O CONTEÚDO DESTE BLOG É ESPELHADO DO BLOG BARATA CICHETTO. O CONTEÚDO FOI RESTAURADO EM 01/09/2019, SENDO PERDIDAS TODAS AS VISUALIZAÇÕES DESDE 2011.
Plágio é Crime: Todos os Textos Publicados, Exceto Quando Indicados, São de Autoria de Luiz Carlos Cichetto, e Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. (Escritório de Direitos Autorais) - Reprodução Proibida!


Mostrando postagens com marcador Crônica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Crônica. Mostrar todas as postagens

23/10/2015

Sofrimento e Tédio

Sofrimento e Tédio
Barata Cichetto


“Temos de continuamente parir nossos pensamentos em meio a nossa dor, dando-lhes maternalmente todo sangue, coração, fogo, prazer, paixão , tormento, consciência, destino e fatalidade que há em nós” (Nietzsche, A Gaia Ciência).

Sou, desde que poeta e filósofo, igual a uma mãe pervertida, que gera filhos às pencas. Que transa com imundos na imundice das ruas, para depois parir em estrebarias e bares das periferias, a filhos prematuros, imaturos, inseguros, que alcançarão o mundo e sobre ele avançarão transformando-o numa pocilga nojenta. Como pai, filósofo e poeta, dou aos filhos a chave da desgraça, sabendo que tarde ou antes, a transformarão em maldição. Não contra mim, mas contra toda essa humanidade pervertida à beira de um abismo inevitável. Sem que percebam, farão o que quero de suas mentes, o que desejo de seus corpos. E na perversão do mundo, a ira os consumirá, o tempo os devorará. E a destruição será total. Sem retorno, sem trégua. Sou Chronos, Baco e Sade no mesmo corpo, na mesma mente. Blake em tarde de tempestade. Rimbaud, o mercenário  não o poeta. E enquanto poeta e filósofo, criança amaldiçoada no ventre e quase morto berrando contra o tempo, quebrando a segurança, o protocolo e o paradigma. Não há mais retorno. Lancei os dados, joguei sua sorte. Agora fiquem com aquilo que plantaram em mim. Fiquem com minha vingança, minha revanche e meu asco. Dentro de algum tempo todos estarão mortos, de qualquer forma. Não tenho moral, mas também a imoralidade me enoja. Estou morto, mas sou imortal. Transpiro sangue, tenho dores de cabeça horrorosas. Odeio cheiro de rosas, deixem que apodreçam com sua beleza, em algum jardim bucólico do outro lado da rua. A mim interessam putas magrelas e fedidas que choram de saudades pela buceta em orgasmos secos e surdos. A mim interessam as adulteras que sangram em cada traição, que choram por contradição. A mim interessam livros, um naco de pão e um café quente. De fato, nada mais espero de mim, de si, de per si. Nada além da única moral que sobreviverá a mim: o fim. Ninguém conhece o sentido do fim. Nada existe no fim, portanto, nada é o fim. A mão que segura o pêndulo é a minha, que treme.  Não há destino, não há remédio, apenas sofrimento. E tédio.

22/10/2015

12/10/2015

Manifesto Anartista

Manifesto Anartista
Luiz Carlos Barata Cichetto
Foto: Marli Abduch

Não, não sou famoso. Não tenho peças encenadas no Inferno. Nem no Paraíso. E não tenho carro, nem dinheiro. Não frequento cemitérios. Não passo a madrugada bebendo em botecos do centro da cidade. Não frequento a periferia descolada. Não tenho retina deslocada. Não durmo bêbado todo dia, nem jogo bilhar no bar com um garçom engraçado e duas putas desgraçadas. Não dirijo. Nem carro nem cinema. Não tenho direção Sou apenas um escritor, medíocre e amargurado pela falta de oportunidades. Meu underground é minha oficina, onde apenas minhas gatas me fazem companhia. Fumo nicotina e não suporto cheiro de maconha. Pago impostos, mas não peço nota fiscal. Ando de ônibus e a pé. Adoro sandálias de couro e uso calças rasgadas por falta de outras. Não frequento festas, não olho por frestas. Nunca tomei tiros. Nem dei. De nenhuma espécie. Não sou convidado de gala em lugar nenhum. Apenas escrevo, escrevo, escrevo. Feito cagar e mijar. Sem frescura. Adoro transar. Por prazer. Não por vício ou vaidade. Por necessidade. E vontade. Adoro chupar uma buceta, comer um cu. Chupar e ser chupado. Mas não conto a ninguém. Conto apenas agora. Em segredo. Acordo com medo. Durmo cedo. Sou artista. Anartista. Sou honesto. Mas detesto. Não presto. Busco a razão da minha emoção. Odeio esportes. Nunca ganhei nada. Tenho um metro e oitenta e sete. Sessenta e nove quilos. E quase cem quilos de poemas encadernados com espiral de plástico. Não sou convidado a vernissages.  Ou sou. Não vou. Ninguém sente falta. Também não sinto. Nada. Foda-se o underground glamourizado da Rua Augusta, Frei Caneca e Praça Roosevelt. Foda-se o underground da pastelaria. Do pastel de bacalhau do Mercado Municipal. A vodka batizada do Bar do Bin Laden. Foda-se. Não vou ao teatro. Não tenho tempo. Nem dinheiro. Nem desejo. Meu teatro assisto da minha janela. Putinhas de minissaia. Senhoras mal comidas falando mal dos maridos a amigas que são comidas por eles. Gostosinhas de shortinho enfiado no rabo. Bichas velhas de unhas do pé pintadas de vermelho. E vestido de alcinha. Esse é meu teatro. Escrevo a madrugada inteira. Durmo de manhã. É cedo ainda. Morrer é frio. Esse é meu Manifesto Anartista. E em nome de todos aqueles que falam por mim é que falo.

10/10/2015

Publicado Originalmente no Facebook, em 10/10/2015
https://www.facebook.com/notes/luiz-carlos-barata-cichetto/manifesto-anartista/1268991423117825

