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16/08/2019

Alguém Quer Dar Pra Mim?

Alguém Quer Dar Pra Mim?
Barata Cichetto

Eu poderia esperar que alguém desse alguma coisa para mim; fosse a buceta, o cu, ou ao menos um muito obrigado, mas que não fosse obrigado. Eu gostaria de poder esperar que alguém desse algo para mim, que fosse um tapa na cara ou algum dinheiro, e que fosse ao menos companheiro.  Eu aceitaria esperar que alguém me desse, que não fosse esmola, que não fosse favor. E que não fosse de graça, que fosse até desgraça. Eu saberia esperar que alguém desse alguma coisa para mim, que fosse uma opinião, um pequeno gesto de afeto, ou ao menos respeito, até a despeito do que meu pensamento, mesmo que eu fosse suspeito de matar um sujeito. Poderia queria esperar que alguém lesse meu poema, me explicasse um teorema, e não seria problema esperar. Eu poderia querer esperar de alguém, mas de quem posso esperar? Esperar é esperança, e esperança é morte. E eu não sou mais criança para esperar. Esperar e contar nos dedos, esperar é apontar segredos, esperar é correr dos medos, e nos meus dedos tem tão poucos segredos e tantos medos, que não consigo contar. Quem espera sempre alcança, é o dito popular, então eu poderia alcançar quem corre a frente, apenas a me esperar. A esperança não cansa, disse o poeta, e que também não murcha, mas eu ainda não sei quanto ainda posso esperar sem cansar. E nem espero esperança nem espero perdão, espero o que espero, e espero em pé, com a corda no pescoço, e até apenas até a hora do almoço que posso esperar. Eu poderia ainda falar sobre outras formas de esperar, mas estou cansado de falar. E o que eu quero mesmo é acabar. Acabar com tudo e deixar o mundo a quem queira cuidar. Queria mesmo poder esperar algo de alguém, que fosse o que fosse, mas que fosse algo que eu mereço.  E se eu não merecer, que seja apenas por existir. Eu poderia querer esperar de alguém esperar por alguém, mas ninguém espera por mim. E por fim, queria saber esperar, sem desesperar, mas estão todos tão ocupados... E eu não tenho mais tempo de esperar.

16/08/2019

13/08/2019

Exumação

Exumação
Ao Amigo João Barrá
Foto: Luiz Carlos Cichetto, Cemitério das Cruzes ("Britos", Araraquara - SP

Confortem-se! Aceitem! A poesia morreu. De inanição. De falta de visão. Mas estava lúcida a coitada. Não ouvia direito. Não falava direito. Na verdade só chorava. Faleceu. Está morta a pobre. E nem no velório alguém recitou um verso. Em homenagem póstuma. Ninguém derrubou uma lágrima. Ninguém se aproximou do caixão. Nem pediu perdão. Nos celulares muitos concentrados. Preocupados. Com a eleição. A poesia se foi. Foi-se. Não houve missa de corpo presente. Nem discurso de presidente. Outros então contando piada. De polícia e ladrão. Mas não. Ninguém lamentou. Ninguém percebeu de fato. O fedor da defunta. Suas roupas rasgadas. E sua boca costurada. A poesia está morta. Foi sepultada como indigente. Num caixão. Sem paixão. Em cova rasa. Num cemitério clandestino distante da cidade. Ninguém pediu justiça. A beira do túmulo. E por cúmulo. O prefeito pediu a palavra. Como se soubesse o que é palavra. E disse: Que morra a poesia. Mas que sobrevivam os porcos. Todos foram para casa. E na sepultura nenhuma flor. E a chuva nem caiu. E ninguém sentiu. Pediram exumação. Abriram a campa. Não haviam restos mortais. Apenas cinzas. E o processo foi encerrado. E nunca foi noticiado.

13/08/2019

10/08/2019

Brick as a Thick




Palavras são tijolos. Constroem e ferem. Tijolos assentados casa erguida; tijolo s atirados testas feridas. Tijolos matam. Tijolos protegem. Tijolos de barro. Barro de terra. Tijolos são vermelhos. Ou tijolos amarelos na estrada para a terra da fantasia. São belos. São tijolos. Tijolos são burros. Feito portas. Brick as a trick. Thick as a brick. Quem constrói com tijolo de vidro não pode reclamar do vizinho. Tijolos esfarelam. Pontes e pontos. Tijolos de concreto. Poemas concretos. Casas. Sepulturas. Cemitérios. Palacetes. Fecham a fresta. Então empresta. Um tijolo. Que atiro na tua testa. Sangue no tijolo. Tijolo sem dolo. Tijolo de tolo. É palavra vã. Tijolo sem pedreiro. Construção sem emoção. Tijolo é palavra. Tijolo maciço. Tijolo oco. Tijolo refratário. Tijolo burro. Catatau. Façamos tijolos. Mortos e enterrados. Em tumbas de tijolos. Namorados. Tijolaços. Tijoladas. Tijolados. 

