O CONTEÚDO DESTE BLOG É ESPELHADO DO BLOG BARATA CICHETTO. O CONTEÚDO FOI RESTAURADO EM 01/09/2019, SENDO PERDIDAS TODAS AS VISUALIZAÇÕES DESDE 2011.
Plágio é Crime: Todos os Textos Publicados, Exceto Quando Indicados, São de Autoria de Luiz Carlos Cichetto, e Têm Direitos Autorais Registrados no E.D.A. (Escritório de Direitos Autorais) - Reprodução Proibida!


Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens

26/11/2019

Solidão Bucólica

Solidão Bucólica
Barata Cichetto




Quero saber do teu decote e da tua imaginação inescrupulosa,
De teus olhos melancólicos, e da tua boca tremida cor de rosa.
Onde passam teus cabelos jogados no rosto ao sabor da brisa,
E saber por quem tremem suas narinas, e tua mente indecisa.

Quero saber dos teus pés ligeiros, dos teus cheiros e sabores,
Entender o que pensa, saber onde te dói, cheirar teus odores.
Dizer-te que te quero, às seis da manhã, e às quatro da tarde,
E te possuir por trás, pela frente e soprar a ferida que te arde.

Quero querer, te amar ou te foder, usar palavras com poder,
E se não for te pedir demais, não deixar jamais de te comer.
Na solidão bucólica de teus desejos espero feito um monge,
Paciente e derretendo minhas asas de plástico ao sol longe,

Quero saber, apenas por saudades multicoloridas maiores,
Sobre teus desejos íntimos, detalhes ínfimos e pormenores.
Quero ser teu amigo constante, e amante por antigo prazer,
Mas apenas posso dar em troca aquilo que possa me trazer.

25/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

25/11/2019

Segredos

Segredos
Barata Cichetto



Pergunta se um segredo nos torna maiores,
E te respondo que jamais seremos menores:
Segredos nos fazem cúmplices das verdades,
De acordo com as nossas próprias vontades.

25/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

24/11/2019

Bastião do Paraíso

Bastião do Paraíso 
Barata Cichetto
(Bastião: Obra avançada de uma fortificação, com dois flancos e duas faces; lugar completamente seguro; pessoa que luta por uma causa; defensor.)


Sua respiração acelerada é o desejo pulsante,
Minhas palavras te desejam, delícia delirante,
E se tuas pernas tremem e tua pele enrubesce,
É o desejo libertador que na tua alma floresce.

Pense em mim no chuveiro e use seus dedos,
Enquanto espero escondido de teus segredos.
Caminhe pela praça deserta do Paraíso, nua,
Que te espero armado no outro canto da rua.

Acorde de manhã, sentindo o pulsar do coração,
E sinta no meio das pernas um ligeiro comichão,
Depois se entregue ao desejo puro de quem vive,
E não ao desespero parco daquele que sobrevive.

Teus lábios tremulam, tuas narinas se distendem,
Há tolos que se contraem, outros que te prendem,
Enquanto eu, do prazer soldado ferido sem glória,
Luto por seu desejo, na maior batalha da história.

24/11/2019

Calcinha Vermelha no Banheiro

Calcinha Vermelha no Banheiro
Barata Cichetto



Tua calcinha vermelha, no banheiro pendurada,
É a bandeira de uma luta que acabou empatada.
Tomei teu território como um nobre conquistador,
E nas tuas terras finquei o meu mastro libertador.

Dominei teu desejo selvagem com a espada afiada,
Escutando os gritos de quem tinha sido desafiada.
Arranquei as bandeiras de seu território inexplorado,
E desnudei terras santas como bárbaro abandeirado.

Entregaste-me teu precioso tesouro sem resistência,
E nas tuas costas, de praias desertas, fiz residência.
Percorri tuas matas e desci pelos teus rios inóspitos,
E descobri segredos puros guardados nos depósitos.

E tua calcinha vermelha no banheiro hora pendente,
Repousa satisfeita junto com a tua escova de dente.
Enquanto durmo ao teu lado cansado da conquista,
Satisfeito e pelado, com o prazer livre de anarquista.

24/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

16/11/2019

Assombração

Assombração
Barata Cichetto




Minha casa é assombrada, conta um padre exorcista,
E acrescenta que é o espírito imundo de um artista.
Ora, ora, senhor padre, esqueça seus demônios santos,
Pois o espírito sujo que aqui habita em todos os cantos,
É de quem ainda vivo foi arrancado a força o coração:
Sou eu o tal fantasma a quem chama de assombração.

