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20/08/2019

Sursis

Sursis
Barata Cichetto


Sou poeta das lutas extremas,
Por rainhas loucas vomitadas.
O profeta de putas supremas,
E das rimas toscas limitadas.

Sou das extremas putas loucas vomitadas rainhas das lutas supremas limitadas. Sou de aço e do espaço. Ácido e flácido. Construtor de crateras e velejador de eras. Profeta do início do mundo e poeta do fim do início. Observador de precipício e filosofo de hospício. Não sou um meio nem o meio e nem tenho um quarto. Estou farto de ter infarto. Parto. De Cesar e de Ana. Cesar & Ana. Syd & Nancy. Bonnie & Clyde. Minha poesia é bandida. Tem que ser presa. De surpresa. Por um delegado folgado com um band-aid transparente na cara de gado. Quero um advogado civil. Servil. Vil. De terno e bravata. De eterno e cascata. Na vara da família. Apelo ao estatuto do indecente idoso e aos estatutos dos putos. Não põe algemas que sou primário no poder judiciário. Sou incendiário e meu crime é apartidário. Secundário. Confesso sob pena de perjúrio e diante dos jurados que meus pecados são apenas recados. E os solados dos soldados pisam minha mão. Eu não sinto dor e grito que quero ser escoltado. Quero ser presidente e não tenho dente para morder. Onde está a vítima e onde mora a testemunha? - Sou inocente senhor juiz, o culpado é o Luiz. - O que diz? - A culpa é da poesia, foi ela que me seduziu, foi quem deduziu. - Mas e o fuzil? - Não era meu, era do Brasil. Foi ele, quem primeiro me cuspiu. Eu não pedi clemência e nem aleguei demência e por pura imprudência fui condenado. Fudido. E pelo carcereiro fui conduzido à cela do corredor onde tinha um estuprador. Um ditador e um contador. Todos tinham a mesma história que lhes condiz. Todos com lugares marcados com giz. E todos queriam sursis. E então o que eu fiz foi tentar ser feliz. Espero que o ditador seja quem diz. Que o contador conte o que fiz. E que o estuprador seja aprendiz. Sou poeta. Só sei ser infeliz.

20/08/2019

19/08/2019

Putas de Araraquara no Xvideos

Putas de Araraquara no Xvideos
Barata Cichetto


Era uma madrugada fria na normalmente quente Araraquara. Eu não conseguia dormir e liguei o computador.  Depois de andar por sites de vídeos pornográficos e outros de garotas de programas decidi escrever. Mas, sem nada na cabeça, a não ser putaria, sobre o que poderia escrever? Claro, putaria! 
Ando com o saco cheio de escrever putaria. Putaria, só putaria, sacanagem, pau no cu, pau na buceta. Um monte de bandalheira pornográfica que só serve pra encher linguiça e quem sabe fazer algum punheteiro soltar a imaginação, ou até mesmo e quem dera, alguma mulher soltar o dedo. Ademais para mais nada.
Fiquei olhando para a tela do computador e mexendo os dedos pensando sobre o que iria escrever. Eu tinha visto um monte de cenas muito tesudas nos vídeos e fiquei excitado, de pau duro, mesmo. Então pensei que o lógico seria escrever sobre o quanto eu ficava com tesão vendo gente se comendo, se fodendo, se chupando em vídeos pornôs. O Xvideos é pura poesia, neguim! 
Pensei e descrever alguns vídeos, depois criar alguma história engraçada sobre eles, mas aquilo é poesia, como eu já disse, e poesia não tem a menor graça. Coisas que deixam a gente de pau duro não tem a mínima graça. E poesia, nem a erótica, deixa ninguém de pau duro. A não ser algum poeta pau no cu, frustrado. Ficar de pau duro com poesia é de cair o cu de dentro das calças. Poesia é coisa de cara que não trepa. Quem trepa não tem tempo de pensar em poesia. Aliás, nem lembro mais quando trepei... Acho que foi a semana passada. Ou o mês passado? Que diferença faz quando foi? E nem lembro se foi bom. Acho que não, se tivesse sido eu iria lembrar. 
Porra, ninguém mais trepa nessa porra de planeta sem filmar? Caras de pau mole enfiando em bucetas secas, e mulheres olhando pra câmera. E o tesão donde que fica? Na pica é que não é. Nem na buceta! Fica na greta. Na grelha. Na telha.
Antes era melhor: a gente pegava o telefone e ligava pra uma puta e fazia a festa. Agora só bate punheta olhando gente sem graça, fazendo sexo sem graça. Parece até poesia isso. 
E assim se foi a madrugada. Não comi ninguém, nem bati punheta, mas em compensação estou terminando este texto e preciso dormir. Acabei nem escrevendo porra nenhuma. Nada do que está escrito tem graça, nada foi dito e nada foi lido. É tudo virtual nesse mundo de mentiras. Amanhã vou escrever uma poesia erótica, tá?