19/07/2015

Alucinação

Alucinação
Luiz Carlos Barata Cichetto
Direitos Autorais Reservados

Poesia não é apenas palavras, são códigos secretos que acessam a mente nos lugares mais escondidos. A poesia é a verdadeira revolução, porque é a única que mexe com todos os antros, bloqueios e trincheiras da mente humana. Muito além das ciências e tecnologia. Por isso criam situações caóticas em que a poesia não tem mais importância. Acordar e transformar em poesia o pesadelo... Bah, a poesia é que é meu pesadelo. Queria sonhar em comer duzentas fadas gostosas, mas sonho com.. Poesia.. Poesia não é fada, é foda! Então, foda-se e fada-se Não sonho mais. Insônia.. Não durmo e não sonho. Assim não tenho que acordar e escrever poesia. Toda porra de manhã escrevendo poesia. Fode meu dia! E foi Alice quem por ultimo chorou á beira da sepultura do coelho de lata, enquanto do outro lado do arco-íris o chapeleiro louco ria de tanto chorar. Alucinação 1: Zabriskie Point, o Vale da Morte, Daria, a personagem e a triz chupando meu pau no meio do deserto. Onde estará Alice... Cooper? Rock'n'Roll never die... And live and let die... 007, e o cavaleiro de sua Majestade Paul McCartney band on the run. Arnaldo estourou a cabeça no chão da 23 de Maio e depois criou uma Patrulha do Espaço. Onde é que está Rock'n'Roll nisso? Há Rock'n'Roll em quase tudo. Quase! Too old to Rock'n'Roll too young to die. And so... Live and let's Rock. Let it bleed, let's go! Going to California. Going to Chile. Atacama. Areias de Neruda, eu de bermuda. No deserto não há carteiros, nem poetas. Só poesia e tempestade. Alucinação. Escutar Cactus no Deserto. Há uma banda tocando nas dunas. Live in Concert in Atacama's Desert. Quero ir a Paris, Roma e Barcelona, beber do meu sangue europeu. Antes de morrer. Meia noite em Paris. Arco do Triunfo. Bastile Day.. Rush tocando na Torre Eiffel. Sem dinheiro não tem sonho. Nem na padaria da esquina. Alucinação rende poesia. Não dormi, não tenho sono, não tenho sonhos. Alucinação 2: uma puritana desgraçada chupando. Tenho asco daquela boca. Mas em minha ultima alucinação eu estava morto. Morto! E sabia que tinha morrido. Morto! E aquela morta-viva sabia e mesmo assim chupava meu pau da forma que nunca chupou quando era viva. Foi um dia? "Tem gente que já nasce póstuma", disse Frederico, que morreu, mas que em minha alucinação raspou o bigode e passou a se chamar Esmeralda. Alguém sabe jogar Buraco? Pega o morto, então! Citação: porque a pútrida poesia das putas é panaceia pérfida da patética pustulência perdida em prantos perfilados pelas perniciosas prenhas de perdão e a pendenga perdida põe-se a permitir pausas e pedidos de Poe, poeta parnasiano, promiscuo e profundo. Peidos petulantes. Pois!

18/07/2015

21/06/2015

Ainda a Vontade de Morrer

Ainda a Vontade de Morrer
Luiz Carlos Barata Cichetto

Ontem tive vontade de morrer, outra vez. Vontade de morrer outra vez, este mês. É o que me move na vida, essa vontade de morrer, de correr aos braços da morte sempre que me sinto em perigo. Insano isso? Fuga impossível, acredito. Lendo "Tabacaria" de Pessoa e pensando o quanto é uma merda tudo isso. Lembro de tudo o que escrevi, quilos e quilos de papel, mais uma milhar de poemas, a grande parte enormes tratados sobre a mente humana, sobre mim mesmo. Mas o que importa toda essa papelada, quando dentro em pouco estarei mesmo morto. Talvez minha poesia sobreviva um pouco. Um geração quem sabe. Lembrarão dela, mas não de mim, até não lembrarem mais de nenhum dos dois. O papel, aqueles quilos, irão amarelar, apodrecer. Os bites e bytes dos computadores onde foram escritos serão corrompidos. Ah, os vírus de computador, os vírus humanos, os germes. E não sobrará mais computadores e nem minhas lembranças neles registrados. Pensamentos agora não duram mais que um dia.. Menos.. Quinze minutos de fama, como disse Warhol, é o que dura qualquer filosofia mais alta ou rasteira. Ah, que lástima! Ontem tive vontade de morrer... Outra vez... Mas acho que vou aproveitar o sol de hoje e viver um pouco.

Publicado Originalmente em: https://www.facebook.com/notes/luiz-carlos-barata-cichetto/ainda-a-vontade-de-morrer/1193808993969402

Respeito é Um Bem Individual, Único e Essencial!

Respeito é Um Bem Individual, Único e Essencial!
Luiz Carlos Barata Cichetto

É preciso que acatemos calmamente e de cabeça baixa todas as maldades perpetradas de pais contra filhos e de filhos contra pais? Aceitar calmamente toda a estupidez, burrice e censura sob a égide do politicamente correto? Toda a malversação dos direitos individuais sob a desculpa do bem coletivo? Aceitar a mudança de valores morais é necessária, desde essas mudanças não sejam impostas na marra sobre quem não as aceita. Sua efetivação se dá com o tempo e baseada nos valores individuais. Fora isso é ditadura. Não estou nem aí para o conceito de família tradicional, embora até goste de sua estrutura... Em teoria... Foda-se se uma família é formada por um macho e uma fêmea, dois machos, duas fêmeas, quatro fêmeas e oito machos, um ancião e uma ninfeta. E isso entre cores, espécies e crenças de qualquer gênero. Agora, o que é necessário, e disso não se pode abrir mão é do RESPEITO. E não apenas de fora para dentro, como é brandido e estandartizado pelos moderninhos, mas, e principalmente, de dentro para fora e dentro deles próprios. Há quem diga que RESPEITO se conquista, mas de fato RESPEITO é a única regra que vale. Não se trata de conquista ou de valor, social ou moral. E, ao contrário dos valores coletivistas, estúpidos e mentirosos, o RESPEITO começa e reside sempre no individual. RESPEITO é individual. Portanto, o que temos, e que se não tiver um freio, uma parada para reflexão sobre esse valor ÚNICO e INDISPENSÁVEL, estaremos condenando a espécie humana ao fim. As cenas que presencio em todas as partes da cidade, e que muitos podem ser classificadas de formas diferentes, dependendo da visão política ou religiosa de cada um. Mas eu, que me sinto livre o bastante (apesar de nunca se ser livre o bastante), dessas visões maniqueístas, pobres e estúpidas, classifico apenas de uma forma: destruição do único valor essencial: o RESPEITO. Claro que isso tem um objetivo, claro que isso faz parte de um jogo de poder monstruoso e serve aos propósitos de dominação, cujos lideres pretendem que nada abaixo deles seja respeitado, que a única coisa que mereça respeito são eles. Disfarçam isso de "luta" social, igualdade racial, direitos humanos e toda uma série de "keywords" que agem de dentro para fora e transforma a todos em marionetes, em títeres manipulados por cordas invisíveis. A ilusão da liberdade é a pior forma de escravidão. Nada precisa ser respeitado a não ser o que querem que seja e que sirva a seus propósitos. "People have a power"? No! O povo não tem o poder. Ao menos até que tenha consciência. E consciência se adquire através de vários meios. Um deles é a cultura e informação, manipuladas quase que na totalidade pelos detentores do poder, que se encontrem em estágios superiores à ideologias ou dogmas, a não um ser um único: PODER. Não é pelo dinheiro, que o dinheiro é apenas o meio necessário. É o PODER. E esse PODER é exatamente o contraponto ao RESPEITO. O coletivo é amigo do PODER e inimigo do RESPEITO. RESPEITO É UM BEM INDIVIDUAL!

20/06/2015
Publicado Originalmente em: https://www.facebook.com/notes/luiz-carlos-barata-cichetto/respeito-é-um-bem-individual-único-e-essencial/1195045963845705

13/11/2013

E Este Aqui? Ainda Sou Eu!