12/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

O Que é Isso, Companheira?

O Que é Isso, Companheira?
Barata Cichetto

Arte: Hamza Nesrate


Ela passou mais de um ano pedindo a liberdade ao ladrão,
Político que roubou a terra e portanto não merecia perdão.
Chegou a dormir na calçada, e comeu pão com mortadela,
E quase gozou quando o desgraçado lhe acenou da janela.

Dormiu até com deputado da oposição cheio de dinheiro,
Para ir até a cidade gritar pela liberdade do companheiro.
Ela sabia quem ele era, e que perderia toda sua dignidade,
Mas aceitou transar, apenas para justificar a necessidade.

Comprou camiseta vermelha com a estampa do milionário,
Acreditando que o mentiroso era pobre, portanto solidário.
E acreditou tanto, que tatuagem na perna deixou esculpir,
Pintou no rosto uma estrela e foi para a rua cagar e cuspir.

A dignidade de mulher, a custo conquistada por outras damas,
Ela jogou no chiqueiro onde porcos imundos fizeram de camas.
Xingou pai de fascista, mãe de egoísta, e achou ser comunista,
Sem saber o preço de nada, e nunca pagar a conta do dentista.

Chamou a todos de racista sem perceber seu próprio conceito,
E de nazista a qualquer um que discordou do seu preconceito.
Numa arrogância peculiar, em defesa das chamadas minorias,
Demonstrou ignorância acreditando em igualdade por teorias.

Pintou o cabelo de roxo, cor-de-rosa e depois de amarelo,
Na base da nuca mandou tatuar uma foice e um martelo.
Colocou piercing de estrelas nos mamilos, e calçou coturno,
E xingou de fascista o padeiro, e de gado o guarda-noturno.

Brigou pelos privilégios que se arvorou de forma vil e arrogante,
E pelo direito de ter livre a esquerda ao descer a escada rolante.
Fez da esperteza seu dever, pilhar e roubar agora era ocupação,
E cobrar aluguel dos desvalidos, o que chamou de participação.

Gritou palavras de ordem e por ordem de alguém pichou muros,
Sem nunca conhecer a real razão por trás de tempos tão duros.
Por sua própria vontade aceitou o imposto por cerebral lavagem,
E assim deixou de ser uma pessoa, e virou apenas uma imagem.

Deixou de usar sutiã, maquiagem e depilar o suvaco e as pernas,
Crendo em mentiras que por bocas rotas viram verdades eternas.
Namorou traficante, fumou maconha e deu tiro de fuzil na favela,
Ficou tão bêbada que deu para doze acreditando ser uma novela.

Trocou o sentido das palavras e matou da língua seu significado,
Berrou em nome da liberdade, sem saber que a tinha sacrificado.
Chamou autoridade de opressão e de pai o malfeitor sacripanta,
Mas nunca chegou em casa depois de estar pronta a sua janta.

Acreditou na justiça pelos seus olhos, e assim a tudo sacrificar
E o que era o errado virou certo desde que pudesse lhe justicar.
Seu corpo eram suas regras e assim aborto virou revolucionário,
E virou dívida e direito aquilo que era apenas um ato partidário.

Exaltou o genocídio de acordo com a necessidade da revolução,
Acreditando que o importante era a causa e nunca seu coração.
Se indignou com a morte do moleque que matou um policial,
E na estação colocou fogo no Museu que não tinha fim social.

Quando enfim o bandido deixou as grades, sonhou ser dama,
E acordou molhada com um cadáver aos pés da própria cama.
Tinha tanta fé naquele que acreditava ser seu novo Salvador,
Que não percebeu o sangue escorrendo das mãos do ditador.

09/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

Barata: Feio, Sujo e Malcriado

Barata: Feio, Sujo e Malcriado
Barata Cichetto



Fui chamado de bruxo, de idiota e também de guerreiro,
E fui criado sem luxo, na pancada, e jogado ao terreiro.
Quiseram-me morto, antes mesmo de cinquenta e oito,
Não fosse por um desejo mórbido de acolher seu coito.

Fui chamado de coisas piores e até melhores que deus,
Mas nunca quis ter olhos claros igual aos de europeus,
Ou do neto predileto do senhor das porcas e madonas,
Que ganhou as medalhas sem nunca correr maratonas.