10/08/2019

05/08/2019

O Gigante e o Ferreiro

O Gigante e o Ferreiro
Luiz Carlos Cichetto

Há um gigante dentro de mim, esmurrando as paredes do meu crânio, forçando os ossos do meu peito, querendo sair. Ele anda armado e é perigoso. Implora que eu o deixe sair e destruiu quem me feriu. Eu o repreendo, reprimo e mando que se cale, pois a vingança não pertence a gigantes, mas aos ferreiros que dão têmperas a espadas num fogo lento e depois as amolam nas pedras escuras do ódio. Sou ferreiro, e ao tempo certo a espada estará pronta para degolar todos àqueles que me jogaram numa masmorra escura desejando minha própria morte como forma de me livrar do sofrimento. Que o gigante repouse por enquanto, pois de dentro de mim ele sairá apenas para comemorar.

04/08/2019

03/08/2019

Araraquariana Nº 4

Araraquariana Nº 4
Barata Cichetto

Tem uma santa parada na esquina, pedindo carona a transeuntes de muletas e andadores. Uma santa de carne, pouca, e ossos fracos. E lábios tão finos que nem aguentam segurar um cigarro. Ela treme e gesticula do jeito tosco como se mexem as santas, e também as loucas. A esquina é seu ponto, e mal aponto, ela me chama de namorado, pedindo oitenta sem trocado, implorando que eu ame o seu pecado. A esquina é da Brasil com "Um", que tem nome de poeta. E um McDonalds bem em frente. Ela é diferente por ser indiferente, e agora ela quer cem. Aceita cartão de débito e do Bolsa Família, e me conta que é filha de mãe solteira de pernas longas, e de um pai que anda preso em Curitiba. Dentro do bar bêbados lhe sorriem e passam a mão nas pernas de outra a quem chamam de Bailarina. Da calçada ela me chama, falando que me ama, agora por cento e vinte: há um preço por uma santa, conta ela balançando os cabelos negros encaracolados. É o custo da carne seca no supermercado. Preço marcado tatuado em sua alta testa. Ah, mas ela não presta, é apenas outra santa sem nome, e santas não matam a fome: santas sabem ser putas. Ela me chama de pai, e quer se minha filha. Diz que podemos ser, nós dois, uma grande família. Desde que eu pague cento e cinquenta. Eu com sessenta, e ela com quarenta. Uma família de cem. E ela tem uma filha de vinte, então passa de cento e vinte com a menina. Nós três e a cocaína. Uma bela família burguesa, trajando bandeiras vermelhas. A filha não é santa, é menina de família. Que não faz anal. Nem mal. Nem bem. E ela cobra só cem.  Seu olhar é de faca, a carne é fraca e eu não tenho dinheiro. Ela pede o meu tudo, não como santa, mas como pastora de igreja neopentecostal, ou qualquer coisa que eu ainda possa possuir. Dou-lhe duas moedas e uma caneta, digo que escreva um poema. Mas ela é uma santa, e santas não sabem escrever. Poesia. Chega o preço a duzentos e com mais quinhentos, eu chego ao valor de mercado, por uma santa. Então pego emprestado, pago adiantado. E depois de trocado, saio ferrado, lamentando meu pecado: ela é uma santa, e santas não sabem foder.

03/08/2019

01/08/2019

Araraquariana Nº 3

Araraquariana Nº 3
Luiz Carlos Cichetto
Foto: Barata Cichetto

Fujo das tenebrosas brumas. Dunas dolorosas. Arenosas ruas trajadas de asfalto e sujeira. E na perfídia insidiosa encontro apenas frio onde um dia morou o Sol. O Paraíso e o Inferno são um só. Deus e o Diabo jogando dominó. Putas fogem de mim feito a fama. A fortuna. E os filhos de uma puta a quem chamei de meus. São seus os filhos. Meus são os trilhos. Da estrada de ferro onde encerro meu caminho. Tão enferrujados quanto eu. E as locomotivas que dormem nos dormentes. Na estação abandonada há uma guarda noturna. Tão soturna e abandonada quanto eu. E a estação. Objeto de desejo a meu alcance. Minha mão trêmula tremula feito bandeira manchada de sangue hasteada pelo meu braço mastro. Hasteio minha bandeira. Inteira. E abraço suas pernas finas e brancas. Retiro seus óculos de hastes negras e duras. E entre juras de orgasmos ejaculo. Na pele enferrujada e dormente do seu rosto. É Agosto. E eu ainda nem sei o gosto do teu ser. À gosto do seu ter. E por desgosto ainda espero com um copo de bebida quente. Que o ultimo cliente. Solte a tua mão. À contragosto. Mas não tem preço o teu apreço. Por dinheiro e emoção. Então me esqueço da tua depilada. E te aqueço pelada. Na beira da estação. Qual estação? Inverno. Inferno. Ou Paraíso. Talvez na próxima. Eu possa descer. Do trem. Nessa não tem. Ninguém. Quem sabe na outra. O trem do tempo saia dos trilhos. Talvez na Primavera. Quem sabe talvez no Verão. Eu possa lhe dar meu tesão. Ainda é tempo. Ainda há tempo. Desde que eu pague a prestação. Na beira do Museu. Que não é seu. Que nem é meu. Agora me deixe embarcar no teu trem. Pagar a passagem. Carregar tua bagagem. Te dizer bobagem. E depois tirar tua roupa. Me deitar entre os dormentes podres. Da tua cama. E te amar. Do mesmo jeito que se ama. Quando se quer esquecer.