E ESTE AQUI?  AINDA SOU EU!
Luiz Carlos Barata Cichetto

E este, assim, sou eu: esfarrapado. Desdentado, roto, maltrapilho e ferrado. Sem eira nem beira, à beira de um ataque... Do coração. Assim, este aqui sou eu, lúcido, translúcido e cristalino. Nem preto nem branco apenas humano. Apenas um, humano ser. E este, que não dorme nem sonha, este aqui sou eu. Maquiavélico, maldoso, cuspidor e punheteiro. Sou eu. Assim! Assim, este aqui sou. Eu? Sou o que sou e não onde estou, porque os pés são mais importantes que o lugar, parafraseando toscamente ao Franz. As vezes as noites são curtas demais e os dias longos demais... Mas para todos esses casos, há a poesia. To buy or not to be.. this is the really question. E este, ali adiante, também sou eu. Refletido num espelho quebrado, invertido, rachado e empoeirado. Eu, apenas eu. Que pensou que eram doces as uvas. E percebeu que eram frutas as vulvas. Ou seria o contrário? Metralhadoras não cospem doces, putas não fedem perfume e eu, este que sou eu, ainda sonha. Perdido, fedido, fodido e mal pago! Eu, apenas eu e ninguém mais. Quem mais seria? E ainda pergunto: quem sou eu? Eu mesmo? Quem? Quem dá mais... Quem dá? Pra mim? Quem dá pra mim? Quem pra mim dá, empresta aos deuses... Então... Dá pra mim? A mim. Este que sou eu, esfarrapado, desdentado, punheteiro, duro e safado. Quem dá mais? Leilão de poetas e de poesia. Quem dá mais? E eu, eu mesmo, este mesmo, que não fede, mas não cheira... Que não cheira nem fuma... Maconha. Marlboro e café... Tem cigarro aí, Rogério Skylab? Ele me disse, tome um cigarro, mas vá fumar em outro lugar, porque quem fuma junto conspira, inspira e aspira. Ontem peguei um caminho. O caminho mais rápido era de Metrô, mas não era linha a 743, Era a estrada 666, estrada da dor, Facção Central, Central do Brasil, Brasil Central. Onde é que está meu Rock'n'Roll? Ah, foi ao Inferno, mas ao contrário do Poeta ainda não voltou. E este aqui sou eu, sem tirar nem por... Pondo e tirando, pondo e tirando, pondo e tirando... Gozei! Tirando o tirano, este aqui sou eu! Algo em mim está morto e eu não sei quem fui. Morto e torto. Torto? E o porto, como fica nessa rima? Porto... Alegre... As praças de Quintana... Um dia chego lá... Em Porto... Alegre? Triste ou alegre eu chego lá. Tem tanto bêbado e tanta puta na estrada que é capaz de eu não chegar. Ao porto.. Aporto... Aeroporto, espaçoporto. "Não fique triste, venha ser minha..." Cantou Luiz Carlos, o Porto! O Peso... Pesa muito? E este ainda sou eu... Ainda sou. Eu? Este aqui ainda sou... Ainda somos? Eu, paranóico, paródico, esquizofrênico. Eu? Ainda eu. E mais ninguém...

13/11/2013

04/11/2013

Quarenta Anos de Poesia ou Vênus em Fúria

Quarenta Anos de Poesia ou Vênus em Fúria
Luiz Carlos Barata Cichetto

No início de 1973, quando eu tinha 14 anos de idade, e já rompia e rasgava as ruas de São Paulo, um garoto magrelo e tímido e virgem carregando pacotes e envelopes, cometi meus primeiros poemas. Poesia concretista na maioria. E muito ruim e foi tudo ao lixo. Dois ou três anos depois, ainda magrelo e tímido e não mais virgem, já rasgava as cortinas dos puteiros do centro e escrevia poemas de amor impossível para as putas da São João. Poemas secretos, não concretos, mas ainda assim, ruins. E foi tudo jogado no lixo, embora alguns tenham sido publicados em "jornaizinhos" (não existia ainda o termo "fanzine"), que decerto foram jogados ao lixo também. O tempo corria e eu também, de um balcão a outro de banco, trajado de terno e gravata, pois bancário, mesmo auxiliar de porra nenhuma, tinha que se trajar assim. Descobri Lou Reed e a barra pesada, depois, bem depois, descobri Augusto, Baudelaire e outros. Era a poesia do Rock e o Rock da Poesia e eu ainda era magrelo, não era tão tímido e nem um pouco virgem. Em 1978, peguei doença venérea, coisa séria, ao comer o rabo de uma puta. Enchi a cara e a porra do corrimento recolheu. Me fodi dois anos tratando daquilo. E minha poesia falava daquilo e eu não joguei nada  no lixo, porque aquela era nojenta, mas era boa. Guardei dois anos e editei um livro, resgatado há pouco, em mimeógrafo. Guardei mais dois anos e uma recém-esposa ficou com ciúme, fez uma cena e rasguei tudo e joguei no lixo. Era ela ou a poesia e eu escolhi o lixo. E daí, mais dois, mais dois... Mais dois ou três ou cinco... Passaram-se quinze e sonhava com o Paraíso. Eu era infeliz... E sabia... Sabia de cor e salteado... Perdi empregos, dignidade e fui digno de pena, porque era assim que me queriam. Enchi a cara, passei fome e fui revirar o lixo que tinha na esquina. Fedia aquele lixo. E naquele lixo, entre papel higiênico sujo de esperma e de bosta encontrei meus poemas, aqueles que tinha rasgado há anos. Eles disseram; "Olá, estamos todos aqui, no lixo te esperando!". Disputei com mendigos a cachaça e o café com leite de misericórdia, colei os pedaços dos poemas e ficávamos na calçada, eu e uma meia dúzia de mendigas e mendigos. Eles sabiam do que eu falava e eles sabiam o que eu sentia. Ambos já estávamos mortos e sabíamos disso. Disputei com abraços com eles e fugi aos braços da primeira... Que de primeira... Fodeu! Quem era eu? Rum, vodka, cerveja e putaria, sexo e porrada na madrugada. Pirações e inspirações, num personagem de desenho animado da década de trinta. O diabo, como dizem, não é tão feio quanto se pinta. E ela não tinha trinta e na buceta uma pinta. Gostávamos de foder, de bater e de apanhar. E de buceta, os dois. E minha poesia crescia. Lixo? Jamais! Eu não tinha mais 14 nem 24 nem 34. A rua tem gosto de podre e cerveja gosto de mijo. Lixo? E não tinha mais família, e existir era tão boa quanto Cynar, amarga e doce ao mesmo tempo, dependendo de quanto deles se bebe. Mas o tempo mijou na minha cara. Olhei pra cima e vi a buceta peluda do tempo se abrindo e despejando aquele mijo quente e salgado na minha cara. Ah, a buceta do tempo... Eu fodi com ela, com a buceta do tempo. E eu sabia escrever, escrever, escrever. Poesia é uma puta lésbica e mentirosa e eu só fodia com ela. Betty Boop? Ah, fodam-se os desenhos e os desejos infantis. Quero olhar pra cima e esperar o gozo da buceta do tempo na minha cara. Poetas apenas esperam por esse momento. Orgástico, plástico... Mágico. Ah, maldita língua portuguesa: por que usar a palavra "balas" para doces e projéteis de arma de fogo? Onde estão minhas balas? Perguntei. No seu bolso, respondeu  a criança. Mas não lembro se são balas de chocolate ou de revólver. Revolver? Balas de chocolate, são as minhas. Derretem na boca. Disparo e pronto. Conheci uma senhorita que adorava balas... De hortelã e de menta... E um dia acabou levando ... Balas de revólver. De revolver o estômago essa. Gosto de balas, principalmente de metralhadora. Encho a minha com letras e saio atirando, a esmo, sem alvo fixo. Deixo as balas espalharem os pedaços dos miolos dos incautos pelas calçadas. Adoro cérebros espalhados pelas calçadas. Sempre que pego um livro de poesia, numa espécie de ritual, abro numa página aleatória, ao acaso. E como alguém que tirava a sorte com os velhos realejos, leio a mensagem. Entendo assim, ali e desta forma, dentro da minha descrença aos deuses, mitos e mestres, uma mensagem secreta do autor a mim. Sempre foi assim, desde o primeiro que lembro. Foi assim com Baudelaire, foi assim com Rimbaud, foi assim com todos os poetas, desconhecidos e inglórios que li ao longo dos últimos 40 anos. Mas agora olho para cima e a buceta do tempo não é tão gostosa, o mijo não nem tão quente nem tão salgado quanto antes, mas eu ainda quero foder com ela. Enfiar meu pau nesse buceta e esporrar na buceta do tempo. Mas eu não tenho mais 14, 24, 34, 44... Nem 54 mais. Lou Reed está morto. Eu não sabia inglês e imaginava que a tradução de “Venus in Furs” era “Vênus em Fúria” e aí escrevi “O Cu de Vênus”. John Cage é um gênio, Nico  uma gostosa e eu ainda bato punheta para PattiSmith. Patti é uma cadela, né, Banga? Adoro as cadelas, mas prefiro as gatas. E a buceta do tempo, da puta universal e lésbica do tempo ainda é sempre bela e limpa e sempre mija na cara de todo mundo. Depravada e maldita! Quarenta anos de poesia é uma merda! Porque poesia é dos jovens, dos que ainda, dentro de suas rebeldias ainda acreditam que podem mudar o mundo. Não acredito mais em porra nenhuma. Acreditar é para os moços, acreditar é para os que acreditam que nasceram com o dom da poesia, da arte, e acham que assim podem mudar o mundo. Tolos moços e moças. Um dia ficarão feito eu: velhos e cansados para acreditar em algo. Quarenta anos, vinte livros de poesia que não interessam a ninguém. Sacerdote sem altar, deus sem devoção, artesão de livros. Homem. Não sou referência a ninguém. Espero que rasguem e apaguem dos computadores da Deep Web tudo aquilo que eu escrevi. Poesia é merda, entendam isso de uma vez por todas. Hoje vou dormir de barriga pra cima, amanhã acordo mijado? Hein??? Feliz quarenta anos de poesia, Barata Cichetto.

