgraças. Filosofia de varal, como roupa que cai com o vento; filosofia de varal, que sai com o tempo. Que gatos arranham e cachorros mijam em cima. Há filosofia no quintal. Há filosofia no varal. De moços letrados e idosos analfabetos; de moças menstruadas a machos com gonorréia. Ha filosofia no fundo do quintal, no barracão de ferramentas, ou na beira da piscina, onde doze putas abraçam o pedreiro da construção ou o dono da mansão. Há filosofia no quintal, de terra batida, de concreto protendido, de cacos de cerâmica ou de mármore carrara. Há filosofia em qualquer quintal. Nos livros há a ideia, no quintal o pensamento; nos livros a fórmula, no quintal o produto final. No quintal se planta, no quintal se colhe; no quintal se toma sol, no quintal se toma chuva; no quintal se bebe e se come, no quintal se suja e se limpa; no quintal se mostra, no quintal se vê. Não há filosofia nas aulas de faculdade, nem nos discursos políticos; não há filosofia nas bibliotecas, nem nas escolas; não há filosofia nos balcões de bar, nem nas salas de estar. Não há filosofia em nenhum lugar, a não ser no quintal.

23/08/2019

Os Canibais Suicidas

Os Canibais Suicidas
Barata Cichetto


Então ela me pediu; "Me come!" E eu comi. Com açúcar e leite condensado. Comi com gosto, como gosto de comer. E comi primeiro seus braços, de carne mais seca, depois as pernas e o tronco. Depois comi os olhos que são bem salgados e o cérebro que é bem doce. Deixei por fim os seios e as nádegas, moles e suculentas, com um pouco de limão e umas gotas de gengibre. Comi tudo. Lambi o tutano dos ossos. As tripas joguei para os cachorros, que, aliás, eram dela mesmo e viviam cheirando. Sobrou apenas a buceta, que guardei debaixo do meu travesseiro, e o coração que guardei na geladeira para comer mais tarde. A língua foi a única coisa que desperdicei: coloquei no triturador da pia da cozinha. Agora estou me sentindo mal, não sei se é indigestão, que aquela porra de mulher era uma criatura totalmente indigesta, ou se é por causa do leite condensado, que acho que estava vencido. Acho que vou vomitar. Preciso de um médico... Estou passando muito mal, acho que estou com febre. Ó.... Estou me torcendo de dor. Dói em tudo quanto é lugar. Já vomitei até as tripas. Os cachorros estão lambendo também. Desgraçada! Eu sabia que estava fácil demais quando ela me pediu para comê-la. Devia estar envenenada. Vai ver até tinha tentado suicidar e quis me levar com ela. Vagabunda de uma figa. Agora vou sair, vê se encontro alguma mulher bem filha da puta e dizer para ela me comer. Será que dá certo?

23/08/2019

Barata: Biografia Brutal

Barata: Biografia Brutal
(Um Falso Texto Sobre Pessoas Verdadeiras)
Barata Cichetto