19/08/2019

17/08/2019

Eu Só Queria Fumar Um Cigarro

Eu Só Queria Fumar Um Cigarro
Barata Cichetto

O portão da rua, de ferro fundido e com um cadeado de aço parece tão distante visto da janela do meu quarto. Escuto cachorros ladrando insuportáveis na rua. Tento fumar. Pego e cigarro e coloco automaticamente na boca. O isqueiro não funciona. Agora não tem mais jeito. Tenho que atravessar o corredor de cimento cheio de musgo que separa minha porta e chegar até a saída de casa. Insuportáveis vinte metros. Insuportável caminho até a rua. Moro nos fundos. Nos fundos do mundo. Ainda penso. E saio sem fechar a porta. Os cachorros ainda ladram e me olham com medo e ódio. É quase a mesma coisa. Olho para o topo da rua e tento calcular quantos minutos sobre aquele asfalto quente eu terei que caminhar até chegar o supermercado onde uma atendente horrorosa vai passar o código de barras na leitora e pegar o dinheiro sem nem olhar na minha cara. O pior é tudo isso sem poder acender meu cigarro. Sem fumaça para respirar. A não ser a dos carros dirigidos por motoristas esnobes que passam cheios de empáfia dentro daquelas latas com rodas. E feito a gorda horrorosa do mercado sem olhar para mim. Sou um perdedor. Nem motoristas de carros ou caixas de supermercados olham na minha cara. Fosse eu um sujeito endinheirado e me ofereceriam carona nos carros e aquela escrota sebenta do mercado iria esfregar aquela buceta fedorenta na minha cara. Eu não preciso de um carro brilhoso que tenho dois pés. E nem da buceta sebosa daquela nojenta caixa de supermercado que tenho uma mão. Posso ser um perdedor. Um perdedor que ainda tem pés e mãos. Então posso ser um perdedor e andar e me masturbar. Eu só quero fumar. Não quero perder nem ganhar. Fodam-se a gordeta escrota com cara grudenta do supermercado que conta as moedas como se fossem pedaços de merda. E fodam-se os carros e seus motoristas automáticos que contam merda como se fossem moedas. Cheguei ao supermercado que de super tem nada e fui direto ao balcão. Pedi um isqueiro. Vermelho ou preto que tenho preconceito contra isqueiro branco. Todo mundo rouba isqueiro branco. Não tinha. Só branco mesmo. Só tinha branco naquele mercado. Me dei conta que não tenho ninguém que possa roubar meu isqueiro. Nem sendo branco. Aceitei. Eu só queria mesmo era acender a porra do meu cigarro. Tirei o sacana da embalagem de plástico e puxei um cigarro do maço e porra da vendedora que acho que era magrela e quase careca quase arrancou o cigarro da minha mão. Eu só queria acender a porra do meu cigarro. Tinha que esperar a rua. Que era distante e tinha um cimentado gasto e era cheio de musgo com um monte de carros cor de bosta dirigidos por gordas suarentas e magrelas carecas. Na saída do mercado tinha um portão. Estava trancado. Por fora. Então eu perdi. Sentei no chão de cimentado gasto e cheio de musgo verde e acendi meu cigarro. Ganhei!

17/08/2019

16/08/2019

Alguém Quer Dar Pra Mim?

Alguém Quer Dar Pra Mim?
Barata Cichetto

Eu poderia esperar que alguém desse alguma coisa para mim; fosse a buceta, o cu, ou ao menos um muito obrigado, mas que não fosse obrigado. Eu gostaria de poder esperar que alguém desse algo para mim, que fosse um tapa na cara ou algum dinheiro, e que fosse ao menos companheiro.  Eu aceitaria esperar que alguém me desse, que não fosse esmola, que não fosse favor. E que não fosse de graça, que fosse até desgraça. Eu saberia esperar que alguém desse alguma coisa para mim, que fosse uma opinião, um pequeno gesto de afeto, ou ao menos respeito, até a despeito do que meu pensamento, mesmo que eu fosse suspeito de matar um sujeito. Poderia queria esperar que alguém lesse meu poema, me explicasse um teorema, e não seria problema esperar. Eu poderia querer esperar de alguém, mas de quem posso esperar? Esperar é esperança, e esperança é morte. E eu não sou mais criança para esperar. Esperar e contar nos dedos, esperar é apontar segredos, esperar é correr dos medos, e nos meus dedos tem tão poucos segredos e tantos medos, que não consigo contar. Quem espera sempre alcança, é o dito popular, então eu poderia alcançar quem corre a frente, apenas a me esperar. A esperança não cansa, disse o poeta, e que também não murcha, mas eu ainda não sei quanto ainda posso esperar sem cansar. E nem espero esperança nem espero perdão, espero o que espero, e espero em pé, com a corda no pescoço, e até apenas até a hora do almoço que posso esperar. Eu poderia ainda falar sobre outras formas de esperar, mas estou cansado de falar. E o que eu quero mesmo é acabar. Acabar com tudo e deixar o mundo a quem queira cuidar. Queria mesmo poder esperar algo de alguém, que fosse o que fosse, mas que fosse algo que eu mereço.  E se eu não merecer, que seja apenas por existir. Eu poderia querer esperar de alguém esperar por alguém, mas ninguém espera por mim. E por fim, queria saber esperar, sem desesperar, mas estão todos tão ocupados... E eu não tenho mais tempo de esperar.