01/10/2013

O Pai, O Filho e o Espírito Santo

O Pai, O Filho e o Espírito Santo
Luiz Carlos Barata Cichetto

(Sobre a matéria indicada pelo historiador e escritor Viegas Fernandes da Costa, uma "quase entrevista" com Raduan Nassar, feita por Fernando Gaioto. )

A muitas pessoas, a descoberta de Raduan Nassar abriu as portas da literatura. Meu caso não é um nem outro, pois li Lavoura Arcaica não tem muito tempo. Achei realmente um trabalho esplêndido em todos os sentidos. Agora, fico aqui, depois de ler essa matéria do Alexandre Gaioto, em duas coisas: a que se devem duas coisas: primeira o culto a ele; segunda, o porque de ter largado a literatura. E me preocupa a primeira mais que a segunda. O culto se deve ao fato de Raduan ter largado a literatura, ao filme?

As pessoas gostam de mistério e escritores misteriosos. E como ele nunca deixou claro porque largou tudo, aumenta mais o interesse. Não há dolo, mas enxergo isso como mais uma peça nesse quebra cabeças imenso montado sabe-se lá por quem a fim de se manter um "status quo". Uma peça curiosa, mas uma peça. Parecida com aquela que transforma a quase todos os poetas mortos na juventude em gênios, mesmo que não passem de rabiscadores de letras. Muito me preocupa isso, sim, pois existem muitos poetas, escritores, artistas de uma forma geral, que não desistiram de sua arte, que não se mataram... Continuam por ai, envelhecem, adoecem, trabalham em empregos medíocres para sobreviver e criar filhos, a quem não é dada uma oportunidade, se não de culto, ao menos de sobrevivência. Falo sim por mim. E por uma série enorme de outros que produzem bons trabalhos mas continuam vivos e ativos, sem despertar interesse nas pessoas, a não ser em um pequeno, muito pequeno grupo delas.

Agora um fato que me chamou a atenção nessa excelente matéria: tirando e desculpando o deslumbre juvenil do "entrevistador" perante um ídolo, ele conseguiu brilhantemente coloca em cena um personagem que muito me interessou: o filho de Raduan. Sereno e solicito, aparentemente não concorda com o pensamento do pai com relação ao autor de Lavoura Arcaica. Uma voz ecoando, sem carga de piedade, sem arroubos de arrogância, mas firme e respeitosa à figura paterna. A mim, a grande personagem dessa matéria é ele.

E a mim, ainda o grande mistério não é o fato de Raduan Nassar ter abandonado a literatura, mas sim, por que cultuam os que desistem, os que se matam, os que morrem cedo e não aqueles que insistem, sobrevivem e se recusam a morrer. Sem mérito oiu demérito à qualidade artistica de nenhum deles. Uma frase, atribuida a Raul Seixas dis mais ou menos o seguinte: a sociedade mata seus poetas para depois os cultuar. Isso é morbidez e crueldade. E creio estar nas raízes desse culto a moral cristã, que elege santos mortos, enquanto dos vivos exige apenas sofrimento e entrega. aliás, não creio nisso, estou certo disso, dessa cristianização inconsciente até. É preciso morrer, de preferência sob muita dor e sangue, quanto mais dor e sangue melhor, para se alcançar o Éden. E como Paraíso entenda-se ser cultuado pelos vivos. Mortos não precisam de culto, os vivos sim! E não falo necessariamente sobre adoração, mas reconhecimento. Nenhum ser humano (ou não humano, caso prefiram os religiosos) merece adoração, mas todos merecem respeito. E um artista, mais que isso: reconhecimento.

Que os mortos permaneçam em suas sepulturas, que os que se escondem, que continuem escondidos, mas que os que lutam, que buscam seu reconhecimento, que trabalham e sobrevivem não precisem morrer e ou desaparecer misteriosamente para que tenham suas obras valorizadas e reconhecidas. Em outras palavras: enterrem os mortos e selem as cavernas dos reclusos. E escutem os vivos.