01/08/2019

25/07/2019

Araraquariana Nº 2

Araraquariana Nº 2 
Luiz Carlos Cichetto

Cheguei à cidade. Forasteiro. Desarmado. De braços abertos. Fui recebido. A balas. Então saquei minhas almas. E caí. Ferido. Mas cai atirando. Com a mão direita. Que a esquerda é inútil. Tinha botas de cowboy. Que gastaram na estrada. Chutaram a boca. Do meu estômago. E eu senti a dor. Mas não morri. Corri. E me escondi. Num vagão enferrujado. Mas não era o bastante. Fui encontrado. E morto. E esquartejado. Ao som da "Internacional". Fui sepultado. Feito bandido. Ressurgi. Ainda ontem. Quase Agosto. Depois de um ano. Como quem ressuscita. Por desgosto. E jurei que nunca mais. Eu morreria. Por que ainda não era. O dia de estar morto.

22/07/2019

Bosta

Bosta
Barata Cichetto

Abro a janela da rua e mostro meu pinto. Sinto, mas é o que tenho a mostrar. O crente batendo palminhas ridículas no portão e eu penso que deuses não sabem tocar a campainha. Desgrenhado, mostro o dedo médio e coloco as cuecas para secar no varal. Sujas, com marcas nos fundilhos. E os crentes desistem de carregar minha alma ao céu. Cai o véu. Cai a máscara e os deuses devem estar putos comigo. Afinal, sou apenas um bosta de um poeta que não deixará heranças aos filhos e netos. Não tem dinheiro e os crentes batem em outro portão. Tem olhos mágicos e câmeras nas portas. Jeová não entra. Nem sai. Daqui ninguém sai. Nem entra. Sou apóstata. Aposto no escuro e encosto no meio fio. Não sei dirigir, nem tenho carro. Jeová nunca me deu. Nem meu pai, nem meu filho, nem o espírito santo. Espírito Santo, Bahia, Salvador. O salvador mora em Salvador? Ou em El Salvador. Che Guevara não era santo nem guerreiro. Médico motociclista e ateu. Feito eu, que nem sou judeu. Deu? Fodeu! O que é teu não é meu. Meu, apenas meu eu, aquele que te fodeu... Hahahaha... Enfie suas jóias, seu condomínio fechado, seu helicóptero argentino e suas casas no rabo. E eu me acabo. E enrabo teu cu. Sou porco? Não tenho sorte, só a morte. Por sorte. Guarde teus segredos, resguarde seus medos. Aos meus dedos. No seu cu. Adote um artista, mate um ativista e leia uma revista. Contigo. Veja. Mas seja o que for, não venha. Guarde bem sua senha. Debaixo do colchão. De espumas flutuantes. De Castro. O Alves. Navio negreiro e barco bêbado. Bêbados no barco, arco do triunfo. Rimbaud e as mercenárias. Plebe rude e bolinhas de gude. Chupe meu pau antes de cuspir. Chute seu mal antes de se vestir. Jogue as crianças no rio. Ou na privada. Despeje os fetos. Abençoe os netos. E reze para que os deuses te perdoem. Peça perdão, mas não peça desculpas. Guarde suas culpas, debaixo do edredom chinês. Xadrez. Comprado na Vinte e Cinco. Reze um pai nosso. Negue o pai nosso. Ainda posso. Renegar. Negar. E cagar. Na tua cabeça. E antes que esqueça, guarde minha herança. Como lembrança. Amarga esperança. Do porvir. Biscoito de polvilho. Barulho e sujeira. Pombos jogando xadrez. Ratos de saias. Tombos. Os muçulmanos e os manos. Da favela. Atearam fogo na tua mansão. Da rua dos mestres. Ao mestre com carinho. Aos mestres um cantinho. Caminho suave, cartilha dos bobos. Robôs humanos tomaram de assalto o trem pagador. E o pombo cagador escolheu tua cabeça para cagar. Sorte sua. Não tenho raiz, nem país. Não sou árvore nem flor. Que se cheire. Sou bosta, mas sou feliz, mais bosta é quem me diz. Sou bosta, mas sou... Luiz.