16/08/2019

15/08/2019

Morto Sim, Poeta Castrado Nunca

Morto Sim, Poeta Castrado Nunca
Barata Cichetto
A Ary de Souza, Poeta Português

" Os que entendem como eu / as linhas com que me escrevo / reconhecem o que é meu / em tudo quanto lhes devo:"
Imagem: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/bf/Der_M%C3%B6rder_des_j%C3%BCdischen_Blutzeugen.jpg/718px-Der_M%C3%B6rder_des_j%C3%BCdischen_Blutzeugen.jpg

Falaram de mim, que eu tinha que ser morto,
Até reclamaram porque eu não era um aborto,
E também disseram que deveria ser enforcado,
Com uma corda forte e um nó cego e apertado.

Disseram que eu era um escroto sem cultura,
E que, portanto, não seria poeta à sua altura.
Pediram que eu fosse ainda vivo queimado,
E então dariam as cinzas a seu deus amado.

Instigaram minha morte antes do fim do dia,
E mesmo que lhes dissesse ser pura covardia,
Ainda assim eu concordei em morrer, desanimado,
E trajei minha melhor roupa com a morte animado.

Prepararam o cadafalso e o padre pediu por clemência,
Mas lhe disse que nunca darei perdão a sua indecência.
E quando desceu sobre o meu pau a lâmina do machado,
Matei-o, pois morro mas jamais serei um poeta castrado.

15/08/2019

14/08/2019

A Uma Poeta Triste Por Causa de Ti

A Uma Poeta Triste Por Causa de Ti
Barata Cichetto


Que sejas tão bela quanto Pagu, em ordem inversa,
E que das bodas de Lucrécia seja madrinha reversa,
Feito Hypatia, a apedrejada nas ruas de Alexandria,
Ou que sejas Francisca Júlia tratando a hipocondria.

Que sejas quem quiseres, da Dominique até a Cristina,
E  que sejas o que quiseres, mulher, poeta ou menina.

Que não sejas o que querem por capricho e covardia,
E se não desejas, não sejas apenas poeta por um dia,
Não sejas apenas mulher, mas o verso de uma poesia,
E não sejas a santa, dentro do universo da hipocrisia.

Que sejas baronesa, que sejas a condessa ou regina,
Nunca deixes de ser o que és, e tudo o que imagina,

Que sejas Ales, e se preciso, dos males sua perfídia,
E quanto aos desprezíveis, não desprezes a insídia,
Faças dos teus cabelos a corda, dos teus nós a saída,
E lembres que fracos são os que tem-lhe por decaída.

Que sejas a fruta, que sejas a astuta, e até prostituta,
Mas que sejas sempre a quem quer é quem te escuta.

14/08/2019

Mulher Amada Cagando


Mulher Amada Cagando
Barata Cichetto

Eu gosto de ficar junto da mulher amada cagando
Gloriosos momentos são de uma deusa defecando
Odores pouco importam, mas sim a glória suprema
Em participar da intimidade da liberdade extrema.

Sim, eu gosto de estar junto de minha amada a cagar
Fisiológicas necessidades em qualquer hora ou lugar
Amada de calcinhas nos joelhos, de dor e gozo a feição
Em momentos de prazer e glória que beiram a perfeição.

A delícia da imagem de suas mãos segurando o higiênico
Olhos fitando a cerâmica das paredes brancas, que cênico!
Amada cagando, tirando de dentro aquilo que lhe maltrata
Cagando, cagando! Cagando é do jeito que a mim ela trata!

Deixa que eu limpe seu cu, que erga sua calcinha rendada
E jogue na latrina o papel, sou sua propriedade arrendada
Deixa eu olhar a minha amada cagando no latrina de cor
Porque sua liberdade pertence a mim e é minha sua dor!

07/09/2009

13/08/2019

Exumação

Exumação
Ao Amigo João Barrá
Foto: Luiz Carlos Cichetto, Cemitério das Cruzes ("Britos", Araraquara - SP

Confortem-se! Aceitem! A poesia morreu. De inanição. De falta de visão. Mas estava lúcida a coitada. Não ouvia direito. Não falava direito. Na verdade só chorava. Faleceu. Está morta a pobre. E nem no velório alguém recitou um verso. Em homenagem póstuma. Ninguém derrubou uma lágrima. Ninguém se aproximou do caixão. Nem pediu perdão. Nos celulares muitos concentrados. Preocupados. Com a eleição. A poesia se foi. Foi-se. Não houve missa de corpo presente. Nem discurso de presidente. Outros então contando piada. De polícia e ladrão. Mas não. Ninguém lamentou. Ninguém percebeu de fato. O fedor da defunta. Suas roupas rasgadas. E sua boca costurada. A poesia está morta. Foi sepultada como indigente. Num caixão. Sem paixão. Em cova rasa. Num cemitério clandestino distante da cidade. Ninguém pediu justiça. A beira do túmulo. E por cúmulo. O prefeito pediu a palavra. Como se soubesse o que é palavra. E disse: Que morra a poesia. Mas que sobrevivam os porcos. Todos foram para casa. E na sepultura nenhuma flor. E a chuva nem caiu. E ninguém sentiu. Pediram exumação. Abriram a campa. Não haviam restos mortais. Apenas cinzas. E o processo foi encerrado. E nunca foi noticiado.