Matéria de Alexandre Gaioto: http://alexandregaioto.blogspot.com.br/2013/09/o-silencio-de-raduan-nassar.html

01/10/2013

28/09/2013

Manifesto Sem Eira Nem Beira

Manifesto Sem Eira Nem Beira
Luiz Carlos Barata Cichetto



Eu, Barata Cichetto, que de poeta tenho muito e de médico nem um pouco, sem eira nem beira, sem dinheiro na carteira, "nada no bolso nem nas mãos", que não temo a um deus que não conheço e nem reconhece; que não tem medo de cara feia nem de cara de pau, apenas medo de altura e de ratos - de homens não; que não tem carteira assinada, nem cadela vacinada, apenas um par de gatas mestiças; que nunca leu o "Manifesto do Nada na Terra do Nunca"; que há tempos não escuta nem um disco do Lobão; muito menos adora esquisitices caetaneiras e babaquices gilbertianas, e não ganhou de presente nenhuma caetania hereditária; além de achar que buarque, apenas o sérgio e mesmo assim, nem sempre; que é radical à despeito dos filhos e ao achar que o mundo é dividido em duas partes "Rock" e "Não-Rock"; lança o presente Manifesto Sem Eira Nem Beira, sem nenhuma pretensão a não ser o de marcar seu ponto vista, visto de um ponto que fica entre o Nada e a Terra do Nunca, ou entre o Nunca ou a Terra do Nada, como prefiram.

O presente manifesto é pessoal, mas facilmente transferível aos que dele desejarem e grosso modo, do meu modo grosso de ser, imploro que não façam do presente Manifesto uma bandeira. E na melhor das hipóteses, use no lugar do papel higiênico, pois sustentabilidade é bola da vez, a moda da hora. E quem sabe faz agora e faz NA hora. Manifestos são coisas de comunistas, operários vagabundos e artistas frustrados. E em qual categoria me encontro? Enquanto Lobão é um "fenômeno editorial", estou plantado dentro de um porão num subúrbio a trinta quilômetros do centro de São Paulo, pedindo para que a barriga pare de roncar e faça silêncio para que eu possa escrever sossegado. Não tenho NADA, nem NUNCA tive nada contra Lobão, que ao menos, concordemos ou não, meteu o dedo no buraco, fazendo muita gente reagir. Artista tem que ser provocador, e isso Lobão é de sobra. Ainda não li nenhum dos livros dele, não por não querer, mas por falta de dinheiro pra comprar, mesmo. Então não vou cair na armadilha de provocar onça, ou lobo, com vara curta.

O presente manifesto, que de manifesto mesmo não tem nada, começou a ser escrito no dia em que completo cinquenta e cinco anos de idade, num inverno gelado, num porão gelado da extrema periferia de São Paulo, onde eu e minha quarta esposa moramos há três anos e meio. Ela é um doce e eu sou um cavalo. Há muito perdi a esperança de empregos fixos, de carteira assinada, trem lotado e salário no final do mês. Ganho a vida, mal e porcamente, parcamente mal, fazendo sites para a internet, mas como não sou programador nem artista gráfico, desses especialistas em Photoshop, tenho que me contentar com migalhas, porões em subúrbios e a constante falta de dinheiro para pagar contas. Meus dentes há muito não visitam um dentista., e por revolta operária, pulam da minha boca, feito ratos de um navio que afunda. Minha boca é um navio que afunda? Sim, afunda na tua bunda!

Escrevo livros de poesia e precisamente hoje terminei mais um. Deve ser o décimo quinto ou décimo sexto da era moderna, ou seja, depois que minha primeira esposa me chantageou emocionalmente, na era antiga, e me obrigou a rasgar uma mala cheia deles. Mas, minha era moderna começou no final do século 20 e de lá pra cá escrevi cerca de oitocentos poemas, ou ao menos oitocentos deles sobreviveram à minha sanha assassina de serem abortados e jogados nas lixeiras sem tampa do banheiro. Meus poemas beiram a loucura e a pornografia. A dor e suas matizes. Um universo humano povoado por putas, desamores e lutas. Idealismo, ira e iconoclastia em poemas rimados, extensos e densos, O poeta atira em todos os sentidos, usando seus próprios sentidos como arma. E acerta o alvo. Forte, certeira e cruelmente. Sem eira nem beira, sem dó nem piedade.  Pornografia é arte sincera! Toda arte é pornográfica e toda sinceridade também!

É, a vida não tem lógica, nem respeita números.. E fico pensando então porque as pessoas se preocupam tanto com essas coisas... Talvez com uma intenção inconsciente de tentar enganar a morte. Do mesmo que se enganam com o amor, que segundo Schopenhauer é a compensação da morte. Enfim. Só existe uma lógica e um resultado matemático: a morte... O resto é tapeação, enganação... Fingimento...  Matematicamente, é tudo uma questão binária: 1 e 0. A vida é o 1 e a morte o 0. Simples isso. A morte é o zero, o nada absoluto. Mas pensando bem, a vida seque mesmo uma lógica matemática, mas não da matemática conhecida, uma própria, onde qualquer operação, com qualquer numero resulta em zero... Matemática absurda, surda, cega e muda... Só não é analfabeta.  E o que faço com os números? Somamos idade, contamos datas, mas tudo no fim é apenas uma contagem regressiva para... o zero... Embora a gente não saiba a partir de que numero contamos. De qualquer um que contamos, chegamos ao zero, às vezes sem uma sequencia... Assim, simples assim.

Então, conte comigo, até zero...

22/05/2013

Os Quatro Quatros


Os Quatro Quatros
Luiz Carlos Barata Cichetto

Quatro quatros, quatro quartos, um quarto, dois quartos, uma cozinha. Quarto e cozinha, periferia de sonhos. Porão de cimento, favela de concreto, edifício de aço, prisões suburbanas, desumanas. Morar, residir, habitar. Querem ser donos de tudo e eu tenho que alugar a vida para poder respirar.

- Quanto é o aluguel da vida?
- Não, não tenho como comprar, talvez só alugar, mesmo.
- Paga adiantado ou depois de usar?
- Tem contrato?
- Onde fica a imobiliária?
- Tem seguro fiança?
- Onde fica o banheiro da vida. Quero cagar!
- Dá pra custar mais barato o aluguel, por favor. Sou desempregado!
- Ah, não tenho fiador...
- Não dá pra alugar? Sim, dou a vida como garantia.
- Não serve? Ah, sei, minha vida não serve como seguro fiança.
- Mas e se eu não alugar não tenho como viver.
- Sim, claro, problema meu!
- Por favor, aluga um pedaço da vida pra mim, a senhora tem mais... Recebeu muitas por herança...
- Não, eu sei, é uma viúva e vive da rendinha dos alugueres de que o falecido lhe deixou.
- Entendo. Mas eu só queria um pequeno pedaço da vida pra poder morar.
- Eu sou poeta, não tenho holerite de pagamento.
- Banco? Ah, não, minha senhora, Só conheço o banco da praça.
- A periferia da vida custa mais barato?
- E se eu não tiver como pagar aluguel, a senhora entra com ação despejo?
- Onde é o cartório?
- A senhora tem quatro quartos, quatro quatros. Eu só quero um quarto, que seria o mesmo que vinte e cinco por cento. Não tenho direito?

... Desligou!

15/05/2013

Aos Pedaços...