16/07/2016

24/07/2019

Syd Barrett Não Mora Mais Aqui

Syd Barrett Não Mora Mais Aqui
Barata Cichetto

Eu não quero enlouquecer, comendo restos de merda e comida estragada em latas de lixo presas a postes. E não quero apodrecer em consultórios médicos, em clinicas de recuperação de bebida, ou em camas de hospital. A morte não consta em meu testamento, quero chupar as belas tetas de belas garotas loiras que amamentam a filha do outro.
Eu não quero adoecer minha alma, enlouquecer minha mente, apodrecer minha carne. Não quero estar sozinho, mas não quero companhia. Estar só é ruim, mas não aguento sua hipocrisia. Deixe estar, fique longe, esteja perto. Segure meu pau, cure minha ressaca e beba comigo sentada na calçada enquanto eu enfio o dedo por dentro de sua calcinha.
Por onde andam meus amigos, onde bebem minhas amantes, onde morre minha solidão? Putas não gozam mas chupam. Ontem eu era um amante, agora, não tenho amigos. Deixem eu deitar antes de morrer. Mas antes mesmo do gozo da morte, quero gozar entre suas coxas magras e lamber sua bundinha estreita.
Enlouquece minha mente, apodrece a semente. Somente a dor permanece, amada e amante com garras de leão, olhos de serpente enquanto eu procuro restos de amores jogados nas lixeiras das ruas. Rasga minha carne com unhas afiadas e pintadas com a cor do meu sangue. Beija minha língua, seu pai não percebe.
Deixe eu acender meu cigarro, soltar um escarro e peidar. Não há censura, não há doença, não há porque. Nem liberdade, nem poder. Beber e foder. O limite são os ponteiros do relógio, um verdadeiro Elefante Efervescente. Cortinas de ferro, baratas mortas no quintal, monstros quentes e um dia de glória a um poeta que teima em não viver.
Mas eu não encontro o que procuro, tenho bolsos furados e sonhos dourados. Pague minha bebida e a conta do motel, depois desapareça em direção contrária á minha fuga. Desapareça nas brumas, nas noites escuras enquanto eu procuro restos de comida e sobras de orgasmos nas latrinas dos banheiros públicos. Púbicos pêlos presos aos dentes, dentadura postiça e a trilha sonora do apocalipse.

27/12/2009

O Mundo é Uma Buceta

O Mundo é Uma Buceta
Barata Cichetto

Queria comer o mundo feito uma buceta deliciosa. Devorar suas entranhas, coisas estranhas, gordas de banhas e magrelas safadas. Magrelas, canelas finas, eróticas e desejadas amadas de brancos corpos cor de marfim. O sol se envergonha de sua pele, querida. 
Queria comer o cu do mundo, chupar as tetas da nação e morder os mamilos de Eva. Sou safado, velho e sem-vergonha! Minha vergonha é não ser o que sonharam de mim. 
Queria foder, chupar e gozar, mas estou agora, neste instante, á sós comigo enquanto o mundo se come e se devora. Devoro a buceta do mundo, como o cu do coveiro que quer enterrar minha alma no jardim.
Queria o gozo das putas, das esposas e das matronas ensandecidas, paridas de mel, ao fel e ao bordel. Bordel não é lugar de freiras, queridos padres. Peguem o terço ali no balcão ao lado da garrafa, incinerem seus livros sagrados e fodam-se.
Queria, queria, queria, mas não tenho. Estou indo dormir, sozinho e buscando em minha masturbação o deleite, doces deleites, doces e leites das putas ensandecidas, loucas meninas de peitos que cabem na palma da minha mão. Daimones e daianes. Enrosquem os pelos de suas  bucetas nos pelos da minha barba.
Queria guardar segredos dos meus medos, mas cedo ou tarde conto comigo mesmo e a esmo conto as farpas espetadas em minha mão. Sempre, sempre conto farpas, espetadas na palma da minha mão, feito espinhos de um cristo pagão, alucinado por uma madalena que não lhe oferece o sudário. Sou louco, estupefato e paralisado de um medo que não chega. Chega de medo. Acordo cedo e fico o dia com sono. Acorda, amigo, sou seu castigo.

23/12/2009

Números Absolutos

Números Absolutos
Barata Cichetto
Andrew_Loomis_-_Woman

Porque eu consigo transformar cada perda e cada desengano em outra poesia. São tantas poesias que nem as perdas e os desenganos conseguem dar conta. São mais poesias que perdas e desenganos?
Ah, garota, eu queria tanto lhe comer! Ontem a noite eu tinha planos, mas fiquei mesmo masturbando números e tirando poesias da escuridão e da solidão.
Calculo com uma régua sem números, somo em uma calculadora desmantelada e diminuo da aritmética onde o nada é absoluto e o tudo é absurdo. Quanto a dividir, sempre fico com a parte menor que cabe dentro da palma da minha mão.
Matemática pura, sempre o resultado das minhas contas é negativo. Porque devo ou porque devem a mim, depende de quem calcula. Mas sempre transformo números em letras e letras em palavras que formam um verso. Devo ao mundo, devo ao universo. 
Porque eu consigo transformar, matemático enérgico, mágico e trágico, cada numeral negativo em um cardinal sem cifras, sem dizimas. Numero absoluto de perdas, transformadas todas elas.... Em poesia...