13/08/2019

12/08/2019

20 Segundos de Coragem

20 Segundos de Coragem
Barata Cichetto

Perguntam o que eu faria em segundos de insana coragem
E respondo que diante de tão tola e inusitada cabotinagem,
Diante de tão hediondo algoz, e seu constrangedor desafio,
Que jamais cometeria um ato que me colocasse por um fio,
E que jamais, nesses segundos tais, eu mataria a confraria,
Mas que sim, diante de tal audácia cometeria uma covardia.

12/08/2019

Faires Were Boots

Guardei minhas esperanças dentro de uma caixa de sapatos. Ela encontrou, pensou que eram suas botas e as calçou: minhas esperanças ficaram em seus pés, e ela ainda me pisou com elas.

#BarataCichetto, 12/08/2019




10/08/2019

Brick as a Thick




Palavras são tijolos. Constroem e ferem. Tijolos assentados casa erguida; tijolo s atirados testas feridas. Tijolos matam. Tijolos protegem. Tijolos de barro. Barro de terra. Tijolos são vermelhos. Ou tijolos amarelos na estrada para a terra da fantasia. São belos. São tijolos. Tijolos são burros. Feito portas. Brick as a trick. Thick as a brick. Quem constrói com tijolo de vidro não pode reclamar do vizinho. Tijolos esfarelam. Pontes e pontos. Tijolos de concreto. Poemas concretos. Casas. Sepulturas. Cemitérios. Palacetes. Fecham a fresta. Então empresta. Um tijolo. Que atiro na tua testa. Sangue no tijolo. Tijolo sem dolo. Tijolo de tolo. É palavra vã. Tijolo sem pedreiro. Construção sem emoção. Tijolo é palavra. Tijolo maciço. Tijolo oco. Tijolo refratário. Tijolo burro. Catatau. Façamos tijolos. Mortos e enterrados. Em tumbas de tijolos. Namorados. Tijolaços. Tijoladas. Tijolados. 

10/08/2019

08/08/2019

Arquíloco - Carlos Cichetto

Arquíloco
Carlos Cichetto
Poesia - 1981
Mimeografado



"Arquíloco", titulo em homenagem ao poeta-soldado grego Arquíloco de Paros, foi um livro de poesia lançado em 1981. São poemas escritos entre 1976 e 78 e impressos em mimeógrafo a álcool.  Os temas recorrentes são o submundo da sociedade paulistana da época, e versam sobre prostituição, angústia e desespero. Todos os poemas são rimados. Suas 50 cópias foram distribuídas basicamente entre os próprios poetas da chamada "Geração Mimeógrafo", que o ignoraram. Desses, apenas um ainda existe em meu poder, e praticamente ilegível, em função do processo. O objetivo desta publicação, em 2019, quase cinquenta nos depois é de se manter o arquivo vivo.

Embora desprezado pela história, e nunca tendo meu nome referido entre os autores da época, este original é prova mais que suficiente. Muitos autores citados em antologias e artigos nunca chegaram perto de um mimeógrafo, e outros tantos atualmente são integrantes da ABL. Quase todos integram as salas VIPs da Poesia Brasileira. Na época, contei com a crítica positiva e indicação para publicação por parte do maior critico literário paulistano, editor da "Página do Livro", Henrique Novak, no jornal paulistano Diário Popular.

Para a edição de "Arquíloco", contei com um casal de amigos, Claudia Bia e Luís Cogumelo Atômico, que os tempos grossos da política suja afastaram.

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Século XX
Carlos Cichetto

E foi ali que uma morena estrela matutina
Brilhou inaugurando a aurora do meu desejo
Abrindo pernas lisas igual a uma cortina
Deixando entrar o sol quente quanto um beijo
Que tinham escondido de minha retina.

E foi ali que entre os montes de sujeira
Pernas abriram igual a pétalas de rosas
Esperando que eu sentado numa cadeira
Penetrasse naquelas entranhas honrosas
Que marcariam uma existência inteira.

E foi ali, que com o seu pequeno porte
Trajada com a estranha roupa de sangue
Que escorria de um seu profundo corte
Ela pediu com um bocejo bastante langue
Que alguém causasse urgente sua morte.

E foi ali entre corredores de concreto
Que construí a minha paixão abstrata
E um dia depois de um estranho decreto
Acabou transformado em tumulo de prata
Sepultando aquele grande desejo secreto.