Quem sou eu? Sou Barata porque assim me chamaram. Com minúsculas. Depois dei uma de bacana, criei um site e botei um artigo na frente e o substantivo transformei em nome e em adjetivo. Sou  Barata e fui batizado Luiz Carlos, pelo meu pai escroto que odiava o Prestes e quis se vingar em mim.  Sou Barata e mais que isso sou desigual. Feito barata branca, que é assim por ser albina. Sou diferente. Não busco a igualdade na humanidade. Ninguém é igual. Busco a desigualdade como fim social. Sou anormal. Já fui chamado de tudo: de filho da puta por ser um e de filho da puta de bom. "Ai quero mais seu filho da puta. Me fode, seu filho da puta!" Fui chamado Baratinha por amigos chegados e Baratão por amigas fudidas! Nunca fodi com amigas. Não misturo negócios. Casei quatro vezes. Todas as quatro de supetão. Elas queriam e eu não. Mas casei. Trepei. Fiz filhos que hoje chamam Lula de pai. Nunca fodi com viado. Nem dei o rabo, por falta de vontade. Ou seria de oportunidade, ainda não sei direito. De qualquer forma já fui chamado de bicha, de tarado, de viciado. Detesto maconha, mas já fui chamado de maconheiro. Sempre fui fiel a uma única puta. Acredito que nem todas as mulheres são putas, apenas minha mãe e as que se casaram comigo, ou que me deram a buceta. O resto são santas. Já fui cafetão. Já fui cristão. Nunca fui ladrão. Deus é uma piada de mau gosto. Nem gosto de piadas. Sou mal humorado. Fumo três maços de cigarro e com isso morrer de câncer é uma lógica. Mas quem sabe antes. De tiro na testa. Ou de desgosto. Sou anticomunista. Conservador no que me interessa conservar. Sou contra o aborto, mas por nenhuma questão religiosa. O corpo lhe pertence, feminista imbecil, mas a criança dentro da porra do seu útero não é corpo seu. Então, por que deu? Não é meu. Não fui eu. Fiz vasectomia aos trinta. Foda-se a humanidade. Sou misógino, misantropo e até miss Brasil se achar que isso não afeta sua autoestima. Me chamem do que quiserem. Não luto contra a humanidade, mas muito menos por ela. Sou individualista, mas não egoísta: aprenda a diferença crucial. Nunca fui crucificado, só apedrejado. Nasci no dia de Natal. Do anticristo. Mas não sou demônio. Sou um moleque de sessenta. Sou o que escarra na tua cara, o que cospe no próprio rosto e o que esporra na tua cara e depois te mostra a face no espelho toda gozada. Tem nojo? Então engole. Tudo. E ainda quer mais? Mais de mim? Vai comprar na padaria. Compra uma dúzia de sonhos, depois me lambe feito aquele creme. Como disse, sou Barata, mas não qualquer Barata, aquela sobe nas tuas costas e que voa no seu quarto numa noite escura. Te assusto? Não tenha medo. Mais que rima poética medo é um segredo que não se conta. O medo que se aponta. Esqueci-me de dizer que sou um bosta. E de quem gosta um manjar. Me chama pra jantar? Prometo me comportar. Sei usar os talheres. E prometo não peidar durante a janta. Só arrotar. Mas sei segurar a faca com a mão direita e o garfo com a esquerda. E diferenciar copo de vinho do de requeijão. Sou sofisticado quando quero. Não prometo mais nada. Nem que não vou querer te foder sobre a toalha de cetim quando acabarmos de jantar. Sou assim: uma agulha que pode te furar ou te costurar a pele. Bordar até. E prometo não te chamar de puta, não te chamar de santa. E nem de mãe. Prometo te chamar. Para ir beber, para foder, para conversar sobre teus gatos e nossos gastos. Falar sobre tua menstruação e minha constipação. Quero poder segurar tua mão para descer do ônibus e abrir a porta do carro, sem com isso querer te comer. Quero te comer sem precisar fazer nada disso. E fazer tudo isso apenas por querer. Gosto de te agradar. Sou saudosista. Queria estar à meia noite em Paris ou em Lisboa. Fumando ópio com Baudelaire ou na Tabacaria com Pessoa. Sou ator. Cantor. Sou idoso. Alto, magro e gostoso. Cabeludo e barbudo. Tesudo. Tenho pau grande. Gosto de oral. Lá e cá. Laika? Sou laico. Bardo. Tenho Facebook, Whatsapp, Instagram. Só não tenho dinheiro. Se cobra pra trepar eu pago com poesia. Ou com orgasmos líquidos. O que é a mesma coisa. Escrevo poesia com a língua na tua depilada. Ou com meu canivete nas tuas costas. Topas? Te espero na esquina. Só até amanhã. De manhã. De short desfiado com a polpa da bunda de fora. Sei esperar. Mas só um minuto. Quer um gozo líquido? Pergunte-me como. Enfim, sou Barata, já fiz de tudo. Até amor. Já fui tudo, menos santo. Já fui. Agora sou. E se quiser saber mais de mim veja as rugas no meu rosto, que são minhas cicatrizes. Atrizes do desgosto. Quer saber o que eu sou? Não seja eu e eu serei seu. 