22/12/2009

22/07/2019

Araraquariana Nº. 1

Araraquariana Nº. 1
Luiz Carlos Cichetto
Foto: Barata Cichetto

Querem acabar com o trem na cidade. E agora? Como eu faço? Para cometer suicídio? Sem um trem para pular na frente? O prefeito disse que ninguém quer o trem dentro da cidade. É mentira seu prefeito. Imperfeito idiota. Agiota perfeito. Que eu ao menos quero o trem. Dentro da cidade. Fora da cidade. Ou com a cidade inteira no bucho. Feito serpente cobra coral. De aço... Querem arrancar os trilhos. Do trem da cidade. E agora? Como eu faço? Sem ter por onde caminhar? O prefeito suspeito. Mandou embora a locomotiva. A Maria foi. Nunca mais voltou. A andar na linha. Nos trilhos. Que agora querem arrancar... Querem acabar com o trem. E ainda tem. Gente que também quer. É o sujeito. Que mora ali perto. Que reclama que não pode dormir. E eu nem reclamo. Que moro perto. E sem o trem. Não posso morrer... Querem acabar com o trem. Do mesmo jeito que a mim. E seu aço. Ainda resiste ao tempo. Ao temporal. E ao prefeito. Imoral. Mas eu não resisto. Sou de carne...  Querem arrancar os trilhos. Da cidade. Que a eletricidade. Precisar passar. Arrancar os filhos. Por necessidade. Por vaidade. Por maldade. E por vontade. De um. Que é nenhum... É preciso não navegar. É preciso não viver. É preciso não correr. Na frente do trem... Querem destruir a estrada de ferro. E se não erro. É por decreto. Secreto. Do executivo. Que tem poder. É por dinheiro. Sem direito. A escolher... Querem mudar a história. Da cidade. Colocar outra em seu lugar. Arrancar o apito. Arrancar o grito. Mas eu repito. Não arranquem. Que eu resisto. Feito a estação... Dementes querem retirar dormentes. E vender à prestação. E a condição. É o pleito. Do eleito. Um sujeito sem trilhos. Sem filhos. E sem coração. Apenas vagão... Então o jeito. É arrancar o prefeito. E deixar os trilhos. Deixar eu jogar. Na frente do trem. A carne que restou. De mim. Enferrujada. Feito o trem. Que não tem. Onde morar. Que não tem estação. Onde parar.

21/07/2019

26/06/2019

Reflexões Sobre Meu Sexagésimo Primeiro Aniversário

Reflexões Sobre Meu Sexagésimo Primeiro Aniversário
Imagem Por: Reimund Bertrams por Pixabay

Estamos num mundo às tortas onde todas as portas parecem se fechar. Um mundo de mortas que não sabem trepar. De escritores que não sabem ler. De leitores que não sabem escrever. Onde todos são poetas e ninguém é poesia. Onde todos são livros e ninguém é literatura. Um mundo onde todos tem opinião e ninguém sabe o que o não. Pensadores que dispensam apresentação. Formados nas faculdades das igualdades. Com sinceridade sem educação. Com respeito à decepção. Estamos num mundo sem fronteiras. Com limites cercados. Um poeta em cada portão de casas sem leitores. Um escritor em cada centímetro quadrado num mundo redondamente analfabeto. Um mundo de fetos abortados. De dejetos entortados. Trajetos cortados. Insetos. Resta a certeza. Da morte. Sobra o resto. Eu não presto. E por sorte não empresto. O que sou. Dia a dia me abandono. E nem o sono. Consola. Não há orgulho em ser o que sou. Mergulho profundo no que fui. Sou escritor. Sou poeta. Sou leitor. Ator. Peça sem fim. Peça o meu fim. Atendo.