Já fui chamado de bicha, pervertido, e até de homem de fé,
E se não aprovaram minha sina, nunca pagaram meu café.
Me chamaram vagabundo, mas nunca atendi às chamadas,
Xingaram-me de imundo, mas eram as porcas mal amadas.

Ah, minhas putas invertidas, que fiz musas por mero acaso,
Devem-me o gozo, com multas e juros pelos anos de atraso.
E agora quando me chamam de bardo bastardo sem glória,
Digo fodam-se, e que escrevam direito sua própria história.

05/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

Habeas Corpus

Habeas Corpus
Barata Cichetto



Sou poeta das lutas extremas,
Por rainhas loucas vomitadas.
O profeta de putas supremas,
E das rimas toscas limitadas.

20/08/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

14/11/2019

Eu Quero Sexo!

Eu Quero Sexo!
Barata Cichetto



Eu quero sexo! Dinheiro e poder são coisas de quem não presta. Não me interessa. Quero o gozo molhado, o gemido sincero e o grito de tesão. Quero sexo. Quero trepar e o resto não tem pressa. Mas não quero o gozo das artistas, nem das feministas e nem das comunistas, com seu gozo coletivo e seu orgasmo social. Quero uma bela gozada sexual. Sem política, sem ideologia e sem partido, Uma bela gozada e pronto. Cada um no seu canto. Um gozo sem bandeira, sem compromisso, sem votar em presidente, sem escolher a cor da camisa. Uma bela trepada e pronto. Uma chupada aqui, um dedo ali. Uma lambida aqui, uma cuspida ali. E gozar como se não existisse lá fora um mundo tão dividido em ideologias, credos, crenças, e uma infinidade de coisas que nos tiram o desejo de trepar. Quero o gozo sem partido, o orgasmo consentido, o jorro sem permissão. Quero foder, trepar, gozar, sem carteira de motorista, titulo de eleitor e autorização de ninguém. Quero apenas prazer, sem pagar a taxa, assinar o contrato, filiação partidária. Quero foder por foder, não por capitalismo ou socialismo, apenas por vandalismo sexual, pichar a pele com uma esporrada, pintar de verde ou de amarelo, roxo, azul ou vermelho. Chupar uma buceta peluda ou pelada sem ser um flagelo contra o humanismo, o comunismo ou o plurarismo. Quero foder sem catecismo, trepar sem maldade e gozar apenas por felicidade. Gozar é um puro ato da mais simples liberdade.

13/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

10/11/2019

Alucinação Barata na Hora do Almoço

Alucinação Barata na Hora do Almoço
Barata Cichetto



1 - Mote, Glosa e Alucinação

Eu era um garoto, amando Beatles e Rolling Stones em setenta e seis,
Quando um canto torto feito faca a minha carne cortou naquele mês.
A alucinação foi suportar o delírio cotidiano, e naquele ano colorido,
Cantei como se fosse morrer de alegria, como se não tivesse morrido.

Eu, que nunca tinha achado nada divino, e nem nada maravilhoso,
Corri pelos cantos declamando minha poesia com olhar lacrimoso,
Aguçando meu canto e meu sonho no rádio de pilha com meu bem,
E forte e tão moço, na hora do almoço, fiquei só na estação de trem.

E eu era um garoto amando as coisas do passado, armando o futuro,
Uma velha roupa colorida, tomando Cuba Libre e mijando no muro,
Poe tinha me dito, com seu corvo no umbral, nevermore nunca mais,
E não era por bem, nem foi por mal, mas lhe disse: o passado jamais.

Naquele tempo, eu nem via e nem sentia a mudança a me acontecer,
Mas sabia de cor que não podia esperar o dia inteiro até amanhecer.
Tinha aprendido nos discos like a rolling stone, Dylan e Woodstock,
O que era cruel, sonho de mel, e a vida apenas um concerto de Rock.

2  - Coração Selvagem

Faltava algum tempo para um nove oito e quatro em setenta e sete,
Populus cão fiel mordeu minha mão e eu o matei com um canivete.
Selvagem meu coração, e fui clamar pelo Luar nas areias do deserto,
Pensando ser errado o que era injusto, e imortal aquilo que era certo.

Sem ter aonde ir, e dentro da noite sem fim morri em oitenta e dois,
Mas agora entendo o que somente poderia entender mesmo depois,
Aqui Jazz meu coração, disse à mulher que nunca foi companheira,
Enterrando no peito um punhal, e sangue escorrendo pela banheira.