18/08/2019

17/08/2019

Eu Só Queria Fumar Um Cigarro

Eu Só Queria Fumar Um Cigarro
Barata Cichetto

O portão da rua, de ferro fundido e com um cadeado de aço parece tão distante visto da janela do meu quarto. Escuto cachorros ladrando insuportáveis na rua. Tento fumar. Pego e cigarro e coloco automaticamente na boca. O isqueiro não funciona. Agora não tem mais jeito. Tenho que atravessar o corredor de cimento cheio de musgo que separa minha porta e chegar até a saída de casa. Insuportáveis vinte metros. Insuportável caminho até a rua. Moro nos fundos. Nos fundos do mundo. Ainda penso. E saio sem fechar a porta. Os cachorros ainda ladram e me olham com medo e ódio. É quase a mesma coisa. Olho para o topo da rua e tento calcular quantos minutos sobre aquele asfalto quente eu terei que caminhar até chegar o supermercado onde uma atendente horrorosa vai passar o código de barras na leitora e pegar o dinheiro sem nem olhar na minha cara. O pior é tudo isso sem poder acender meu cigarro. Sem fumaça para respirar. A não ser a dos carros dirigidos por motoristas esnobes que passam cheios de empáfia dentro daquelas latas com rodas. E feito a gorda horrorosa do mercado sem olhar para mim. Sou um perdedor. Nem motoristas de carros ou caixas de supermercados olham na minha cara. Fosse eu um sujeito endinheirado e me ofereceriam carona nos carros e aquela escrota sebenta do mercado iria esfregar aquela buceta fedorenta na minha cara. Eu não preciso de um carro brilhoso que tenho dois pés. E nem da buceta sebosa daquela nojenta caixa de supermercado que tenho uma mão. Posso ser um perdedor. Um perdedor que ainda tem pés e mãos. Então posso ser um perdedor e andar e me masturbar. Eu só quero fumar. Não quero perder nem ganhar. Fodam-se a gordeta escrota com cara grudenta do supermercado que conta as moedas como se fossem pedaços de merda. E fodam-se os carros e seus motoristas automáticos que contam merda como se fossem moedas. Cheguei ao supermercado que de super tem nada e fui direto ao balcão. Pedi um isqueiro. Vermelho ou preto que tenho preconceito contra isqueiro branco. Todo mundo rouba isqueiro branco. Não tinha. Só branco mesmo. Só tinha branco naquele mercado. Me dei conta que não tenho ninguém que possa roubar meu isqueiro. Nem sendo branco. Aceitei. Eu só queria mesmo era acender a porra do meu cigarro. Tirei o sacana da embalagem de plástico e puxei um cigarro do maço e porra da vendedora que acho que era magrela e quase careca quase arrancou o cigarro da minha mão. Eu só queria acender a porra do meu cigarro. Tinha que esperar a rua. Que era distante e tinha um cimentado gasto e era cheio de musgo com um monte de carros cor de bosta dirigidos por gordas suarentas e magrelas carecas. Na saída do mercado tinha um portão. Estava trancado. Por fora. Então eu perdi. Sentei no chão de cimentado gasto e cheio de musgo verde e acendi meu cigarro. Ganhei!

17/08/2019

06/08/2019

E Eu Nem Sei Porque Escrevi Esta Merda

E Eu Nem Sei Porque Escrevi Esta Merda
Luiz Carlos Cichetto, Barata Cichetto



Depois de concluir "Jorro" em 2013, texto que mereceu a atenção, correção e até elogios por parte do amigo escritor doutor Eduardo Amaro, texto que foi rechaçado por editoras e acabou abandonado nalgum canto do meu computador. Ainda inseguro no gênero Romance, tentei outras coisas, mas só o que consegui foram longos contos abruptamente concluídos.