26/06/2019

22/06/2019

Manual da Desexistência

Manual da Desexistência
Luiz Carlos Cichetto
Imagem: ntnvnc por Pixabay

Há uma poesia que não pode ser escrita. E não pode ser dita. E que de tão maldita ninguém acredita. Que seja poesia. Acham ser afasia. Concordam que é heresia. E imaginam ser hipocrisia. Há uma poesia que não posso escrever. E ninguém pode ver. E nem descrever. Uma poesia que nada tem a ver com haver. Com o que o houve. E que não se ouve. Uma poesia e um pé de couve. Há uma poesia que não pode ser pensada. Nem assada. Nem frita. Há uma poesia podre. No meio das outras frutas. Cheirando mal. Contaminada. Azeda. Há uma poesia na feira. Na cesta e na sexta. Poesia que não tem preço. Nem tem apreço. Há uma poesia que não pode existir. Nem resistir. Há uma poesia que não pode ser Poesia. Nem Prosa. Nem mote. Nem glosa. Há uma poesia no balcão. Na fila do pão. No supermercado da ilusão. Há uma poesia na fila do não. Com senha na mão. E um tiro no coração. Há uma poesia que não tem graça. Nem causa desgraça. Sentada na praça. Da Consolação. Há uma poesia dormindo. Embaixo da ponte. Sem colchão. Nem cobertor. Há uma poesia vazia no prato. E que não faz trato. Nem tem retrato. Falado. No jornal. Há uma poesia que não tem perfil. De poesia. No Facebook. E não tem Instagram. Nem Whatsapp. Há uma poesia que não pode ser falada. E que não pode ser calada. Há uma poesia caída na calçada. Pisada. Há uma poesia escarrada. Na sarjeta. Há uma poesia cuspida. No asfalto. Há uma poesia esculpida. Em barro. Em terra. E em carne e osso. Há uma poesia que não pode ser escutada. Nem estudada. Há uma poesia expandida. E que de tão bandida. Foi banida. Varrida. Debaixo do tapete. Do quarto de despejo. Sem beijo. Sem desejo. Há uma poesia sem pagamento. Sem aumento. Sem permissão. Há uma poesia estendida. No meio fio. Com a vida por um fio. Há uma poesia doente. Sem hospital. Há uma poesia louca. No hospício. Há uma poesia suicida. No alto do prédio. Sem remédio. Nem droga. Há uma poesia armada. No meio da multidão. Há uma poesia amada. No seio da escuridão. Há uma poesia morrendo. De fome. Há uma poesia assassinada. Assinada. Com sangue. Há uma poesia morta. De desgosto. Ou solidão. Houve uma poesia. Então ouve uma poesia. Que não pôde ser escrita.

08/06/2019

19/05/2019

Os Seis Cegos Indianos e o Elefante Efervescente

Os Seis Cegos Indianos e o Elefante Efervescente
Luiz Carlos Cichetto

Arte só é valida se a gente estoura os miolos de alguém... Nem que sejam os próprios. E diz Daniel Kobra Kaemmerer: "Verdade mesmo! Somos rebeldes suicidas." Exatamente. Somos suicidas rebeldes, apenas demoramos a vida inteira pra apertar o gatilho... De um revólver sem balas. Ou de balas sem revólver. A cada estrela que morre, nasce um grão de poeira. Poeira. Poesia. Poe, Edgar. Allan. Tycho Brahe: "Ne frustra vixisse videar!" Tycho Brahe e seu nariz de ouro. Ou de cobre. Cobre. Recobre. Redobre. Abram minha sepultura e retirem o ouro enterrado dentro da minha carcaça. De graça. Desgraça! Desgraça pouca... É pouca desgraça. Disfarça. E entrega o ouro ao bandido. E a seu cavalo o cocô. Um verme pode estar cheio de vermes? Vem ver-me! Agora? Mesmo! Eu nunca descobri uma estrela. Nenhuma estrela me descobriu. Onde anda Deus? Pregando entre os ateus? Entre os meus? Judeus? Teus? Onde andam os porcos? Não há mais chiqueiros. Nem canetas tinteiro. Aprendi a escrever com caneta tinteiro. Tinha até mata-borrão. De papelão. Caderno brochura que era mais barato que o espiral. "Caderno de molas",  colchão de espuma nem pensar. Sofá rasgado. De couro artificial. Lagartixas sem rabo. Panelas sem cabo. E nenhum feijão para ser cozido em sonho. Qual é a origem de Orígenes? Minha existência é um dramalhão escrito por um mexicano e  filmado por Tarantino. Izabel Cristina tinha "O Direito de Nascer" E de ser. O que fosse. Onde fosse. E para onde fosse. Mamãe Dolores. Mamãe e suas dores. Coragem, João. Coragem, Irmãos! Nunca soube jogar futebol. Era o Irmão Covarde!  Deixa eu fazer como Elvis: atirar na televisão. No rolo de papel higiênico. Ato cênico. Obsceno. Seno, cosseno. Tangente. Secante. Saída pela tangente. Teorema de Pitágoras. E Ágora? Agora, não! Caiu uma estrela na minha cabeça. Não era uma maçã, não! Descobri a lei da gravidade, sem gravidade. Apenas era da maior gravidade. Escrevi um breviário. Em breve estará nas igrejas. De joelhos. Coelhos não sabem ficar de joelhos. A poeta, de sexo feminino se diz poetisa, mas eu digo que é uma sacerdotisa. De Pisa. Não pisa. Não me pisa que dói. Ontem olhei o Sol. Queimou minha retina, menina. Menina de sóis nas vistas. Veja o que o sol fez nas suas vistas. Um menino me pede uma entrevista. Só pago a vista. Mas ele quer de graça. Que desgraça! Não se faça. De besta! Eu não pago. Só cago. Não quero rimar com trago. Amyr, meu querido amigo Dragão solta suas labaredas pelos dedos e compõe uma peça musical magnífica. Explica! Não, não explico o que não sei. Pergunte ao nó! Ao infante. Ou ao elefante. Pergunte aos seis sábios cegos da Índia sobre o elefante efervescente de Syd Barrett. Perdi o bonde. Onde? Onde conde se esconde. O Conde D'Eu?  E eu? Eu não! A Princesa Áurea! Aura de Princesa. Tigresa. Isabel era Princesa. Izabel é Rainha. Do meu reino de solidão e poesia. Eu queria foder com ela no meio da rua. Dentro do ônibus. Na Praça da Sé. Dentro da Igreja. Ela não deixa. Ela não quer. Sou um filho da puta, ela diz. Ela disse: "Case!" E eu casei. Por escrito. Sou maldito. Não sei se coloco interrogação ou exclamação nessa pequena frase. Queria tanto saber onde e como usar a crase. Onde está meu bonde? O Bonde do Desejo... Amanhã tem teatro. Na calçada em frente. Um ator indigente. Indulgente. Uma atriz meretriz. Indecente. E um diretor sem talento. Indiferente. Dramas mexicanos, atrizes peitudas de silicone. E um clone. De plástico. Papel higiênico Dama. E uma dama higiênica. De cu lavado e depilado. Represento meu papel. Ele é higiênico. Escrevo poesia composta. Com bosta! Seca. Ressecada. Grudada nos pelos do seu cu. Fedida! Nojenta! Onde anda Lulu com aquela bunda deliciosa e cabelo Chanel? Dando o cu, no mínimo. No máximo chupando o pau do dono do Jeep. A loira gigante balançando as ancas, a bunda murcha, chinelos de plástico e pés rachados, arrastando seu desejo pelas calçadas cheias de bosta de cachorro. Socorro! E a outra? Aquela que tem tatuagem e ombros de estivador. A rabuda da esquina. É uma menina, mas quer ter filho. E não tem brilho. Mas tem desejo. No olhar. Eu a vejo. Sem beijo. Quer um queijo? Filho sem brilho... Trilho sem trem. O que tem? Rain, rain, rain. Rain Man. Hey, man! E o estribilho. "Dos filhos deste solo és mãe gentil". Da puta que te pariu! E o bigorrilho que tirava o cavaco do pau? Uma canção popular de mil novecentos e guaraná com tampa de rolha. E da brincadeira de bolhas de sabão. Ah, não! Por que não? Porque não! Ah, não! E o que tem o anão? Não... Nada não. Era caolha a trolha que mijava na garrafa. Até o dia que o gargalo ficou preso na sua buceta. A desgraça precisou de cinco médicos para tirar a garrafa de dentro da buceta dela. E os cacos de vidro cortaram seu cu. Ela nunca mais mijou na garrafa. Nem deu a buceta. Virou especialista em boquete. Acho que era a Ivete. Talvez Ivonete. E casou com um pivete, que depois cortou sua garganta com um canivete. Suíço.  Que ela trouxe de Pequim. Era o Joaquim. E quanto a mim, fico perguntando com quantos paus se faz uma canoa. Rosinha, minha canoa. Rosinha é coroa. E amaldiçoa a garoa. Enrolo, enrolo, enrolo... Não sei de que forma terminar esse texto. Qual é o pretexto? Preciso de um? Não. Acabo assim. Fim!