E foi ali que quando quebrou o seu esteio
Alguém a encontrou completamente morta
Esperou a morte igual um ônibus de recreio
E esperando de chegar bateu a sua porta
Encontrando ali mesmo sem qualquer receio.

Dezembro 79
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Arquíloco (em grego, Άρχίλοχος - Arkhílokhos, na transliteração) de Paros, onde seu pai Telesicles, filho de Tellis, era um cidadão proeminente. Arquíloco foi um poeta lírico e soldado grego que viveu na primeira metade do século VII a.C. (talvez entre anos de 680 a.C. e 645 a.C.). Os antigos colocavam-no em pé de igualdade com o próprio Homero. Escreveu principalmente iambos, sendo um dos primeiros e mais notáveis representantes do gênero.


Ah, Se Eu Fosse Igual...

Ah, Se Eu Fosse Igual...
Barata Cichetto

Não fosse idiota podia ser tão famoso quanto Paulo e suas filhas,
E ser uma estrela da poesia, feito Alice em Paris das Maravilhas.
Ou se não fosse tolo, quem sabe seria tão conhecido como Piva,
Daí eu estaria morto, mas ao menos minha poesia estaria viva.

Não fosse eu um pai seria apenas um filho, mesmo que da puta,
E seria astro da literatura falando sobre a dureza da minha luta.
Pelas feiras literárias eu seria chupado por um par de proscritos,
E as editoras pagariam adiantado pelos romances nunca escritos.

Se eu fosse um tanto esperto estaria em Paraty igual a um artista,
Circulando de chapéu e gravata borboleta entre a elite comunista.
Eu nem lembraria o que tinha dito, mas leriam minhas memórias,
E o que tinha escrito todos pensariam ser parte de suas histórias.

Fosse um malandro, desses que colocam "Poeta" antes do nome,
Eu daria entrevistas na televisão e explicaria o meu sobrenome.
Comeria um par de putas vesgas, e eu seria famoso até o jantar,
Onde poriam minha cabeça na bandeja depois de me acorrentar.

Ah, se eu não fosse tão otário seria tão bom quanto a Medeiros,
E esconderia meus versos mortos debaixo de dois travesseiros.
 Seria chamado de "Bukowski de Araraquara" ou outro truque,
E exibiria o pau em público e postaria na página do Facebook.

Se fosse esperto eu seria como o Diego, ou até como o Morais,
E contaria uma história triste com sórdidos contornos morais.
Enfim, fosse eu diferente do que sou, poderia ser um alguém,
Mas não seria o que sou, e no final seria apenas um ninguém.

07/08/2019


07/08/2019

As (4) Filhas da Fantasia

As (4) Filhas da Fantasia
Barata Cichetto


Um dia o poeta encontrou uma bela,
E que era conhecida ali por Fantasia.
Mas o homem não sabia que era ela,
E tolamente ele a chamou de Poesia.

Outro dia o poeta encontrou uma puta,
Que também era chamada de Fantasia.
E ele também não sabia que era astuta,
E também chamou a piranha de Poesia.

Houve outro em que encontrou uma santa,
Na cidade também conhecida por Fantasia.
Mas também não conhecia a tal sacripanta,
E também a ela chamou pelo nome Poesia.

E no fim o tal poeta descobriu uma morta,
Que no local também se diziam ser Fantasia,
Mas ele, sempre ingênuo, abriu-lhe a porta,
E jamais o poeta chamou alguém de Poesia.

06/08/2019

06/08/2019

E Eu Nem Sei Porque Escrevi Esta Merda

E Eu Nem Sei Porque Escrevi Esta Merda
Luiz Carlos Cichetto, Barata Cichetto



Depois de concluir "Jorro" em 2013, texto que mereceu a atenção, correção e até elogios por parte do amigo escritor doutor Eduardo Amaro, texto que foi rechaçado por editoras e acabou abandonado nalgum canto do meu computador. Ainda inseguro no gênero Romance, tentei outras coisas, mas só o que consegui foram longos contos abruptamente concluídos.

Em 2017, em menos de um mês, escrevi e revisei outro romance que tinha em mente há muito tempo, e a ele batizei de "A Mulher Líquida", mas nesse não pude contar com leituras críticas, afinal, é um saco esse negócio de ficar lendo textos dos outros quando se tem os próprios para pensar. O calhamaço que rendeu mais de seiscentas páginas impressas, depois de também ser recusado por várias editoras. Recusado nem é bem a palavra, pois neste Brasil de merda, sequer o prazer de ser recusado as malditas editoras nos dão. Enviei-o, entre outras à Record, aquela que chupa o pau das sandices e ainda dá dinheiro para o tal de "Bukowiski da Amazônia", mesmo quando o sujeito é pego com a mão no bolso alheio e depois desaparece. O livro acabou sendo publicado, por sugestão de meu irmão Genecy Souza na Amazon, que não oferece qualquer apoio a escritores sem editora, sem dinheiro e sem prestígio, o que relega qualquer obra ao limbo, somente vendendo algo por esforço único do autor, além de estar sujeito às chamadas "Diretrizes da Comunidade", a forma sutil de censura, já que qualquer menção à sexo, por exemplo, condena o autor a ter seu trabalho bloqueado. 