Ainda queria ser poeta, ainda queria ser artista, e com bolsa de couro,
E dúzias de poemas rasgados depois, troquei as rimas com um touro.
Foi-se minha lira dos vinte, foi-se a foice, o martelo e a elegia obscena.
Tinha a conta do florista, do analista e os próximos capítulos da cena.

Um dia sumi, uma noite ele sumiu, e era o fim do mundo da ditadura,
E o guarda-roupas e o carro na garagem ficaram olhando a fechadura.
Santa Cruz ou Maria ou em qualquer lugar ao norte de lugar nenhum,
Basta o nada para ser o tudo, e tudo o que é preciso é ser humano um.

Antes do Fim

Eu não era mais tão moço, e na hora do almoço tive uma alucinação:
Bechior e eu bebíamos vinho tinto, e cantávamos uma velha canção,
Uma balada falando de coisas assim, de money, de lua, e de nós dois,
Ele comentou sobre John, sobre America Latina e desapareceu depois.

Fiquei sentado à mesa posta, pratos vazios e a cabeça cheia de ideias,
E não pude nem lhe contar sobre Angela Maria e suas latinas medeias.
Belchior seguiu o caminho da morte, que traz justiça e nos faz irmãos,
Mas com palavras ainda traço o destino com o suor de minhas mãos.

05/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados


07/11/2019

Poemas Sacanas de Um Bêbado As Duas da Manhã

Poemas Sacanas de Um Bêbado As Duas da Manhã


Barata Cichetto - "Sexo Oral" Tinta Látex sobre Papel Paraná - 2016


(Parte 1)

E quando você acabar de jantar,
Diga se ainda tenho que esperar,
Antes de te comer e até saborear,
E se quer foder ou apenas transar.

Quero te fazer sexo oral
E chupar-te até o anal,
Mas se não faz um mal,
Eu të chupo até o final .

Se minhas palavras são raras,
Imagine então minhas taras?
Minhas intenções são claras,
E tuas todas as minhas caras.

Pouco importa se sou velho ou poeta,
Quero te comer à torto e em linha reta.
Conjurar na tua buceta, macho atleta,
E na tua cama ser tua forma predileta.

----
(Parte 2)

O que pensas que é foder, minha cara?
Só gozar em ti, satisfazer minha tara?
Ou sonhas que te comer é dar-me inteiro,
E chupar e gozar como ato companheiro?
Se te chupo e como, se me come chupas,
E gozarmos juntos, a sós e sem culpas?

06/11/2019
©Luiz Carlos Cichetto, Direitos Autorais Reservados

04/11/2019

Espelho é o Inverso do Verso

Espelho é o Inverso do Verso
Barata Cichetto


O que vejo agora bailando a minha frente,
Não é o destino ou qualquer coisa diferente,
É apenas uma sombra, uma fosca mera miragem,
Neste espelho onde não encontro minha imagem.

31/10/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

02/11/2019

Barra, Barata, Barcelos

Barra, Barata, Barcelos
Barata Cichetto



Somos três amigos. Um preto, um branco e o outro mulato,
E desafiamos aos sentidos, do estrito, do restrito e do lato.
Disseram que não podíamos ser, dividiram as nossas cores,
E mentiram que éramos menores que nossas próprias dores.

A igualdade é o que temos, a desigualdade é o que querem,
E se somos diferentes somos melhores do que nos preferem.
Insistem que deixemos de ser o que somos, da cor ao penhor,
E que assim tenhamos um único amo, proprietário e senhor.

Não somos escravos de nossas peles, corpos meras carcaças,
E assim, diferentes irmanados em nossas próprias desgraças.
Mostraram o caminho do ódio que nunca quisemos por bem.
Conceitos que não nos pertencem, e os lucros são de alguém.

Barra, Barata, Barcelos, três amigos com honradas histórias,
Profetas poetas, em outras eras cobertos seriamos de glórias.
Temos as cores, mas cores não nos culpam, e nem absolvem,
Mas por elas é que as areias geladas deste mundo se movem.

Somos três seres. E fossemos um e seriamos bem menos,
Pois querem que nós nos dividamos, não que somemos.
E por Barra, construtor que une a argamassa com cal frio,
A Barata junta-se Barcelos, o profeta com olhar de arrepio.