01/02/2012

18/05/2019

Poema de Sete Faces Além da Minha

POESIA EM PROSA | Poema de Sete Faces Além da Minha
Luiz Carlos Cichetto
Outra Face do "BBibliotecário", de Gazua, por Celso Moraes F.

Um dia conheci Carlos. E Carlos, que poderia ser eu mesmo, mas era um outro, que não Mário nem Oswald, mas da família. E ele me disse, "Vai, Carlos, vai ser gauche na vida!". E eu disse: - Vai, Carlos, vai se foder na vida! E nem sabia para qualquer Carlos eu dizia aquilo, se ao outro ou se a mim mesmo. Afinal, como Carlos também são o Roberto e Erasmo, e como Carlos também é outro, que não fala com anjo torto, nem está morto, feito o outro Carlos e eu. Um dia conheci Andrade, que não tinha maldade, mas tinha tesão. E Andrade me disse que se chamasse Raimundo, seu nome seria Solução. E por fim eu disse: - Vai, Carlos, vai para o mundo, ser gauche, na puta que te pariu!

17/05/2019

15/05/2019

O Suicídio Metafórico de Barata Cichetto

O Suicídio Metafórico de Barata Cichetto
Luiz Carlos Cichetto


Meu suicídio sempre foi e sempre será metafórico, minhas metáforas sempre serão suicidas, com algum toque adicional de homicídio. Sou perigo aos que cercam, aos que me cercam, e que de alguma forma fabricam cercas. Acerca de mim, apenas eu, o que comete diariamente suicídios metafóricos e metáforas suicidas. O que me cerca não é a cerca, nem a seca. O que me cerca e beira, a eira, a esteira de praia e os ratos de esgoto. Baratas são duras de roer, cascadura, cascudas e pontiagudas. Morri na mesma época que nasceu a estupidez mundial. Meu suicídio é metafórico e alegórico, metafísico e alérgico, metástico e estático, metálico e anárquico. Sou osso duro de roer, mas roo até os ossos, mesmo que sejam os meus. São teus meus castigos, são meus meus perigos. E não somos mais amigos. Estou sempre a perigo, mesmo que são, e mesmo que salvo, sou alvo e mesmo que alvo estou salvo. Não há mais perigo quando se morre. Agora vou me deitar. Quem sabe eu morra antes de acordar, ou acorde antes de morrer. Corra, que ainda dá tempo de me socorrer. Morra, que ainda dá tempo de me matar. Ainda há tempo de me suicidar.