Em 2017, em menos de um mês, escrevi e revisei outro romance que tinha em mente há muito tempo, e a ele batizei de "A Mulher Líquida", mas nesse não pude contar com leituras críticas, afinal, é um saco esse negócio de ficar lendo textos dos outros quando se tem os próprios para pensar. O calhamaço que rendeu mais de seiscentas páginas impressas, depois de também ser recusado por várias editoras. Recusado nem é bem a palavra, pois neste Brasil de merda, sequer o prazer de ser recusado as malditas editoras nos dão. Enviei-o, entre outras à Record, aquela que chupa o pau das sandices e ainda dá dinheiro para o tal de "Bukowiski da Amazônia", mesmo quando o sujeito é pego com a mão no bolso alheio e depois desaparece. O livro acabou sendo publicado, por sugestão de meu irmão Genecy Souza na Amazon, que não oferece qualquer apoio a escritores sem editora, sem dinheiro e sem prestígio, o que relega qualquer obra ao limbo, somente vendendo algo por esforço único do autor, além de estar sujeito às chamadas "Diretrizes da Comunidade", a forma sutil de censura, já que qualquer menção à sexo, por exemplo, condena o autor a ter seu trabalho bloqueado. 

Sem desistir, mas sem saber o caminho a seguir, já que todos parecem estar fechado para nós que não somos jovens, e ao contrário somos velhos, sem dinheiro, sem amigos importantes e vindos do interior, parafraseando o amigo Belchior, ainda este ano de 2019 lancei-me em nova empreitada, e em uma semana escrevi novo romance, ao qual dei o nome de "Satânia", que também foi submetido à algumas editoras e concursos literários, sem qualquer resultado positivo. Uma editora de Portugal, indicada pelo amigo Carlos Manuel, a quem enviei o manuscrito respondeu: "Caro senhor, após análise do seu livro, lamentamos, mas não foi aceite para publicação por não cumprir padrões literários e linguísticos de qualidade. Com os melhores cumprimentos." Ao menos respondeu. Eu tentei.

Sem quaisquer dos requisitos necessários atualmente solicitados pelas editoras, brasileiras, como: alinhamento ideológico de esquerda, engajamento no politicamente correto, e alguma forma de ligação com os poderosos que determinam que come e quem não no mercado editorial, o que me resta afinal, além de um cotidiano de perdas e danos, de desilusão e em que oportunidades de trabalho, especialmente a quem já passou dos sessenta anos são praticamente impossíveis? O que resta, se não brigar com a depressão e desejar não acordar? O que sobra, senão as sobras?

Com uma pilha de mais de um metro de textos impressos, sem contar as pilhas virtuais de outros empilhados no meu computador, cujo monitor tem mal de Parkinson já que fica tremendo, a única conclusão, seguindo o poema de Pessoa, "a única conclusão é morrer". O maldito século XXI, me cerca feito um facínora querendo meu sangue. Ele me despreza e eu também o desprezo. Não há lugar dentro dele para mim e não há lugar para mim dentro dele.

06/08/2019


Foto: Carlos Manuel (Portugal)

Foto: Carlos Manuel (Portugal)






05/08/2019

O Gigante e o Ferreiro

O Gigante e o Ferreiro
Luiz Carlos Cichetto

Há um gigante dentro de mim, esmurrando as paredes do meu crânio, forçando os ossos do meu peito, querendo sair. Ele anda armado e é perigoso. Implora que eu o deixe sair e destruiu quem me feriu. Eu o repreendo, reprimo e mando que se cale, pois a vingança não pertence a gigantes, mas aos ferreiros que dão têmperas a espadas num fogo lento e depois as amolam nas pedras escuras do ódio. Sou ferreiro, e ao tempo certo a espada estará pronta para degolar todos àqueles que me jogaram numa masmorra escura desejando minha própria morte como forma de me livrar do sofrimento. Que o gigante repouse por enquanto, pois de dentro de mim ele sairá apenas para comemorar.

04/08/2019

02/08/2019

Verve Voraz, Vulva Veloz

Verve Voraz, Vulva Veloz
Para e Por Ales Menon
Barata Cichetto



1 - (Por Ales)

Guardo ainda, no bolso traseiro da minha calça,
O retrato de uma mulher que caminha descalça.
Com uma carteira e um maço de cigarros vazios,
Eu caminho sem destino andando pelos desvios.