Penso agora sobre meu destino e em cantigas do meu exílio,
E na esquina da Gonçalves Dias realizamos nosso concílio,
Crânios dos cachorros, troncos calcinados e esculturas finas,
No lombo trazemos a verdade e nas mãos carregamos sinas.

Percorrem as pernas cansadas os trilhos de aço da ferrovia,
Sobre dormentes de madeira o som que há muito não ouvia.
Há velhas máquinas que gritam na madrugada rumo à morte,
E um velho guardião dos rios, segue traçando a própria sorte.

Não há ordem no caos, nem justiça na terra da barbárie,
E o dente social, na boca do mal é o que sofre com cárie.
Bodes usam coturnos, e porcos fumam charutos cubanos,
O que nos resta é a solidão dos últimos redutos humanos.

Entre as linhas da pele nossa própria história escrevemos,
Falamos o que ouvimos e enxergamos além do que vemos.
Dois séculos e tanto mais somam todas as nossas idades,
Então fazemos do tempo um cavalo alado de realidades.

O que importa é o caminho, e não aonde queremos chegar,
Importante são os pés, e não a estrada, o terreno e o lugar.
De aço é o trem e os trilhos, e de madeira são os dormentes,
E a terra fria do cemitério único remanso de nossas mentes.

Somos em três: um é profeta, o outro poeta, e um é pedreiro,
E nunca sabemos quem é um, o outro ou quem é o primeiro.
Falamos em círculos, por mesóclises ou por colorida elipse,
Um triângulo escaleno, ênclises, e cavaleiros do apocalipse.

Barra, Barata, Barcelos, ou em qualquer ordem três profetas,
Que o mundo insano insulta como se fôssemos meros poetas.
Trajamos armaduras dos guerreiros, ultrajamos o estandarte,
E fazemos do que somos, muito além da existência, pura arte.

27/10/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

29/10/2019

O Importante São os Pés, Não o Lugar Onde Se Pisa

O Importante São os Pés, Não o Lugar Onde Se Pisa
Barata Cichetto

Arte: Del Wendell


Um dia Bob Dylan perguntou, numa canção bonita,
Quantos caminhos andar até aquilo que se acredita,
E eu entendia que era sobre terras e não de gente,
Até perceber que são pés, não o chão que se sente.
Deixei então as malas, mochilas e sapatos a esmo,
E fui caminhando nu para dentro de mim mesmo.

Encontrei a mim em uma das muitas esquinas perdido,
E perguntei sobre um endereço que eu tinha esquecido.
Tinha meus pés em bolhas, e doíam-me ossos e dentes,
Mas precisava chegar antes de mim a lugares diferentes:
O importante são os pés, e não o lugar em que se pisa,
Importa é ser vento, um furacão ou apenas uma brisa.

Dylan ganhou Nobel, e eu apenas honrosa menção,
Em um concurso literário, o rodapé de uma citação.
Um dia ele falou que a perda não é diferente do ganho,
Então eu disse, "ora, pois vá se foder, falso poeta fanho!"
Peguei meus discos de Lou Reed e fui escutar no puteiro,
Recitando a minha poesia às putas em troca de dinheiro.

Meus pés ainda ardiam, mas eu tinha agora um ensejo,
Em ser poeta e ator, e fugir da ação do vento do despejo.
Pensei enfim que pés eram mais importantes que o lugar,
Mas era preciso ter grana para pagar um quarto de alugar.
E de mudança em mudança, fui ser o puto de uma vadia,
Que lambe meus pés e o meu chão por medo ou covardia.

©Luiz Carlos Cichetto, Direitos Autorais Reservados


27/10/2019

Lou Reed e Eu Sem Eira Nem Beira

Lou Reed e Eu Sem Eira Nem Beira
Barata Cichetto



And the colored girls say: doo doo doo, lou, lou, lulu, lulu...!

Um dia eu sonhei que era um Lou Reed doce e pervertido
Cruzando a Ipiranga com a São João em sentido invertido
E as putas na frente do prédio incendiado da Julio Mesquita
Eram Rachel e Jane, mas também era Ângela a hermafrodita
E Dalva a estrela negra da manhã que tinha a buceta quente
Mas eu era um Lou Reed sem New York e doía o meu dente.

Um dia ainda sonhando descobri a poesia da sarjeta imunda
E penetrei pelas suas entranhas de forma inocente e profunda
Eu era aquilo que não podia ter, e era poeta e não queria ser
Lembrava de coisas que não existiam e sonhava com perecer
O Anjo Negro da Morte não queria e fomos juntos ao Inferno
E éramos três agora, além de mim e Lou Reed vestindo terno.