Aos Pedaços...
Luiz Carlos Barata Cichetto
Arte: Nebu

Uma fábula, escrita por Slavoj Zizek, filósofo e teórico crítico esloveno, nascido em 1949) nos conta: "Um operário alemão consegue um emprego na Sibéria; sabendo que toda correspondência será lida pelos censores, ele combina com os amigos: “vamos combinar um código: se uma carta estiver escrita em tinta azul, o que ela diz é verdade; se estiver escrita em tinta vermelha, tudo é mentira.” Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em tinta azul: “Tudo aqui é maravilhoso: as lojas vivem cheias, a comida é abundante, os apartamentos são grandes e bem aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há muitas garotas prontas para um programa. O único senão é que não se consegue encontrar tinta vermelha”. E eu analiso, com as cores da modernidade: Portanto que se escreva a mentira na cor da verdade, já que a cor da mentira não está disponível... 
----------------------
Conheci todas as putas da Aurora, Andradas e da Praça do Correio, depois mijei na estátua de Álvares no colégio da Praça da República e passei a mão na bunda gorda da Mãe Preta do Largo do Paissandu. Comi muita puta embaixo da estátua à cavalo do Duque de Caxias e caguei de diarréia no Palacete Matarazzo, antes de ser da Prefeitura. E foi tanta merda que o cheiro era sentido até na Rua Santa Ifigênia. Bombas caindo sobre as cabeças. Na hora H, a bomba Humana. Chamem o médico, o dentista e o padeiro. Doutora, ontem doeu muito meu coração, porque não existe a poesia, apenas destruição. A mesma arma que destrói a terra, destrói a poesia, aniquila a compaixão. Então tragam o médico, o dentista... e o poeta. Doem meus dentes, não tenho mais lar e a poesia sob escombros grita mais alto, pois sua dor é a minha e a dela é dor de morte. Espero que além de mim ela tenha melhor sorte. 
----------------------
Um dia, há mais de trinta anos, recebi uma carta. E ela dizia, a respeito do meu livro mimeografado: "Eu não acredito em arte pobre!" Junto a ela, num envelope cheirando alabastro (ou seria almíscar?) uma revista bem impressa, papel couchê e etc... Doeu tudo. E eu não acreditava mais em arte pobre, impressa em mimeógrafo à álcool. Fudeu tudo. Ai casei e deixei por um tempo a poesia de lado. Aí fudeu tudo! Eu não acreditava mais em arte pobre, nem em arte rica e nem em porra de arte nenhuma. Comecei a escrever poesia a lápis: era mais fácil de apagar. E entregar à uma esposa que nunca lia. Era mais fácil de apagar, também... Então.. Apaguei tudo. Era mais fácil apagar tudo. E aí fudeu! Fudeu tudo e fui meter! E meti muito, bebi pra caralho e o fato é que eu não acreditava mais em pobre, nem em arte. Nem em porra nenhuma que cheirasse a almíscar, alabastro, esperma, álcool.. Nada. porra nenhuma!
----------------------
Guerra não é bonita, nem com trilha sonora dos Rolling Stones. Quero ser cremado e junto com meu corpo minha poesia. Ejaculo sangue com prazer. E meu prazer não é o sangue que agora venho lhe trazer. O silêncio eterno da morte, sem deuses, sem pecados e sem dor. Lembro das cores, esqueço das dores. Detesto a modernidade que transforma todos em artistas, nasci antes da tecnologia que plastificou a humanidade e sobrevivo à bomba e a invasão de virus de computador. Tenho uma máquina de escrever, caneta e a eternidade e não nasci com Internet e ainda sei escrever à mão livre. "Liberdade...abra as asas sobre nós." Asas da liberdade?? Ou da fuga? É a mesma coisa, a busca pela liberdade é uma fuga? Icaro em noite de gala. A noite todos os Ícaros são pardos... ou se despem da vaidade. A noite todos os Ícaros são pardos... ou se despem da vaidade. Fugir? É... não há para onde... a não ser para dentro de mim mesmo.. Mas lá é pior.. É um lugar estranho, escuro, sombrio. Uma viagem sem volta.
----------------------
Acho que deveríamos criar um local, mesmo que imaginário, em resposta à Casa das Rosas. Seria a Casa dos Espinhos, numa mansão assombrada. Nada de uma mansão no lugar mais caro do Brasil, mantido com dinheiro publico para servir de palácio à burguesia da poesia. E como dizia Cazuza, mesmo sendo ele também um burguês: "a burguesia fede!"...

29/04/2013

Não Gosto de Poesia Com Menos de Meio Século


Não Gosto de Poesia Com Menos de Meio Século
Luiz Carlos Barata Cichetto

Confesso: não gosto de ler poesia escrita há menos de meio século. Em outros termos, nada daquilo que foi escrito depois que eu nasci. A poesia é cara, tem que ser assim, ela cobra o preço. Poetas tinham que ser lidos apenas depois da morte. Sem lucros, sem dividendos, sem livros. Apenas póstumos. E sem recompensas, sem heranças e sem contrapartidas. A poesia é assim, tem um preço a ser pago. E o fato de eu não ler nada escrito depois que eu nasci não é nada pessoal contra mim mesmo, mas uma vingança, esta sim pessoal - como se existisse outro tipo de vingança que não a pessoal -, contra todos esse moleques que feito eu também fui, que insistem em deixar de ganhar dinheiro e escrever um monte de merda que chamam de “Minha Poesia”. Ademais existem de fato muito poucos bons poetas vivos, ainda hoje. Eu não sou bom, talvez seja bom uns cinquenta anos depois de morrer. E aí, sim, merecerei ser lido.

26/04/2013

Subindo Pela Escada Que Desce


Subindo Pela Escada Que Desce
Luiz Carlos Barata Cichetto

Quando garoto eu subia escadas de prédios no centro da cidade em busca de putas. Eram as melhores as que ficavam acima do quarto andar, aprendi. Eram as mais carinhosas. Um dia uma me empurrou escada abaixo e então desci pela primeira vez uma escada sem usar os degraus. No outro dia, quando voltei ali e quis subir, alguém colocou a mão no meu peito dizendo: "Estás subindo pela escada que desce!" E sempre foi assim. Sempre minhas tentativas de subir eram por escadas que desciam. E não pensem que essa conversa é daqueles beberrões que, caídos na beira da sarjeta, esperam apenas a morte para que não sintam mais a ressaca. Daqueles que se sentem derrotados, injustiçados, feridos, com baixa auto-estima. Não, nada disso. Subir pela escada que desce parece ser um fenômeno na minha existência. E eu sempre subia. A escada é que descia.

27/03/2013

Prefácio a Um Romance Que Nunca Foi Escrito


Prefácio a Um Romance Que Nunca Foi Escrito
Luiz Carlos Barata Cichetto

Enfim, um romance, a grande obra para qual ha tempos eu buscava motivação. E agora a tinha, a motivação estava ali, pronta, esperando por meus dedos apertarem as teclas enquanto a cabeça fazia o trabalho de alinhar as frases, criar os personagens, dar-lhes forma e existência real. Mas, de fato eu não sabia como, nem por onde começar. Pensei em fazê-lo pelo seu começo, com o nascimento da personagem, as dificuldades da sua geração e os problemas inerentes ao parto, coisas assim. Óbvio demais. Depois, ocorreu-me outra idéia, que era a de começar pelo fim, pela morte, o sepultamento... E mais uma vez, apaguei todo o texto, por não o achar bom o suficiente para despertar a atenção do leitor. Difícil fazer um romance. Complicado, pois, ao contrário da crônica ou da poesia, onde a realidade e o sentimento são as matérias primas. Decorrência natural de um processo, como defecar depois de se alimentar. Necessidade fisiológica, quase, o ato de escrever poesia.