Digo bom dia, e ela me declama um de seus versos,
Minha heroína vadia conhece de cor meus universos.
Eu não tenho o que fumar, nem tenho dinheiro vivo,
Mas tenho a imagem guardada, e dela eu sobrevivo.

Ela conta uma história que me condena e me absolve,
Uma lira mundana, verbo que me excita e me absorve.
A verve venenosa busca as vagas da minha consciência,
E eu, verme vadio, acho no verbo a verdade da ciência.

A vulva viva rasga a manhã que nem me parece um dia,
E versa voraz em verso vivo a viuvez da minha covardia.
Mas agora te vejo vertendo a vastidão voraz da tua ira,
Virando vozes vazias como vingança viva da minha lira.


2 - (Para Ales)

Voraz vivente vendo a vida que invento,
E vou vendo vulvas em chuvas de vento.
Vulgarmente vadio, venero as vacas vãs,
E vendo vagas a vista, às vitoriosas vilãs.

Venho de vetustos vastos vales, vate servil,
E vejo vir um vulto vadio de vingança viril.
Visto a verdade voraz e vou vivendo,
Sem ver a vaidade vaga se vendendo.

Veja a vitória vindo e vá-te vestir de atrevida,
E voe na vertente da veia viva que foi servida.
Cadavérico, visto as vestes do vilipêndio vão,
E vou varrendo a volúpia nas vigas do vagão.

Vamos vadiar, vistosa vate de vontade prevista,
E ver a vertigem vulgar a vagar vil e imprevista?
Vista o vestido de voal e venha ver o Universo,
E viver o verbo na velocidade voraz do inverso.

02/08/2019


01/08/2019

Araraquariana Nº 3

Araraquariana Nº 3
Luiz Carlos Cichetto
Foto: Barata Cichetto

Fujo das tenebrosas brumas. Dunas dolorosas. Arenosas ruas trajadas de asfalto e sujeira. E na perfídia insidiosa encontro apenas frio onde um dia morou o Sol. O Paraíso e o Inferno são um só. Deus e o Diabo jogando dominó. Putas fogem de mim feito a fama. A fortuna. E os filhos de uma puta a quem chamei de meus. São seus os filhos. Meus são os trilhos. Da estrada de ferro onde encerro meu caminho. Tão enferrujados quanto eu. E as locomotivas que dormem nos dormentes. Na estação abandonada há uma guarda noturna. Tão soturna e abandonada quanto eu. E a estação. Objeto de desejo a meu alcance. Minha mão trêmula tremula feito bandeira manchada de sangue hasteada pelo meu braço mastro. Hasteio minha bandeira. Inteira. E abraço suas pernas finas e brancas. Retiro seus óculos de hastes negras e duras. E entre juras de orgasmos ejaculo. Na pele enferrujada e dormente do seu rosto. É Agosto. E eu ainda nem sei o gosto do teu ser. À gosto do seu ter. E por desgosto ainda espero com um copo de bebida quente. Que o ultimo cliente. Solte a tua mão. À contragosto. Mas não tem preço o teu apreço. Por dinheiro e emoção. Então me esqueço da tua depilada. E te aqueço pelada. Na beira da estação. Qual estação? Inverno. Inferno. Ou Paraíso. Talvez na próxima. Eu possa descer. Do trem. Nessa não tem. Ninguém. Quem sabe na outra. O trem do tempo saia dos trilhos. Talvez na Primavera. Quem sabe talvez no Verão. Eu possa lhe dar meu tesão. Ainda é tempo. Ainda há tempo. Desde que eu pague a prestação. Na beira do Museu. Que não é seu. Que nem é meu. Agora me deixe embarcar no teu trem. Pagar a passagem. Carregar tua bagagem. Te dizer bobagem. E depois tirar tua roupa. Me deitar entre os dormentes podres. Da tua cama. E te amar. Do mesmo jeito que se ama. Quando se quer esquecer.

01/08/2019