E se um dia sonhei que era Lou cuspindo o rosto da hipocrisia
Agora sou apenas um tosco poeta que ainda cospe na poesia
Sem eira nem beira, apenas perdido num mundo que não quer
Giro as balas no tambor do revolver brincando de mal-me-quer
Ainda sonho ser Lou Reed, mas a Avenida não tem mais beleza
Foram-se as putas, Lou está morto e o que me resta é a tristeza.

06/09/2014
©Luiz Carlos Cichetto  - Direitos Autorais Reservados

Balada Barata Blues

Balada Barata Blues
Barata Cichetto



Um dia acordei Barata, e não era literatura
Mas fruto de uma sessão interna de tortura
E se acordei Barata, então Gregor Samsa ainda vive
Dentro da cabeça do monstro que em mim sobrevive.

Ser Barata não é pouco, louco daquele que não sente
Pois poeta é ser doente, que nunca a si mesmo mente
E nessa balada, ao sabor de uma tempestade mental
Grito de dor, e nada mais pode ser feito com o Metal.

Um dia morri sozinho num buraco lotado de bichas
E era pior que morrer num lugar cheio de lagartixas
Que louca balada era aquela, onde pegaram meu pau
O Inferno das lésbicas, que era não bom nem era mau.

Tinha uma puta anciã, além de uma lésbica quase anã
Mas eu tinha que chegar ao fim num culto ao deus Onã
E então a enrugada e a pequena grudaram suas bocas
Com as mãos enfiadas no meio de suas pernas loucas.

Uma das piranhas gritou: "Hey, Barata, quer casar comigo?"
E eu lhe disse, "Quieta, Rachel, que Lou Reed é meu amigo!"
Então cantaram as putas, as bichas e a lésbica sem jeito:
"Doo-doo-doo-doo-doo!"  E juntas pularam em meu peito.

Naquele Inferno só tinha uísque custando muito dinheiro
Misturado com urina de travesti e desinfetante de banheiro
E se fiquei muito bêbado e sem grana foi culpa do destino
Mas não conseguia sair da privada com cólica de intestino.

De manhã, ainda com gosto de ferrugem suja na língua
Acordei deitado ao lado de uma diarista morta à míngua
E ao pensar que eu tinha comido aquela buceta imunda
Vomitei sem antes enfiar meu pau inteiro naquela bunda.

E se eu era agora um porco, fodendo empregadas nojentas
Que tal ser mais imundo e deixar de viver a bater punhetas?
Então naquela manhã, transformado num inseto monstruoso
Barata ficou sendo o meu nobre apelido de poeta mentiroso.

27/06/2017

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

26/10/2019

Depressão é Opressão

Depressão é Opressão
Barata Cichetto



Afagaram minha tristeza como a de um decrépito,
E eu não queria nada, nem a vista, nem a crédito.
Afogaram minha angústia como a de um crente,
E eu queria só tratar a dor que sentia no dente.
Acharam minha depressão ser o desejo de brilho,
E eu queria apenas o abraço e o beijo de um filho.

26/10/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

23/10/2019

O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith

O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith
Barata Cichetto


Foto by Judy-Linn

Parte 1 - O Filme

Há um tempo sem precisão, mas um domingo de manhã, decerto
Em um cinema imundo do Centro, que não era longe, nem perto
Um daqueles em que as putas chupam pintos na poltrona imunda
E em que as bichas cobram o preço por dar o buraco da sua bunda.

E aquele dia poderia ser um dia no parque, um dia quase perfeito
Poderia ser apenas outro dia em que eu sabendo ser homem feito
Acreditei ser apenas uma boa pessoa, curtindo a barra da cidade
Enquanto na porta do cinema putas fodiam por pura necessidade.

O lugar fedia mijo e tinha marcas de unhas no chão de esteira
Camisinhas jogadas sobre o tapete e na tela umidade e sujeira
O filme sem nunca começar e eu segurando meu pau na mão
Enquanto um sujeito na escada gemia segurando o corrimão.

Mandei a puta que sentou na poltrona ao lado se foder de graça
E olhei a tela com as letras desbotadas e reclamei por tal trapaça
Porque tinha o filme um estranho nome ao cinema pornográfico
E "O Dia em Que Lou Reed Comeu Patti Smith" era o tal gráfico.