14/05/2019

11/05/2019

Tomo | Poesia em Prosa

Tomo
Luiz Carlos Cichetto
"BBibliotecário" - Arte Por Celso Moraes F. - Goiás

Eu ainda honro compromissos. Feito omissos e submissos. Ainda tomo comprimidos. Feito oprimidos e suprimidos. Ainda tomo no cu. Ainda tomo emprestado. Empresto o que foi tomado. Ainda tomo coca-cola de garrafa. Ainda tomo cerveja de garrafa. Pinga de litro. Água com açúcar. Tomo o que me pertence. Ainda tomo sopa de letrinhas. Ainda tomo na bunda. Eu ainda como. Bucetas. Macarrão. Arroz e feijão. Como como? Com a boca. Com o pau. Com os dentes. Dentadura postiça. Como carniça. E engraxo sapatos. E ainda sou engraçado. Desgraçado. Sem graça. Sem eira e sem beira. Ainda sei. Que seis são meia dúzia. E que meia dúzia e meia são nove. Noves fora o que sobra? A prova dos nove. À prova dos nove. Aprova? A prova de história. Qual é minha nota? Anota. Com letra de forma. De qualquer forma. Em norma culta. Em norma adulta. Norma adulta é uma puta. Ainda como a Norma. Como a norma. Anormal. É normal. Formal. Ainda honro. As calças que calço. E os sapatos que piso. No pasto da desonra. Honro a honra. De honrar. Que honra e glória. São de lutar. Sexta-feira é dia. De honrar compromissos. Tomar comprimidos. E tomar no cu.

10/05/2019

04/05/2019

Ditador da Liberdade

Ditador da Liberdade
Barata Cichetto
Pintura: Barata Cichetto "Rivotril" 2017

Eu! Que aposto no aposto. Desgosto do gosto. Morro em agosto. Fui aposto. Preposto. Disposto. Ao posto. De gasolina. De brinquedo. Em segredo. Por medo. Por ser cedo. Por se nunca. Por ser morto. Eu que fui porto. Torto. Absorto. Agora sou morto. E poeira. Sem eira. Nem beira. Eu que fiz feira. Terça-feira. Inteira. Eu que fui sem ter ido. E fui sem ter sido. Que fui. Que fiz. E que diz. E não importa o que fiz. Importa quem diz. O que diz. A meu respeito. Faca no peito. Não tem jeito. Perfeito ou imperfeito. Fui sujeito. E sou sujeito. Ao reto. Ao torto. Ao teto. A ter neto. Já que fui feto. Sem nascer. Sem crescer. Sem ser. Nem merecer. E não importa o que bate. Importa quem late. Importa o iate. Importa o que importa. E o que não. E tudo importa. Até a porta. Menos meu coração. E a minha existência. Que por desistência. Abri mão. Eu aposto. Que não sabia. Que mais valia. Não saber não. Pois o que importa. É o seu cu. Na minha mão. Me dê a chave. Da algema. E não tema. Fujo não. Sou prisioneiro da metáfora. Carrasco do poder. E ditador da liberdade. Agora é tarde. Esqueçam de mim. Que o que arde. Nunca cura. E o que dura. Nunca é tarde.

03/05/2019

26/03/2019

René Não Usa Pijama

René Não Usa Pijama

René nunca usou um pijama, e seus pés nunca pisaram na grama. E René nunca foi ao cinema, e nunca soube o que é um problema. René nunca tomou banho, nunca penteou o cabelo, nunca achou nada estranho, nunca usou uma saia ou calças compridas. René nunca tomou comprimidos, nunca olhou pelos oprimidos, nunca ergueu bandeiras, nunca falou besteiras. René nunca xingou ninguém, nunca culpou alguém, e perguntou a quem. René nunca colocou uma roupa, nunca se despiu, nunca se despediu, nem nunca pediu. René nunca cheirou, nem fedeu, nunca ficou doente, nem brigou com parente. René nunca foi à escola, nunca pediu esmola e nunca votou em político. René nunca foi crítico, nem cínico, nem poeta. René não aprendeu a escrever, não aprendeu a ver. E nunca René viu a beleza, nem a feiura nem a maldade, nunca soube o que é verdade nem realidade. René nunca beijou, nunca transou, nunca engravidou. Nunca foi pai, nem nunca foi mãe. René nunca abortou. René não nasceu. 

26/03/2019