Sem desistir, mas sem saber o caminho a seguir, já que todos parecem estar fechado para nós que não somos jovens, e ao contrário somos velhos, sem dinheiro, sem amigos importantes e vindos do interior, parafraseando o amigo Belchior, ainda este ano de 2019 lancei-me em nova empreitada, e em uma semana escrevi novo romance, ao qual dei o nome de "Satânia", que também foi submetido à algumas editoras e concursos literários, sem qualquer resultado positivo. Uma editora de Portugal, indicada pelo amigo Carlos Manuel, a quem enviei o manuscrito respondeu: "Caro senhor, após análise do seu livro, lamentamos, mas não foi aceite para publicação por não cumprir padrões literários e linguísticos de qualidade. Com os melhores cumprimentos." Ao menos respondeu. Eu tentei.

Sem quaisquer dos requisitos necessários atualmente solicitados pelas editoras, brasileiras, como: alinhamento ideológico de esquerda, engajamento no politicamente correto, e alguma forma de ligação com os poderosos que determinam que come e quem não no mercado editorial, o que me resta afinal, além de um cotidiano de perdas e danos, de desilusão e em que oportunidades de trabalho, especialmente a quem já passou dos sessenta anos são praticamente impossíveis? O que resta, se não brigar com a depressão e desejar não acordar? O que sobra, senão as sobras?

Com uma pilha de mais de um metro de textos impressos, sem contar as pilhas virtuais de outros empilhados no meu computador, cujo monitor tem mal de Parkinson já que fica tremendo, a única conclusão, seguindo o poema de Pessoa, "a única conclusão é morrer". O maldito século XXI, me cerca feito um facínora querendo meu sangue. Ele me despreza e eu também o desprezo. Não há lugar dentro dele para mim e não há lugar para mim dentro dele.

06/08/2019


Foto: Carlos Manuel (Portugal)

Foto: Carlos Manuel (Portugal)






05/08/2019

As Mil Faces de Ales

As Mil Faces de Ales
Barata Cichetto
"- 'A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciência / De no fundo de um leito afogar a consciência. / As lágrimas eu seco em meios seios triunfantes, / E os velhos faço rir com o riso dos infantes. '" - "As Metamorfoses do Vampiro" - Charles Baudelaire, França, 1861

Queria ter a coragem de apenas uma das tuas faces,
Assim eu não teria desistido dos Gatos e das Alfaces.
A poesia que brota de apenas um de teus mil lábios,
E assim seria tão belo quanto aos lobos e aos sábios.

Ah, eu queria tanto conhecer todas as faces de Ales,
E assim, quem dera assim, enxergar os meus males.
São mil faces, mil rostos, mas apenas uma realidade,
E todas são belas, mesmo quando falam de maldade.

Queria conhecer cada uma das tuas mil guerreiras,
Um exército indestrutível marchando pelas fileiras.
Rasgando as roupas finas e bordadas do imperador,
E exibindo a nudez cruel que veste qualquer ditador.

Ah, queria tanto ter coragem de amar qualquer uma,
Entre as mil, a que pudesse ser a outra ou nenhuma.
Mil faces e mais duas, um desejo ou mais de dois mil,
E eu que não consigo me olhar no espelho sem ser vil.

Ales tem mil faces e nenhuma delas usa maquiagem,
Todas foram pintadas à semelhança de sua imagem.
A libertina liberta do papel todas suas almas sadistas,
E todas são belas, todas são poetas, todas são artistas.

Ah, e eu feito um pobre Baudelaire pouco requintado,
Colocaria todas tuas personas num bordel encantado.
E as amaria além de como se ama a abóboda noturna,
No universo dos seus versos, minha "grande taciturna.".

Li sobre ti antes mesmo de conhecer tuas mil Lucrécia,
Nos livros dos poetas embalsamados da antiga Grécia.
Predestinado ao caminho dos tolos feito escravo liberto,
Segui escrevendo errado em um tempo que era incerto.

Espero que não me queiram por meus versos apedrejar,
Mas que o faça sem desprezo, alguma que assim desejar.
E que feito a lua ofendida, não me privem da sua alcova,
Antes do final, ou que da vulva temporal também chova.

05/08/2019

O Gigante e o Ferreiro

O Gigante e o Ferreiro
Luiz Carlos Cichetto

Há um gigante dentro de mim, esmurrando as paredes do meu crânio, forçando os ossos do meu peito, querendo sair. Ele anda armado e é perigoso. Implora que eu o deixe sair e destruiu quem me feriu. Eu o repreendo, reprimo e mando que se cale, pois a vingança não pertence a gigantes, mas aos ferreiros que dão têmperas a espadas num fogo lento e depois as amolam nas pedras escuras do ódio. Sou ferreiro, e ao tempo certo a espada estará pronta para degolar todos àqueles que me jogaram numa masmorra escura desejando minha própria morte como forma de me livrar do sofrimento. Que o gigante repouse por enquanto, pois de dentro de mim ele sairá apenas para comemorar.