A bicha que chupava pau na poltrona de trás reclamou da cena
O cara que pagava puta reclamou que aquilo era coisa obscena
E eu mandei todos tomarem no cu e ficarem de bocas fechadas
Mas enquanto Lou Reed metia na Patti as putas ficavam caladas.

Eu era um homem pobre e podia fazer qualquer coisa no escuro
Mas enquanto os ricos pagavam michê às bichas a preço seguro
Patti com os dedos tatuados mijava no rio segurando suas pregas
E Lou dizia “Ah, menina, deixe de falar de anjos e siga as regras”.

Na porta do cinema as meninas putas esperando por seu homem
Poeiras de estrelas por um barato e a morte enquanto consomem
E dos topos dos edifícios se atiram feito aos pássaros amortecidos
Beijando a calçada onde mijam os últimos bêbados adormecidos.

No cinema não tem mais ninguém e na platéia apenas escuridão
Todos foram embora buscar pelas ruas outros pontos de solidão
Acabou o filme, e cortinas sebentas tomaram o lugar do roqueiro
Sozinha no escuro Patti aguarda a chegada do ultimo mensageiro.


Parte 2 - Viciados

O dia ainda era um domingo, não de manhã, mas ainda perfeito
Era noite e eu tinha com das putas da esquina um retrato refeito
"Porque a noite pertence à luxúria, a noite pertence aos amantes"
E eu era Lou Reed procurando Patti Smith em loucos diamantes.

E ela dançando descalça, dando piruetas sob a lâmpada fosca
Projeta sombras nas vidraças das lojas, com sua alegria tosca
Enquanto busco naquelas pernas finas, tortas e mal cuidadas
A satisfação dos desejos no mistério das infâncias arruinadas.

Dançam a bailarina branca debaixo das lâmpadas de sódio
Mas a negra não consegue, com seu coração cheio de ódio
E Patti pergunta aos anjos e Lou às bichas depiladas a razão
E as bailarinas cantam em coro: "Doodoodoo, ai que tesão!"

Pergunto por Rachel e por trás dos óculos brilhantes escuros
O poeta americano responde: "ótimos aqueles tempos duros"
E aos anjos pergunto sobre Patti e de seu eterno namorado
Ao que Banga responde que ela por ele muito tem chorado.

Então eu disse, Patty, transa comigo e ata-me como aos viciados
Que eu esmago tuas mãos enormes com meus pés embriagados
E éramos eu, Lou Reed e Patti Smith. Lou comia Patti, e eu não
E entre eu e o gigante, ela preferia a bailarina, o palhaço e o anão.

Lembro do cinema onde aquele filme pornográfico foi exibido
E no Centro da cidade onde fui crucificado, morto e ofendido
Não tem cinemas pornográficos agora, e nem as putas seminuas
Morreram da mesma morte, mataram as putas, cinemas e as ruas.

Patti agora chora a morte do amigo, e nem mesmo eu a consolo
As mãos enormes sobre o rosto e eu nem posso pegá-la no colo
Ainda era domingo quando ele morreu, mas não um perfeito dia
Era final de semana e afinal de contas era o que ele sempre pedia.

Os satélites podem subir ao céu e eu não posso segurar sua mão
Seres humanos pisaram na Lua deixando marcas em seu coração
E Lou Reed era Jesus e também não morreu pelos meus pecados
E Patti e eu ficamos no mundo para morrer sem ser crucificados.

06/12/2013

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

22/10/2019

Mar de Ratos

Mar de Ratos
Barata Cichetto


E corpos foram lançados ao mar. Seriam piratas sujos,
Ou apenas cadáveres de pobres desesperados marujos,
Que foram expulsos pelos ratos imundos que abordaram,
Aquela embarcação quando a tripulação a abandonaram?

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

18/10/2019

Renegado

Renegado
Barata Cichetto



Queimaram minha língua por eu falar o que não podia,
E não era mentira, nem era verdade, apenas era poesia.

Depois acharam que eu era um morto que não fedia
E não era a mentira, nem era a verdade, era a poesia.

Então pensaram que era falsa a dor que eu sentia,
Mas não era mentira, nem verdade, apenas poesia.

Por fim esqueceram quem eu era, quem fora e quem seria,
E isso não era mentira, nem verdade, muito menos poesia.

© Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados
18/10/2019