Mas um romance, ah, isso é bem diferente. Lidamos ali com a ficção, com elementos que nem sempre são pessoais, principalmente numa história tão cheia de elementos estranhos, como é esta que me propus a escrever. Existem inúmeros elementos factuais a serem considerados, pesquisas, histórias a ser levadas a cabo e, principalmente, a capacidade de prender a atenção do leitor não por uma, mas por centenas de páginas.

Sempre invejei os escritores de romances e suas capacidades em criar histórias longas, enquanto eu me atinha a fragmentos de sentimentos, pedaços de existência e sonho. Poemas são pedaços, retalhos de uma colcha de sentimentos, enquanto o romance não. O romance é complexo, grande, poderoso, capaz de despertar a imaginação do leitor, levá-lo a uma jornada por lugares e vivências que ele nunca possa ter imaginado. Romances são mundos inteiros, coletivos, enquanto a poesia vidas em pedaços.

E assim que me propus a escrever essa história, a vida romanceada de uma personagem que tem me assombrado nos últimos tempos, pensei que a mera capacidade de enfileirar palavras, criar frases de efeito, como estava acostumado a fazer ao escrever poesia, bastariam. Mas estava enganado, pois a poesia é viés torto, licenciado e pequeno. E me senti pequeno perante a obra que tinha por criar. Os personagens não chegavam, os diálogos não engatavam, as cenas não tinham cenário e o romance foi sendo, assim, desromanceado.

Eu nem sabia como começar, e agora nem sei como terminar. Mas é preciso...

Desabafo

Desabafo

Quarenta anos ao menos é o tempo que separa o agora, quando acredito que a poesia está morta, do momento em que sorridente mostrei a uma amada platônica meu primeiro poema. De lá para cá, foram milhares, boa parte jogada no lixo de papel ou na lixeira do computador. Não nasci poeta na Internet. Ela, a Internet e todas essas merdas de redes sociais são uma mentira, uma fraude. Queria mesmo é que, como num filme de ficção cientifica, todas as redes de computadores explodissem e desaparecessem para sempre. Ah, é legal para encontrar amigos que não vemos que não encontramos há trinta anos? Se tivemos um amigo que já não vemos há tanto tempo é porque não éramos tão amigos e, portanto ele deve ficar lá, esquecido. Garanto que me acostumaria com a inexistência da Internet em menos de uma semana. Quem sabe, então, as pessoas possam se dedicar mais às conversas, à leitura... Quem sabe as pessoas possam viver mais e melhor, sem serem atropeladas pelo tempo que acham que passou rápido demais, mas que foi desperdiçando na frente de um computador, à volta de bobagens que não tem a menor importância. Há quarenta anos, quase, publiquei meu primeiro poema num "jornalzinho" mimeografado, depois outro e outro... Até um livro inteiro assim. De mão em mão, de boca em boca, era assim que existia a poesia. E agora? O que temos? Avatares, perfis, mensagens... Tudo parecendo mensagens numa garrafa que nunca serão encontradas num mar revolto que quer aparentar serenidade... Ah, estou cansado!



02/03/2013

Cem Folhas

Cem Folhas
Barata Cichetto

(Eu trago comigo um par de cadernos
E cada um deles tem certas cem folhas.
Nelas eu anoto todos meus sonhos eternos
Marcando em cada uma minhas escolhas.)

"Na outra linha, parágrafo, dois dedos da margem!" Ordenou a mestra de pernas cruzadas sobre a mesa. E eram belas as pernas debaixo daquela mini-saia. E eu a comia com a mão todos os dias depois da escola.

Eu tinha comigo um par de cadernos com capas de papel amarelo. Em cada um deles, matérias de escola. Mas em ambos, rabiscados na margem, no espaço dos dois dedos, nomes de meninas de mini-saias, uniformes de colegial, que depois das aulas, eu lembrava trancado no banheiro.

Os cadernos tinham cem folhas, mas depois de algum tempo, algumas eram arrancadas e usadas para limpar meu esperma ainda incolor. E os nomes das meninas e da mestra iam parar no cesto de lixo, junto com o esperma, meus sonhos e minhas escolhas...

À margem das folhas, onde eu anotava com letra miúda as minhas escolhas. Eu agora sabia escrever, e jamais as mestras e as colegas de escola e suas mini-saias estariam imunes à minha caneta... E a minha punheta.

(Tenho poemas escritos sob todas as formas.
Em letra de forma, escritos fora das normas.)

Depois de mais de quarenta anos, as quatro da manhã eu perco o sono. Onde andam minhas folhas, por onde andam minhas filhas? Não tenho folhas, nem filhas e agora? Onde andam a mestra e as alunas? Ainda usam suas mini-saias? Resta o computador, monstro negro, inerte e silencioso! Sem punhetas, sem professoras  e sem alunas de mini-saias. Apenas o computador. E poemas sem forma nem formato. Digitados em um teclado cujas teclas estão apagadas de tanto usar.

Pobre computador!

Penso na morte e sobre o quanto eu a conheço! "Prazer em conhecê-lo!", disse ela quando apagou a luz e tirou a roupa. Seus lábios estavam pintados e lambuzados de esperma. Não tinha uma foice nas costas, mas marcas de dentadas e unhas. E eu disse: boa noite, Morte! Até amanhã! Durma com os anjos!

Pobre Morte!

Deixei uma nota de cinquenta em cima da mesa de cabeceira e sai, fechando o cinto e me perdendo pelas esquinas da noite. Até amanhã!

Pobre eu!

03/02/2013

Caixa de Fósforos


Caixa de Fósforos
Luiz Carlos Barata Cichetto

Ontem peguei outro pedaço de esperança e, junto com os últimos cacos de alegria, guardei dentro de uma antiga caixa de fósforos. 

Havia apenas palitos usados dentro dela, fósforos que um dia foram usados para produzir fogo e calor. Não sei por que guardei aquele objeto por tanto tempo. Inútil guardar uma caixa de fósforos com palitos usados, principalmente porque não mais produziriam fogo nem calor. 

Sempre pensava nisso quando a pegava na gaveta e a olhava com certo carinho e com desprezo ao mesmo tempo. Várias vezes pensei em jogá-la fora, mas por algum motivo não tinha coragem. Poderia servir para alguma coisa, pensava. Do mesmo jeito que sempre pensamos que algo velho, inútil e quebrado, não deve ser jogado no lixo, pois um dia podemos precisar. É sempre o que pensamos a respeito do que um dia nos foi útil. Seria esse apego à inutilidade o que nos faz sentir úteis? 

Mas finalmente ontem à noite, peguei os últimos nacos de esperança e alegria que eu tinha e guardei dentro daquela velha caixa de fósforos. Depois joguei tudo no lixo. Afinal, não há porque guardar coisas inúteis.

01/02/2013

Palavrão é Só Uma Palavra, Porra!