04/08/2019

04/08/2019

Cristo na Piscina Com Doze Putas

Cristo na Piscina Com Doze Putas
Barata Cichetto
Ao Amigo Carlos Manuel

Queria ser como Jim Morrison, morrer em Paris, afogado numa banheira. Queria morrer num bacanal, em Lisboa com doze putas numa piscina cheia de champagne, proclamando igual um cristo meu evangelho da sacanagem. Apóstolas apóstatas bebendo do meu vinho, comendo do meu pão, e fodendo até eu morrer, afogado em meu próprio gozo. E depois elas sairiam pelo mundo, pregando minha palavra, em poemas sacanas como de Bocage. Queria morrer na Europa, em qualquer lugar, que não fosse em Moscou, com suas putas secas de pernas longas e cérebros de minhoca. Podia ser em Roma, a eterna cidade de Fellini e de Sophia, ou até mesmo em Madrid, na terra de Dali, o anarco monaquista, me fingindo de artista Queria morrer longe daqui, onde fui sentenciado, mas nunca declarado morto, nem sepultado. Em Paris a meia noite, com Agnes filmando a tragédia. E a comédia. E transformando minha morte num falso documentário. Eu compraria um tumulo no Cemitério do Père-Lachaise, ao lado de Proust e Wilde, ou no Montparnasse onde seria enterrado na mesma terra de Baudelaire. E as doze putas iriam me visitar, depositar flores e roubar meu corpo da sepultura, gritando aleluia, ressurreição. E depois cantariam a Marselhessa em ritmo de Rock and Roll dançando peladas debaixo da Torre Eiffel, que cairia com o peso do pecado. Queria morrer lendo minha poesia no palco do Moulin Rouge, com as doze putas me beijando e jurando por algum deus, que são apenas meus os pecados das cadelas. Postar a mesa e no meio da ceia, perguntar qual delas irá me trair, com algum comunista anão, por trinta moedas, e todas elas se levantariam e ergueriam a mão. Queria morrer, batendo punheta na esquina mais sórdida de Lisboa, de Paris ou de Madrid. Ou sendo chupado por alguma matrona de tetas grandes nos becos imundos de Roma. Tenho uma morte anunciada, organizada e denunciada e não encontro as palavras para escrever o que sinto, enquanto meu pinto repousa nas minhas calças, sem nenhuma dançarina de cancan, nenhuma puta dos Bálcãs ou quaisquer megeras pagãs para chupar. Queria morrer em Berlin, violentando o muro de verde. E as doze putas chupando meu pau no caixão, enquanto uma orquestra toca "O Crepúsculo dos Deuses". "Du hast?" eu perguntaria a todas elas. E jamais saberia a resposta. Queria morrer em qualquer lugar, que fosse longe o suficiente de mim, mas perto de doze putas apóstolas de um evangelho profano. Mas morro, nas esquinas de uma cidade morta, no hemisfério sul de lugar nenhum. "I'm finally dead."

03/08/2019 

03/08/2019

Araraquariana Nº 4

Araraquariana Nº 4
Barata Cichetto

Tem uma santa parada na esquina, pedindo carona a transeuntes de muletas e andadores. Uma santa de carne, pouca, e ossos fracos. E lábios tão finos que nem aguentam segurar um cigarro. Ela treme e gesticula do jeito tosco como se mexem as santas, e também as loucas. A esquina é seu ponto, e mal aponto, ela me chama de namorado, pedindo oitenta sem trocado, implorando que eu ame o seu pecado. A esquina é da Brasil com "Um", que tem nome de poeta. E um McDonalds bem em frente. Ela é diferente por ser indiferente, e agora ela quer cem. Aceita cartão de débito e do Bolsa Família, e me conta que é filha de mãe solteira de pernas longas, e de um pai que anda preso em Curitiba. Dentro do bar bêbados lhe sorriem e passam a mão nas pernas de outra a quem chamam de Bailarina. Da calçada ela me chama, falando que me ama, agora por cento e vinte: há um preço por uma santa, conta ela balançando os cabelos negros encaracolados. É o custo da carne seca no supermercado. Preço marcado tatuado em sua alta testa. Ah, mas ela não presta, é apenas outra santa sem nome, e santas não matam a fome: santas sabem ser putas. Ela me chama de pai, e quer se minha filha. Diz que podemos ser, nós dois, uma grande família. Desde que eu pague cento e cinquenta. Eu com sessenta, e ela com quarenta. Uma família de cem. E ela tem uma filha de vinte, então passa de cento e vinte com a menina. Nós três e a cocaína. Uma bela família burguesa, trajando bandeiras vermelhas. A filha não é santa, é menina de família. Que não faz anal. Nem mal. Nem bem. E ela cobra só cem.  Seu olhar é de faca, a carne é fraca e eu não tenho dinheiro. Ela pede o meu tudo, não como santa, mas como pastora de igreja neopentecostal, ou qualquer coisa que eu ainda possa possuir. Dou-lhe duas moedas e uma caneta, digo que escreva um poema. Mas ela é uma santa, e santas não sabem escrever. Poesia. Chega o preço a duzentos e com mais quinhentos, eu chego ao valor de mercado, por uma santa. Então pego emprestado, pago adiantado. E depois de trocado, saio ferrado, lamentando meu pecado: ela é uma santa, e santas não sabem foder.

03/08/2019

02/08/2019

Verve Voraz, Vulva Veloz

Verve Voraz, Vulva Veloz
Para e Por Ales Menon
Barata Cichetto



1 - (Por Ales)

Guardo ainda, no bolso traseiro da minha calça,
O retrato de uma mulher que caminha descalça.
Com uma carteira e um maço de cigarros vazios,
Eu caminho sem destino andando pelos desvios.

Digo bom dia, e ela me declama um de seus versos,
Minha heroína vadia conhece de cor meus universos.
Eu não tenho o que fumar, nem tenho dinheiro vivo,
Mas tenho a imagem guardada, e dela eu sobrevivo.

Ela conta uma história que me condena e me absolve,
Uma lira mundana, verbo que me excita e me absorve.
A verve venenosa busca as vagas da minha consciência,
E eu, verme vadio, acho no verbo a verdade da ciência.

A vulva viva rasga a manhã que nem me parece um dia,
E versa voraz em verso vivo a viuvez da minha covardia.
Mas agora te vejo vertendo a vastidão voraz da tua ira,
Virando vozes vazias como vingança viva da minha lira.


2 - (Para Ales)

Voraz vivente vendo a vida que invento,
E vou vendo vulvas em chuvas de vento.
Vulgarmente vadio, venero as vacas vãs,
E vendo vagas a vista, às vitoriosas vilãs.

Venho de vetustos vastos vales, vate servil,
E vejo vir um vulto vadio de vingança viril.
Visto a verdade voraz e vou vivendo,
Sem ver a vaidade vaga se vendendo.

Veja a vitória vindo e vá-te vestir de atrevida,
E voe na vertente da veia viva que foi servida.
Cadavérico, visto as vestes do vilipêndio vão,
E vou varrendo a volúpia nas vigas do vagão.

Vamos vadiar, vistosa vate de vontade prevista,
E ver a vertigem vulgar a vagar vil e imprevista?
Vista o vestido de voal e venha ver o Universo,
E viver o verbo na velocidade voraz do inverso.

02/08/2019


01/08/2019

Araraquariana Nº 3

Araraquariana Nº 3
Luiz Carlos Cichetto
Foto: Barata Cichetto

Fujo das tenebrosas brumas. Dunas dolorosas. Arenosas ruas trajadas de asfalto e sujeira. E na perfídia insidiosa encontro apenas frio onde um dia morou o Sol. O Paraíso e o Inferno são um só. Deus e o Diabo jogando dominó. Putas fogem de mim feito a fama. A fortuna. E os filhos de uma puta a quem chamei de meus. São seus os filhos. Meus são os trilhos. Da estrada de ferro onde encerro meu caminho. Tão enferrujados quanto eu. E as locomotivas que dormem nos dormentes. Na estação abandonada há uma guarda noturna. Tão soturna e abandonada quanto eu. E a estação. Objeto de desejo a meu alcance. Minha mão trêmula tremula feito bandeira manchada de sangue hasteada pelo meu braço mastro. Hasteio minha bandeira. Inteira. E abraço suas pernas finas e brancas. Retiro seus óculos de hastes negras e duras. E entre juras de orgasmos ejaculo. Na pele enferrujada e dormente do seu rosto. É Agosto. E eu ainda nem sei o gosto do teu ser. À gosto do seu ter. E por desgosto ainda espero com um copo de bebida quente. Que o ultimo cliente. Solte a tua mão. À contragosto. Mas não tem preço o teu apreço. Por dinheiro e emoção. Então me esqueço da tua depilada. E te aqueço pelada. Na beira da estação. Qual estação? Inverno. Inferno. Ou Paraíso. Talvez na próxima. Eu possa descer. Do trem. Nessa não tem. Ninguém. Quem sabe na outra. O trem do tempo saia dos trilhos. Talvez na Primavera. Quem sabe talvez no Verão. Eu possa lhe dar meu tesão. Ainda é tempo. Ainda há tempo. Desde que eu pague a prestação. Na beira do Museu. Que não é seu. Que nem é meu. Agora me deixe embarcar no teu trem. Pagar a passagem. Carregar tua bagagem. Te dizer bobagem. E depois tirar tua roupa. Me deitar entre os dormentes podres. Da tua cama. E te amar. Do mesmo jeito que se ama. Quando se quer esquecer.

01/08/2019