Palavrão é Só Uma Palavra, Porra!
Luiz Carlos Barata Cichetto

“Uma palavra de baixo calão, popularmente conhecida como palavrão, é um vocábulo que pertence à categoria de gíria e, dentro desta, apresenta chulo, impróprio, ofensivo, rude, obsceno, agressivo ou imoral sob o ponto de vista de algumas religiões ou estilos de vida. Palavras de baixo calão, calão de baixo nível em Portugal ou simplesmente, palavrões, são formas inadequadas na norma culta da língua portuguesa e geralmente usados de forma popular e coloquial, exceto por licença poética.” - Wikipedia

Ao falar lanço perdigotos no ar. Meus peidos nunca são silenciosos. Ah, sim, gosto de cagar, mijar e trepar. Por que não posso usar as palavras corretas? Acusam o palavrão de ser incorreto, o julgam como pária e o jogam à cela da proibição. Que preconceito tão idiota é esse contra determinadas palavras? Estabelecem palavras que podem e outras que não podem, classificam-nas de acordo com faixa etária, horário e local. As 11 da noite até as 5 da madrugada eu posso falar em cagar, mijar e trepar, mas fora desse horário tenho que falar em evacuar - que aliás é mais feia do que cagar -, urinar e fazer amor.

E assim é a norma perante crianças, velhos e idiotas: não posso usar as palavras corretas. Como se existissem palavras corretas! Deixam crianças expostas à violência e ao consumo desenfreado, mas não a palavrões. Uma criança assiste programas violentos de televisão, é induzida a achar normal o consumo exacerbado, mas a simples menção da palavra porra, causa ira em seus pais. Porra, o palavrão é uma palavra como outra, criada para expressar uma ideia  normalmente de forma veemente, taxativa, convicta. Apenas isso. Acho que preciso estudar um bocado para entender de onde surgiu a idéia de merda de taxar determinadas palavras como proibidas e incorretas.

Falam a palavra amor com a boca cheia, mas esta sim é um enorme palavrão na maioria delas. Posso falar amor, mas não posso falar tesão, tenho que chamar meu pinto de pênis e não de caralho! E não falo em garota de programa, mas falo em puta que é o que são. O que chamam de palavrão é mais direto e honesto e é por isso que não o admitem. Inventaram de proibir algumas palavras, relegá-la à noite e aos adultos, enquanto deixam a solta a perfídia, a hipocrisia e o mau-caratismo.

Mas há também aqueles que usam do palavrão da mesma forma desonesta daqueles que o proíbem. Usam do palavrão para chocar e chamar a atenção. E em defesa da livre expressão, digo que o palavrão não é puta nem dama, não é certo nem errado, é apenas uma palavra qualquer que pode e precisa ser usada em qualquer horário, com qualquer pessoa, independendo da idade e estado de saúde. Todas as palavras precisam ser usadas. Mas todas, inclusive o palavrão, dentro do contexto certo. Eu falo palavras, palavrão é apenas mais uma, apenas uma palavra que carrega intensidade! Entendeu, porra? Se não entendeu, foda-se!

E foda-se se o palavrão não é norma culta, é linguagem de puta, de bicha e filho da puta. Então, pense que sou Poeta, e o sou 24 horas por dia, então faço do palavrão meu cotidiano, sob licença poética!




31/01/2013

O Cigarro é Meu Escarro


O Cigarro é Meu Escarro
Luiz Carlos "Barata" Cichetto

Fugi da escola, erro nas contas, sou incerto, mas faço de conta que acerto. Ainda consigo contar nos dedos e com eles conto todos meus medos. Minha mão fechada guarda segredos, mas aberta se agarra a meus sonhos com garra, unhas e carnes. Carne e unha, sangue do meu sangue. Ainda consigo cortar meus dedos e mesmo assim datilografar, digitar um poema, agarrado ao resto. Eu não presto, disseram muito, eu sou resto, bradaram tantos. E entre o que resto e o que presto, empresto meu isqueiro, acendo seu cigarro e vamos fumar. Pelas ruas, porque dentro de casa é proibido fumar. Eu fumo para poder pensar e não sei pensar parado e sem um cigarro. Então saio pra fumar e encontro em qualquer parte uma placa de proibido fumar. Fumar é proibido, mas sacanear a bunda dos pobres não é. Bando de filhos da puta. Meu cigarro é minha revolta, meu grito inconformado contra regras estúpidas, leis preconceituosas e políticos nojentos. Odeio políticos, política e gente sem caráter. Honestamente, não sei mais o que é ser honesto, ninguém mais sabe. Esquecemos... (?) A poesia é fumaça e eu fumei um poema ontem a noite. Fiquei doidão, tendo alucinação com Edgar Allan Poe, bêbado, caindo e morrendo na sarjeta. Meu gato ficou branco e cor de rosa e eu nem usei droga nenhuma.  Antes podíamos ser amigos e fumar juntos em qualquer lugar, agora estamos separados até mesmo na mesa do bar. Estava fumando na calçada e uma puta rendada reclamou da fumaça do meu cigarro, depois entrou num carro, acelerou vomitando fumaça de gasolina na minha cara e foi embora com cara de nojo. Cadela maldita! Não, maldita não é ela, malditos são esses nojentos, rabugentos, mal comidos e mal amados que cagam regras e leis se fingindo de bacanas. Quero estar sozinho, fumar meu cigarro e se um câncer no pulmão um dia me impedir de respirar, seja um preço justo a pagar por minha rebeldia. Isso é parte do jogo deles. Eles sempre ganham o jogo. As cartas estão marcadas e eles são donos do cassino. Trocaram o circulo vermelho cortado por um mapa. Aquele símbolo parece uma suástica. Gasto meu dinheiro em cigarro, não tenho carro e não roubo leite de crianças. Adoro o perfume do cigarro, ele enche minhas narinas e minha língua de desejo. E eu fumo porque amo. Minha mulher também fuma, nós fumamos juntos, na cama enquanto trepamos. Misturamos desejo com fumaça de cigarro, fogo com chama. Amamos. E eu digo a ela, que quando eu morrer e ela arranjar outro companheiro, que não seja um que fuma, que respeite minha lembrança. O cigarro é meu escarro, meu vômito, minha ânsia diante de tanta nojeira. E então, fique agora sozinho na frente do seu computador, que eu vou sair para comprar cigarros e fumar. Não sei se volto. Se eu não voltar é porque o bar era muito longe. Longe demais. Então leva um maço de cigarros, Marlboro vermelho, por favor, até o crematório e queima junto comigo.


19/01/2013

Enfim, Tudo Acaba no Fim


Enfim, Tudo Acaba no Fim
Luiz Carlos Barata Cichetto

Acordei de manhã e fui preparar o café... O pó de café tinha acabado. Procurei pelo açúcar, pela água na torneira, tinha também tudo acabado. Procurei pelo dinheiro nos bolsos, mas neles só encontrei buracos. Minha mulher queria seu leite, as gatas queriam comida e eu, eu apenas queria morrer. Procurei o gás da cozinha e lembrei-me de Torquato Neto. Torquato tinha acabado aos vinte e oito anos de idade e o gás, o gás também tinha acabado! Queria uma faca ou uma corda. Acorda, que corda eu não tinha e a faca que eu tinha não cortava nem pão. Ah, o pão também tinha acabado. As gatas miando, minha mulher chorando e eu... Bem, eu mesmo tinha acabado há bastante tempo. Nem era por ter acabado o pão, o leite, a ração das gatas, o pó de café ou a água da torneira. Tinha acabado porque no fim, tudo sempre acaba. Queria fumar, queria um cigarro, mas é claro que também tinha acabado. Era o fim! Sentei e procurei a inspiração para escrever um poema e relatar meu fim. Também tinha acabado!